TJPR 0014573-95.2018.8.16.0000 (Decisão monocrática)
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
13ª CÂMARA CÍVEL – PROJUDI
CLASSE PROCESSUAL : AGRAVO DE INSTRUMENTO
RECURSO Nº. : 14573-95.2018.8.16.0000
AÇÃO ORIGINÁRIA : 13556-92.2016.8.16.0194
JUÍZO DE ORIGEM : FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA – 15ª
VARA CÍVEL.
ASSUNTO PRINCIPAL : CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO.
AGRAVANTE (S) : CASSIANO ZAITTER.
AGRAVADO/A (S) : BANCO SANTANDER (BRASIL) S/A
RELATOR : DESEMBARGADOR FRANCISCO EDUARDO GONZAGA DE OLIVEIRA
1. Trata-se de Agravo de Instrumento, com pedido de efeito
suspensivo, interposto por CASSIANO ZAITTER, autos de Embargos à Execução nº 13556-
92.2016.8.16.0194, opostos em face da ação de Execução de Título Extrajudicial nº
5445-56.2015.8.16.0194, manejada por BANCO SANTANDER (BRASIL) S/A em face do ora
Agravante, contra o interlocutório que indeferiu o efeito suspensivo aos embargos. A
decisão agravada foi proferida nos seguintes termos:
1. Ciente da decisão proferida pelo egrégio Tribunal de Justiça do
Estado do Paraná (sequência 44).
2. Trata-se de embargos à execução através do qual aduz o devedor
Cassiano Zaitter sua ilegitimidade para figurar no polo passivo da
demanda executória, sob o argumento de que, quando da venda empresa
Levier Tecnologia Ltda., o novo sócio teria se comprometido a assumir a
qualidade de fiador dos contratos de empréstimo.
Em que pese os argumentos apresentados na exordial, não há notícia
de que a execução se encontra integralmente garantida por penhora,
depósito ou caução. Tal determinação cogente está prevista no artigo
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AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº. 14573-95.2018.8.16.0000
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919, parágrafo primeiro, do Código de Processo Civil, não sendo possível
afastá-la no caso em comento.
Ante o exposto, INDEFIRO o pedido de atribuição de efeito suspensivo.
3. Tratando-se de matéria de direito e de fato, sendo desnecessária
dilação probatória, anuncio o julgamento antecipado da lide.
4. Registre-se no sistema a fase decisória e voltem-me conclusos para
sentença. (mov. 46.1 – autos originários).
Foram opostos embargos de declaração pelo ora agravante (mov.
52), os quais foram rejeitados na sequência (mov. 57).
Nas razões recursais (mov. 1.1 - Recurso), pugna a parte agravante,
pela concessão de efeito suspensivo ao recurso e, no mérito, a reforma da decisão
agravada, pedidos estes que se fundamentam, em síntese, nas seguintes arguições: a)
o agravante assinou a cédula de crédito bancário na qualidade de fiador da dívida; b)
no entanto, o agravante vendeu a empresa Levier Tecnologia Ltda, primeira executada,
ao sr. Renato de Carvalho Júnior, que assumiu a dívida, inclusive, na condição de novo
fiador; c) apenas esqueceu que retificar o polo passivo da presente demanda; d) houve
tácita novação da dívida, tendo o Sr. Renato assinado tanto como fiador, como
representante da empresa devedora; e) o agravante não participou da renegociação,
razão pela qual, o gerente da agencia bancária procedeu a baixa da negativação de seu
nome em razão do contrato em discussão; f) manter o agravante responsável pela
dívida é aceitar uma dupla garantia para a mesma operação; g) não se pode admitir
que sejam praticados atos de natureza executiva, quando sequer se verifica a
legitimidade de parte para integrar a demanda; h) a manutenção do agravante no polo
passivo gerará prejuízo imensurável em seu patrimônio, já que ocorrerá penhora de
seus bens e de sua família, por uma dívida que está garantida por outro fiador; i) a
decisão foi omissa quanto à alegação de ilegitimidade do agravante; j) a decisão
agravada anunciou o julgamento antecipado da lide, no entanto, mov. 36, o agravante
anunciou seu interesse na prova testemunhal e depoimento do representante legal do
agravado, restando omissa a decisão neste ponto.
É O RELATÓRIO.
DECIDO.
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AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº. 14573-95.2018.8.16.0000
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2. O presente recurso revela-se manifestamente inadmissível, pelo
que não comporta conhecimento por este relator, dispensando-se a submissão da
matéria ao colegiado, nos termos a que alude o artigo 932, inciso III do Código de
Processo Civil em vigor.
2.1. DA VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE RECURSAL
O art. 1.016, III, do Código de Processo Civil determina que o agravo
de instrumento deve conter as razões do pedido de reforma da decisão, é dizer, os
fundamentos pelos quais o recorrente impugna a decisão interlocutória atacada. Os
fundamentos recursais, assim, devem atacar as razões da decisão recorrida, sob pena
de não conhecimento do recurso por ausência de regularidade formal.
Na necessidade de serem direta e efetivamente atacados os
fundamentos da sentença recorrida é que se retiram os contornos do princípio da
dialeticidade recursal, que, conforme explica Nelson Nery Junior:
Vige, no tocante aos recursos, o princípio da dialeticidade. Segundo este,
o recurso deverá ser dialético, isto é, discursivo. O recorrente deverá
declinar o porquê do pedido de reexame da decisão. Só assim a parte
contrária poderá contra-arrazoá-lo, formando-se o imprescindível
contraditório em sede recursal. (...) A exigência legal da motivação se
encontra nos arts. 514, II e III, quanto à apelação; (...) São as alegações
do recorrente que demarcam a extensão do contraditório perante o juízo
ad quem, fixando os limites de aplicação da jurisdição em grau de recurso.
As razões de recurso são elemento indispensável a que o tribunal, para o
qual se a dirige, possa julgar o mérito do recurso, ponderando-as em
confronto com os motivos da decisão recorrida. A sua falta acarreta o não
conhecimento. Tendo em vista que o recurso visa precipuamente,
modificar ou anular a decisão considerada injusta ou ilegal, é necessária
a apresentação das razões pelas quais se aponta a ilegalidade ou injustiça
da referida decisão judicial.1
Todavia, no presente caso, no que tange ao pleito de concessão de
efeito suspensivo aos embargos à execução, o agravante acabou por violar o princípio
1 NERY JUNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos. 6. ed. São Paulo: Editora RT, 2004. p. 176-177.
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da dialeticidade recursal, uma vez que seus argumentos são inaptos à contraposição
dos fundamentos da sentença. Explico.
É certo que a concessão do efeito suspensivo aos embargos do
devedor exige três requisitos: a) verossimilhança das alegações; b) perigo de dano
irreparável; c) garantia do juízo. A ausência de qualquer dos requisitos é suficiente para
o indeferimento do efeito almejado.
Pois bem.
In casu, o juiz a quo indeferiu o pedido em razão de não estar
devidamente garantido o juízo, nos termos do art. 919 do Código de Processo Civil.
Contudo, em momento algum o agravante impugnou a ratio
decidendi da decisão recorrida, ou seja, a ausência da garantia da execução, eis que se
limitou a alegar a sua ilegitimidade para integrar o polo passivo da execução, por noa
ser mais o fiador do débito em discussão.
A rigor, o agravante deixou de impugnar os fundamentos da
decisão recorrida, o que impõe o não conhecimento do recurso, no ponto, por ofensa à
dialeticidade.
Nesse sentido, segue a jurisprudência dessa Corte Estadual:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO DE FINANCIAMENTO -
GRATUIDADE DA JUSTIÇA. PRETENSÃO JÁ DEFERIDA. AUSÊNCIA DE
INTERESSE RECURSAL. NÃO CONHECIMENTO - RAZÕES DA APELAÇÃO
QUE DESTOAM TOTALMENTE DOS FUNDAMENTOS DA SENTENÇA. FALTA
DE ATAQUE AO JULGADO. ALEGAÇÕES IMPRESTÁVEIS AOS FINS
COLIMADOS. OFENSA AO PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE - RECURSO NÃO
CONHECIDO. (TJPR, AC 1587017-8, Decisão monocrática, Rel.: Marco
Antonio Antoniassi, 15ª C.Cível, J.: 10.10.2016)
APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO JULGADA EXTINTA
ANTE A DECLARAÇÃO DE INÉPCIA DA PETIÇÃO INICIAL - FUNDAMENTOS
RECURSAIS QUE NÃO REBATEM E NEM CORRESPONDEM AOS TERMOS DA
DECISÃO ATACADA - OFENSA AO PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE -
PRECEDENTES - PEDIDO DE GRATUIDADE PROCESSUAL - CONCESSÃO JÁ
DEFERIDA PELO JUÍZO A QUO - SENTENÇA MANTIDA - RECURSO DE
APELAÇÃO CÍVEL NÃO CONHECIDO.(TJPR - 16ª C.Cível - AC - 1576432-8 -
Rolândia - Rel.: Maria Mercis Gomes Aniceto - Unânime - J. 05.10.2016)
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AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº. 14573-95.2018.8.16.0000
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL.
SENTENÇA QUE INDEFERIU A PETIÇÃO INICIAL COM FUNDAMENTO NOS
ARTIGOS 267, I E 295, VI, AMBOS DO CPC. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO
ESPECÍFICA AOS TERMOS DESTA. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA
DIALETICIDADE. "Ao deixar de impugnar especificamente os fundamentos
da decisão de primeiro grau, objeto da presente apelação, e em afronta
ao disposto no art. 524, II, do Código de Processo Civil, o apelante
descumpriu requisito indispensável ao conhecimento do recurso".
DECISÃO MONOCRÁTICA QUE NEGA SEGUIMENTO AO RECURSO DE
APELAÇÃO. (TJPR, Dec. Mon. AC 1.417.887-7, da 13ª CC, Rel. Des. Coimbra
de Moura, 20/11/2015).
DECISÃO MONOCRÁTICA. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL DE
CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO. SENTENÇA QUE INDEFERIU A
PETIÇÃO INICIAL E EXTINGUIU O FEITO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO.
APELO DO AUTOR. PETIÇÃO INICIAL INEPTA. INDEFERIMENTO. RECURSO
QUE NÃO ATACA OS FUNDAMENTOS DA SENTENÇA. VIOLAÇÃO AO
PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE CONTIDO NO ARTIGO 514, II, DO CÓDIGO
DE PROCESSO CIVIL. JUSTIÇA GRATUITA DEFERIDA NA SENTENÇA.
AUSÊNCIA DE INTERESSE RECURSAL. RECURSO MANIFESTAMENTE
INADMISSÍVEL. RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL A QUE SE NEGA
SEGUIMENTO MONOCRATICAMENTE. (TJPR, Dec. Mon. AC 1.398.478-4, da
13ª CC, Rel. Desa. Rosana Andriguetto de Carvalho, 18/11/2015)
Também há evidente violação à dialeticidade no ponto que se alega
que a decisão agravada tenha incorrido em omissão ao não se pronunciar acerca da
aventada ilegitimidade do agravante, notadamente porque, tal questão é objeto do
mérito dos embargos, de modo que será oportunamente apreciada pelo magistrado de
origem, uma vez que anunciado o julgamento antecipado da lide.
Sendo assim, na medida em que as razões declinadas no presente
recurso não servem para impugnar, objetivamente, os fundamentos da sentença (ratio
decidendi), resta claro, portanto, a afronta ao art. 1.016, III, do Código de Processo Civil,
o que revela a manifesta inadmissibilidade do recurso neste ponto.
2.2. DA PRECLUSÃO
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De outra parte, no que tange à alegada omissão a respeito do
pedido de produção de prova, com a oitiva de testemunhas e depoimento pessoal do
representante legal do agravado, o recurso também não merece ser conhecido, ante a
preclusão operada sobre a questão.
Com efeito, o agravante foi intimado para especificar as provas que
pretendia produzir, de forma objetiva e fundamentada, sob pena de preclusão (mov. 37
e 41), no entanto, restou inerte (mov. 43), o que motivou a decisão agravada a anunciar
o julgamento antecipado da lide.
É evidente, portanto, que a questão relativa à instrução probatória
encontra-se preclusa, não podendo mais ser arguida pelas partes por força do artigo
507 do Código de Processo Civil:
Art. 507. É vedado à parte discutir no curso do processo as questões já
decididas a cujo respeito se operou a preclusão.
Sobre o instituto da preclusão, disserta Fredie Diddier Júnior, in
verbis:
"A preclusão temporal consiste na perda do poder processual em razão
do seu não exercício no momento oportuno; a perda do prazo é inércia
que implica preclusão (art. 183, CPC." (Curso de Direito Processual Civil.
15ª ed. Juspodivm. p. 331).
De igual modo, Luiz Guilherme Marinoni e Daniel Mitidiero ainda
complementam que:
A preclusão consiste na perda, extinção ou consumação de uma faculdade
processual em face do decurso do tempo (preclusão temporal), da prática
de ato incompatível (preclusão lógica) e do efetivo exercício de
determinada faculdade processual (preclusão consumativa). Se a parte
discute essa ou aquela questão no curso do processo, a decisão a respeito
faz precluir a possibilidade de a parte continuar a discuti-la na mesma
instância. A parte só poderá voltar a discutir questão já decidida, se,
oportunamente, recorreu da decisão (STJ, 1ª Turma, REsp 876.097/CE, rel.
Min. Teori Zavascki, j. em 06.02.2007, DJ. 22.02.2007, p. 170), tendo de
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fazê-lo, então, em sede recursal.(in Código de Processo Civil comentado
artigo por artigo. São Paulo: RT, 2008, p. 450).
3. Ante o exposto, com fulcro no inc. III do artigo 932 do Código de
Processo Civil, não conheço do recurso, ante a sua manifesta inadmissibilidade,
conforme fundamentação despendida.
4. Intime-se.
5. Oportunamente, remetam-se os presentes autos ao Juízo da
causa.
Curitiba, 27 de abril de 2018.
FRANCISCO EDUARDO GONZAGA DE OLIVEIRA
DESEMBARGADOR – RELATOR
(assinado digitalmente)
(TJPR - 13ª C.Cível - 0014573-95.2018.8.16.0000 - Curitiba - Rel.: Francisco Eduardo Gonzaga de Oliveira - J. 03.05.2018)
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CLASSE PROCESSUAL : AGRAVO DE INSTRUMENTO
RECURSO Nº. : 14573-95.2018.8.16.0000
AÇÃO ORIGINÁRIA : 13556-92.2016.8.16.0194
JUÍZO DE ORIGEM : FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA – 15ª
VARA CÍVEL.
ASSUNTO PRINCIPAL : CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO.
AGRAVANTE (S) : CASSIANO ZAITTER.
AGRAVADO/A (S) : BANCO SANTANDER (BRASIL) S/A
RELATOR : DESEMBARGADOR FRANCISCO EDUARDO GONZAGA DE OLIVEIRA
1. Trata-se de Agravo de Instrumento, com pedido de efeito
suspensivo, interposto por CASSIANO ZAITTER, autos de Embargos à Execução nº 13556-
92.2016.8.16.0194, opostos em face da ação de Execução de Título Extrajudicial nº
5445-56.2015.8.16.0194, manejada por BANCO SANTANDER (BRASIL) S/A em face do ora
Agravante, contra o interlocutório que indeferiu o efeito suspensivo aos embargos. A
decisão agravada foi proferida nos seguintes termos:
1. Ciente da decisão proferida pelo egrégio Tribunal de Justiça do
Estado do Paraná (sequência 44).
2. Trata-se de embargos à execução através do qual aduz o devedor
Cassiano Zaitter sua ilegitimidade para figurar no polo passivo da
demanda executória, sob o argumento de que, quando da venda empresa
Levier Tecnologia Ltda., o novo sócio teria se comprometido a assumir a
qualidade de fiador dos contratos de empréstimo.
Em que pese os argumentos apresentados na exordial, não há notícia
de que a execução se encontra integralmente garantida por penhora,
depósito ou caução. Tal determinação cogente está prevista no artigo
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919, parágrafo primeiro, do Código de Processo Civil, não sendo possível
afastá-la no caso em comento.
Ante o exposto, INDEFIRO o pedido de atribuição de efeito suspensivo.
3. Tratando-se de matéria de direito e de fato, sendo desnecessária
dilação probatória, anuncio o julgamento antecipado da lide.
4. Registre-se no sistema a fase decisória e voltem-me conclusos para
sentença. (mov. 46.1 – autos originários).
Foram opostos embargos de declaração pelo ora agravante (mov.
52), os quais foram rejeitados na sequência (mov. 57).
Nas razões recursais (mov. 1.1 - Recurso), pugna a parte agravante,
pela concessão de efeito suspensivo ao recurso e, no mérito, a reforma da decisão
agravada, pedidos estes que se fundamentam, em síntese, nas seguintes arguições: a)
o agravante assinou a cédula de crédito bancário na qualidade de fiador da dívida; b)
no entanto, o agravante vendeu a empresa Levier Tecnologia Ltda, primeira executada,
ao sr. Renato de Carvalho Júnior, que assumiu a dívida, inclusive, na condição de novo
fiador; c) apenas esqueceu que retificar o polo passivo da presente demanda; d) houve
tácita novação da dívida, tendo o Sr. Renato assinado tanto como fiador, como
representante da empresa devedora; e) o agravante não participou da renegociação,
razão pela qual, o gerente da agencia bancária procedeu a baixa da negativação de seu
nome em razão do contrato em discussão; f) manter o agravante responsável pela
dívida é aceitar uma dupla garantia para a mesma operação; g) não se pode admitir
que sejam praticados atos de natureza executiva, quando sequer se verifica a
legitimidade de parte para integrar a demanda; h) a manutenção do agravante no polo
passivo gerará prejuízo imensurável em seu patrimônio, já que ocorrerá penhora de
seus bens e de sua família, por uma dívida que está garantida por outro fiador; i) a
decisão foi omissa quanto à alegação de ilegitimidade do agravante; j) a decisão
agravada anunciou o julgamento antecipado da lide, no entanto, mov. 36, o agravante
anunciou seu interesse na prova testemunhal e depoimento do representante legal do
agravado, restando omissa a decisão neste ponto.
É O RELATÓRIO.
DECIDO.
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2. O presente recurso revela-se manifestamente inadmissível, pelo
que não comporta conhecimento por este relator, dispensando-se a submissão da
matéria ao colegiado, nos termos a que alude o artigo 932, inciso III do Código de
Processo Civil em vigor.
2.1. DA VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE RECURSAL
O art. 1.016, III, do Código de Processo Civil determina que o agravo
de instrumento deve conter as razões do pedido de reforma da decisão, é dizer, os
fundamentos pelos quais o recorrente impugna a decisão interlocutória atacada. Os
fundamentos recursais, assim, devem atacar as razões da decisão recorrida, sob pena
de não conhecimento do recurso por ausência de regularidade formal.
Na necessidade de serem direta e efetivamente atacados os
fundamentos da sentença recorrida é que se retiram os contornos do princípio da
dialeticidade recursal, que, conforme explica Nelson Nery Junior:
Vige, no tocante aos recursos, o princípio da dialeticidade. Segundo este,
o recurso deverá ser dialético, isto é, discursivo. O recorrente deverá
declinar o porquê do pedido de reexame da decisão. Só assim a parte
contrária poderá contra-arrazoá-lo, formando-se o imprescindível
contraditório em sede recursal. (...) A exigência legal da motivação se
encontra nos arts. 514, II e III, quanto à apelação; (...) São as alegações
do recorrente que demarcam a extensão do contraditório perante o juízo
ad quem, fixando os limites de aplicação da jurisdição em grau de recurso.
As razões de recurso são elemento indispensável a que o tribunal, para o
qual se a dirige, possa julgar o mérito do recurso, ponderando-as em
confronto com os motivos da decisão recorrida. A sua falta acarreta o não
conhecimento. Tendo em vista que o recurso visa precipuamente,
modificar ou anular a decisão considerada injusta ou ilegal, é necessária
a apresentação das razões pelas quais se aponta a ilegalidade ou injustiça
da referida decisão judicial.1
Todavia, no presente caso, no que tange ao pleito de concessão de
efeito suspensivo aos embargos à execução, o agravante acabou por violar o princípio
1 NERY JUNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos. 6. ed. São Paulo: Editora RT, 2004. p. 176-177.
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da dialeticidade recursal, uma vez que seus argumentos são inaptos à contraposição
dos fundamentos da sentença. Explico.
É certo que a concessão do efeito suspensivo aos embargos do
devedor exige três requisitos: a) verossimilhança das alegações; b) perigo de dano
irreparável; c) garantia do juízo. A ausência de qualquer dos requisitos é suficiente para
o indeferimento do efeito almejado.
Pois bem.
In casu, o juiz a quo indeferiu o pedido em razão de não estar
devidamente garantido o juízo, nos termos do art. 919 do Código de Processo Civil.
Contudo, em momento algum o agravante impugnou a ratio
decidendi da decisão recorrida, ou seja, a ausência da garantia da execução, eis que se
limitou a alegar a sua ilegitimidade para integrar o polo passivo da execução, por noa
ser mais o fiador do débito em discussão.
A rigor, o agravante deixou de impugnar os fundamentos da
decisão recorrida, o que impõe o não conhecimento do recurso, no ponto, por ofensa à
dialeticidade.
Nesse sentido, segue a jurisprudência dessa Corte Estadual:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO DE FINANCIAMENTO -
GRATUIDADE DA JUSTIÇA. PRETENSÃO JÁ DEFERIDA. AUSÊNCIA DE
INTERESSE RECURSAL. NÃO CONHECIMENTO - RAZÕES DA APELAÇÃO
QUE DESTOAM TOTALMENTE DOS FUNDAMENTOS DA SENTENÇA. FALTA
DE ATAQUE AO JULGADO. ALEGAÇÕES IMPRESTÁVEIS AOS FINS
COLIMADOS. OFENSA AO PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE - RECURSO NÃO
CONHECIDO. (TJPR, AC 1587017-8, Decisão monocrática, Rel.: Marco
Antonio Antoniassi, 15ª C.Cível, J.: 10.10.2016)
APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO JULGADA EXTINTA
ANTE A DECLARAÇÃO DE INÉPCIA DA PETIÇÃO INICIAL - FUNDAMENTOS
RECURSAIS QUE NÃO REBATEM E NEM CORRESPONDEM AOS TERMOS DA
DECISÃO ATACADA - OFENSA AO PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE -
PRECEDENTES - PEDIDO DE GRATUIDADE PROCESSUAL - CONCESSÃO JÁ
DEFERIDA PELO JUÍZO A QUO - SENTENÇA MANTIDA - RECURSO DE
APELAÇÃO CÍVEL NÃO CONHECIDO.(TJPR - 16ª C.Cível - AC - 1576432-8 -
Rolândia - Rel.: Maria Mercis Gomes Aniceto - Unânime - J. 05.10.2016)
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5
DIREITO PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL.
SENTENÇA QUE INDEFERIU A PETIÇÃO INICIAL COM FUNDAMENTO NOS
ARTIGOS 267, I E 295, VI, AMBOS DO CPC. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO
ESPECÍFICA AOS TERMOS DESTA. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA
DIALETICIDADE. "Ao deixar de impugnar especificamente os fundamentos
da decisão de primeiro grau, objeto da presente apelação, e em afronta
ao disposto no art. 524, II, do Código de Processo Civil, o apelante
descumpriu requisito indispensável ao conhecimento do recurso".
DECISÃO MONOCRÁTICA QUE NEGA SEGUIMENTO AO RECURSO DE
APELAÇÃO. (TJPR, Dec. Mon. AC 1.417.887-7, da 13ª CC, Rel. Des. Coimbra
de Moura, 20/11/2015).
DECISÃO MONOCRÁTICA. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL DE
CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO. SENTENÇA QUE INDEFERIU A
PETIÇÃO INICIAL E EXTINGUIU O FEITO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO.
APELO DO AUTOR. PETIÇÃO INICIAL INEPTA. INDEFERIMENTO. RECURSO
QUE NÃO ATACA OS FUNDAMENTOS DA SENTENÇA. VIOLAÇÃO AO
PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE CONTIDO NO ARTIGO 514, II, DO CÓDIGO
DE PROCESSO CIVIL. JUSTIÇA GRATUITA DEFERIDA NA SENTENÇA.
AUSÊNCIA DE INTERESSE RECURSAL. RECURSO MANIFESTAMENTE
INADMISSÍVEL. RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL A QUE SE NEGA
SEGUIMENTO MONOCRATICAMENTE. (TJPR, Dec. Mon. AC 1.398.478-4, da
13ª CC, Rel. Desa. Rosana Andriguetto de Carvalho, 18/11/2015)
Também há evidente violação à dialeticidade no ponto que se alega
que a decisão agravada tenha incorrido em omissão ao não se pronunciar acerca da
aventada ilegitimidade do agravante, notadamente porque, tal questão é objeto do
mérito dos embargos, de modo que será oportunamente apreciada pelo magistrado de
origem, uma vez que anunciado o julgamento antecipado da lide.
Sendo assim, na medida em que as razões declinadas no presente
recurso não servem para impugnar, objetivamente, os fundamentos da sentença (ratio
decidendi), resta claro, portanto, a afronta ao art. 1.016, III, do Código de Processo Civil,
o que revela a manifesta inadmissibilidade do recurso neste ponto.
2.2. DA PRECLUSÃO
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De outra parte, no que tange à alegada omissão a respeito do
pedido de produção de prova, com a oitiva de testemunhas e depoimento pessoal do
representante legal do agravado, o recurso também não merece ser conhecido, ante a
preclusão operada sobre a questão.
Com efeito, o agravante foi intimado para especificar as provas que
pretendia produzir, de forma objetiva e fundamentada, sob pena de preclusão (mov. 37
e 41), no entanto, restou inerte (mov. 43), o que motivou a decisão agravada a anunciar
o julgamento antecipado da lide.
É evidente, portanto, que a questão relativa à instrução probatória
encontra-se preclusa, não podendo mais ser arguida pelas partes por força do artigo
507 do Código de Processo Civil:
Art. 507. É vedado à parte discutir no curso do processo as questões já
decididas a cujo respeito se operou a preclusão.
Sobre o instituto da preclusão, disserta Fredie Diddier Júnior, in
verbis:
"A preclusão temporal consiste na perda do poder processual em razão
do seu não exercício no momento oportuno; a perda do prazo é inércia
que implica preclusão (art. 183, CPC." (Curso de Direito Processual Civil.
15ª ed. Juspodivm. p. 331).
De igual modo, Luiz Guilherme Marinoni e Daniel Mitidiero ainda
complementam que:
A preclusão consiste na perda, extinção ou consumação de uma faculdade
processual em face do decurso do tempo (preclusão temporal), da prática
de ato incompatível (preclusão lógica) e do efetivo exercício de
determinada faculdade processual (preclusão consumativa). Se a parte
discute essa ou aquela questão no curso do processo, a decisão a respeito
faz precluir a possibilidade de a parte continuar a discuti-la na mesma
instância. A parte só poderá voltar a discutir questão já decidida, se,
oportunamente, recorreu da decisão (STJ, 1ª Turma, REsp 876.097/CE, rel.
Min. Teori Zavascki, j. em 06.02.2007, DJ. 22.02.2007, p. 170), tendo de
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
13ª CÂMARA CÍVEL – PROJUDI
AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº. 14573-95.2018.8.16.0000
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fazê-lo, então, em sede recursal.(in Código de Processo Civil comentado
artigo por artigo. São Paulo: RT, 2008, p. 450).
3. Ante o exposto, com fulcro no inc. III do artigo 932 do Código de
Processo Civil, não conheço do recurso, ante a sua manifesta inadmissibilidade,
conforme fundamentação despendida.
4. Intime-se.
5. Oportunamente, remetam-se os presentes autos ao Juízo da
causa.
Curitiba, 27 de abril de 2018.
FRANCISCO EDUARDO GONZAGA DE OLIVEIRA
DESEMBARGADOR – RELATOR
(assinado digitalmente)
(TJPR - 13ª C.Cível - 0014573-95.2018.8.16.0000 - Curitiba - Rel.: Francisco Eduardo Gonzaga de Oliveira - J. 03.05.2018)
Data do Julgamento
:
03/05/2018 00:00:00
Data da Publicação
:
03/05/2018
Órgão Julgador
:
13ª Câmara Cível
Relator(a)
:
Francisco Eduardo Gonzaga de Oliveira
Comarca
:
Curitiba
Segredo de justiça
:
Não
Comarca
:
Curitiba
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