REsp 1349188 / RJRECURSO ESPECIAL2011/0217596-7
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONSUMIDOR. PESSOA PORTADORA DE DEFICIÊNCIA VISUAL. HIPERVULNERÁVEL. CONTRATOS BANCÁRIOS.
CONFECÇÃO NO MÉTODO BRAILLE. NECESSIDADE. DEVER DE INFORMAÇÃO PLENA E ADEQUADA. EFEITOS DA SENTENÇA. TUTELA DE INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS STRICTO SENSU. SENTENÇA QUE PRODUZ EFEITOS EM RELAÇÃO A TODOS OS CONSUMIDORES PORTADORES DE DEFICIÊNCIA VISUAL QUE ESTABELECERAM OU VENHAM A FIRMAR RELAÇÃO CONTRATUAL COM A INSTITUIÇÃO FINANCEIRA DEMANDADA EM TODO O TERRITÓRIO NACIONAL.
INDIVISIBILIDADE DO DIREITO TUTELADO. DANO MORAL COLETIVO.
INOCORRÊNCIA.
1. Na ação coletiva ajuizada por associação em defesa de interesses difusos e coletivos stricto sensu, em que toda uma coletividade de deficientes visuais será beneficiada pelo provimento jurisdicional, inclusive com eficácia prospectiva, revela-se a natureza transindividual da discussão e a atuação da entidade no campo da substituição processual, o que afasta a necessidade de identificação dos seus associados.
2. O Código de Defesa do Consumidor estabelece entre os direitos básicos do consumidor, o de ter a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços (CDC, art. 6°, III) e, na oferta, que as informações sejam corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa (art. 31), devendo as cláusulas contratuais ser redigidas de maneira clara e compreensível (arts. 46 e 54, § 3°).
3. A efetividade do conteúdo da informação deve ser analisada a partir da situação em concreto, examinando-se qual será substancialmente o conhecimento imprescindível e como se poderá atingir o destinatário específico daquele produto ou serviço, de modo que a transmissão da informação seja adequada e eficiente, atendendo aos deveres anexos da boa-fé objetiva, do dever de colaboração e de respeito à contraparte.
4. O método Braille é oficial e obrigatório no território nacional para uso na escrita e leitura dos deficientes visuais e a sua não utilização, durante todo o ajuste bancário, impede o referido consumidor hipervulnerável de exercer, em igualdade de condições, os direitos básicos, consubstanciando, além de intolerável discriminação e evidente violação aos deveres de informação adequada, vulneração à dignidade humana da pessoa deficiente.
5. É cabível, em tese, por violação a direitos transindividuais, a condenação por dano moral coletivo, como categoria autônoma de dano, a qual não se relaciona necessariamente com aqueles tradicionais atributos da pessoa humana (dor, sofrimento ou abalo psíquico).
6. Na hipótese, apesar de a forma de linguagem, por meio da leitura do contrato, não ser apta a exaurir a informação clara e adequada, não decorreram outras consequências lesivas além daquelas experimentadas por quem, concretamente, teve o tratamento embaraçado ou por aquele que se sentiu pessoalmente constrangido ou discriminado, haja vista que a instituição financeira seguiu as diretrizes emanadas pelo próprio Estado, conforme Resolução n.
2.878/2001 do Bacen.
7. Os efeitos e a eficácia da sentença, na ação coletiva, não estão circunscritos a lindes geográficos, mas aos limites objetivos e subjetivos do que foi decidido, levando-se em conta, para tanto, sempre a extensão do dano e a qualidade dos interesses metaindividuais postos em juízo. Precedentes.
8. A sentença prolatada na presente ação civil pública, destinada a tutelar direitos difusos e coletivos stricto sensu, deve produzir efeitos em relação a todos os consumidores portadores de deficiência visual que litiguem ou venham a litigar com a instituição financeira demandada, em todo o território nacional.
9. Recursos especiais parcialmente providos.
(REsp 1349188/RJ, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 10/05/2016, DJe 22/06/2016)
Ementa
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONSUMIDOR. PESSOA PORTADORA DE DEFICIÊNCIA VISUAL. HIPERVULNERÁVEL. CONTRATOS BANCÁRIOS.
CONFECÇÃO NO MÉTODO BRAILLE. NECESSIDADE. DEVER DE INFORMAÇÃO PLENA E ADEQUADA. EFEITOS DA SENTENÇA. TUTELA DE INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS STRICTO SENSU. SENTENÇA QUE PRODUZ EFEITOS EM RELAÇÃO A TODOS OS CONSUMIDORES PORTADORES DE DEFICIÊNCIA VISUAL QUE ESTABELECERAM OU VENHAM A FIRMAR RELAÇÃO CONTRATUAL COM A INSTITUIÇÃO FINANCEIRA DEMANDADA EM TODO O TERRITÓRIO NACIONAL.
INDIVISIBILIDADE DO DIREITO TUTELADO. DANO MORAL COLETIVO.
INOCORRÊNCIA.
1. Na ação coletiva ajuizada por associação em defesa de interesses difusos e coletivos stricto sensu, em que toda uma coletividade de deficientes visuais será beneficiada pelo provimento jurisdicional, inclusive com eficácia prospectiva, revela-se a natureza transindividual da discussão e a atuação da entidade no campo da substituição processual, o que afasta a necessidade de identificação dos seus associados.
2. O Código de Defesa do Consumidor estabelece entre os direitos básicos do consumidor, o de ter a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços (CDC, art. 6°, III) e, na oferta, que as informações sejam corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa (art. 31), devendo as cláusulas contratuais ser redigidas de maneira clara e compreensível (arts. 46 e 54, § 3°).
3. A efetividade do conteúdo da informação deve ser analisada a partir da situação em concreto, examinando-se qual será substancialmente o conhecimento imprescindível e como se poderá atingir o destinatário específico daquele produto ou serviço, de modo que a transmissão da informação seja adequada e eficiente, atendendo aos deveres anexos da boa-fé objetiva, do dever de colaboração e de respeito à contraparte.
4. O método Braille é oficial e obrigatório no território nacional para uso na escrita e leitura dos deficientes visuais e a sua não utilização, durante todo o ajuste bancário, impede o referido consumidor hipervulnerável de exercer, em igualdade de condições, os direitos básicos, consubstanciando, além de intolerável discriminação e evidente violação aos deveres de informação adequada, vulneração à dignidade humana da pessoa deficiente.
5. É cabível, em tese, por violação a direitos transindividuais, a condenação por dano moral coletivo, como categoria autônoma de dano, a qual não se relaciona necessariamente com aqueles tradicionais atributos da pessoa humana (dor, sofrimento ou abalo psíquico).
6. Na hipótese, apesar de a forma de linguagem, por meio da leitura do contrato, não ser apta a exaurir a informação clara e adequada, não decorreram outras consequências lesivas além daquelas experimentadas por quem, concretamente, teve o tratamento embaraçado ou por aquele que se sentiu pessoalmente constrangido ou discriminado, haja vista que a instituição financeira seguiu as diretrizes emanadas pelo próprio Estado, conforme Resolução n.
2.878/2001 do Bacen.
7. Os efeitos e a eficácia da sentença, na ação coletiva, não estão circunscritos a lindes geográficos, mas aos limites objetivos e subjetivos do que foi decidido, levando-se em conta, para tanto, sempre a extensão do dano e a qualidade dos interesses metaindividuais postos em juízo. Precedentes.
8. A sentença prolatada na presente ação civil pública, destinada a tutelar direitos difusos e coletivos stricto sensu, deve produzir efeitos em relação a todos os consumidores portadores de deficiência visual que litiguem ou venham a litigar com a instituição financeira demandada, em todo o território nacional.
9. Recursos especiais parcialmente providos.
(REsp 1349188/RJ, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 10/05/2016, DJe 22/06/2016)Acórdão
Vistos, relatados e discutidos estes autos, os Ministros da QUARTA
TURMA do Superior Tribunal de Justiça acordam, na conformidade dos
votos e das notas taquigráficas. Prosseguindo no julgamento, após o
voto-vista do Sr. Ministro Antonio Carlos Ferreira, por unanimidade,
conhecer parcialmente e, nesta parte, deu parcial provimento ao
recurso especial interposto por BANCO SANTANDER BRASIL S/A, e dar
parcial provimento ao recurso especial da ASSOCIAÇÃO FLUMINENSE DE
AMPARO AOS CEGOS - AFAC, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Raul Araújo, Maria Isabel Gallotti (Presidente),
Antonio Carlos Ferreira (voto-vista) e Marco Buzzi votaram com o Sr.
Ministro Relator.
Data do Julgamento
:
10/05/2016
Data da Publicação
:
DJe 22/06/2016
Órgão Julgador
:
T4 - QUARTA TURMA
Relator(a)
:
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO (1140)
Notas
:
Valor da multa diária (astreintes): R$ 1.000,00 (mil reais).
Informações adicionais
:
"[...] o presente especial foi interposto à luz do CPC/73 e,
por conseguinte, devem ser exigidos os requisitos de admissibilidade
na forma nele prevista, com as interpretações dadas, até então, pela
jurisprudência do STJ (Enunciado Administrativo n. 2, aprovado pelo
Plenário do Superior Tribunal de Justiça em 9/3/2016)".
"[...] o Tribunal local, mantendo o disposto na sentença,
acabou fazendo perdurar astreintes para o cumprimento da
determinação judicial, no importe de R$ 50.000,00 (cinquenta mil
reais), tendo, contudo, alargado o prazo de 30 dias para 90 dias,
para o cumprimento das obrigações.
Desta feita, no ponto, a fixação de tal monta, a toda
evidência, refoge dos parâmetros da razoabilidade e da
proporcionalidade, distanciando-se da própria finalidade das
astreintes, que consubstancia medida coercitiva e de natureza
intimidatória, não se admitindo 'exegese que a faça assumir um
caráter indenizatório, que conduza ao enriquecimento sem causa do
credor'".
"[...] o recurso fundado na alínea 'c' do permissivo
constitucional pressupõe a demonstração analítica da alegada
divergência. Sob o pálio desse permissivo, 'exige-se que o
recorrente demonstre, analiticamente, que os casos são idênticos e
mereceram tratamento diverso à luz da mesma regra federal'".
"[...] ambos os litigantes tiveram suas pretensões iniciais
parcialmente frustradas e, assim, cada um foi em parte vencedor e
vencido, devendo ser recíproca e proporcionalmente distribuídos e
compensados entre eles os honorários e despesas, nos termos do art.
21 do CPC/73, ficando ressalvado, ainda, que caberá à instância de
origem a aferição da proporcionalidade, ou seja, o grau de
decaimento de cada parte processual".
Referência legislativa
:
LEG:FED LEI:008078 ANO:1990***** CDC-90 CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR ART:00006 INC:00003 ART:00012 PAR:00003 INC:00003 ART:00014 PAR:00003 INC:00002 ART:00031 ART:00046 ART:00054 PAR:00003 ART:00081 PAR:ÚNICO INC:00001 INC:00002 INC:00003 ART:00082 INC:00004 ART:00103LEG:FED RES:002878 ANO:2001 ART:00012 PAR:ÚNICO INC:00001 INC:00002(BANCO CENTRAL DO BRASIL - BACEN)LEG:FED ENU:****** ANO:2016***** ENUASTJ ENUNCIADO ADMINISTRATIVO DO SUPERIOR TRIBUNAL DEJUSTIÇA NUM:00002LEG:FED LEI:009494 ANO:1997 ART:0002A(COM A REDAÇÃO DADA PELA MEDIDA PROVISÓRIA 2.180-35/2001)LEG:FED MPR:002180 ANO:2001 EDIÇÃO:35LEG:FED LEI:007347 ANO:1985***** LACP-85 LEI DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA ART:00005 INC:00005 LET:A LET:B ART:00016LEG:FED DEC:000186 ANO:2008 ART:00012 ITEM:00005LEG:FED CFB:****** ANO:1988***** CF-1988 CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 ART:00105 INC:00003 LET:CLEG:FED LEI:005869 ANO:1973***** CPC-73 CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 1973 ART:00021
Veja
:
(RECURSO ESPECIAL - INTERPOSIÇÃO À LUZ DO CPC/73 - REQUISITOS DEADMISSIBILIDADE - ENUNCIADO ADMINISTRATIVO N. 02 DO STJ) STJ - AgRg no AREsp 849405-MG(DIREITO DO CONSUMIDOR - DIREITO A INFORMAÇÃO) STJ - REsp 1121275-SP, REsp 1181066-RS(CONSUMIDOR - PESSOA PORTADORA DE NECESSIDADES ESPECIAIS -VULNERABILIDADE) STJ - REsp 931513-RS(CONSUMIDOR - RELAÇÃO CONTRATUAL BANCÁRIA - MÉTODO BRAILE -DEFICIENTES) STJ - REsp 1315822-RJ(DANO MORAL COLETIVO - DIREITOS TRANSINDIVIDUAIS - PREJUÍZOS SOMENTENO ÂMBITO INDIVIDUAL HOMOGÊNEO) STJ - REsp 1293606-MG(MULTA COERCITIVA - ASTREINTES - ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA) STJ - REsp 1354913-TO(AÇÃO COLETIVA - NATUREZA DA DECISÃO - ALCANCE SUBJETIVO DASENTENÇA) STJ - REsp 1315822-RJ, REsp 1114035-PR, EDcl no REsp 1243887-PR(RECURSO REPETITIVO)(RECURSO ESPECIAL - DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL - COMPROVAÇÃO) STJ - AgRg no Ag 657431-SC(DIREITOS COLETIVOS - CONSUMIDORES DE CONTRATO BANCÁRIO -LEGITIMIDADE DAS ASSOCIAÇÕES) STJ - REsp 1293606-MG
Mostrar discussão