TRF2 0008008-06.2014.4.02.5101 00080080620144025101
DIREITO CIVIL. SFH. ILEGITIMIDADE PASSIVA UNIÃO. LEGITIMIDADE
PASSIVA CEF. CERCEAMENTO DE DEFESA. INOCORRÊNCIA. PRESCRIÇÃO. NÃO
CONFIGURAÇÃO. FCVS. INAPLICABILIDADE CDC. MULTIPLICIDADE FINANCIAMENTOS
ANTERIORES A 05/12/1990. POSSIBILIDADE. REMESSA NECESSÁRIA DESPROVIDA. 1. A
jurisprudência encontra-se consolidada no sentido da ilegitimidade
da União nas causas relativas ao SFH, cabendo unicamente à CEF e ao
credor hipotecário figurarem no polo passivo dos feitos. 2. No que tange à
preliminar de cerceamento ao direito de defesa suscitada pela CAIXA ECONÔMICA
FEDERAL, destaque-se que a CEF, a partir de sua citação no presente feito,
obteve ciência e acesso a todos os documentos acostados aos autos, o que
possibilitou o pleno exercício de sua defesa, não se verificando hipótese de
cerceamento. Ademais, não ficou impedida de verificar os dados relacionados a
eventual saldo devedor residual em nome do autor, tendo em vista ser gestora
do Fundo de Compensação de Variações Salariais, o que faz com que deva apurar
o valor de cobertura de eventual saldo residual. 3. Com relação à alegação de
prescrição da CEF, destaque-se que as ações relacionadas a contratos de mútuo
habitacional firmados no âmbito do Sistema Financeiro de Habitação (SFH)
possuem natureza pessoal sendo, portanto, regidas pelo Código Civil. Pela
redação do revogado Código Civil de 1916, a prescrição relacionada às ações
de natureza pessoal era vintenária, sendo que, com o novo diploma de 2002,
passou a ser decenária, salvo se, na data de entrada em vigor do Código
Civil vigente, houver transcorrido mais da metade do prazo estabelecido
na legislação pretérita. 4. No caso em apreço, com o indeferimento do
requerimento, formulado pelo mutuário, de liberação de hipoteca incidente
sobre o bem imóvel, comunicado por meio da carta nº 40/2004 - CCCPMM, datada
de 25/11/2004, considera-se iniciado o prazo prescricional, incidindo ao
caso o disposto no artigo 205 do Código Civil. Assim, ante o ajuizamento
da presente ação, ocorrendo a citação válida, tem-se como interrompido o
prazo prescricional em 26/06/2014, conforme dispõe o artigo 240, § 1º c/c
artigo 312, todos do vigente Código de Processo Civil, o que demonstra a não
ocorrência da prescrição no presente caso. 5. A Primeira Seção do Eg. STJ,
no julgamento do REsp 489.701/SP, em 28/02/2007, de Relatoria da Ministra
Eliana Calmon, consolidou o entendimento quanto à inaplicabilidade do CDC aos
contratos de mútuo habitacional, firmados no âmbito do SFH, com cobertura do
FCVS. 6. Quanto à possibilidade (ou não) da segunda quitação do saldo residual
relativo a contrato de 1 financiamento para aquisição de residência própria,
firmado nos moldes do SFH, com a utilização de recursos provenientes do FCVS,
nos termos das Leis nº 4.380/64, 8.004/99 e 8.100/99, a jurisprudência é firme
no sentido de que a alteração promovida pela Lei nº 10.150, de 21/12/2000,
à Lei nº 8.100/90, tornou evidente a possibilidade de quitação do saldo
residual do segundo financiamento pelo FCVS, aos contratos firmados até
05/12/1990. 7. Apesar da existência de dois imóveis com financiamentos
cobertos pelo FCVS em nome da parte autora, todos eles foram firmados
em anos anteriores a 1990. 8. Por fim, no que tange ao valor fixado a
título de honorários advocatícios, verifico que, ante o trabalho realizado
pelos advogados da parte autora, que se manifestaram nos autos em diversas
oportunidades, revela-se razoável a fixação da verba honorária em 10% (dez
por cento) do valor atualizado da causa, que, quando da propositura da ação,
alcançava o montante de R$ 52.406,57 (cinquenta e dois mil, quatrocentos
e seis reais e cinquenta e sete centavos - fls. 55/56), a ser igualmente
rateado entre as rés. 9. Remessa necessária desprovida.
Ementa
DIREITO CIVIL. SFH. ILEGITIMIDADE PASSIVA UNIÃO. LEGITIMIDADE
PASSIVA CEF. CERCEAMENTO DE DEFESA. INOCORRÊNCIA. PRESCRIÇÃO. NÃO
CONFIGURAÇÃO. FCVS. INAPLICABILIDADE CDC. MULTIPLICIDADE FINANCIAMENTOS
ANTERIORES A 05/12/1990. POSSIBILIDADE. REMESSA NECESSÁRIA DESPROVIDA. 1. A
jurisprudência encontra-se consolidada no sentido da ilegitimidade
da União nas causas relativas ao SFH, cabendo unicamente à CEF e ao
credor hipotecário figurarem no polo passivo dos feitos. 2. No que tange à
preliminar de cerceamento ao direito de defesa suscitada pela CAIXA ECONÔMICA
FEDERAL, destaque-se que a CEF, a partir de sua citação no presente feito,
obteve ciência e acesso a todos os documentos acostados aos autos, o que
possibilitou o pleno exercício de sua defesa, não se verificando hipótese de
cerceamento. Ademais, não ficou impedida de verificar os dados relacionados a
eventual saldo devedor residual em nome do autor, tendo em vista ser gestora
do Fundo de Compensação de Variações Salariais, o que faz com que deva apurar
o valor de cobertura de eventual saldo residual. 3. Com relação à alegação de
prescrição da CEF, destaque-se que as ações relacionadas a contratos de mútuo
habitacional firmados no âmbito do Sistema Financeiro de Habitação (SFH)
possuem natureza pessoal sendo, portanto, regidas pelo Código Civil. Pela
redação do revogado Código Civil de 1916, a prescrição relacionada às ações
de natureza pessoal era vintenária, sendo que, com o novo diploma de 2002,
passou a ser decenária, salvo se, na data de entrada em vigor do Código
Civil vigente, houver transcorrido mais da metade do prazo estabelecido
na legislação pretérita. 4. No caso em apreço, com o indeferimento do
requerimento, formulado pelo mutuário, de liberação de hipoteca incidente
sobre o bem imóvel, comunicado por meio da carta nº 40/2004 - CCCPMM, datada
de 25/11/2004, considera-se iniciado o prazo prescricional, incidindo ao
caso o disposto no artigo 205 do Código Civil. Assim, ante o ajuizamento
da presente ação, ocorrendo a citação válida, tem-se como interrompido o
prazo prescricional em 26/06/2014, conforme dispõe o artigo 240, § 1º c/c
artigo 312, todos do vigente Código de Processo Civil, o que demonstra a não
ocorrência da prescrição no presente caso. 5. A Primeira Seção do Eg. STJ,
no julgamento do REsp 489.701/SP, em 28/02/2007, de Relatoria da Ministra
Eliana Calmon, consolidou o entendimento quanto à inaplicabilidade do CDC aos
contratos de mútuo habitacional, firmados no âmbito do SFH, com cobertura do
FCVS. 6. Quanto à possibilidade (ou não) da segunda quitação do saldo residual
relativo a contrato de 1 financiamento para aquisição de residência própria,
firmado nos moldes do SFH, com a utilização de recursos provenientes do FCVS,
nos termos das Leis nº 4.380/64, 8.004/99 e 8.100/99, a jurisprudência é firme
no sentido de que a alteração promovida pela Lei nº 10.150, de 21/12/2000,
à Lei nº 8.100/90, tornou evidente a possibilidade de quitação do saldo
residual do segundo financiamento pelo FCVS, aos contratos firmados até
05/12/1990. 7. Apesar da existência de dois imóveis com financiamentos
cobertos pelo FCVS em nome da parte autora, todos eles foram firmados
em anos anteriores a 1990. 8. Por fim, no que tange ao valor fixado a
título de honorários advocatícios, verifico que, ante o trabalho realizado
pelos advogados da parte autora, que se manifestaram nos autos em diversas
oportunidades, revela-se razoável a fixação da verba honorária em 10% (dez
por cento) do valor atualizado da causa, que, quando da propositura da ação,
alcançava o montante de R$ 52.406,57 (cinquenta e dois mil, quatrocentos
e seis reais e cinquenta e sete centavos - fls. 55/56), a ser igualmente
rateado entre as rés. 9. Remessa necessária desprovida.
Data do Julgamento
:
24/10/2016
Data da Publicação
:
28/10/2016
Classe/Assunto
:
REOAC - Reexame Necessário - Recursos - Processo Cível e do Trabalho
Órgão Julgador
:
5ª TURMA ESPECIALIZADA
Relator(a)
:
JULIO EMILIO ABRANCHES MANSUR
Comarca
:
TRIBUNAL - SEGUNDA REGIÃO
Tipo
:
Acórdão
Relator para
acórdão
:
JULIO EMILIO ABRANCHES MANSUR
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