TRF3 0001503-16.2009.4.03.6113 00015031620094036113
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. PRELIMINARES REJEITADAS. AÇÃO
INDENIZATÓRIA. PROGRAMA DE ARRENDAMENTO RESIDENCIAL - PAR. VÍCIOS
DE CONSTRUÇÃO. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA ENTRE A CONTRUTORA E A
CEF. AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE DA CAIXA SEGURADORA. DANOS VERIFICADOS EM
PERÍCIA. RESSARCIMENTO NO VALOR CORRESPONDENTE ÀS DESPESAS A SEREM REALIZADAS
COM REPAROS EFETUADAS E COM A CONTRATAÇÃO DE PERITO TÉCNICO. QUANTUM
INDENIZATÓRIO A TÍTULO DE DANO MATERIAL. RAZOABILIDADE. AUSÊNCIA DE DANOS
MATERIAIS CONSISTENTES NA DESVALORIZAÇÃO DO IMÓVEL. EXISTÊNCIA DE DANO
MORAL. REDUÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO, A TÍTULO DE DANO MORAL, FIXADO
NA SENTENÇA. RECURSO DE APELAÇÃO DA PARTE AUTORA DESPROVIDO. RECURSOS
DE APELAÇÃO DA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL E DA INFRATÉCNICA ENGENHARIA E
CONSTRUÇÕES LTDA. PARCIALMENTE PROVIDOS.
1. Inicialmente, foram suscitadas as seguintes preliminares: (i) ilegitimidade
ativa, por serem os autores meros arrendatários (não proprietários); (ii)
ilegitimidade passiva da CEF, que atua na qualidade de agente financeiro e
fomentadora do P.A.R.; (iii) cerceamento de defesa, em razão do indeferimento
da produção de prova testemunhal, e; (iv) sentença ultra petita, por
fixar o valor dos danos materiais em valor superior ao pleiteado pelos
autores. Verifico que as duas primeiras preliminares, a saber: ilegitimidade
ativa dos arrendatários e ilegitimidade passiva da CEF, foram afastadas
pela decisão saneadora de fls. 282/284-vº. Contra esta decisão, foi
interposto pela CEF agravo de instrumento nº 2010.03.00.014834-1, o qual
impugnou tão-somente a determinação de adiantamento dos honorários
periciais. Também interpôs a Caixa Seguradora S.A. agravo retido
(fls. 302/308), o qual, no entanto, não foi reiterado nas contrarrazões
de fls. 575/581. Portanto, tais questões encontram-se acobertadas pela
preclusão. Com relação à alegação de cerceamento de defesa, cumpre
esclarecer que o agravo de instrumento nº 2011.03.00.019821-0, em apenso,
foi julgado conjuntamente nesta mesma sessão de julgamento. Resta prejudicada
a alegação, ante o desprovimento do agravo de instrumento. Por fim, não
vislumbro nulidade na sentença, tendo em vista que esta se ateve aos limites
dos pedidos formulados pelos autores à fl. 09. Preliminares rejeitadas.
2. No tocante à existência de responsabilidade da CEF pelos vícios de
construção de imóveis arrendados no âmbito do Programa de Arrendamento
Residencial - PAR, tem-se que este programa foi instituído com o escopo
de atendimento da necessidade de moradia da população de baixa renda,
sob a forma de arrendamento residencial com opção de compra, nos termos
do art. 1º da Lei nº 10.188/01. Consoante com o disposto no art. 4º
desta lei, a Caixa Econômica Federal é agente gestor do Programa de
Arrendamento Residencial - PAR e responsável pela aquisição e construção
dos imóveis, competindo-lhe entregar bens imóveis aptos à moradia dos
arrendatários. Ademais, dispõe o paragrafo único deste artigo que as
operações de aquisição, construção, recuperação, arrendamento e venda
de imóveis obedecerão aos critérios estabelecidos pela CEF, razão pela qual
entendo que esta não era mera intermediária, tampouco que a vistoria por
ela realizada limitar-se-ia à comprovação de existência do bem. Em assim
sendo, possui a Caixa Econômica Federal - CEF responsabilidade solidária
com a empreiteira/construtora, perante eventuais vícios de construção.
3. Contudo, não merece prosperar a pretensão dos autores, ora apelantes,
no sentido de responsabilizar a Caixa Seguradora S.A., em decorrência do
contrato de seguro firmado entre as parte e juntado às fls. 29/30-vº, com
anexo de fls. 28/28-vº. Ocorre que, conforme bem asseverou o MM. Magistrado
a quo, a apólice de seguro firmado junto a esta ré não abrange os riscos
decorrentes de vícios de construção, salvo quando houver risco comprovado
de desmoronamento - o que não se verificou nos autos.
4. No que tange à existência de danos materiais e vícios de construção,
foi realizada perícia técnica de engenharia às fls. 334/392 e 449/452,
a qual, em vistoria, encontrou diversos danos no imóvel.
5. Não merece prosperar a alegação de ausência de nexo de causalidade
entre a conduta das rés e os danos do imóvel, por terem sido os danos no
imóvel causados por chuvas e falta de manutenção. Conforme exaustivamente
demonstrado pelo Perito Técnico, as chuvas somente causaram os danos porque
havia vícios de construção que impediam o correto escoamento das águas,
quais sejam: inclinação inadequada da área externa do radier e diversas
falhas na impermeabilização de paredes, muros, pisos etc.
6. Verificada a existência de conduta, dano e nexo de causalidade, devem
às rés indenizar os autores, no valor correspondente às despesas a serem
realizadas com reparos decorrentes de vícios de construção.
7. O quantum indenizatório, a título de danos materiais, deve ser mantido
nos termos determinados na r. sentença, porquanto foram fixados de acordo
com critérios de razoabilidade. Confira: (...) verifico que a parte autora
fez juntar aos autos um orçamento elaborado por seu assistente técnico,
acostado às fls. 33 e 416. Não obstante não tenha sido comprovada a
exatidão destes cálculos, as regras de experiência demonstram que eles
se mostram extremamente razoáveis, razão pela qual passo a adotá-los na
mensuração do valor da indenização.
Assim sendo, constato que o valor da reparação dos vícios construtivos
verificados, deve ser o seguinte: 1) infiltração na sala R$ 400,00; 2)
umidade por capilaridade (ascendentes) nas paredes internas e externas R$
1.400,00; 3) umidade nas superfícies das paredes R$ 800,00; 4) oxidação
das esquadrias R$ 400,00; 5) instalações elétricas, tomadas com mau
contato R$ 100,00; 6) ausência de impermeabilização do muro de arrimo e
divisa R$ 1.500,00 e 7) rachadura horizontal, localizada na base da parede do
dormitório frontal R$ 3.500,00. (fl. 516). Ademais, as rés, ora apelantes,
não apontaram quaisquer equívocos em tais valores, tampouco indicaram o
montante que consideram devido.
8. É possível, ainda, incluir no valor da indenização, a título de danos
materiais, também o valor das despesas efetuadas com perito técnico que
verificou as falhas e apontou as medidas necessárias estipulando tecnicamente
o custo para os reparos, no valor de R$ 1.600,00.
9. Por fim, não vislumbro a existência de danos materiais, consistentes na
desvalorização do imóvel. Primeiro porque, de acordo com a resposta do
Perito Técnico ao quesito nº 7 do juízo, os danos existentes no imóvel
são passíveis de reparação, de modo a reconstituir integralmente o valor
do bem. Aliás, como bem destacou o MM. Juiz sentenciante, estes danos não
chegam ao ponto de afetar a solidez do imóvel. Segundo porque, tratando-se
de arrendamento mercantil, a propriedade do bem em questão pertence à CEF -
ainda que se trate de propriedade resolúvel, que pode se extinguir caso de
concretize o pagamento integral (evento futuro e incerto) -, de modo que
os prejuízos decorrentes da depreciação do valor do imóvel atingem,
a priori, a própria CEF.
10. Assim sendo, a indenização por danos materiais totaliza o montante
de R$ 9.700,00 (nove mil e setecentos reais), sendo R$ 8.100,00 (oito mil
e cem reais) referente às despesas com as reformas e R$ 1.600,00 (mil e
seiscentos reais) relativo ao ressarcimento do assistente técnico contratado
pelos autores.
11. No que concerne aos danos morais, tem-se que estes decorrem de ato que
violem direitos de personalidade, causando sofrimento, angústia, aflição
física ou espiritual ou qualquer padecimento infligido à vítima em razão
de algum evento danoso. Em consonância com os parâmetros firmados pelo
C. Superior Tribunal de Justiça, entende-se que, na concepção moderna
do ressarcimento por dano moral, a responsabilidade do agente resulta do
próprio fato, ou seja, dispensa a comprovação da extensão dos danos,
sendo estes evidenciados pelas circunstâncias do fato (STJ, AgRg no Ag
n. 1365711, Rel. Min. Sidnei Beneti, j. 22.03.11) e o dano moral decorre do
próprio ato lesivo, "independentemente da prova objetiva do abalo à honra e
à reputação sofrido pelo autor, que se permite, na hipótese, facilmente
presumir, gerando direito a ressarcimento" (REsp n. 775498, Rel. Min. Jorge
Scartezzini, j. 16.03.06). Contudo, o mero dissabor, aborrecimento, mágoa,
irritação ou sensibilidade exacerbada estão fora da órbita do dano moral,
porquanto tais situações não são intensas e duradouras, a ponto de romper
o equilíbrio psicológico do indivíduo (REsp n. 844736, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, Rel. p/ Acórdão Min. Honildo Amaral de Mello Castro,
j. 27.10.09). No caso dos autos, o dano moral decorre das dificuldades
impostas aos autores, compelidos a residirem em imóvel com diversos vícios
de construção, causando-lhes frustação, insegurança e receio, além
dos transtornos decorrentes de ter que diligenciar junto à construtora,
associação de bairro, Ministério Público e judiciário na tentativa de
solucionar a situação.
12. No tocante ao quantum indenizatório, é fato que a indenização por
danos morais deve traduzir-se em montante que represente advertência ao
lesante e à sociedade e, ainda, deve levar em consideração a intensidade do
sofrimento do ofendido, a intensidade do dolo ou grau da culpa do responsável,
a situação econômica deste e também da vítima, de modo a não ensejar um
enriquecimento sem causa do ofendido. O seu escopo define-se pela incidência
dos princípios da proporcionalidade e razoabilidade da sanção em relação
à extensão do dano ou do ilícito, evitando-se assim condenações extremas:
RESP 507574/MG, Relator Ministro Teori Zavascki, DJ de 08.05.2006; RESP
513.576/MG, Relator p/ acórdão Ministro Teori Zavascki, DJ de 06.03.2006;
RESP 291.747, Relator Ministro Humberto Gomes de Barros, DJ de 18/03/2002; RESP
300.184/SP, Relator Ministro Franciulli Netto. O valor da condenação imposta
à ré deve cumprir esse dúplice escopo, ou seja, ressarcir a vítima do
dano moral sofrido e desestimular práticas correlatas; afastando a comissão
de condutas análogas; não podendo, pois, tornar baixos os custos e riscos
sociais da infração: RESP_200301321707 - STJ - Ministro(a) ELIANA CALMON -
DJ DATA:21/06/2004 - PG:00204 RNDJ VOL.:00057 PG:00123 - Decisão: 27/04/2004.
13. Por tais razões, manter a indenização fixada na sentença, em R$
20.000,00 (vinte mil reais), equivaleria a permitir o ilícito enriquecimento
sem causa. Assim, diante das circunstâncias fáticas que nortearam o presente
caso, mostra-se razoável e suficiente o arbitramento da indenização a
título de danos morais no patamar de R$ 10.000,00 (dez mil reais), nos termos
da sentença, eis que tal importância não proporcionará enriquecimento
indevido e exagerado a parte autora e, ainda, é capaz de impor punição a
parte ré, mormente na direção de evitar atuação reincidente, além de
compatível com os parâmetros desta E. Quinta Turma.
14. Por fim, não vislumbro excesso na fixação dos honorários
advocatícios. O arbitramento dos honorários em 10% do valor da condenação,
a serem divididos pelas corrés, encontra-se em consonância com o disposto
no §3º do art. 20 do Código de Processo Civil de 1973, cujo teor foi
repetido no§2º do art. 85 do CPC de 2015.
15. Recurso de apelação da parte autora desprovido. Recursos de apelação
da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL e da INFRATÉCNICA ENGENHARIA E CONSTRUÇÕES
LTDA. parcialmente providos, apenas para reduzir a indenização por danos
morais para o montante de R$ 10.000,00 (dez mil reais), a ser dividido
igualmente entre os autores, nos termos do voto.
Ementa
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. PRELIMINARES REJEITADAS. AÇÃO
INDENIZATÓRIA. PROGRAMA DE ARRENDAMENTO RESIDENCIAL - PAR. VÍCIOS
DE CONSTRUÇÃO. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA ENTRE A CONTRUTORA E A
CEF. AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE DA CAIXA SEGURADORA. DANOS VERIFICADOS EM
PERÍCIA. RESSARCIMENTO NO VALOR CORRESPONDENTE ÀS DESPESAS A SEREM REALIZADAS
COM REPAROS EFETUADAS E COM A CONTRATAÇÃO DE PERITO TÉCNICO. QUANTUM
INDENIZATÓRIO A TÍTULO DE DANO MATERIAL. RAZOABILIDADE. AUSÊNCIA DE DANOS
MATERIAIS CONSISTENTES NA DESVALORIZAÇÃO DO IMÓVEL. EXISTÊNCIA DE DANO
MORAL. REDUÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO, A TÍTULO DE DANO MORAL, FIXADO
NA SENTENÇA. RECURSO DE APELAÇÃO DA PARTE AUTORA DESPROVIDO. RECURSOS
DE APELAÇÃO DA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL E DA INFRATÉCNICA ENGENHARIA E
CONSTRUÇÕES LTDA. PARCIALMENTE PROVIDOS.
1. Inicialmente, foram suscitadas as seguintes preliminares: (i) ilegitimidade
ativa, por serem os autores meros arrendatários (não proprietários); (ii)
ilegitimidade passiva da CEF, que atua na qualidade de agente financeiro e
fomentadora do P.A.R.; (iii) cerceamento de defesa, em razão do indeferimento
da produção de prova testemunhal, e; (iv) sentença ultra petita, por
fixar o valor dos danos materiais em valor superior ao pleiteado pelos
autores. Verifico que as duas primeiras preliminares, a saber: ilegitimidade
ativa dos arrendatários e ilegitimidade passiva da CEF, foram afastadas
pela decisão saneadora de fls. 282/284-vº. Contra esta decisão, foi
interposto pela CEF agravo de instrumento nº 2010.03.00.014834-1, o qual
impugnou tão-somente a determinação de adiantamento dos honorários
periciais. Também interpôs a Caixa Seguradora S.A. agravo retido
(fls. 302/308), o qual, no entanto, não foi reiterado nas contrarrazões
de fls. 575/581. Portanto, tais questões encontram-se acobertadas pela
preclusão. Com relação à alegação de cerceamento de defesa, cumpre
esclarecer que o agravo de instrumento nº 2011.03.00.019821-0, em apenso,
foi julgado conjuntamente nesta mesma sessão de julgamento. Resta prejudicada
a alegação, ante o desprovimento do agravo de instrumento. Por fim, não
vislumbro nulidade na sentença, tendo em vista que esta se ateve aos limites
dos pedidos formulados pelos autores à fl. 09. Preliminares rejeitadas.
2. No tocante à existência de responsabilidade da CEF pelos vícios de
construção de imóveis arrendados no âmbito do Programa de Arrendamento
Residencial - PAR, tem-se que este programa foi instituído com o escopo
de atendimento da necessidade de moradia da população de baixa renda,
sob a forma de arrendamento residencial com opção de compra, nos termos
do art. 1º da Lei nº 10.188/01. Consoante com o disposto no art. 4º
desta lei, a Caixa Econômica Federal é agente gestor do Programa de
Arrendamento Residencial - PAR e responsável pela aquisição e construção
dos imóveis, competindo-lhe entregar bens imóveis aptos à moradia dos
arrendatários. Ademais, dispõe o paragrafo único deste artigo que as
operações de aquisição, construção, recuperação, arrendamento e venda
de imóveis obedecerão aos critérios estabelecidos pela CEF, razão pela qual
entendo que esta não era mera intermediária, tampouco que a vistoria por
ela realizada limitar-se-ia à comprovação de existência do bem. Em assim
sendo, possui a Caixa Econômica Federal - CEF responsabilidade solidária
com a empreiteira/construtora, perante eventuais vícios de construção.
3. Contudo, não merece prosperar a pretensão dos autores, ora apelantes,
no sentido de responsabilizar a Caixa Seguradora S.A., em decorrência do
contrato de seguro firmado entre as parte e juntado às fls. 29/30-vº, com
anexo de fls. 28/28-vº. Ocorre que, conforme bem asseverou o MM. Magistrado
a quo, a apólice de seguro firmado junto a esta ré não abrange os riscos
decorrentes de vícios de construção, salvo quando houver risco comprovado
de desmoronamento - o que não se verificou nos autos.
4. No que tange à existência de danos materiais e vícios de construção,
foi realizada perícia técnica de engenharia às fls. 334/392 e 449/452,
a qual, em vistoria, encontrou diversos danos no imóvel.
5. Não merece prosperar a alegação de ausência de nexo de causalidade
entre a conduta das rés e os danos do imóvel, por terem sido os danos no
imóvel causados por chuvas e falta de manutenção. Conforme exaustivamente
demonstrado pelo Perito Técnico, as chuvas somente causaram os danos porque
havia vícios de construção que impediam o correto escoamento das águas,
quais sejam: inclinação inadequada da área externa do radier e diversas
falhas na impermeabilização de paredes, muros, pisos etc.
6. Verificada a existência de conduta, dano e nexo de causalidade, devem
às rés indenizar os autores, no valor correspondente às despesas a serem
realizadas com reparos decorrentes de vícios de construção.
7. O quantum indenizatório, a título de danos materiais, deve ser mantido
nos termos determinados na r. sentença, porquanto foram fixados de acordo
com critérios de razoabilidade. Confira: (...) verifico que a parte autora
fez juntar aos autos um orçamento elaborado por seu assistente técnico,
acostado às fls. 33 e 416. Não obstante não tenha sido comprovada a
exatidão destes cálculos, as regras de experiência demonstram que eles
se mostram extremamente razoáveis, razão pela qual passo a adotá-los na
mensuração do valor da indenização.
Assim sendo, constato que o valor da reparação dos vícios construtivos
verificados, deve ser o seguinte: 1) infiltração na sala R$ 400,00; 2)
umidade por capilaridade (ascendentes) nas paredes internas e externas R$
1.400,00; 3) umidade nas superfícies das paredes R$ 800,00; 4) oxidação
das esquadrias R$ 400,00; 5) instalações elétricas, tomadas com mau
contato R$ 100,00; 6) ausência de impermeabilização do muro de arrimo e
divisa R$ 1.500,00 e 7) rachadura horizontal, localizada na base da parede do
dormitório frontal R$ 3.500,00. (fl. 516). Ademais, as rés, ora apelantes,
não apontaram quaisquer equívocos em tais valores, tampouco indicaram o
montante que consideram devido.
8. É possível, ainda, incluir no valor da indenização, a título de danos
materiais, também o valor das despesas efetuadas com perito técnico que
verificou as falhas e apontou as medidas necessárias estipulando tecnicamente
o custo para os reparos, no valor de R$ 1.600,00.
9. Por fim, não vislumbro a existência de danos materiais, consistentes na
desvalorização do imóvel. Primeiro porque, de acordo com a resposta do
Perito Técnico ao quesito nº 7 do juízo, os danos existentes no imóvel
são passíveis de reparação, de modo a reconstituir integralmente o valor
do bem. Aliás, como bem destacou o MM. Juiz sentenciante, estes danos não
chegam ao ponto de afetar a solidez do imóvel. Segundo porque, tratando-se
de arrendamento mercantil, a propriedade do bem em questão pertence à CEF -
ainda que se trate de propriedade resolúvel, que pode se extinguir caso de
concretize o pagamento integral (evento futuro e incerto) -, de modo que
os prejuízos decorrentes da depreciação do valor do imóvel atingem,
a priori, a própria CEF.
10. Assim sendo, a indenização por danos materiais totaliza o montante
de R$ 9.700,00 (nove mil e setecentos reais), sendo R$ 8.100,00 (oito mil
e cem reais) referente às despesas com as reformas e R$ 1.600,00 (mil e
seiscentos reais) relativo ao ressarcimento do assistente técnico contratado
pelos autores.
11. No que concerne aos danos morais, tem-se que estes decorrem de ato que
violem direitos de personalidade, causando sofrimento, angústia, aflição
física ou espiritual ou qualquer padecimento infligido à vítima em razão
de algum evento danoso. Em consonância com os parâmetros firmados pelo
C. Superior Tribunal de Justiça, entende-se que, na concepção moderna
do ressarcimento por dano moral, a responsabilidade do agente resulta do
próprio fato, ou seja, dispensa a comprovação da extensão dos danos,
sendo estes evidenciados pelas circunstâncias do fato (STJ, AgRg no Ag
n. 1365711, Rel. Min. Sidnei Beneti, j. 22.03.11) e o dano moral decorre do
próprio ato lesivo, "independentemente da prova objetiva do abalo à honra e
à reputação sofrido pelo autor, que se permite, na hipótese, facilmente
presumir, gerando direito a ressarcimento" (REsp n. 775498, Rel. Min. Jorge
Scartezzini, j. 16.03.06). Contudo, o mero dissabor, aborrecimento, mágoa,
irritação ou sensibilidade exacerbada estão fora da órbita do dano moral,
porquanto tais situações não são intensas e duradouras, a ponto de romper
o equilíbrio psicológico do indivíduo (REsp n. 844736, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, Rel. p/ Acórdão Min. Honildo Amaral de Mello Castro,
j. 27.10.09). No caso dos autos, o dano moral decorre das dificuldades
impostas aos autores, compelidos a residirem em imóvel com diversos vícios
de construção, causando-lhes frustação, insegurança e receio, além
dos transtornos decorrentes de ter que diligenciar junto à construtora,
associação de bairro, Ministério Público e judiciário na tentativa de
solucionar a situação.
12. No tocante ao quantum indenizatório, é fato que a indenização por
danos morais deve traduzir-se em montante que represente advertência ao
lesante e à sociedade e, ainda, deve levar em consideração a intensidade do
sofrimento do ofendido, a intensidade do dolo ou grau da culpa do responsável,
a situação econômica deste e também da vítima, de modo a não ensejar um
enriquecimento sem causa do ofendido. O seu escopo define-se pela incidência
dos princípios da proporcionalidade e razoabilidade da sanção em relação
à extensão do dano ou do ilícito, evitando-se assim condenações extremas:
RESP 507574/MG, Relator Ministro Teori Zavascki, DJ de 08.05.2006; RESP
513.576/MG, Relator p/ acórdão Ministro Teori Zavascki, DJ de 06.03.2006;
RESP 291.747, Relator Ministro Humberto Gomes de Barros, DJ de 18/03/2002; RESP
300.184/SP, Relator Ministro Franciulli Netto. O valor da condenação imposta
à ré deve cumprir esse dúplice escopo, ou seja, ressarcir a vítima do
dano moral sofrido e desestimular práticas correlatas; afastando a comissão
de condutas análogas; não podendo, pois, tornar baixos os custos e riscos
sociais da infração: RESP_200301321707 - STJ - Ministro(a) ELIANA CALMON -
DJ DATA:21/06/2004 - PG:00204 RNDJ VOL.:00057 PG:00123 - Decisão: 27/04/2004.
13. Por tais razões, manter a indenização fixada na sentença, em R$
20.000,00 (vinte mil reais), equivaleria a permitir o ilícito enriquecimento
sem causa. Assim, diante das circunstâncias fáticas que nortearam o presente
caso, mostra-se razoável e suficiente o arbitramento da indenização a
título de danos morais no patamar de R$ 10.000,00 (dez mil reais), nos termos
da sentença, eis que tal importância não proporcionará enriquecimento
indevido e exagerado a parte autora e, ainda, é capaz de impor punição a
parte ré, mormente na direção de evitar atuação reincidente, além de
compatível com os parâmetros desta E. Quinta Turma.
14. Por fim, não vislumbro excesso na fixação dos honorários
advocatícios. O arbitramento dos honorários em 10% do valor da condenação,
a serem divididos pelas corrés, encontra-se em consonância com o disposto
no §3º do art. 20 do Código de Processo Civil de 1973, cujo teor foi
repetido no§2º do art. 85 do CPC de 2015.
15. Recurso de apelação da parte autora desprovido. Recursos de apelação
da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL e da INFRATÉCNICA ENGENHARIA E CONSTRUÇÕES
LTDA. parcialmente providos, apenas para reduzir a indenização por danos
morais para o montante de R$ 10.000,00 (dez mil reais), a ser dividido
igualmente entre os autores, nos termos do voto.Decisão
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas,
decide a Egrégia Quinta Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região,
por unanimidade, negar provimento ao recurso de apelação da parte autora e
dou parcial provimento ao recurso de apelação da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL
e da INFRATÉCNICA ENGENHARIA E CONSTRUÇÕES LTDA., apenas para reduzir
a indenização por danos morais para o montante de R$ 10.000,00 (dez mil
reais), a ser dividido igualmente entre os autores, nos termos do relatório
e voto que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.
Data do Julgamento
:
24/10/2016
Data da Publicação
:
03/11/2016
Classe/Assunto
:
AC - APELAÇÃO CÍVEL - 1755159
Órgão Julgador
:
QUINTA TURMA
Relator(a)
:
DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO FONTES
Comarca
:
TRIBUNAL - TERCEIRA REGIÃO
Tipo
:
Acórdão
Indexação
:
VIDE EMENTA.
Fonte da publicação
:
e-DJF3 Judicial 1 DATA:03/11/2016
..FONTE_REPUBLICACAO:
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