TRF2 0101852-30.2016.4.02.5104 01018523020164025104
CIVIL. SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO. CONTRATO DE FINANCIAMENTO
HABITACIONAL. PROGRAMA "MINHA CASA, MINHA VIDA". LEGITIMIDADE PASSIVA DA CAIXA
ECONÔMICA FEDERAL E DO MUNICÍPIO DE VOLTA REDONDA. IMÓVEL LOCALIZADO EM ÁREA
DE VIOLÊNCIA URBANA. EXPULSÃO DA MUTUÁRIA. DISTRATO. RESPONSABILIDADE CIVIL
OBJETIVA. OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR. DANOS MORAIS. 1. In casu, considerando que o
contrato de financiamento foi celebrado entre as partes no âmbito do Programa
"Minha Casa Minha Vida", com recursos do Fundo de Arrendamento Residencial
- FAR, a CEF possui legitimidade passiva ad causam, pois atua como agente
executor de políticas federais para a promoção de moradia para pessoas de
baixa ou baixíssima renda, sendo a responsável pela aquisição e construção
dos imóveis vinculados ao FAR. Precedente do Superior Tribunal de Justiça:
REsp n. 1102539, Rel. Min. Maria Isabel Galotti, Quarta Turma. 2. Cabendo
aos municípios fazer o cadastramento definitivo dos beneficiários e a
efetiva concretização do programa "Minha Casa Minha Vida", nos termos da
Portaria 24/2013 do Ministério das Cidades, resta evidente a legitimidade
passiva ad causam do Município de Volta Redonda, pois, em ação conjunta
com a CEF, caberá reavaliar a situação específica da autora e seu filho,
com a posterior realocação o núcleo familiar em outro imóvel. 3. O Programa
Minha Casa Melhor, oferecido pela CEF, consiste na liberação de limite de
crédito para aquisição de bens de consumo duráveis de uso doméstico (móveis,
eletrodomésticos e eletroeletrônicos), por meio de cartão magnético, aos
beneficiários do Programa Minha Casa Minha Vida. 4. Apesar de a verba do
Programa Minha Casa Melhor ser disponibilizada aos beneficiários do PMCMV,
não guarda pertinência direta com a rescisão do contrato dele proveniente,
devendo ser adimplida. Isso porque, conforme salientado pela sentença,
a autora "recebeu a verba pactuada, destinando-a a compra de bens, dos
quais não se tem notícia de terem ficado no apartamento, quando teve que
abandoná-lo às pressas. Ao contrário, na própria inicial a parte autora
afirma que, quando da vistoria do imóvel, foi encontrado apenas um colchão
e uma mochila, o que evidencia que os bens adquiridos foram objeto de uso
pela parte autora". 5. A responsabilidade contratual dos bancos é objetiva
e fundada na teoria do risco do empreendimento, segundo a qual todo aquele
que se dispõe a exercer alguma atividade no campo do fornecimento de bens
e serviços, tem o dever de responder pelos fatos e vícios resultantes do
empreendimento independentemente de culpa, sendo cabível a indenização
dos seus clientes. 6. In casu, resta comprovado nos autos o dano causado à
autora, especialmente pela prova 1 testemunhal, que demonstrou que a mesma foi
praticamente expulsa do imóvel em que residia em face da situação de violência
e ameaças a que foi submetida, juntamente com seu filho, em virtude da atuação
de delinquentes que se valiam da ausência do Estado no exercício de seu poder
de polícia na localidade para traficar drogas. 7. Verificada lesão de natureza
extrapatrimonial, que demonstra violação à dignidade da demandante e de seu
filho, portador de doença neurológica cujo quadro psíquico restou afetado
pela situação de intranquilidade na moradia. 8. Não há critérios objetivos
para a fixação da indenização a título de danos morais, subordinando-se a
mesma ao arbítrio judicial, que deve pautar-se pelos ditames da coerência e
proporcionalidade. 9. Sopesando o fato danoso - expulsão do imóvel em razão
da violência urbana - e a sua repercussão na esfera dos ofendidos, tem-se
que o valor total de R$10.000,00, condenando-se cada réu a R$ 5.000,00, é
suficiente para conciliar a pretensão compensatória, pedagógica e punitiva
da indenização do dano moral com o princípio da vedação do enriquecimento
sem causa, além de estar em consonância com os precedentes jurisprudenciais
em casos assemelhados. 10. Apelação autoral desprovida e apelações da CEF
e do Município de Volta Redonda parcialmente providas.
Ementa
CIVIL. SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO. CONTRATO DE FINANCIAMENTO
HABITACIONAL. PROGRAMA "MINHA CASA, MINHA VIDA". LEGITIMIDADE PASSIVA DA CAIXA
ECONÔMICA FEDERAL E DO MUNICÍPIO DE VOLTA REDONDA. IMÓVEL LOCALIZADO EM ÁREA
DE VIOLÊNCIA URBANA. EXPULSÃO DA MUTUÁRIA. DISTRATO. RESPONSABILIDADE CIVIL
OBJETIVA. OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR. DANOS MORAIS. 1. In casu, considerando que o
contrato de financiamento foi celebrado entre as partes no âmbito do Programa
"Minha Casa Minha Vida", com recursos do Fundo de Arrendamento Residencial
- FAR, a CEF possui legitimidade passiva ad causam, pois atua como agente
executor de políticas federais para a promoção de moradia para pessoas de
baixa ou baixíssima renda, sendo a responsável pela aquisição e construção
dos imóveis vinculados ao FAR. Precedente do Superior Tribunal de Justiça:
REsp n. 1102539, Rel. Min. Maria Isabel Galotti, Quarta Turma. 2. Cabendo
aos municípios fazer o cadastramento definitivo dos beneficiários e a
efetiva concretização do programa "Minha Casa Minha Vida", nos termos da
Portaria 24/2013 do Ministério das Cidades, resta evidente a legitimidade
passiva ad causam do Município de Volta Redonda, pois, em ação conjunta
com a CEF, caberá reavaliar a situação específica da autora e seu filho,
com a posterior realocação o núcleo familiar em outro imóvel. 3. O Programa
Minha Casa Melhor, oferecido pela CEF, consiste na liberação de limite de
crédito para aquisição de bens de consumo duráveis de uso doméstico (móveis,
eletrodomésticos e eletroeletrônicos), por meio de cartão magnético, aos
beneficiários do Programa Minha Casa Minha Vida. 4. Apesar de a verba do
Programa Minha Casa Melhor ser disponibilizada aos beneficiários do PMCMV,
não guarda pertinência direta com a rescisão do contrato dele proveniente,
devendo ser adimplida. Isso porque, conforme salientado pela sentença,
a autora "recebeu a verba pactuada, destinando-a a compra de bens, dos
quais não se tem notícia de terem ficado no apartamento, quando teve que
abandoná-lo às pressas. Ao contrário, na própria inicial a parte autora
afirma que, quando da vistoria do imóvel, foi encontrado apenas um colchão
e uma mochila, o que evidencia que os bens adquiridos foram objeto de uso
pela parte autora". 5. A responsabilidade contratual dos bancos é objetiva
e fundada na teoria do risco do empreendimento, segundo a qual todo aquele
que se dispõe a exercer alguma atividade no campo do fornecimento de bens
e serviços, tem o dever de responder pelos fatos e vícios resultantes do
empreendimento independentemente de culpa, sendo cabível a indenização
dos seus clientes. 6. In casu, resta comprovado nos autos o dano causado à
autora, especialmente pela prova 1 testemunhal, que demonstrou que a mesma foi
praticamente expulsa do imóvel em que residia em face da situação de violência
e ameaças a que foi submetida, juntamente com seu filho, em virtude da atuação
de delinquentes que se valiam da ausência do Estado no exercício de seu poder
de polícia na localidade para traficar drogas. 7. Verificada lesão de natureza
extrapatrimonial, que demonstra violação à dignidade da demandante e de seu
filho, portador de doença neurológica cujo quadro psíquico restou afetado
pela situação de intranquilidade na moradia. 8. Não há critérios objetivos
para a fixação da indenização a título de danos morais, subordinando-se a
mesma ao arbítrio judicial, que deve pautar-se pelos ditames da coerência e
proporcionalidade. 9. Sopesando o fato danoso - expulsão do imóvel em razão
da violência urbana - e a sua repercussão na esfera dos ofendidos, tem-se
que o valor total de R$10.000,00, condenando-se cada réu a R$ 5.000,00, é
suficiente para conciliar a pretensão compensatória, pedagógica e punitiva
da indenização do dano moral com o princípio da vedação do enriquecimento
sem causa, além de estar em consonância com os precedentes jurisprudenciais
em casos assemelhados. 10. Apelação autoral desprovida e apelações da CEF
e do Município de Volta Redonda parcialmente providas.
Data do Julgamento
:
09/03/2018
Data da Publicação
:
15/03/2018
Classe/Assunto
:
AC - Apelação - Recursos - Processo Cível e do Trabalho
Órgão Julgador
:
5ª TURMA ESPECIALIZADA
Relator(a)
:
ALUISIO GONÇALVES DE CASTRO MENDES
Comarca
:
TRIBUNAL - SEGUNDA REGIÃO
Tipo
:
Acórdão
Relator para
acórdão
:
ALUISIO GONÇALVES DE CASTRO MENDES
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