TRF2 0118393-93.2015.4.02.5001 01183939320154025001
APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO CONSTITUCIONAL, TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL
CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. CONSELHO PROFISSIONAL. ANUIDADE. DÍVIDA ATIVA
TRIBUTÁRIA. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE TRIBUTÁRIA ESTRITA. ART. 150, I,
CRFB/1988. CDA. VÍCIO INSANÁVEL. MULTA LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ CONFIGURADA. RECURSO
IMPROVIDO. 1. Cuida-se de apelação cível alvejando sentença que, nos autos de
execução fiscal proposta pelo ora recorrente, objetivando a cobrança de dívida
ativa de natureza tributária, alusiva a anuidades, extinguiu o processo,
sem a apreciação do mérito, sob o fundamento de que há vício insanável na
CDA que embasa a presente execução, pois está desprovida de requisitos que
lhe são essenciais, restando prejudicada, inclusive, a própria existência
do título, uma vez que é vedado aos Conselhos de Fiscalização Profissional,
mediante atos administrativos normativos, fixar os valores das anuidades
devidas por seus filiados, bem como de multa fixada no valor de R$ 150,00
(cento e cinquenta reais), por litigância de má-fé. 2. Os valores devidos pelos
profissionais a seus Conselhos constituem contribuições sociais no interesse
das categorias profissionais, e, como tal, são espécie do gênero tributo,
expressamente submetidas ao princípio da legalidade, conforme disciplinado
pelo art. 149 da Constituição Federal. 3. O STF assentou a impossibilidade
de instituição ou de majoração de contribuição de interesse de categoria
profissional mediante resolução dos Conselhos Profissionais. Isto porque,
tratando-se de espécie de tributo, deve observar o princípio da legalidade
tributária estrita, inserto no art. 150, I, da CRFB/88 (ARE 640937, DJe
05.09.2011). 4. Da interpretação dos arts. 149 e 150, I, da CRFB/88, infere-se
que o art. 2.º Lei n.º 4.695/65, no ponto que prevê a instituição de anuidades
por resolução de Conselho Profissional, não foi recepcionada pela nova ordem
constitucional. 5. A Lei n.º 6.994/1982 - diploma posterior à Lei n.º 4.695/65
- que fixava o valor das anuidades devidas aos Conselhos Profissionais e os
parâmetros para a sua cobrança com base no MRV (Maior Valor de Referência)
foi revogada expressamente pelo art. 87 da Lei n.º 8.906/94. E, como cediço,
é vedada a cobrança de contribuição com base em lei revogada. 6. As Leis
nºs. 9.649/1998 (caput e dos parágrafos 1.º, 2.º, 4.º, 5.º, 6.º e 8.º do
art. 58) e n.º 11.000/2004 (caput e §1.º do art. 2.º), que atribuíram aos
Conselhos Profissionais a competência para a instituição da contribuição
em exame, tiveram os dispositivos, que tratavam da matéria, declarados
inconstitucionais, respectivamente pelo STF e por esta Corte Regional,
não servindo de amparo à cobrança de anuidades instituídas por resolução
(ADIN nº 1.717, DJ 28.3.2003; TRF2, Plenário, APELREEX 2008.51.01.000963-0,
E-DJF2R 9.6.2011). Incidência da Súmula n.º 57 desta Corte. 1 7. Diante da
ausência de lei em sentido estrito que autorize a cobrança da exação prevista
no art. 149 da CF/88 pelo Conselho-apelante, é forçoso reconhecer, de ofício,
a nulidade da CDA em que se funda a presente execução, porquanto dotada de
vício essencial e insanável. 8. Quanto à multa imposta por litigância de má
fé, sendo a hipótese de que tratam os arts. 17, I e III e 18 do CPC, eis que
configurou-se a conduta típica de reapresentação pela exequente, das mesmas
CDA's já extintas anteriormente, para promover novamente a sua cobrança,
razão pela qual não merece reparo a sentença neste aspecto. 9. Apelação
conhecida e improvida.
Ementa
APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO CONSTITUCIONAL, TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL
CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. CONSELHO PROFISSIONAL. ANUIDADE. DÍVIDA ATIVA
TRIBUTÁRIA. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE TRIBUTÁRIA ESTRITA. ART. 150, I,
CRFB/1988. CDA. VÍCIO INSANÁVEL. MULTA LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ CONFIGURADA. RECURSO
IMPROVIDO. 1. Cuida-se de apelação cível alvejando sentença que, nos autos de
execução fiscal proposta pelo ora recorrente, objetivando a cobrança de dívida
ativa de natureza tributária, alusiva a anuidades, extinguiu o processo,
sem a apreciação do mérito, sob o fundamento de que há vício insanável na
CDA que embasa a presente execução, pois está desprovida de requisitos que
lhe são essenciais, restando prejudicada, inclusive, a própria existência
do título, uma vez que é vedado aos Conselhos de Fiscalização Profissional,
mediante atos administrativos normativos, fixar os valores das anuidades
devidas por seus filiados, bem como de multa fixada no valor de R$ 150,00
(cento e cinquenta reais), por litigância de má-fé. 2. Os valores devidos pelos
profissionais a seus Conselhos constituem contribuições sociais no interesse
das categorias profissionais, e, como tal, são espécie do gênero tributo,
expressamente submetidas ao princípio da legalidade, conforme disciplinado
pelo art. 149 da Constituição Federal. 3. O STF assentou a impossibilidade
de instituição ou de majoração de contribuição de interesse de categoria
profissional mediante resolução dos Conselhos Profissionais. Isto porque,
tratando-se de espécie de tributo, deve observar o princípio da legalidade
tributária estrita, inserto no art. 150, I, da CRFB/88 (ARE 640937, DJe
05.09.2011). 4. Da interpretação dos arts. 149 e 150, I, da CRFB/88, infere-se
que o art. 2.º Lei n.º 4.695/65, no ponto que prevê a instituição de anuidades
por resolução de Conselho Profissional, não foi recepcionada pela nova ordem
constitucional. 5. A Lei n.º 6.994/1982 - diploma posterior à Lei n.º 4.695/65
- que fixava o valor das anuidades devidas aos Conselhos Profissionais e os
parâmetros para a sua cobrança com base no MRV (Maior Valor de Referência)
foi revogada expressamente pelo art. 87 da Lei n.º 8.906/94. E, como cediço,
é vedada a cobrança de contribuição com base em lei revogada. 6. As Leis
nºs. 9.649/1998 (caput e dos parágrafos 1.º, 2.º, 4.º, 5.º, 6.º e 8.º do
art. 58) e n.º 11.000/2004 (caput e §1.º do art. 2.º), que atribuíram aos
Conselhos Profissionais a competência para a instituição da contribuição
em exame, tiveram os dispositivos, que tratavam da matéria, declarados
inconstitucionais, respectivamente pelo STF e por esta Corte Regional,
não servindo de amparo à cobrança de anuidades instituídas por resolução
(ADIN nº 1.717, DJ 28.3.2003; TRF2, Plenário, APELREEX 2008.51.01.000963-0,
E-DJF2R 9.6.2011). Incidência da Súmula n.º 57 desta Corte. 1 7. Diante da
ausência de lei em sentido estrito que autorize a cobrança da exação prevista
no art. 149 da CF/88 pelo Conselho-apelante, é forçoso reconhecer, de ofício,
a nulidade da CDA em que se funda a presente execução, porquanto dotada de
vício essencial e insanável. 8. Quanto à multa imposta por litigância de má
fé, sendo a hipótese de que tratam os arts. 17, I e III e 18 do CPC, eis que
configurou-se a conduta típica de reapresentação pela exequente, das mesmas
CDA's já extintas anteriormente, para promover novamente a sua cobrança,
razão pela qual não merece reparo a sentença neste aspecto. 9. Apelação
conhecida e improvida.
Data do Julgamento
:
30/05/2016
Data da Publicação
:
03/06/2016
Classe/Assunto
:
AC - Apelação - Recursos - Processo Cível e do Trabalho
Órgão Julgador
:
6ª TURMA ESPECIALIZADA
Relator(a)
:
GUILHERME CALMON NOGUEIRA DA GAMA
Comarca
:
TRIBUNAL - SEGUNDA REGIÃO
Tipo
:
Acórdão
Relator para
acórdão
:
GUILHERME CALMON NOGUEIRA DA GAMA
Mostrar discussão