TRF3 0003344-30.2015.4.03.6115 00033443020154036115
RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. PROCESSO PENAL. DENÚNCIA. JUÍZO
DE ADMISSIBILIDADE. ESTELIONATO. JUSTA CAUSA. DESCRIÇÃO DE
FRAUDE. RECEBIMENTO. TRIBUNAL ADMISSIBILIDADE. PROVIMENTO DO RECURSO.
1. O juízo realizado no recebimento da denúncia é de cognição sumária
e requer a verificação da existência de suporte probatório mínimo da
materialidade do crime e de indícios suficientes da autoria. A denúncia
deve atender aos requisitos do art. 41 do Código de Processo Penal e não
incidir em nenhuma das hipóteses do art. 395 do Código de Processo Penal.
2. Atenderá aos requisitos legais a denúncia que contiver a exposição do
fato criminoso com todas as circunstâncias necessárias à configuração
do delito, os indícios de autoria, a classificação jurídica do delito e,
se necessário, o rol de testemunhas, possibilitando ao acusado compreender
a acusação que sobre ele recai e sua atuação na prática delitiva para
assegurar o exercício do contraditório e da ampla defesa.
3. A rejeição da denúncia ocorrerá apenas quando, de plano, não
se verificarem os requisitos formais a evidenciar sua inépcia, faltar
pressuposto processual para seu exercício ou não houver justa causa,
incidindo, em casos duvidosos, o princípio in dubio pro societate, a
determinar a instauração da ação penal para esclarecimento dos fatos
durante a instrução processual penal.
4. Precedentes do Supremo Tribunal Federal (STF, Inq n. 2589, Rel. Min. Luiz
Fux, j. 16.09.14; Inq n. 3537, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 09.09.14 e HC
n. 100908, Rel. Min. Carlos Britto, j. 24.11.09).
5. Salvo quando nula a decisão de primeiro grau, o acórdão que provê o
recurso contra a rejeição da denúncia vale, desde logo, pelo recebimento
dela (STF, Súmula n. 709).
6. Há evidências da materialidade do crime e indícios da autoria, conforme
se verifica da apuração administrativa procedida pelo Instituto Nacional
do Seguro Social e do relatório circunstanciado de entrevista de familiares
da segurada falecida, elaborado por Agentes de Polícia Federal.
7. Igualmente, verifica-se a descrição da suposta fraude na denúncia. Em
que pesem controvérsias acerca da necessidade de comunicação do óbito
do segurado pelos familiares ao Instituto Nacional do Seguro Social e a
eventual caracterização de fraude decorrente da omissão, é certo que a
utilização do cartão de benefício pertencente à segurada já falecida
representa meio fraudulento para obtenção da vantagem ilícita, restando
satisfatoriamente descrita tal circunstância na denúncia.
8. Recurso provido para receber a denúncia.
Ementa
RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. PROCESSO PENAL. DENÚNCIA. JUÍZO
DE ADMISSIBILIDADE. ESTELIONATO. JUSTA CAUSA. DESCRIÇÃO DE
FRAUDE. RECEBIMENTO. TRIBUNAL ADMISSIBILIDADE. PROVIMENTO DO RECURSO.
1. O juízo realizado no recebimento da denúncia é de cognição sumária
e requer a verificação da existência de suporte probatório mínimo da
materialidade do crime e de indícios suficientes da autoria. A denúncia
deve atender aos requisitos do art. 41 do Código de Processo Penal e não
incidir em nenhuma das hipóteses do art. 395 do Código de Processo Penal.
2. Atenderá aos requisitos legais a denúncia que contiver a exposição do
fato criminoso com todas as circunstâncias necessárias à configuração
do delito, os indícios de autoria, a classificação jurídica do delito e,
se necessário, o rol de testemunhas, possibilitando ao acusado compreender
a acusação que sobre ele recai e sua atuação na prática delitiva para
assegurar o exercício do contraditório e da ampla defesa.
3. A rejeição da denúncia ocorrerá apenas quando, de plano, não
se verificarem os requisitos formais a evidenciar sua inépcia, faltar
pressuposto processual para seu exercício ou não houver justa causa,
incidindo, em casos duvidosos, o princípio in dubio pro societate, a
determinar a instauração da ação penal para esclarecimento dos fatos
durante a instrução processual penal.
4. Precedentes do Supremo Tribunal Federal (STF, Inq n. 2589, Rel. Min. Luiz
Fux, j. 16.09.14; Inq n. 3537, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 09.09.14 e HC
n. 100908, Rel. Min. Carlos Britto, j. 24.11.09).
5. Salvo quando nula a decisão de primeiro grau, o acórdão que provê o
recurso contra a rejeição da denúncia vale, desde logo, pelo recebimento
dela (STF, Súmula n. 709).
6. Há evidências da materialidade do crime e indícios da autoria, conforme
se verifica da apuração administrativa procedida pelo Instituto Nacional
do Seguro Social e do relatório circunstanciado de entrevista de familiares
da segurada falecida, elaborado por Agentes de Polícia Federal.
7. Igualmente, verifica-se a descrição da suposta fraude na denúncia. Em
que pesem controvérsias acerca da necessidade de comunicação do óbito
do segurado pelos familiares ao Instituto Nacional do Seguro Social e a
eventual caracterização de fraude decorrente da omissão, é certo que a
utilização do cartão de benefício pertencente à segurada já falecida
representa meio fraudulento para obtenção da vantagem ilícita, restando
satisfatoriamente descrita tal circunstância na denúncia.
8. Recurso provido para receber a denúncia.Decisão
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas,
decide a Egrégia Quinta Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região,
por unanimidade, dar provimento ao recurso em sentido estrito para receber
a denúncia contra Sylvio Luiz de Almeida e Ana Paula Bertacini de Almeida
e determinar o prosseguimento da ação penal, nos termos do relatório e
voto que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.
Data do Julgamento
:
10/10/2016
Data da Publicação
:
19/10/2016
Classe/Assunto
:
RSE - RECURSO EM SENTIDO ESTRITO - 7757
Órgão Julgador
:
QUINTA TURMA
Relator(a)
:
DESEMBARGADOR FEDERAL ANDRÉ NEKATSCHALOW
Comarca
:
TRIBUNAL - TERCEIRA REGIÃO
Tipo
:
Acórdão
Referência
legislativa
:
***** CPP-41 CÓDIGO DE PROCESSO PENAL
LEG-FED DEL-3689 ANO-1941 ART-395
***** STF SÚMULA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
LEG-FED SUM-709
Fonte da publicação
:
e-DJF3 Judicial 1 DATA:19/10/2016
..FONTE_REPUBLICACAO:
Mostrar discussão