TRF2 0004041-89.2010.4.02.5101 00040418920104025101
CAUTELAR E ORDINÁRIA. SFH. SEGURO HABITACIONAL. SINISTRO. AMEAÇA
DESMORONAMENTO. DANOS MORAIS. CONFIGURAÇÃO. 1. Os requerimentos sobre os
agravos retidos eventualmente interpostos não merecem prosperar, pelo fato
de não existir tais recursos nos autos. 2. Considerando que a parte autora
pleiteia, além da realização dos reparos necessários no imóvel, nos termos do
seguro contratado, a suspensão das prestações do financiamento, pagos à CEF, e,
ainda, que a mesma arque com os encargos de locação, até a liberação do imóvel,
bem como os custos da mudança e danos morais, não há falar em ilegitimidade
da Caixa para figurar no pólo passivo da demanda. Ademais, (i) trata-se de
apólice do seguro habitacional do ramo 66 (apólice pública), (ii) sendo o
contrato de mútuo expresso, ainda, no sentido de que em caso de sinistro,
fica a CEF autorizada a receber diretamente da companhia seguradora o valor
da indenização, aplicando-o na solução ou amortização da dívida e colocando
o saldo, se houver, à disposição dos DEVEDORES. 3. Também deve ser rejeitada
a preliminar de ilegitimidade passiva da SUL América Companhia Nacional
de Seguros S/A, por ser a mesma a seguradora do contrato. 4. Considerando
que entre a data da negativa de cobertura (agosto de 2009) e o ajuizamento
da ação cautelar (novembro de 2009) não decorreu lapso superior a um ano,
não há falar em prescrição, nos termos do art. 206, §1º, II, b, do Código
Civil. Também não se aplica ao caso o prazo decadencial previsto no art. 445
do Código Civil, vez que o pedido dos autores não ser refere à redibição do
contrato ou a abatimento no preço. 5. Na ação cautelar, os autores pretendem
tão somente a realização das obras necessárias a fim de que se ultime o risco
de desmoronamento do imóvel, não se configurando a mesma como satisfativa. 6. O
contrato de seguro vinculado ao mútuo habitacional no âmbito do SFH firmado
pelas partes previa, como cobertura securitária, os riscos que possam
afetar o objeto do seguro, ocasionando ameaça de desmoronamento. Consoante
boletim de ocorrência nº 10.359/2009, da Defesa Civil do Município do
Rio de Janeiro, o imóvel foi interditado, em caráter preventivo, em razão
das trincas horizontais e inclinadas espalhadas pelas paredes de diversos
cômodos da casa, havendo, por certo, risco de desmoronamento (tanto é assim
que o imóvel foi interditado), fazendo incidir a cláusula 3ª, item 3.1, "e"
do contrato de seguro. 7. Sobre os demais problemas do imóvel, consignou o
laudo pericial que as infiltrações por percolação nas alvenarias são falhas
construtivas, decorrentes do emprego de materiais e técnicas construtivas
inadequadas. Ocorre que, consoante se extrai do contrato de seguro, foram
expressamente excepcionados da cobertura os danos que não fossem decorrentes
de causa externa, "excluindo-se, portanto, todo e qualquer dano sofrido pelo
imóvel, causado por seus próprios componentes, sem que sobre eles atue qualquer
força anormal". Portanto, não sendo a infiltração por percolação causada
por fatores externos, mas sim por vício construtivo, não há como acolher a
pretensão quanto ao ponto, haja vista a apólice não cobrir vícios decorrentes
de falha na edificação. 8. A instituição financeira, para fins de realização
das obras emergenciais no imóvel, alocou os autores em outro bem até a data
final de realização das atividades, embora não houvesse qualquer determinação
nesse sentido, razão pela qual não procede o apelo dos autores quanto ao
pleito de pagamento dos aluguéis posteriores. 9. O pedido de condenação das
rés ao pagamento das despesas com mudança também não merece prosperar, por
não haver nos autos qualquer demonstração de terem os autores arcado com as
mesmas, tampouco o seu montante. 10. A Caixa providenciou o cumprimento da
decisão liminar em 30/06/2010, com a desocupação do imóvel pelos mutuários,
razão pela qual esse deve ser o termo ad quem da multa fixada pela referida
decisão. 11. Ao contrário do afirmado pelos autores, não competia apenas às
rés o dever de informar sobre o cumprimento da determinação judicial, vez
que a todos os participantes da relação processual compete a observância
à boa-fé e à veracidade, configurando a omissão dos demandantes quanto à
informação da desocupação do imóvel e o reiterado pleito de levantamento
dos valores (em que pese o equívoco no termo ad quem) conduta desleal,
a ensejar a aplicação dos art. 17 e 18 do CPC, como feito pelo magistrado
de primeiro grau. 12. Resta demonstrado o descaso com que a CEF tratou a
questão, mormente pela gravidade decorrente do risco de desmoronamento
do imóvel no qual os autores residiam, que foi interditado pela Defesa
Civil. Em que pese a determinação judicial para realização rápida dos reparos
(prazo de 30 dias), ainda assim a CEF resistiu ao cumprimento imediato
da ordem. Além do mais, diante da ameaça de desmoronamento da edificação,
os autores viram-se obrigados a mudar de endereço enquanto executadas as
obras de recuperação. Tais fatos têm inegável repercussão na esfera moral
dos autores, sendo cabível a sua reparação. No que tange ao seu montante,
conciliando a pretensão compensatória e punitiva com o princípio do não
enriquecimento sem causa e, ainda, levando em conta o patamar utilizado
por esta Corte em caso análogo (Precedente: 5ª TESP, AC 20075101015302-2,
Rel. Des. Fed. Aluisio Conçalves de Castro Mendes), razoável o valor fixado
pelo juízo de primeiro grau (R$ 5.000,00). 13. Derradeiramente, não há falar
no pagamento de ônus sucumbenciais à SULAMÉRICA COMPANHIA DE SEGUROS S/A e
reembolso do valor antecipado com a contratação do seu assistente-técnico,
tendo em vista a sucumbência recíproca. 14. Apelações desprovidas.
Ementa
CAUTELAR E ORDINÁRIA. SFH. SEGURO HABITACIONAL. SINISTRO. AMEAÇA
DESMORONAMENTO. DANOS MORAIS. CONFIGURAÇÃO. 1. Os requerimentos sobre os
agravos retidos eventualmente interpostos não merecem prosperar, pelo fato
de não existir tais recursos nos autos. 2. Considerando que a parte autora
pleiteia, além da realização dos reparos necessários no imóvel, nos termos do
seguro contratado, a suspensão das prestações do financiamento, pagos à CEF, e,
ainda, que a mesma arque com os encargos de locação, até a liberação do imóvel,
bem como os custos da mudança e danos morais, não há falar em ilegitimidade
da Caixa para figurar no pólo passivo da demanda. Ademais, (i) trata-se de
apólice do seguro habitacional do ramo 66 (apólice pública), (ii) sendo o
contrato de mútuo expresso, ainda, no sentido de que em caso de sinistro,
fica a CEF autorizada a receber diretamente da companhia seguradora o valor
da indenização, aplicando-o na solução ou amortização da dívida e colocando
o saldo, se houver, à disposição dos DEVEDORES. 3. Também deve ser rejeitada
a preliminar de ilegitimidade passiva da SUL América Companhia Nacional
de Seguros S/A, por ser a mesma a seguradora do contrato. 4. Considerando
que entre a data da negativa de cobertura (agosto de 2009) e o ajuizamento
da ação cautelar (novembro de 2009) não decorreu lapso superior a um ano,
não há falar em prescrição, nos termos do art. 206, §1º, II, b, do Código
Civil. Também não se aplica ao caso o prazo decadencial previsto no art. 445
do Código Civil, vez que o pedido dos autores não ser refere à redibição do
contrato ou a abatimento no preço. 5. Na ação cautelar, os autores pretendem
tão somente a realização das obras necessárias a fim de que se ultime o risco
de desmoronamento do imóvel, não se configurando a mesma como satisfativa. 6. O
contrato de seguro vinculado ao mútuo habitacional no âmbito do SFH firmado
pelas partes previa, como cobertura securitária, os riscos que possam
afetar o objeto do seguro, ocasionando ameaça de desmoronamento. Consoante
boletim de ocorrência nº 10.359/2009, da Defesa Civil do Município do
Rio de Janeiro, o imóvel foi interditado, em caráter preventivo, em razão
das trincas horizontais e inclinadas espalhadas pelas paredes de diversos
cômodos da casa, havendo, por certo, risco de desmoronamento (tanto é assim
que o imóvel foi interditado), fazendo incidir a cláusula 3ª, item 3.1, "e"
do contrato de seguro. 7. Sobre os demais problemas do imóvel, consignou o
laudo pericial que as infiltrações por percolação nas alvenarias são falhas
construtivas, decorrentes do emprego de materiais e técnicas construtivas
inadequadas. Ocorre que, consoante se extrai do contrato de seguro, foram
expressamente excepcionados da cobertura os danos que não fossem decorrentes
de causa externa, "excluindo-se, portanto, todo e qualquer dano sofrido pelo
imóvel, causado por seus próprios componentes, sem que sobre eles atue qualquer
força anormal". Portanto, não sendo a infiltração por percolação causada
por fatores externos, mas sim por vício construtivo, não há como acolher a
pretensão quanto ao ponto, haja vista a apólice não cobrir vícios decorrentes
de falha na edificação. 8. A instituição financeira, para fins de realização
das obras emergenciais no imóvel, alocou os autores em outro bem até a data
final de realização das atividades, embora não houvesse qualquer determinação
nesse sentido, razão pela qual não procede o apelo dos autores quanto ao
pleito de pagamento dos aluguéis posteriores. 9. O pedido de condenação das
rés ao pagamento das despesas com mudança também não merece prosperar, por
não haver nos autos qualquer demonstração de terem os autores arcado com as
mesmas, tampouco o seu montante. 10. A Caixa providenciou o cumprimento da
decisão liminar em 30/06/2010, com a desocupação do imóvel pelos mutuários,
razão pela qual esse deve ser o termo ad quem da multa fixada pela referida
decisão. 11. Ao contrário do afirmado pelos autores, não competia apenas às
rés o dever de informar sobre o cumprimento da determinação judicial, vez
que a todos os participantes da relação processual compete a observância
à boa-fé e à veracidade, configurando a omissão dos demandantes quanto à
informação da desocupação do imóvel e o reiterado pleito de levantamento
dos valores (em que pese o equívoco no termo ad quem) conduta desleal,
a ensejar a aplicação dos art. 17 e 18 do CPC, como feito pelo magistrado
de primeiro grau. 12. Resta demonstrado o descaso com que a CEF tratou a
questão, mormente pela gravidade decorrente do risco de desmoronamento
do imóvel no qual os autores residiam, que foi interditado pela Defesa
Civil. Em que pese a determinação judicial para realização rápida dos reparos
(prazo de 30 dias), ainda assim a CEF resistiu ao cumprimento imediato
da ordem. Além do mais, diante da ameaça de desmoronamento da edificação,
os autores viram-se obrigados a mudar de endereço enquanto executadas as
obras de recuperação. Tais fatos têm inegável repercussão na esfera moral
dos autores, sendo cabível a sua reparação. No que tange ao seu montante,
conciliando a pretensão compensatória e punitiva com o princípio do não
enriquecimento sem causa e, ainda, levando em conta o patamar utilizado
por esta Corte em caso análogo (Precedente: 5ª TESP, AC 20075101015302-2,
Rel. Des. Fed. Aluisio Conçalves de Castro Mendes), razoável o valor fixado
pelo juízo de primeiro grau (R$ 5.000,00). 13. Derradeiramente, não há falar
no pagamento de ônus sucumbenciais à SULAMÉRICA COMPANHIA DE SEGUROS S/A e
reembolso do valor antecipado com a contratação do seu assistente-técnico,
tendo em vista a sucumbência recíproca. 14. Apelações desprovidas.
Data do Julgamento
:
29/09/2016
Classe/Assunto
:
APELAÇÃO CÍVEL
Órgão Julgador
:
7ª TURMA ESPECIALIZADA
Relator(a)
:
LUIZ PAULO DA SILVA ARAUJO FILHO
Comarca
:
TRIBUNAL - SEGUNDA REGIÃO
Tipo
:
Acórdão
Relator para
acórdão
:
LUIZ PAULO DA SILVA ARAUJO FILHO
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