TRF3 0004896-66.2001.4.03.6100 00048966620014036100
DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. NÃO PRODUÇÃO DE PROVAS
DESNECESSÁRIAS. CERCEAMENTO DE DEFESA NÃO VERIFICADO. PROTESTO INDEVIDO. DANO
MORAL IN RE IPSA. DUPLICATA SEM CAUSA. RESPONSABILIDADE CIVIL. EMISSOR DO
TÍTULO E ENDOSSATÁRIO, POR ENDOSSO-TRANSLATIVO. INSTITUIÇÃO FINANCEIRA
QUE PROMOVE O PROTESTO. EXERCÍCIO REGULAR DE PODERES DE MANDATÁRIO. SÚMULA
476/STJ. INDENIZAÇÃO. ARBITRAMENTO. CRITÉRIOS DE RAZOABILIDADE E NÃO
ENRIQUECIMENTO INDEVIDO. APELAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDA.
1. Afastada a alegação de nulidade da sentença porque a decisão restou
devidamente fundamentada, com base nas provas coligidas aos autos, não se
entrevendo qualquer vício que reclame a sua anulação. Ademais, o feito foi
regularmente instruído, tendo sido produzida prova oral antes da prolação
da primeira sentença, que foi anulada por este Tribunal tão somente por
ter reconhecido a ilegitimidade passiva da CEF, de sorte que a parte apelante
não demonstra no que consistiria o alegado prejuízo processual decorrente
da não produção de novas provas.
2. No caso dos autos, a parte autora pleiteia a recomposição de danos
morais decorrentes do protesto indevido de uma duplicata, sustentando que
esta foi erroneamente emitida pela corré Cerâmicas Ideal Padrão S/A,
que a negociou com a corré Interativity Factoring Fomento Mercantil Ltda.,
tendo esta repassado o título à correquerida CEF, que o levou a protesto.
3. A Jurisprudência tem fixado o entendimento de que o protesto indevido
implica no dano moral in re ipsa. Precedentes do Superior Tribunal de
Justiça.
4. A inexistência de causa à emissão de duplicata consubstancia vício de
natureza formal para emissão do título, relativo à sua existência cambial
e de natureza distinta das exceções pessoais, sendo, portanto, oponível
ao endossatário que recebe a cártula por endosso-caução. Precedente do
Superior Tribunal de Justiça.
5. Se tal regra se aplica à hipótese de endosso-caução, com muito mais
razão o vício formal da cártula em questão pode ser oposto à corré
Interativity, que recebeu o próprio crédito representado pela cártula em
questão (endosso-translativo).
6. Ao promover o protesto, a CEF nada mais fez do que receber a duplicata
em questão por meio de endosso-mandato e, ante a ausência de pagamento e
após o seu vencimento, levá-la a protesto, sendo certo que a solicitação
para se evitar tal medida foi-lhe enviada tardiamente, de sorte que agiu
em regular exercício dos poderes de mandatário que lhe conferiu a corré
Interativity, não respondendo pelos danos daí advindos. Súmula n° 476
do Superior Tribunal de Justiça.
7. Tal ato foi determinado pela conduta dos corréus Cerâmicas S/A e
Interativity Ltda., um por emitir a cártula e outro por cedê-la à CEF,
devendo eles responderem solidariamente pelos danos daí advindos, nos termos
do art. 942, parágrafo único do Código Civil.
8. No que se refere ao arbitramento do valor a título de indenização por
danos morais, é firme a orientação jurisprudencial no sentido de que,
nesses casos, deve ser determinada segundo o critério da razoabilidade e
do não enriquecimento despropositado.
9. Considerando as circunstâncias específicas do caso concreto, em especial
o reduzido valor do título em questão, de R$ 185,90, e o considerável
grau de culpa dos corréus Cerâmicas S/A e Interativity Ltda. - um por
emitir indevidamente a duplicata, outro por recebê-lo e negociá-lo com
instituição financeira - arbitra-se em R$ 5.000,00 a indenização por dano
moral, valor razoável e suficiente à reparação do dano no caso concreto,
sem importar no indevido enriquecimento da parte.
10. Apelação parcialmente provida.
Ementa
DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. NÃO PRODUÇÃO DE PROVAS
DESNECESSÁRIAS. CERCEAMENTO DE DEFESA NÃO VERIFICADO. PROTESTO INDEVIDO. DANO
MORAL IN RE IPSA. DUPLICATA SEM CAUSA. RESPONSABILIDADE CIVIL. EMISSOR DO
TÍTULO E ENDOSSATÁRIO, POR ENDOSSO-TRANSLATIVO. INSTITUIÇÃO FINANCEIRA
QUE PROMOVE O PROTESTO. EXERCÍCIO REGULAR DE PODERES DE MANDATÁRIO. SÚMULA
476/STJ. INDENIZAÇÃO. ARBITRAMENTO. CRITÉRIOS DE RAZOABILIDADE E NÃO
ENRIQUECIMENTO INDEVIDO. APELAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDA.
1. Afastada a alegação de nulidade da sentença porque a decisão restou
devidamente fundamentada, com base nas provas coligidas aos autos, não se
entrevendo qualquer vício que reclame a sua anulação. Ademais, o feito foi
regularmente instruído, tendo sido produzida prova oral antes da prolação
da primeira sentença, que foi anulada por este Tribunal tão somente por
ter reconhecido a ilegitimidade passiva da CEF, de sorte que a parte apelante
não demonstra no que consistiria o alegado prejuízo processual decorrente
da não produção de novas provas.
2. No caso dos autos, a parte autora pleiteia a recomposição de danos
morais decorrentes do protesto indevido de uma duplicata, sustentando que
esta foi erroneamente emitida pela corré Cerâmicas Ideal Padrão S/A,
que a negociou com a corré Interativity Factoring Fomento Mercantil Ltda.,
tendo esta repassado o título à correquerida CEF, que o levou a protesto.
3. A Jurisprudência tem fixado o entendimento de que o protesto indevido
implica no dano moral in re ipsa. Precedentes do Superior Tribunal de
Justiça.
4. A inexistência de causa à emissão de duplicata consubstancia vício de
natureza formal para emissão do título, relativo à sua existência cambial
e de natureza distinta das exceções pessoais, sendo, portanto, oponível
ao endossatário que recebe a cártula por endosso-caução. Precedente do
Superior Tribunal de Justiça.
5. Se tal regra se aplica à hipótese de endosso-caução, com muito mais
razão o vício formal da cártula em questão pode ser oposto à corré
Interativity, que recebeu o próprio crédito representado pela cártula em
questão (endosso-translativo).
6. Ao promover o protesto, a CEF nada mais fez do que receber a duplicata
em questão por meio de endosso-mandato e, ante a ausência de pagamento e
após o seu vencimento, levá-la a protesto, sendo certo que a solicitação
para se evitar tal medida foi-lhe enviada tardiamente, de sorte que agiu
em regular exercício dos poderes de mandatário que lhe conferiu a corré
Interativity, não respondendo pelos danos daí advindos. Súmula n° 476
do Superior Tribunal de Justiça.
7. Tal ato foi determinado pela conduta dos corréus Cerâmicas S/A e
Interativity Ltda., um por emitir a cártula e outro por cedê-la à CEF,
devendo eles responderem solidariamente pelos danos daí advindos, nos termos
do art. 942, parágrafo único do Código Civil.
8. No que se refere ao arbitramento do valor a título de indenização por
danos morais, é firme a orientação jurisprudencial no sentido de que,
nesses casos, deve ser determinada segundo o critério da razoabilidade e
do não enriquecimento despropositado.
9. Considerando as circunstâncias específicas do caso concreto, em especial
o reduzido valor do título em questão, de R$ 185,90, e o considerável
grau de culpa dos corréus Cerâmicas S/A e Interativity Ltda. - um por
emitir indevidamente a duplicata, outro por recebê-lo e negociá-lo com
instituição financeira - arbitra-se em R$ 5.000,00 a indenização por dano
moral, valor razoável e suficiente à reparação do dano no caso concreto,
sem importar no indevido enriquecimento da parte.
10. Apelação parcialmente provida.Decisão
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide
a Egrégia Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, por
unanimidade, dar parcial provimento à apelação, nos termos do relatório
e voto que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.
Data do Julgamento
:
24/07/2018
Data da Publicação
:
03/08/2018
Classe/Assunto
:
Ap - APELAÇÃO CÍVEL - 1416101
Órgão Julgador
:
PRIMEIRA TURMA
Relator(a)
:
DESEMBARGADOR FEDERAL WILSON ZAUHY
Comarca
:
TRIBUNAL - TERCEIRA REGIÃO
Tipo
:
Acórdão
Indexação
:
VIDE EMENTA.
Fonte da publicação
:
e-DJF3 Judicial 1 DATA:03/08/2018
..FONTE_REPUBLICACAO:
Mostrar discussão