TRF3 0004228-91.2008.4.03.9999 00042289120084039999
ADMINISTRATIVO, CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO
FISCAL. AFORAMENTO. TITULAR DO DOMÍNIO ÚTIL. TRANSMISSÃO POR ESCRITURA
PÚBLICA REGISTRADA.
1. Recurso de apelação interposto pela União contra sentença proferida
nos autos de execução fiscal, referente a créditos decorrentes de foro de
imóvel submetido ao regime de enfiteuse administrativa, que julgou extinta
a execução, reconhecendo a ilegitimidade passiva da executada.
2. O crédito exeqüendo refere-se a foro de imóvel submetido a regime de
aforamento ou enfiteuse, regidos pelo Decreto-lei nº 9.760, de 05.09.1946,
e Decreto-lei nº 2.398, de 21.12.1987 e subsidiariamente, aplicam-se as
disposições do Código Civil de 1916, mantidas por força do artigo 2.038
do Código Civil de 2002. Não se trata, portanto, de crédito de natureza
tributária, mas de receita patrimonial da União.
3. Equivocada a referência da r. sentença aos artigos 130 e 131 do Código
Tributário, de aplicação restrita ao imposto incidente sobre o domínio
útil, v.g., imposto sobre a propriedade territorial rural (CTN, artigo 29),
ou predial e territorial urbano (CTN, artigo 32).
4. A enfiteuse é direito real sobre coisa alheia (CC/1916, artigo 674,
I), e somente se adquire com a transcrição ou inscrição - atualmente
denominada registro - no Registro de Imóveis, nos termos do artigo 676 do
CC/1916 e artigo 1.227 do CC/2002, que remetem, respectivamente, ao artigo
860, parágrafo único e artigo 1.245, §1º, segundo os quais, enquanto não
registrado o título traslativo, o alienante continua a ser havido como dono
do imóvel.
5. No caso de enfiteuse, portanto, enquanto não devidamente registrado o
título traslativo, o alienante continua a ser havido como titular do domínio
útil. Nesse sentido, dispõe o artigo 116 do Decreto-lei nº 9.760/1946 que
o adquirente do domínio útil deverá requerer a transferência de cadastro
após a transcrição do título no Registro de Imóveis, norma reiterada
pelo artigo 3º, §4º, do Decreto-lei nº 2.398/1987.
6. O sujeito passivo da obrigação de pagamento do foro é o enfiteuta
ou foreiro, ou seja, o titular do domínio útil do imóvel, nos termos do
artigo 678 do Código Civil de 1916. No caso dos autos, a executada transmitiu
definitivamente, por venda e compra, o domínio útil do imóvel.
7. No caso dos autos, ao contrário do que consta na r.sentença e no recurso
de apelação, consta da cópia de certidão de matrícula do imóvel,
juntada às fls. 51/53, que por escritura pública datada de 18.11.1983, e
registrada sob nº R.08 em 22.12.1983, a executada transmitiu definitivamente,
por venda e compra, o domínio útil do imóvel. Todavia, inexiste nos autos
comprovação de que a alienação tenha sido comunicada à SPU.
8. Nos termos do art. 116 do Decreto-lei nº 9.760/1946, o adquirente
do domínio útil deverá requerer a transferência de cadastro após a
transcrição do título no Registro de Imóveis, norma reiterada pelo art. 3º
do Decreto-lei nº 2.398/1987, na redação dada pela Lei nº 9.636/1998.
9. Assim, a alienação do domínio útil por si só não opera efeitos
perante a União, detentora da nua propriedade, senão depois dos trâmites
administrativos que, ao final, permitirão a transferência dessa titularidade
perante o Serviço de Patrimônio da União e perante o Cartório de Registro
Imobiliário.
10. Logo, enquanto não se adotam esses procedimentos, todos os valores
devidos em razão do domínio útil continuam sendo exigíveis do alienante,
sem prejuízo de que também possam ser exigidos do adquirente, porquanto
se trata de obrigação propter rem.
11. Embora apenas o adquirente do domínio útil ou do direito de ocupação
esteja sujeito a multas ou outras sanções pela falta de regularização
perante o SPU, é também ônus do alienante providenciá-la, se não quiser
permanecer como responsável pelos foros, laudêmios, taxas e outros débitos.
12. No âmbito do Superior Tribunal de Justiça, a jurisprudência dominante
é no sentido de que, nas transferências de terrenos de marinha (situação
análoga à presente), permanece a obrigatoriedade de o alienante comunicar à
Secretaria de Patrimônio da União - SPU a transferência da ocupação do
imóvel a terceiro, de sorte que, "não havendo comunicação à SPU acerca
do negócio jurídico, permanece como responsável pela quitação da taxa
de ocupação aquele que figura originalmente no registro - o alienante,
e não o adquirente" (REsp 1347342/SC, Segunda Turma, v.u., Rel. Min. Herman
Benjamin, j. 23/10/2012, DJe 31/10/2012).
13. Apelação provida para, afastada a ilegitimidade passiva da executada
em relação aos débitos excutidos, determinar o regular prosseguimento da
execução.
Ementa
ADMINISTRATIVO, CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO
FISCAL. AFORAMENTO. TITULAR DO DOMÍNIO ÚTIL. TRANSMISSÃO POR ESCRITURA
PÚBLICA REGISTRADA.
1. Recurso de apelação interposto pela União contra sentença proferida
nos autos de execução fiscal, referente a créditos decorrentes de foro de
imóvel submetido ao regime de enfiteuse administrativa, que julgou extinta
a execução, reconhecendo a ilegitimidade passiva da executada.
2. O crédito exeqüendo refere-se a foro de imóvel submetido a regime de
aforamento ou enfiteuse, regidos pelo Decreto-lei nº 9.760, de 05.09.1946,
e Decreto-lei nº 2.398, de 21.12.1987 e subsidiariamente, aplicam-se as
disposições do Código Civil de 1916, mantidas por força do artigo 2.038
do Código Civil de 2002. Não se trata, portanto, de crédito de natureza
tributária, mas de receita patrimonial da União.
3. Equivocada a referência da r. sentença aos artigos 130 e 131 do Código
Tributário, de aplicação restrita ao imposto incidente sobre o domínio
útil, v.g., imposto sobre a propriedade territorial rural (CTN, artigo 29),
ou predial e territorial urbano (CTN, artigo 32).
4. A enfiteuse é direito real sobre coisa alheia (CC/1916, artigo 674,
I), e somente se adquire com a transcrição ou inscrição - atualmente
denominada registro - no Registro de Imóveis, nos termos do artigo 676 do
CC/1916 e artigo 1.227 do CC/2002, que remetem, respectivamente, ao artigo
860, parágrafo único e artigo 1.245, §1º, segundo os quais, enquanto não
registrado o título traslativo, o alienante continua a ser havido como dono
do imóvel.
5. No caso de enfiteuse, portanto, enquanto não devidamente registrado o
título traslativo, o alienante continua a ser havido como titular do domínio
útil. Nesse sentido, dispõe o artigo 116 do Decreto-lei nº 9.760/1946 que
o adquirente do domínio útil deverá requerer a transferência de cadastro
após a transcrição do título no Registro de Imóveis, norma reiterada
pelo artigo 3º, §4º, do Decreto-lei nº 2.398/1987.
6. O sujeito passivo da obrigação de pagamento do foro é o enfiteuta
ou foreiro, ou seja, o titular do domínio útil do imóvel, nos termos do
artigo 678 do Código Civil de 1916. No caso dos autos, a executada transmitiu
definitivamente, por venda e compra, o domínio útil do imóvel.
7. No caso dos autos, ao contrário do que consta na r.sentença e no recurso
de apelação, consta da cópia de certidão de matrícula do imóvel,
juntada às fls. 51/53, que por escritura pública datada de 18.11.1983, e
registrada sob nº R.08 em 22.12.1983, a executada transmitiu definitivamente,
por venda e compra, o domínio útil do imóvel. Todavia, inexiste nos autos
comprovação de que a alienação tenha sido comunicada à SPU.
8. Nos termos do art. 116 do Decreto-lei nº 9.760/1946, o adquirente
do domínio útil deverá requerer a transferência de cadastro após a
transcrição do título no Registro de Imóveis, norma reiterada pelo art. 3º
do Decreto-lei nº 2.398/1987, na redação dada pela Lei nº 9.636/1998.
9. Assim, a alienação do domínio útil por si só não opera efeitos
perante a União, detentora da nua propriedade, senão depois dos trâmites
administrativos que, ao final, permitirão a transferência dessa titularidade
perante o Serviço de Patrimônio da União e perante o Cartório de Registro
Imobiliário.
10. Logo, enquanto não se adotam esses procedimentos, todos os valores
devidos em razão do domínio útil continuam sendo exigíveis do alienante,
sem prejuízo de que também possam ser exigidos do adquirente, porquanto
se trata de obrigação propter rem.
11. Embora apenas o adquirente do domínio útil ou do direito de ocupação
esteja sujeito a multas ou outras sanções pela falta de regularização
perante o SPU, é também ônus do alienante providenciá-la, se não quiser
permanecer como responsável pelos foros, laudêmios, taxas e outros débitos.
12. No âmbito do Superior Tribunal de Justiça, a jurisprudência dominante
é no sentido de que, nas transferências de terrenos de marinha (situação
análoga à presente), permanece a obrigatoriedade de o alienante comunicar à
Secretaria de Patrimônio da União - SPU a transferência da ocupação do
imóvel a terceiro, de sorte que, "não havendo comunicação à SPU acerca
do negócio jurídico, permanece como responsável pela quitação da taxa
de ocupação aquele que figura originalmente no registro - o alienante,
e não o adquirente" (REsp 1347342/SC, Segunda Turma, v.u., Rel. Min. Herman
Benjamin, j. 23/10/2012, DJe 31/10/2012).
13. Apelação provida para, afastada a ilegitimidade passiva da executada
em relação aos débitos excutidos, determinar o regular prosseguimento da
execução.Decisão
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide
a Egrégia Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, por
unanimidade, dar provimento à apelação, nos termos do relatório e voto
que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.
Data do Julgamento
:
21/03/2017
Data da Publicação
:
31/03/2017
Classe/Assunto
:
AC - APELAÇÃO CÍVEL - 1274617
Órgão Julgador
:
PRIMEIRA TURMA
Relator(a)
:
DESEMBARGADOR FEDERAL HÉLIO NOGUEIRA
Comarca
:
TRIBUNAL - TERCEIRA REGIÃO
Tipo
:
Acórdão
Referência
legislativa
:
LEG-FED DEL-9760 ANO-1946 ART-116
LEG-FED DEL-2398 ANO-1987 ART-3 PAR-4
***** CC-02 CÓDIGO CIVIL DE 2002
LEG-FED LEI-10406 ANO-2002 ART-2038 ART-1227 ART-1245 PAR-1
***** CTN-66 CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL
LEG-FED LEI-5172 ANO-1966 ART-130 ART-131 ART-32 ART-29
***** CC-16 CÓDIGO CIVIL DE 1916
LEG-FED LEI-3071 ANO-1916 ART-674 INC-1 ART-676 ART-860 PAR-ÚNICO ART-678
LEG-FED LEI-9636 ANO-1998
Fonte da publicação
:
e-DJF3 Judicial 1 DATA:31/03/2017
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