TRF1 0002250-83.2011.4.01.3806 00022508320114013806
PREVIDENCIÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. REEXAME NECESSÁRIO. APOSENTADORIA ESPECIAL. AGENTE NOCIVO ELETRICIDADE. EXPOSIÇÃO A TENSÃO ELÉTRICA SUPERIOR A 250 VOLTS. SUPRESSÃO PELO DECRETO 2.172/97. ROL DE ATIVIDADES E AGENTES NOCIVOS. CARÁTER EXEMPLIFICATIVO.
PRECEDENTE DO STJ EM RECURSO REPETITIVO (RESP 1.306.113/SC). USO DE EPI EFICAZ. NÃO DESCARACTERIZAÇÃO DA ATIVIDADE ESPECIAL. HABITUALIDADE E PERMANÊNCIA. DESNECESSIDADE. CONSECTÁRIOS LEGAIS INCIDENTES SOBRE A CONDENAÇÃO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
MAJORADOS. SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA.
1. O desate da lide recursal cinge-se ao reconhecimento da especialidade do labor prestado pelo autor no período de 06/03/1997 a 11/04/2011, para fins de concessão de aposentadoria especial a partir de 13/07/2011.
2. No julgamento do REsp 1.306.113/SC, submetido ao rito dos recursos repetitivos, a Primeira Seção do STJ firmou o entendimento de que é possível considerar como atividade especial para fins previdenciários o trabalho exposto à eletricidade, mesmo se
exercido após 06/03/1997, data do início da vigência do Decreto 2.172/97
3. Esta Corte firmou a orientação de que "o tempo de exposição ao risco elétrico não é necessariamente um fator condicionante para que ocorra um acidente ou choque elétrico; por mais que a exposição do segurado ao agente nocivo eletricidade acima de
250
volts (alta tensão) não perdure por todas as horas trabalhadas, trata-se de risco potencial e permanente" (AC 0004594-17.2009.4.01.3803 / MG, Rel. JUIZ FEDERAL UBIRAJARA TEIXEIRA, 1ª CÂMARA REGIONAL PREVIDENCIÁRIA DE JUIZ DE FORA, e-DJF1 de
16/05/2017).
4. No julgamento do ARE 664.335/SC, com repercussão geral reconhecida, o STF fixou a tese de que "o direito à aposentadoria especial pressupõe a efetiva exposição do trabalhador a agente nocivo à sua saúde, de modo que, se o EPI for realmente capaz de
neutralizar a nocividade não haverá respaldo constitucional à aposentadoria especial". Entretanto, em relação ao agente nocivo ruído, o Pretório Excelso firmou o entendimento de que "a declaração do empregador, no âmbito do Perfil Profissiográfico
Previdenciário (PPP), no sentido da eficácia do Equipamento de Proteção Individual - EPI, não descaracteriza o tempo de serviço especial para aposentadoria". Em caso de divergência ou dúvida sobre a real eficácia do EPI, restou assentado que "a
premissa
a nortear a Administração e o Judiciário é pelo reconhecimento do direito ao benefício da aposentadoria especial. Isto porque o uso de EPI, no caso concreto, pode não se afigurar suficiente para descaracterizar completamente a relação nociva a que o
empregado se submete". (ARE 664.335, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 04/12/2014).
5. No caso específico do agente nocivo eletricidade, esta Corte já decidiu que "os EPI designados pela NR-6, Portaria nº 3.214/78 do Ministério do Trabalho (capacete, luvas, mangas, vestimentas condutivas para proteção do corpo contra choques elétricos
e calçado para proteção contra choques elétricos), ainda que diminuam a exposição do trabalhador, não neutralizam com eficiência os efeitos do agente nocivo nem reduzem a nível aceitável de tolerância ou eliminam totalmente a possibilidade de acidente.
Os equipamentos não são, portanto, eficazes para afastar o risco. É notório o risco de danos à integridade física ou mesmo de morte em razão do contato com tensões elétricas elevadas, razão pela qual a periculosidade deve ser reconhecida em favor do
trabalhador ainda que o PPP apenas declare a eficácia do EPI, sem efetivamente discriminar seu uso ou atestar a capacidade para eliminar a nocividade. ( ...) (AC 0010041-92.2009.4.01.3800 / MG, Rel. JUIZ FEDERAL JOSÉ ALEXANDRE FRANCO, 1ª CÂMARA
REGIONAL
PREVIDENCIÁRIA DE JUIZ DE FORA, e-DJF1 de 09/05/2017).
6. O perfil profissiográfico previdenciário de fls. 68/68-v comprova que o autor trabalhou na empresa CEMIG Geração e Transmissão S/A. e realmente permaneceu exposto a tensão elétrica superior a 250 Volts no período de 06/03/1997 a 11/04/2011 (data da
emissão do documento).
7. Somando-se os períodos de labor especial incontroversos com aquele reconhecido na presente demanda, verifica-se que o autor contava com 31 anos, 2 meses e 23 dias na data do requerimento administrativo, tempo suficiente para a concessão do benefício
postulado nos autos (fl. 393).
8. Diferentemente da conclusão alcançada pelo magistrado de origem, a vedação expressa no § 8º do art. 57 da Lei 8.213/91 não se aplica a presente hipótese, pois, até o trânsito em julgado de provimento judicial que lhe seja favorável, o autor não tem
a
certeza do seu direito ao recebimento da aposentadoria especial. Evidentemente, após o trânsito em julgado, compete ao INSS verificar se ele permanece exercendo atividades prejudiciais à sua saúde, com vistas à aplicação do disposto no citado § 8º do
art. 57 da Lei de Benefícios, sendo que eventual suspensão ou cancelamento do benefício deverá precedido de procedimento administrativo, com observância do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa. Precedentes: APELAÇÃO
00004349520124013300, JUIZ FEDERAL SAULO JOSÉ CASALI BAHIA, TRF1 - 1ª CÂMARA REGIONAL PREVIDENCIÁRIA DA BAHIA, e-DJF1 DATA:08/11/2017; APELAÇÃO 00058215120094013800, JUIZ FEDERAL GRIGÓRIO CARLOS DOS SANTOS, TRF1 - 2ª CÂMARA REGIONAL PREVIDENCIÁRIA DE
MINAS GERAIS, e-DJF1 DATA:13/10/2017.
9. Correção monetária e juros de mora de acordo com a versão mais atualizada do Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos da Justiça Federal, devendo ser observada, quanto à atualização monetária, a orientação do Supremo Tribunal Federal
no
julgamento do RE 870.947 (repercussão geral, tema 810), que declarou a inconstitucionalidade da TR para esse fim.
10. A matéria relativa a juros e correção monetária é de ordem pública e cognoscível, portanto, de ofício, inclusive em reexame necessário, razão por que se afasta eventual alegação de reformatio in pejus contra a Fazenda nesses casos, tampouco se pode
falar em ofensa ao princípio da inércia da jurisdição. Precedentes citados no voto.
11. Quanto aos honorários, cumpre frisar que "Somente nos recursos interpostos contra decisão publicada a partir de 18 de março de 2016, será possível o arbitramento de honorários sucumbenciais recursais, na forma do art. 85, § 11, do novo CPC"
(Enunciado Administrativo STJ nº 7).
12. A verba honorária fixada pelo magistrado de origem (R$ 1.000,00) destoa da quantia adotada por esta Corte em matérias similares à presente, razão pela qual deve ser majorada para 10% (dez por cento) sobre o valor das parcelas vencidas até a data da
sentença.
13. Apelação do autor provida e remessa necessária parcialmente provida.(AC 0005604-45.2013.4.01.3807, JUIZ FEDERAL HENRIQUE GOUVEIA DA CUNHA, TRF1 - 2ª CÂMARA REGIONAL PREVIDENCIÁRIA DE MINAS GERAIS, e-DJF1 02/08/2018 PAG.)
Ementa
PREVIDENCIÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. REEXAME NECESSÁRIO. APOSENTADORIA ESPECIAL. AGENTE NOCIVO ELETRICIDADE. EXPOSIÇÃO A TENSÃO ELÉTRICA SUPERIOR A 250 VOLTS. SUPRESSÃO PELO DECRETO 2.172/97. ROL DE ATIVIDADES E AGENTES NOCIVOS. CARÁTER EXEMPLIFICATIVO.
PRECEDENTE DO STJ EM RECURSO REPETITIVO (RESP 1.306.113/SC). USO DE EPI EFICAZ. NÃO DESCARACTERIZAÇÃO DA ATIVIDADE ESPECIAL. HABITUALIDADE E PERMANÊNCIA. DESNECESSIDADE. CONSECTÁRIOS LEGAIS INCIDENTES SOBRE A CONDENAÇÃO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
MAJORADOS. SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA.
1. O desate da lide recursal cinge-se ao reconhecimento da especialidade do labor prestado pelo autor no período de 06/03/1997 a 11/04/2011, para fins de concessão de aposentadoria especial a partir de 13/07/2011.
2. No julgamento do REsp 1.306.113/SC, submetido ao rito dos recursos repetitivos, a Primeira Seção do STJ firmou o entendimento de que é possível considerar como atividade especial para fins previdenciários o trabalho exposto à eletricidade, mesmo se
exercido após 06/03/1997, data do início da vigência do Decreto 2.172/97
3. Esta Corte firmou a orientação de que "o tempo de exposição ao risco elétrico não é necessariamente um fator condicionante para que ocorra um acidente ou choque elétrico; por mais que a exposição do segurado ao agente nocivo eletricidade acima de
250
volts (alta tensão) não perdure por todas as horas trabalhadas, trata-se de risco potencial e permanente" (AC 0004594-17.2009.4.01.3803 / MG, Rel. JUIZ FEDERAL UBIRAJARA TEIXEIRA, 1ª CÂMARA REGIONAL PREVIDENCIÁRIA DE JUIZ DE FORA, e-DJF1 de
16/05/2017).
4. No julgamento do ARE 664.335/SC, com repercussão geral reconhecida, o STF fixou a tese de que "o direito à aposentadoria especial pressupõe a efetiva exposição do trabalhador a agente nocivo à sua saúde, de modo que, se o EPI for realmente capaz de
neutralizar a nocividade não haverá respaldo constitucional à aposentadoria especial". Entretanto, em relação ao agente nocivo ruído, o Pretório Excelso firmou o entendimento de que "a declaração do empregador, no âmbito do Perfil Profissiográfico
Previdenciário (PPP), no sentido da eficácia do Equipamento de Proteção Individual - EPI, não descaracteriza o tempo de serviço especial para aposentadoria". Em caso de divergência ou dúvida sobre a real eficácia do EPI, restou assentado que "a
premissa
a nortear a Administração e o Judiciário é pelo reconhecimento do direito ao benefício da aposentadoria especial. Isto porque o uso de EPI, no caso concreto, pode não se afigurar suficiente para descaracterizar completamente a relação nociva a que o
empregado se submete". (ARE 664.335, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 04/12/2014).
5. No caso específico do agente nocivo eletricidade, esta Corte já decidiu que "os EPI designados pela NR-6, Portaria nº 3.214/78 do Ministério do Trabalho (capacete, luvas, mangas, vestimentas condutivas para proteção do corpo contra choques elétricos
e calçado para proteção contra choques elétricos), ainda que diminuam a exposição do trabalhador, não neutralizam com eficiência os efeitos do agente nocivo nem reduzem a nível aceitável de tolerância ou eliminam totalmente a possibilidade de acidente.
Os equipamentos não são, portanto, eficazes para afastar o risco. É notório o risco de danos à integridade física ou mesmo de morte em razão do contato com tensões elétricas elevadas, razão pela qual a periculosidade deve ser reconhecida em favor do
trabalhador ainda que o PPP apenas declare a eficácia do EPI, sem efetivamente discriminar seu uso ou atestar a capacidade para eliminar a nocividade. ( ...) (AC 0010041-92.2009.4.01.3800 / MG, Rel. JUIZ FEDERAL JOSÉ ALEXANDRE FRANCO, 1ª CÂMARA
REGIONAL
PREVIDENCIÁRIA DE JUIZ DE FORA, e-DJF1 de 09/05/2017).
6. O perfil profissiográfico previdenciário de fls. 68/68-v comprova que o autor trabalhou na empresa CEMIG Geração e Transmissão S/A. e realmente permaneceu exposto a tensão elétrica superior a 250 Volts no período de 06/03/1997 a 11/04/2011 (data da
emissão do documento).
7. Somando-se os períodos de labor especial incontroversos com aquele reconhecido na presente demanda, verifica-se que o autor contava com 31 anos, 2 meses e 23 dias na data do requerimento administrativo, tempo suficiente para a concessão do benefício
postulado nos autos (fl. 393).
8. Diferentemente da conclusão alcançada pelo magistrado de origem, a vedação expressa no § 8º do art. 57 da Lei 8.213/91 não se aplica a presente hipótese, pois, até o trânsito em julgado de provimento judicial que lhe seja favorável, o autor não tem
a
certeza do seu direito ao recebimento da aposentadoria especial. Evidentemente, após o trânsito em julgado, compete ao INSS verificar se ele permanece exercendo atividades prejudiciais à sua saúde, com vistas à aplicação do disposto no citado § 8º do
art. 57 da Lei de Benefícios, sendo que eventual suspensão ou cancelamento do benefício deverá precedido de procedimento administrativo, com observância do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa. Precedentes: APELAÇÃO
00004349520124013300, JUIZ FEDERAL SAULO JOSÉ CASALI BAHIA, TRF1 - 1ª CÂMARA REGIONAL PREVIDENCIÁRIA DA BAHIA, e-DJF1 DATA:08/11/2017; APELAÇÃO 00058215120094013800, JUIZ FEDERAL GRIGÓRIO CARLOS DOS SANTOS, TRF1 - 2ª CÂMARA REGIONAL PREVIDENCIÁRIA DE
MINAS GERAIS, e-DJF1 DATA:13/10/2017.
9. Correção monetária e juros de mora de acordo com a versão mais atualizada do Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos da Justiça Federal, devendo ser observada, quanto à atualização monetária, a orientação do Supremo Tribunal Federal
no
julgamento do RE 870.947 (repercussão geral, tema 810), que declarou a inconstitucionalidade da TR para esse fim.
10. A matéria relativa a juros e correção monetária é de ordem pública e cognoscível, portanto, de ofício, inclusive em reexame necessário, razão por que se afasta eventual alegação de reformatio in pejus contra a Fazenda nesses casos, tampouco se pode
falar em ofensa ao princípio da inércia da jurisdição. Precedentes citados no voto.
11. Quanto aos honorários, cumpre frisar que "Somente nos recursos interpostos contra decisão publicada a partir de 18 de março de 2016, será possível o arbitramento de honorários sucumbenciais recursais, na forma do art. 85, § 11, do novo CPC"
(Enunciado Administrativo STJ nº 7).
12. A verba honorária fixada pelo magistrado de origem (R$ 1.000,00) destoa da quantia adotada por esta Corte em matérias similares à presente, razão pela qual deve ser majorada para 10% (dez por cento) sobre o valor das parcelas vencidas até a data da
sentença.
13. Apelação do autor provida e remessa necessária parcialmente provida.(AC 0005604-45.2013.4.01.3807, JUIZ FEDERAL HENRIQUE GOUVEIA DA CUNHA, TRF1 - 2ª CÂMARA REGIONAL PREVIDENCIÁRIA DE MINAS GERAIS, e-DJF1 02/08/2018 PAG.)Decisão
A Câmara, por unanimidade, negou provimento ao recurso do INSS e deu parcial provimento à remessa necessária.
Data da Publicação
:
02/08/2018
Classe/Assunto
:
APELAÇÃO CIVEL (AC)
Órgão Julgador
:
2ª CÂMARA REGIONAL PREVIDENCIÁRIA DE MINAS GERAIS
Relator(a)
:
JUIZ FEDERAL HENRIQUE GOUVEIA DA CUNHA
Tipo
:
Acórdão
Fonte da publicação
:
e-DJF1 02/08/2018 PAG e-DJF1 02/08/2018 PAG
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