main-banner

Jurisprudência


STF HC 79512 / RJ - RIO DE JANEIRO HABEAS CORPUS

Ementa
Prova: alegação de ilicitude da obtida mediante apreensão de documentos por agentes fiscais, em escritórios de empresa - compreendidos no alcance da garantia constitucional da inviolabilidade do domicílio - e de contaminação das provas daquela derivadas: tese substancialmente correta, prejudicada no caso, entretanto, pela ausência de qualquer prova de resistência dos acusados ou de seus prepostos ao ingresso dos fiscais nas dependências da empresa ou sequer de protesto imediato contra a diligência. 1. Conforme o art. 5º, XI, da Constituição - afora as exceções nele taxativamente previstas ("em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro") só a "determinação judicial" autoriza, e durante o dia, a entrada de alguém - autoridade ou não - no domicílio de outrem, sem o consentimento do morador. 1.1. Em conseqüência, o poder fiscalizador da administração tributária perdeu, em favor do reforço da garantia constitucional do domicílio, a prerrogativa da auto-executoriedade. 1.2. Daí não se extrai, de logo, a inconstitucionalidade superveniente ou a revogação dos preceitos infraconstitucionais de regimes precedentes que autorizam a agentes fiscais de tributos a proceder à busca domiciliar e à apreensão de papéis; essa legislação, contudo, que, sob a Carta precedente, continha em si a autorização à entrada forçada no domicílio do contribuinte, reduz-se, sob a Constituição vigente, a uma simples norma de competência para, uma vez no interior da dependência domiciliar, efetivar as diligências legalmente permitidas: o ingresso, porém, sempre que necessário vencer a oposição do morador, passou a depender de autorização judicial prévia. 1.3. Mas, é um dado elementar da incidência da garantia constitucional do domicílio o não consentimento do morador ao questionado ingresso de terceiro: malgrado a ausência da autorização judicial, só a entrada invito domino a ofende, seja o dissenso presumido, tácito ou expresso, seja a penetração ou a indevida permanência, clandestina, astuciosa ou franca. 1.4. Não supre ausência de prova da falta de autorização ao ingresso dos fiscais nas dependência da empresa o apelo à presunção de a tolerância à entrada ou à permanência dos agentes do Fisco ser fruto do metus publicae potestatis, ao menos nas circunstância do caso, em que não se trata das famigeradas "batidas" policiais no domicílio de indefesos favelados, nem sequer se demonstra a existência de protesto imediato. 2. Objeção de princípio - em relação à qual houve reserva de Ministros do Tribunal - à tese aventada de que à garantia constitucional da inadmissibilidade da prova ilícita se possa opor, com o fim de dar-lhe prevalência em nome do princípio da proporcionalidade, o interesse público na eficácia da repressão penal em geral ou, em particular, na de determinados crimes: é que, aí, foi a Constituição mesma que ponderou os valores contrapostos e optou - em prejuízo, se necessário da eficácia da persecução criminal - pelos valores fundamentais, da dignidade humana, aos quais serve de salvaguarda a proscrição da prova ilícita: de qualquer sorte - salvo em casos extremos de necessidade inadiável e incontornável - a ponderação de quaisquer interesses constitucionais oponíveis à inviolabilidade do domicílio não compete a posteriori ao juiz do processo em que se pretenda introduzir ou valorizar a prova obtida na invasão ilícita, mas sim àquele a quem incumbe autorizar previamente a diligência.
Decisão
Indexação - INSUBSISTÊNCIA, ALEGAÇÃO, ILICITUDE, PROVAS. RECONHECIMENTO, LEGITIMIDADE, PROCEDIMENTO, BUSCA E APREENSÃO. IMPOSSIBILIDADE, CONFIGURAÇÃO, VIOLAÇÃO, DOMICÍLIO, INEXISTÊNCIA, PROVA, AUTOS, OCORRÊNCIA, OPOSIÇÃO, RESISTÊNCIA, REPRESENTANTE, PREPOSTO, ENTRADA, PERMANÊNCIA, AGENTE, FÍSCO, DEPENDÊNCIA, EMPRESA. - DESCABIMENTO, INVOCAÇÃO, PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE, RECONHECIMENTO, PREVALÊNCIA, INTERESSE PÚBLICO, REPRESSÃO PENAL, DETRIMENTO, GARANTIA, INVIOLABILIDADE, DOMICÍLIO. EXISTÊNCIA, PREVISÃO, CONSTITUIÇÃO FEDERAL, PREJUDICIALIDADE, PERSECUÇÃO CRIMINAL, GARANTIA, VALORES FUNDAMENTAIS, DIGNIDADE HUMANA. - VOTO VENCIDO, MIN. MARCO AURÉLIO: CONCESSÃO, ORDEM. CONFIGURAÇÃO, PROVA ILÍCITA. CARACTERIZAÇÃO, CONSTRANGIMENTO ILEGAL, APREENSÃO, LIVRO, DOCUMENTO, AUSÊNCIA, AUTORIZAÇÃO, ÓRGÃO JUDICANTE. NECESSIDADE, OBSERVÂNCIA, REGRA, PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO, UTILIZAÇÃO, PODER, AUTOTUTELA, ADMINISTRAÇÃO. Legislação LEG-FED CF ANO-1967 ART-00153 PAR-00010 (Redação dada pela EMC-1/1969) CF-1967 CONSTITUIÇÃO FEDERAL LEG-FED EMC-000001 ANO-1969 LEG-FED CF ANO-1988 ART-00005 INC-00011 CF-1988 CONSTITUIÇÃO FEDERAL Observação Votação: por maioria, vencido o Ministro Marco Aurélio. Resultado: indeferido. Número de páginas: (33). Análise:(MML). Revisão:(FLO). Inclusão: 22/09/03, (SVF). Doutrina OBRA: PROIBIÇÕES DE PROVA EM PROCESSO PENAL AUTOR: COSTA ANDRADE EDITORA: COIMBRA PÁGINA: 38 ANO: 1992 OBRA: COMENTÁRIOS AO CÓDIGO PENAL AUTOR: NÉLSON HUNGRIA VOLUME: 6 PÁGINA: 205 ANO: 1955

Data do Julgamento : 16/12/1999
Data da Publicação : DJ 16-05-2003 PP-00092 EMENT VOL-02110-02 PP-00308
Órgão Julgador : Tribunal Pleno
Relator(a) : Min. SEPÚLVEDA PERTENCE
Parte(s) : PACTE. : AVELINO FERNANDES RIVERA PACTE. : PEDRO GONZALES MENDES PACTE. : JOSÉ RAMIRO GANDARA FERNANDEZ PACTE. : ESTRELLA JOSEFA RODRIGUES SANCHEZ PACTE. : ÁLVARO PEREIRA DA COSTA PACTE. : GERARDO MORGADE SENRA PACTE. : FAUSTINO PUERTAS VIDAL PACTE. : JUAN CARLOS RODRIGUES RODRIGUEZ IMPTES. : GEORGE TAVARES E OUTROS COATOR : SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Mostrar discussão