TRF2 0000447-33.2011.4.02.5101 00004473320114025101
ADMINISTRATIVO. MILITAR. CONCURSO PÚBLICO. INGRESSO NA CARREIRA MILITAR. LIMITE
DE IDADE. NECESSIDADE DE LEI. ART. 142, §3º, X DA CRFB/1988. TUTELA ANTECIPADA
1. Diante das peculiaridades das atividades castrenses, a Constituição
Federal, em seu art. 142, § 3º, X, estabeleceu a necessidade da edição de
lei ordinária para tratar do ingresso, da estabilidade, da transferência
para a inatividade, da remuneração e de outras situações especiais dos
militares. 2. O art. 10 da Lei n° 6.880/80 (estatuto dos militares), ao
regulamentar o ingresso nas forças armadas, previu que os candidatos devem
preencher os requisitos previstos em lei e nos regulamentos da Marinha,
do Exército e da Aeronáutica. 3. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento
do RE 600.885, decidiu que a expressão "nos regulamentos da Marinha, do
Exército e da Aeronáutica" do mencionado art. 10 não foi recepcionada pela
Constituição Federal de 1988, que, como dito, exige a edição de lei formal
para estabelecer os requisitos para ingresso na carreira militar, incluindo
a fixação de limites mínimos e máximos de idade para os candidatos (STF,
Pleno, RE 600.885, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA, DJE 1.7.2011). 4. Contudo, em
razão do longo tempo de vigência dos regulamentos e em respeito à segurança
jurídica, o STF decidiu modular os efeitos da decisão, considerando válidos
os limites fixados em editais até 31.12.2011, prazo posteriormente prorrogado
para 31.12.2012. Destacou, ainda, que os candidatos que ingressaram em juízo
antes do pronunciamento de inconstitucionalidade deveriam ser excluídos da
modulação subjetiva dos efeitos realizada no referido recurso extraordinário,
de forma a manter os direitos judicialmente reconhecidos (STF, Pleno, ED em
RE 600.885, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA, DJE 12.12.2012). 5. Precedentes: STJ,
1ª Turma, REsp 1.435.391, Rel. Min. ARI PARGENDLER, DJE 21.3.2014; TRF2;
5ª Turma Especializada; TRF2; 7ª Turma Especializada; AC 201151010083207,
Rel. Des. Fed. JOSÉ ANTONIO NEIVA, E-DJF2R 9.6.2015; ApelReex 201250010079802,
Rel. Des. Fed. RICARDO PERLINGEIRO, E-DJF2R 3.10.2014. 6. Caso em que,
mesmo o edital impugnado tendo sido publicado em 12.4.2010 (fl. 21), ou seja,
dentro do prazo estabelecido no referido recurso extraordinário (31.12.2012),
o demandante não foi atingido pela modulação dos efeitos realizada pelo
Supremo Tribunal Federal no julgamento 1 do RE 600.885, pois a Exma. Ministra
Cármem Lúcia, no voto condutor do citado recurso, ressalvou os candidatos
que possuíssem direitos judicialmente reconhecidos, o que ocorre no caso
dos autos, uma vez que a tutela antecipada foi favorável ao demandante,
permitindo-o participar e ser aprovado no curso de formação de sargentos. Dessa
forma, a sentença deve ser reformada a fim de que o Comando da Aeronáutica
inclua o demandante no quadro de suboficiais e sargentos da Aeronáutica,
caso tenha concluído o curso de formação com aproveitamento, sem prejuízo
das demais graduações, salvo algum outro motivo impeditivo. 7. Honorários
advocatícios arbitrados em valor fixo (R$ 5.000,00) por se tratar de causa
de pouca complexidade e não apresentar singularidade em relação aos fatos
e direitos alegados, atualizados a partir da data do presente voto. 8. Em
apelação, somente seria cabível a antecipação de tutela de urgência antes
do julgamento ou nos casos em que a decisão a ser proferida desafiasse
recurso com efeito suspensivo contrário ao interessado. Isso porque,
encontrando-se o processo com resultado favorável ao demandante, ainda que
cabível a interposição de recurso especial ou extraordinário, já poderia
ser requerida a execução provisória (com extração de carta de sentença)
na medida em que os recursos excepcionais não detêm, automaticamente,
efeito suspensivo. Exegese do art. 299, parágrafo único, do CPC/2015. Além
disso, a execução forçada de obrigação específica (como a edição de um ato
administrativo) também dependeria da ponderação entre o interesse individual
(declarado na decisão cognitiva) e o interesse público, a ser apurado em fase
própria pelo juiz da execução, que poderia concluir (diante da manifestação
de um interesse público preponderante na fase executiva) pela conversão em
perdas e danos. 9. Apelação provida e tutela antecipada indeferida.
Ementa
ADMINISTRATIVO. MILITAR. CONCURSO PÚBLICO. INGRESSO NA CARREIRA MILITAR. LIMITE
DE IDADE. NECESSIDADE DE LEI. ART. 142, §3º, X DA CRFB/1988. TUTELA ANTECIPADA
1. Diante das peculiaridades das atividades castrenses, a Constituição
Federal, em seu art. 142, § 3º, X, estabeleceu a necessidade da edição de
lei ordinária para tratar do ingresso, da estabilidade, da transferência
para a inatividade, da remuneração e de outras situações especiais dos
militares. 2. O art. 10 da Lei n° 6.880/80 (estatuto dos militares), ao
regulamentar o ingresso nas forças armadas, previu que os candidatos devem
preencher os requisitos previstos em lei e nos regulamentos da Marinha,
do Exército e da Aeronáutica. 3. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento
do RE 600.885, decidiu que a expressão "nos regulamentos da Marinha, do
Exército e da Aeronáutica" do mencionado art. 10 não foi recepcionada pela
Constituição Federal de 1988, que, como dito, exige a edição de lei formal
para estabelecer os requisitos para ingresso na carreira militar, incluindo
a fixação de limites mínimos e máximos de idade para os candidatos (STF,
Pleno, RE 600.885, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA, DJE 1.7.2011). 4. Contudo, em
razão do longo tempo de vigência dos regulamentos e em respeito à segurança
jurídica, o STF decidiu modular os efeitos da decisão, considerando válidos
os limites fixados em editais até 31.12.2011, prazo posteriormente prorrogado
para 31.12.2012. Destacou, ainda, que os candidatos que ingressaram em juízo
antes do pronunciamento de inconstitucionalidade deveriam ser excluídos da
modulação subjetiva dos efeitos realizada no referido recurso extraordinário,
de forma a manter os direitos judicialmente reconhecidos (STF, Pleno, ED em
RE 600.885, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA, DJE 12.12.2012). 5. Precedentes: STJ,
1ª Turma, REsp 1.435.391, Rel. Min. ARI PARGENDLER, DJE 21.3.2014; TRF2;
5ª Turma Especializada; TRF2; 7ª Turma Especializada; AC 201151010083207,
Rel. Des. Fed. JOSÉ ANTONIO NEIVA, E-DJF2R 9.6.2015; ApelReex 201250010079802,
Rel. Des. Fed. RICARDO PERLINGEIRO, E-DJF2R 3.10.2014. 6. Caso em que,
mesmo o edital impugnado tendo sido publicado em 12.4.2010 (fl. 21), ou seja,
dentro do prazo estabelecido no referido recurso extraordinário (31.12.2012),
o demandante não foi atingido pela modulação dos efeitos realizada pelo
Supremo Tribunal Federal no julgamento 1 do RE 600.885, pois a Exma. Ministra
Cármem Lúcia, no voto condutor do citado recurso, ressalvou os candidatos
que possuíssem direitos judicialmente reconhecidos, o que ocorre no caso
dos autos, uma vez que a tutela antecipada foi favorável ao demandante,
permitindo-o participar e ser aprovado no curso de formação de sargentos. Dessa
forma, a sentença deve ser reformada a fim de que o Comando da Aeronáutica
inclua o demandante no quadro de suboficiais e sargentos da Aeronáutica,
caso tenha concluído o curso de formação com aproveitamento, sem prejuízo
das demais graduações, salvo algum outro motivo impeditivo. 7. Honorários
advocatícios arbitrados em valor fixo (R$ 5.000,00) por se tratar de causa
de pouca complexidade e não apresentar singularidade em relação aos fatos
e direitos alegados, atualizados a partir da data do presente voto. 8. Em
apelação, somente seria cabível a antecipação de tutela de urgência antes
do julgamento ou nos casos em que a decisão a ser proferida desafiasse
recurso com efeito suspensivo contrário ao interessado. Isso porque,
encontrando-se o processo com resultado favorável ao demandante, ainda que
cabível a interposição de recurso especial ou extraordinário, já poderia
ser requerida a execução provisória (com extração de carta de sentença)
na medida em que os recursos excepcionais não detêm, automaticamente,
efeito suspensivo. Exegese do art. 299, parágrafo único, do CPC/2015. Além
disso, a execução forçada de obrigação específica (como a edição de um ato
administrativo) também dependeria da ponderação entre o interesse individual
(declarado na decisão cognitiva) e o interesse público, a ser apurado em fase
própria pelo juiz da execução, que poderia concluir (diante da manifestação
de um interesse público preponderante na fase executiva) pela conversão em
perdas e danos. 9. Apelação provida e tutela antecipada indeferida.
Data do Julgamento
:
22/09/2016
Data da Publicação
:
27/09/2016
Classe/Assunto
:
AC - Apelação - Recursos - Processo Cível e do Trabalho
Órgão Julgador
:
5ª TURMA ESPECIALIZADA
Relator(a)
:
RICARDO PERLINGEIRO
Comarca
:
TRIBUNAL - SEGUNDA REGIÃO
Tipo
:
Acórdão
Relator para
acórdão
:
RICARDO PERLINGEIRO
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