TRF2 0013247-94.2016.4.02.0000 00132479420164020000
DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO
DE CONHECIMENTO. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO (ETANERCEPTE 50MG
INJETÁVEL). TRATAMENTO DE PSORÍASE VULGAR. MEDICAMENTO POSTULADO NÃO
INCORPORADO EM ATO NORMATIVO DO SUS. RECURSO REPETITIVO. CRITÉRIOS/REQUISITOS
PARA FORNECIMENTO, COM MODULAÇÃO DE EFEITOS. ANÁLISE DO CASO
CONCRETO. INVIABILIDADE DAS ALTERNATIVAS TERAPÊUTICAS DISPONIBILIZADAS
PELO SUS NO CASO DO AGRAVANTE. INCAPACIDADE FINANCEIRA CONSTATADA PARA
ARCAR COM O PREÇO DO MEDICAMENTO PRESCRITO. REGISTRO DO MEDICAMENTO NA
ANVISA. CANCELAMENTO DESDE MARÇO/2018 (CADUCIDADE). REQUISITOS/CRITÉRIOS
NÃO ATENDIDOS COMPLETAMENTE NO CASO CONCRETO. FORNECIMENTO DO MEDICAMENTO
INCABÍVEL. TUTELA ANTECIPADA RECURSAL CASSADA. AGRAVO DE INSTRUMENTO DO
AUTOR DESPROVIDO, MANTIDA A DECISÃO AGRAVADA. 1. Decisão agravada que,
nos autos de Ação de Conhecimento (processo no 0164350-21.2016.4.02.5151,
autos eletrônicos), indeferiu antecipação dos efeitos da tutela postulada,
qual seja, "que os réus propiciem as condições necessárias para a melhora do
autor, determinando que seja desde já concedido o fornecimento do medicamento
ETANERCEPTE 50 MG INJETÁVEL, conforme especificações técnicas constantes
nas receitas médicas que acompanham" a petição inicial". 2. Autor, ora
Agravante, que narra ter sido diagnosticado com psoríase vulgar (CID 10:
L40.0) e, ainda, que "fez uso de todas as alternativas farmacológicas
fornecidas pelo SUS", sem obter sucesso no tratamento, bem como que "não
pode fazer uso da Ciclosporina - -fármaco de terceira linha -, tendo em
vista ser diagnosticado com hipertensão", razão pela qual o medicamento
postulado é indispensável para a melhora de sua saúde e de suas condições
de vida, com "risco que a ausência do tratamento pode causar à saúde do
Autor, com possibilidade de [piora] progressiva de sua doença, ocasionando
[...] internação hospitalar". 3. Agravo de instrumento que visa, em síntese,
seja reformada "a r. decisão interlocutória proferida pelo MM. Juiz a quo de
fls. 39/40, determinando o fornecimento ao Autor do medicamento ETANERCEPTE
50 MG INJETÁVEL, necessitando de aplicação semanal (4 ampolas por mês), pelo
tempo que se fizer necessário" (grifo no original). 4. No julgamento do REsp
nº 1.657.156, Tema nº 106 dos Recursos Repetitivos do STJ (STJ, 1ª Seção,
relator: Min. BENEDITO GONÇALVES, j. em 25.04.2018, DJe 04.05.2018), em que
se discutiu a obrigatoriedade do Poder Público de fornecer medicamentos não
incorporados em atos normativos do SUS, foi firmada tese no sentido de que
"A concessão dos medicamentos não incorporados em atos normativos do SUS exige
a presença cumulativa dos seguintes requisitos: (i) Comprovação, por meio de
laudo médico fundamentado e circunstanciado expedido por médico que assiste o
paciente, da imprescindibilidade ou necessidade do medicamento, assim como da
ineficácia, para o tratamento da moléstia, dos fármacos fornecidos pelo SUS;
(ii) Incapacidade financeira de arcar com o custo do 1 medicamento prescrito;
e (iii) Existência de registro na ANVISA do medicamento", com modulação de
efeitos para determinar que "os critérios e requisitos estipulados somente
serão exigidos para os processos que forem distribuídos a partir da conclusão
do presente julgamento", o que não é o caso da presente situação concreta, em
que a ação de conhecimento originária foi ajuizada em 17.11.2016. 5. Consoante
entendimento adotado nos autos do Agravo Regimental na Suspensão da Tutela
Antecipada nº 175/CE, de que foi relator o eminente Ministro Gilmar Mendes,
e considerando-se o tema sob análise, os "problemas concretos deverão ser
resolvidos levando-se em consideração todas as perspectivas que a questão
dos direitos sociais envolve", enfatizando-se que "Juízos de ponderação
são inevitáveis nesse contexto prenhe de complexas relações conflituosas
entre princípios e diretrizes políticas ou, em outros termos, entre direitos
individuais e bens coletivos", vislumbrando-se a possibilidade de o Poder
Judiciário "vir a garantir o direito à saúde, por meio do fornecimento de
medicamento ou de tratamento imprescindível para o aumento de sobrevida
e a melhoria da qualidade de vida de pacientes da rede pública de saúde,
ficando estabelecido que a análise judicial deverá ser feita "caso a caso,
considerando- se todos os elementos normativos e fáticos da questão jurídica
debatida" e balizar-se pelos parâmetros traçados por aquela Suprema Corte para
verificar se a hipótese concreta sob exame estaria ou não inserta nos limites
e possibilidades de implementação do direito à saúde assegurado no art. 196
da Constituição". 6. Exame do caso concreto que evidencia que, em que pese
haver nos autos laudo médico emitido pelo SUS, atestando que o Agravante fez
uso de todas as alternativas terapêuticas disponibilizadas no âmbito do SUS,
sem sucesso, bem como de que o Agravante é hipossuficiente econômico, consulta
ao site da ANVISA evidencia que o medicamento ora pretendido (ETANERCEPTE)
teve o seu registro cancelado, por caducidade, a partir de março de 2018,
subsequentemente à data da prolação da decisão monocrática que deferiu o pedido
de antecipação dos efeitos da tutela recursal (11.01.2017), para determinar
que fosse fornecido o medicamento em questão ao ora Agravante. 7. Diante
dessa análise concreta, em que evidenciado que não mais se atendem a todos
os três critérios/requisitos que autorizam o fornecimento de medicamento
não incorporado em ato normativo do SUS, conforme tese elaborada no Recurso
Repetitivo já mencionado (REsp nº 1.657.156, Tema nº 106), impõe-se a cassação
da tutela antecipada recursal anteriormente deferida por decisão monocrática,
mantendo-se a decisão agravada. 8. Agravo de instrumento do Autor desprovido,
mantendo-se a decisão monocrática agravada, em todos os seus termos e na
forma da fundamentação.
Ementa
DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO
DE CONHECIMENTO. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO (ETANERCEPTE 50MG
INJETÁVEL). TRATAMENTO DE PSORÍASE VULGAR. MEDICAMENTO POSTULADO NÃO
INCORPORADO EM ATO NORMATIVO DO SUS. RECURSO REPETITIVO. CRITÉRIOS/REQUISITOS
PARA FORNECIMENTO, COM MODULAÇÃO DE EFEITOS. ANÁLISE DO CASO
CONCRETO. INVIABILIDADE DAS ALTERNATIVAS TERAPÊUTICAS DISPONIBILIZADAS
PELO SUS NO CASO DO AGRAVANTE. INCAPACIDADE FINANCEIRA CONSTATADA PARA
ARCAR COM O PREÇO DO MEDICAMENTO PRESCRITO. REGISTRO DO MEDICAMENTO NA
ANVISA. CANCELAMENTO DESDE MARÇO/2018 (CADUCIDADE). REQUISITOS/CRITÉRIOS
NÃO ATENDIDOS COMPLETAMENTE NO CASO CONCRETO. FORNECIMENTO DO MEDICAMENTO
INCABÍVEL. TUTELA ANTECIPADA RECURSAL CASSADA. AGRAVO DE INSTRUMENTO DO
AUTOR DESPROVIDO, MANTIDA A DECISÃO AGRAVADA. 1. Decisão agravada que,
nos autos de Ação de Conhecimento (processo no 0164350-21.2016.4.02.5151,
autos eletrônicos), indeferiu antecipação dos efeitos da tutela postulada,
qual seja, "que os réus propiciem as condições necessárias para a melhora do
autor, determinando que seja desde já concedido o fornecimento do medicamento
ETANERCEPTE 50 MG INJETÁVEL, conforme especificações técnicas constantes
nas receitas médicas que acompanham" a petição inicial". 2. Autor, ora
Agravante, que narra ter sido diagnosticado com psoríase vulgar (CID 10:
L40.0) e, ainda, que "fez uso de todas as alternativas farmacológicas
fornecidas pelo SUS", sem obter sucesso no tratamento, bem como que "não
pode fazer uso da Ciclosporina - -fármaco de terceira linha -, tendo em
vista ser diagnosticado com hipertensão", razão pela qual o medicamento
postulado é indispensável para a melhora de sua saúde e de suas condições
de vida, com "risco que a ausência do tratamento pode causar à saúde do
Autor, com possibilidade de [piora] progressiva de sua doença, ocasionando
[...] internação hospitalar". 3. Agravo de instrumento que visa, em síntese,
seja reformada "a r. decisão interlocutória proferida pelo MM. Juiz a quo de
fls. 39/40, determinando o fornecimento ao Autor do medicamento ETANERCEPTE
50 MG INJETÁVEL, necessitando de aplicação semanal (4 ampolas por mês), pelo
tempo que se fizer necessário" (grifo no original). 4. No julgamento do REsp
nº 1.657.156, Tema nº 106 dos Recursos Repetitivos do STJ (STJ, 1ª Seção,
relator: Min. BENEDITO GONÇALVES, j. em 25.04.2018, DJe 04.05.2018), em que
se discutiu a obrigatoriedade do Poder Público de fornecer medicamentos não
incorporados em atos normativos do SUS, foi firmada tese no sentido de que
"A concessão dos medicamentos não incorporados em atos normativos do SUS exige
a presença cumulativa dos seguintes requisitos: (i) Comprovação, por meio de
laudo médico fundamentado e circunstanciado expedido por médico que assiste o
paciente, da imprescindibilidade ou necessidade do medicamento, assim como da
ineficácia, para o tratamento da moléstia, dos fármacos fornecidos pelo SUS;
(ii) Incapacidade financeira de arcar com o custo do 1 medicamento prescrito;
e (iii) Existência de registro na ANVISA do medicamento", com modulação de
efeitos para determinar que "os critérios e requisitos estipulados somente
serão exigidos para os processos que forem distribuídos a partir da conclusão
do presente julgamento", o que não é o caso da presente situação concreta, em
que a ação de conhecimento originária foi ajuizada em 17.11.2016. 5. Consoante
entendimento adotado nos autos do Agravo Regimental na Suspensão da Tutela
Antecipada nº 175/CE, de que foi relator o eminente Ministro Gilmar Mendes,
e considerando-se o tema sob análise, os "problemas concretos deverão ser
resolvidos levando-se em consideração todas as perspectivas que a questão
dos direitos sociais envolve", enfatizando-se que "Juízos de ponderação
são inevitáveis nesse contexto prenhe de complexas relações conflituosas
entre princípios e diretrizes políticas ou, em outros termos, entre direitos
individuais e bens coletivos", vislumbrando-se a possibilidade de o Poder
Judiciário "vir a garantir o direito à saúde, por meio do fornecimento de
medicamento ou de tratamento imprescindível para o aumento de sobrevida
e a melhoria da qualidade de vida de pacientes da rede pública de saúde,
ficando estabelecido que a análise judicial deverá ser feita "caso a caso,
considerando- se todos os elementos normativos e fáticos da questão jurídica
debatida" e balizar-se pelos parâmetros traçados por aquela Suprema Corte para
verificar se a hipótese concreta sob exame estaria ou não inserta nos limites
e possibilidades de implementação do direito à saúde assegurado no art. 196
da Constituição". 6. Exame do caso concreto que evidencia que, em que pese
haver nos autos laudo médico emitido pelo SUS, atestando que o Agravante fez
uso de todas as alternativas terapêuticas disponibilizadas no âmbito do SUS,
sem sucesso, bem como de que o Agravante é hipossuficiente econômico, consulta
ao site da ANVISA evidencia que o medicamento ora pretendido (ETANERCEPTE)
teve o seu registro cancelado, por caducidade, a partir de março de 2018,
subsequentemente à data da prolação da decisão monocrática que deferiu o pedido
de antecipação dos efeitos da tutela recursal (11.01.2017), para determinar
que fosse fornecido o medicamento em questão ao ora Agravante. 7. Diante
dessa análise concreta, em que evidenciado que não mais se atendem a todos
os três critérios/requisitos que autorizam o fornecimento de medicamento
não incorporado em ato normativo do SUS, conforme tese elaborada no Recurso
Repetitivo já mencionado (REsp nº 1.657.156, Tema nº 106), impõe-se a cassação
da tutela antecipada recursal anteriormente deferida por decisão monocrática,
mantendo-se a decisão agravada. 8. Agravo de instrumento do Autor desprovido,
mantendo-se a decisão monocrática agravada, em todos os seus termos e na
forma da fundamentação.
Data do Julgamento
:
08/11/2018
Data da Publicação
:
14/11/2018
Classe/Assunto
:
AG - Agravo de Instrumento - Agravos - Recursos - Processo Cível e do Trabalho
Órgão Julgador
:
8ª TURMA ESPECIALIZADA
Relator(a)
:
MARCELO PEREIRA DA SILVA
Comarca
:
TRIBUNAL - SEGUNDA REGIÃO
Tipo
:
Acórdão
Relator para
acórdão
:
MARCELO PEREIRA DA SILVA