main-banner

Jurisprudência


REsp 1101949 / DFRECURSO ESPECIAL2008/0255973-6

Ementa
RECURSO ESPECIAL - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - DANO MORAL COLETIVO - DIVULGAÇÃO DE PUBLICIDADE ILÍCITA - INDENIZAÇÃO - SENTENÇA QUE ACOLHEU O PEDIDO INICIAL DO MPDFT FIXANDO A REPARAÇÃO EM R$ 14.000.000,00 (QUATORZE MILHÕES DE REAIS) E DETERMINOU A ELABORAÇÃO DE CONTRAPROPAGANDA, SOB PENA DE MULTA DIÁRIA - INCONFORMISMOS DAS RÉS - APELAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDA PARA REDUZIR O QUANTUM INDENIZATÓRIO E EXCLUIR DA CONDENAÇÃO OBRIGAÇÃO DE FAZER CONTRAPROPAGANDA, BEM COMO A MULTA MONITÓRIA PARA A HIPÓTESE DE DESCUMPRIMENTO. IRRESIGNAÇÃO DAS RÉS - OGILVY BRASIL COMUNICAÇÃO LTDA. E DA SOUZA CRUZ S/A - E DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS. 1. DO RECURSO ESPECIAL DA OGILVY BRASIL COMUNICAÇÃO LTDA. 1.1. Violação ao artigo 535 do Código de Processo Civil. Inocorrência. Acórdão de origem clara e suficientemente fundamentado, tendo a Corte local analisado todas as questões essenciais ao deslinde da controvérsia, ainda que de forma contrária aos interesses das partes. 1.2. Julgamento antecipado da lide. Possibilidade. Inexistência de cerceamento do direito de defesa. Produção de prova documental suficiente. Impossibilidade de revisão. Incidência da Súmula 7/STJ. Livre convencimento motivado na apreciação das provas. Regra basilar do processo civil brasileiro. Precedentes do STJ. 1.3. Irrefutável a legitimidade do Ministério Público para promover a presente demanda. A veiculação, em caráter nacional, de propaganda/publicidade atinge número infindável de pessoas, de forma indistinta, nos mais diversos pontos deste país de projeção continental, sobretudo quando divulgada por meio da televisão - dos mais populares meios de comunicação de massa - gera, portanto, indiscutivelmente, interesse de natureza difusa, e não individual e disponível. Precedentes do STJ: AgRg no AREsp 681111/MS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, Dje de 13/08/2013; AgRg no REsp 1038389/MS, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira. 1.4. Os fatos que ensejaram a presente demanda ocorreram anteriormente à edição e vigência da Lei n° 10.167/2000 que proibiu, de forma definitiva, propaganda de cigarro por rádio e televisão. Com efeito, quando da veiculação da propaganda vigorava a Lei n° 9.294/96, cuja redação original restringia entre 21h00 e 06h00 a publicidade do produto. O texto legal prescrevia, ainda, que a publicidade deveria ser ajustada a princípios básicos, não podendo, portanto, ser dirigida a crianças ou adolescentes nem conter a informação ou sugestão de que o produto pudesse trazer bem-estar ou benefício à saúde dos seus consumidores. Isso consta dos incisos II e VI do § 1º, art. 3º da referida lei. 1.5. O direito de informação está fundamentado em outros dois direitos, um de natureza fundamental, qual seja, a dignidade da pessoa humana, e outro, de cunho consumerista, que é o direito de escolha consciente. Dessa forma, a teor dos artigos 9º e 31 do CDC, todo consumidor deve ser informado de forma "ostensiva e adequadamente a respeito da nocividade ou periculosidade do produto". 1.5.1. A teor dos artigos 36 e 37, do CDC, nítida a ilicitude da propaganda veiculada. A uma, porque feriu o princípio da identificação da publicidade. A duas, porque revelou-se enganosa, induzindo o consumidor a erro porquanto se adotasse a conduta indicada pela publicidade, independente das conseqüências, teria condições de obter sucesso em sua vida. 1.5.2. Além disso, a modificação do entendimento lançado no v. acórdão recorrido, o qual concluiu, após realização de contundente laudo pericial, pela caracterização de publicidade enganosa e, por conseguinte, identificou a responsabilidade da ora recorrente pelos danos suportados pela coletividade, sem dúvida demandaria a exegese do acervo fático-probatório dos autos, o que é vedado pelas Súmulas 5 e 7 do STJ. 1.5.3. Em razão da inexistência de uma mensagem clara, direta que pudesse conferir ao consumidor a sua identificação imediata (no momento da exposição) e fácil (sem esforço ou capacitação técnica), reputa-se que a publicidade ora em debate, de fato, malferiu a redação do art 36, do CDC e, portanto, cabível e devida a reparação dos danos morais coletivos. 1.6. Quanto ao montante da indenização arbitrada pelas instâncias ordinárias a título de dano moral, não obstante o grau de subjetivismo que envolve o tema, uma vez que não existem critérios predeterminados para a quantificação do dano moral, firmou-se jurisprudência na Corte no sentido de que a intervenção deste STJ ficaria limitada aos casos em que o valor da indenização fosse arbitrado em patamar irrisório ou excessivo. Precedentes do STJ. 1.6.1. Atentando-se para as peculiaridades do caso concreto, deve-se tanto quanto possível, procurar recompor o dano efetivo provocado pela ação ilícita, sem desprezar a capacidade econômica do pagador e as necessidades do seu destinatário, que, no caso, é toda sociedade, faz-se mister, portanto, a redução da indenização por danos morais coletivos ao valor de R$ 1.000.000,00 (hum milhão de reais), devidamente corrigidos. 2. DO RECURSO ESPECIAL DA SOUZA CRUZ S/A: 2.1. O conteúdo normativo dos dispositivos legais tidos por violados - artigos 282, 283, 284, "caput", 295, I, 400 e 515, do CPC, 8º da Lei de Ação Civil Pública - não foram objeto de exame pelo v. acórdão recorrido, a despeito da oposição dos embargos de declaração, razão pela qual incide, no ponto específico, o enunciado da Súmula 211 desta Corte, de seguinte teor: "Inadmissível recurso especial quanto à questão que, a despeito da oposição de embargos declaratórios, não foi apreciada pelo Tribunal a quo". 2.1.2. Do dano moral coletivo. Cabimento. Jurisprudência do STJ. Inegável a incidência da tese concernente à possibilidade de condenação por dano moral coletivo, mormente tratando-se, como se trata, de ação civil pública. Precedentes: EDcl no AgRg no REsp 1526946/RN, Rel. Min. Humberto Martins, DJe de 13/11/2015; Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe de 16/03/2015; REsp 1291213/SC, Rel. Min. Sidnei Beneti, DJe de 25/09/2012; REsp 1221756/RJ, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA, julgado em 02/02/2012, DJe 10/02/2012. 2.1.3. Ação Civil Pública. Inquérito civil. Peça facultativa. Precedentes do STJ. O inquérito civil, promovido para apurar indícios que passam dar sustentação a uma eventual ação civil pública, funciona como espécie de produção antecipada de prova, a fim de que não ingresse o autor da ação civil em demanda por denúncia infundada, o que levaria ao manejo de lides com caráter temerário. Assim tem ele por escopo viabilizar o ajuizamento da ação civil pública. Escólio jurisprudencial: REsp 448023/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, DJe de 09/06/2003; REsp 644994/MG, Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJe de 21/03/2005. 3. DO RECURSO ESPECIAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS: 3.1. A contrapropaganda constitui-se sanção prevista nos arts. 56, inciso XII e 60 do CDC e aplicável quando caracterizada a prática de publicidade enganosa ou abusiva, e o seu objetivo é desfazer os malefícios sociais por ela causados ao mercado consumidor. 3.1.2. A razão hermenêutica dessa penalidade decorre, sem dúvida, para conferir proteção aos consumidores, tendo em conta que o substrato motivador do CDC, inegavelmente, é dar ampla tutela para a garantia de seus direitos, porquanto o art. 83, por exemplo, determina: "(...) Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este Código são admissíveis todas as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela." 3.1.3. A divulgação da contrapropaganda se tornaria ilógica em razão do advento da Lei 10.167/00, a qual proibiu propaganda sobre o produto em questão. Sendo assim, é importante destacar que a suspensão da contrapropaganda - confirmando-se a compreensão do v. acórdão recorrido - decorre das circunstâncias do caso concreto, em virtude do decurso do tempo e da mudança do marco legal a incidir sobre a matéria, revelando-se inoportuna a veiculação da contrapropaganda nesse momento processual. 4. Recurso especial da OGILVY Brasil Comunicação Ltda e da Souza Cruz S/A parcialmente providos e desprovido o recurso especial do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. (REsp 1101949/DF, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 10/05/2016, DJe 30/05/2016)
Acórdão
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da QUARTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, após o voto-vista do Sr. Ministro Raul Araújo acompanhando o relator, aderindo à ressalva em relação ao quantum indenizatório feito pelo Sr. Ministro Luis Felipe Salomão, e o voto do Ministro Antonio Carlos Ferreira no mesmo sentido, por unanimidade, negar provimento ao recurso especial interposto por MPDFT e, por maioria, dar parcial provimento aos recursos especiais interpostos por OGILVY BRASIL COMUNICAÇÃO LTDA e por SOUZA CRUZ S/A, nos termos do voto do relator. Vencida, em parte, a Sra. Ministra Maria Isabel Gallotti, que dava provimento aos recursos especiais interpostos por OGILVY e SOUZA CRUZ em maior extensão. Os Srs. Ministros Luis Felipe Salomão, Raul Araújo (voto-vista) e Antonio Carlos Ferreira votaram com o Sr. Ministro Relator.

Data do Julgamento : 10/05/2016
Data da Publicação : DJe 30/05/2016RT vol. 970 p. 641
Órgão Julgador : T4 - QUARTA TURMA
Relator(a) : Ministro MARCO BUZZI (1149)
Notas : Indenização por dano moral coletivo: R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais).
Informações adicionais : (QUESTÃO DE ORDEM) (MIN. MARCO BUZZI) "[...] no presente caso, a controvérsia - a ser dirimida pela eg. Quarta Turma - cinge-se a definir acerca do cabimento de danos morais coletivos decorrentes de divulgação de publicidade atinente ao consumo de tabaco, bem como em relação à proporcionalidade da indenização fixada e, finalmente, acerca da realização de contrapropaganda. Desse modo, ainda que se possa debater, em tese, sobre a existência de interesse jurídico abstrato da peticionária - voltada à proteção dos interesses e direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos atinentes ao controle do tabagismo -, na solução da demanda, todavia, nos moldes como postos nesta contenda, os pedidos e, pois, os direitos em debate estão suficientemente defendidos, aliada à circunstância de que o próprio Ministério Público do Distrito Federal e Territórios deu início à presente demanda. Ademais, a regular atuação do parquet federal nos autos [...] torna inócua a intervenção da ora requerente, uma vez já configurada a pluralização do debate infraconstitucional, com a disponibilização dos necessários elementos informativos e suficientes ao deslinde da controvérsia, devendo ser prestigiado, assim, o princípio da celeridade. Além disso, cuida-se de recurso especial a ser julgado pela Quarta Turma e, portanto, não se está diante de julgamento de natureza repetitiva que, por sua origem, tem contornos jurídicos e procedimentais distintos, específicos e, sobretudo, tem sede própria para exame, qual seja, a eg. Segunda Seção ou, se for o caso, perante a eg. Corte Especial do STJ". (VOTO VENCIDO EM PARTE) (MIN. MARIA ISABEL GALLOTTI) "[...] os laudos produzidos no inquérito civil público são controvertidos, e, diante dessa acesa controvérsia, não vejo, 'data maxima venia', como considerar que a matéria fosse unicamente de direito ou dispensasse a produção da prova insistentemente requerida pelas rés em todas as oportunidades em que puderam fazê-lo, e ainda mais tendo em vista a circunstância de que o ônus da prova fora invertido e competia às rés. Penso que o devido processo legal exige, não apenas que seja facultada a juntada de documentos, mas que eles sejam efetivamente considerados pelo Poder Judiciário. No caso, diante da consideração feita pela sentença e pelo acórdão que a confirmou, de que os laudos trazidos pelas rés não tinham condição de se sobrepor ao laudo do Instituto de Criminalística e do IML, pelo fato de terem sido elaborados por profissionais por elas contratados, a única solução seria, então, deferir a produção da prova pericial dentro do contraditório assegurado na ação civil pública, inexistente no âmbito do inquérito civil público".
Referência legislativa : LEG:FED SUM:****** ANO:********* SUM(STJ) SÚMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA SUM:000005 SUM:000007LEG:FED LEI:005869 ANO:1973***** CPC-73 CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 1973 ART:00130 ART:00330 INC:00001 ART:0543C PAR:00004LEG:FED LEI:008078 ANO:1990***** CDC-90 CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR ART:00009 ART:00031 ART:00036 ART:00037 PAR:00002 ART:00056 INC:00012 ART:00060 ART:00081 PAR:ÚNICO INC:00001 ART:00082 ART:00083LEG:FED CFB:****** ANO:1988***** CF-1988 CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 ART:00005 INC:00005 ART:00129 INC:00002LEG:FED LEI:007347 ANO:1985***** LACP-85 LEI DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA ART:00005 ART:00008 PAR:00001LEG:FED LEI:010167 ANO:2000LEG:FED LEI:009294 ANO:1996 ART:00003 PAR:00001 INC:00002 INC:00006 ART:00009LEG:FED RES:000008 ANO:2008 ART:00003 INC:00001(SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA - STJ)
Veja : (RECURSO ESPECIAL - ALEGAÇÃO DE CERCEAMENTO DE DEFESA - REEXAME DEMATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA) STJ - AgRg no REsp 1206422-TO, AgRg no AREsp 343580-SP, AgRg no Ag 781007-SP, AgRg no AREsp 690398-SP, AgRg no REsp 1079494-SC, AgRg no AREsp 284581-PR, REsp 1162598-SP, AgRg no REsp 1063041-SC, AgRg no AREsp 561956-DF, AgRg no AREsp 667558-RJ, AgRg no AREsp 717302-ES(AÇÃO CIVIL PÚBLICA - DEFESA DE DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS EDIREITOS DIFUSOS INDISPONÍVEIS - LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO) STJ - AgRg no AREsp 681111-MS, AgRg no REsp 1038389-MS, AgRg no AgRg no REsp 229226-RS, REsp 183569-AL, REsp 404239-PR, EREsp 141491-SC, REsp 1033274-MS, REsp 637332-RR(RECURSO ESPECIAL - RESPONSABILIDADE CIVIL - REEXAME DE MATÉRIAFÁTICO-PROBATÓRIA - ANÁLISE DE CLÁUSULA CONTRATUAL) STJ - AgRg no REsp 1139264-PR, REsp 1317338-MG, REsp 1342899-RS, REsp 1209633-RS, REsp 327257-SP(VALOR DA INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL - CONTROLE PELO STJ -RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE) STJ - REsp 259816-RJ, AgRg no AREsp 510465-ES, AgRg no AREsp 633596-SP, AgRg no AREsp 376191-RJ(INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL COLETIVO - VALOR RAZOÁVEL) STJ - REsp 866636-SP(AÇÃO CIVIL PÚBLICA - FIXAÇÃO DE DANO MORAL COLETIVO) STJ - REsp 1397870-MG, AgRg no AREsp 181435-MG, REsp 1291213-SC, REsp 1197654-MG, REsp 1269494-MG, REsp 1221756-RJ, EDcl no AgRg no AgRg no REsp 1440847-RJ, EDcl no AgRg no REsp 1526946-RN(AÇÃO CIVIL PÚBLICA - INQUÉRITO CIVIL) STJ - REsp 448023-SP, REsp 644994-MG
Sucessivos : EDcl no REsp 1101949 DF 2008/0255973-6 Decisão:27/09/2016 DJe DATA:04/10/2016
Mostrar discussão