TRF3 0005921-30.2014.4.03.6110 00059213020144036110
CONSTITUCIONAL, ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. PRELIMINARES REJEITADAS
(ILICITUDE DE PROVA CONSTANTE DO INQUÉRITO POLICIAL, INÉPCIA DA INICIAL,
SUSPENSÃO DO PROCESSO EM RAZÃO DA PENDÊNCIA DE JULGAMENTO DA LEGALIDADE
DAS PROVAS NO PROCESSO CRIMINAL E NULIDADE DA SENTENÇA). AÇÃO CIVIL
PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. INCIDÊNCIA DOS ARTIGOS 9º, I e X,
11, II, E 12, I E III, TODOS, DA LEI Nº 8.429/92.
- Não há que se falar em violação ao princípio do contraditório
e da ampla defesa na colheita da prova obtida no inquérito policial. A
violação de tais princípios ocorreria somente no caso de tais provas
não tivessem colacionadas aos autos da ação civil pública durante a
instrução processual, impossibilitando que os apelantes tivessem pleno e
amplo acesso a todo material probante, o que não ocorreu.
- A alegação de inadmissibilidade da prova emprestada decorrente de
inquérito policial não merece acolhimento, haja vista que já se encontra
pacificado o entendimento acerca de sua possibilidade no Superior Tribunal
de Justiça.
- Quanto à inépcia da inicial devido a degravação selecionada e parcial
das interceptações telefônicas realizadas em sede policial, também não
assiste razão aos apelantes. Os áudios gravados durante a interceptação
telefônica encontram-se integralmente reproduzidos na mídia digital acostada
aos autos da ação penal nº 0012363-56.2007.403.6110, sendo desnecessária
a degravação integral do conteúdo para a instrução desta ACP, mormente
quando nenhum prejuízo à defesa foi comprovado.
- Com relação à necessidade de suspensão do processo até julgamento
da ação penal nº 0010422-32.2011.4.03.6110, não há que se falar em
prejudicialidade, haja vista a existência de independência entre as
instâncias penal, administrativa e cível.
- No que se refere à alegação de que a r. sentença seria nula, haja vista
que o julgamento teria se baseado em dúvidas, ignorando provas, como a ata
notarial, e menosprezando outras, esta afirmação encontra-se superada,
uma vez que o MM. Juízo a quo analisou totas as provas e individualizou as
condutas ao sentenciar o feito.
- O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL ajuizou a presente ação civil pública em
face de AGENOR BERNARDINI JÚNIOR, ANTÔNIO CARLOS DE MATTOS, JOSÉ AUGUSTO
ARAÚJO PEREIRA, LEONARDO WALTER BREITBARTH, SÉRGIO FERNANDES DE MATTOS e
VALDECI CONSTANTINO DALMAZO, por atos de improbidade administrativa. Segundo a
inicial, os réus, ora apelantes, associaram-se, constituindo uma organização
criminosa, com a finalidade de praticar reiteradamente crimes de corrupção
passiva e ativa.
- Relata que, nos dias 30/01/2012, 28/03/2012 e 26/07/2012, ANTÔNIO CARLOS DE
MATTOS, JOSÉ AUGUSTO ARAÚJO PEREIRA, LEONARDO WALTER BREITBARTH, SÉRGIO
FERNANDES DE MATTOS e VALDECI CONSTANTINO DALMAZO ofereceram a AGENOR
BERNARDINI JÚNIOR, então Delegado de Polícia Federal, um equipamento
eletrônico I-pad, peças de carne (picanha) e luminárias. As referidas
ofertas ilícitas, nas mesmas condições de tempo e lugar, foram aceitas por
AGENOR. Segundo o Órgão Ministerial, todas as ofertas tinham como objetivo
o retardamento ou a ausência de prática de ato de ofício que deveria ser
praticado por AGENOR BERNARDINI JÚNIOR que, à época, presidia o Inquérito
Policial nº 0012363-56.2007.403.6110, no qual a empresa COMERCIAL LUXNIGHT
LTDA, gerida pelos réus, ANTÔNIO CARLOS DE MATTOS, JOSÉ AUGUSTO ARAÚJO
PEREIRA, LEONARDO WALTER BREITBARTH, SÉRGIO FERNANDES DE MATTOS e VALDECI
CONSTANTINO DALMAZO era investigada pela a prática de crimes tributários.
- Segundo o Ministério Público Federal, os atos cometidos por AGENOR
BERNARDINI JÚNIOR, ANTÔNIO CARLOS DE MATTOS, JOSÉ AUGUSTO ARAÚJO PEREIRA,
LEONARDO WALTER BREITBARTH, SÉRGIO FERNANDES DE MATTOS e VALDECI CONSTANTINO
DALMAZO estão disciplinados na Lei de Improbidade, em especial, nos artigos
9º, I e X, 11, II, e 12, I e III, todos, da Lei nº 8.429/92.
- No caso do art. 9, da Lei nº 8.429/92, a configuração da prática de
improbidade administrativa depende da presença dos seguintes requisitos
genéricos: recebimento de vantagem indevida (independente de prejuízo ao
erário); conduta dolosa por parte do agente ou do terceiro; e nexo causal
ou etiológico entre o recebimento da vantagem e a conduta daquele que ocupa
cargo ou emprego, detém mandato, exerce função ou atividade nas entidades
mencionadas no art. 1º da Lei de improbidade administrativa.
- Já no art. 11, da referida lei, o pressuposto essencial para configuração
do ato de improbidade é a violação aos princípios da Administração
Pública, independente do enriquecimento ilícito ou de lesão ao erário. A
violação aos princípios deve ser conjugada com a comprovação do dolo do
agente e o nexo de causalidade entre ação/omissão e a respectiva ofensa
ao princípio aplicável à Administração.
- Após análise do conjunto probatório, não há nenhuma dúvida de que
as denuncias feitas contra os apelantes são verídicas. Ficou caracterizada
a prática de atos de improbidade administrativa previstos nos artigos 9º,
I e X, 11, II, ambos, da Lei nº 8.429/92.
- Na ação civil pública, sagrando-se vencedor o Ministério Público,
autor da demanda, são indevidos honorários advocatícios, em seu favor,
por força do que dispõe art. 128, inciso II, § 5º, II, alínea a,
da Constituição Federal, da aplicação, por simetria de tratamento,
das disposições do art. 18 da Lei nº 7.347/85.
- Apelações de ANTÔNIO CARLOS DE MATTOS, JOSÉ AUGUSTO ARAÚJO PEREIRA,
LEONARDO WALTER BREITBARTH, SÉRGIO FERNANDES DE MATTOS e VALDECI CONSTANTINO
DALMAZO não providas. Apelação de AGENOR BERNARDINI JÚNIOR parcialmente
provida.
Ementa
CONSTITUCIONAL, ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. PRELIMINARES REJEITADAS
(ILICITUDE DE PROVA CONSTANTE DO INQUÉRITO POLICIAL, INÉPCIA DA INICIAL,
SUSPENSÃO DO PROCESSO EM RAZÃO DA PENDÊNCIA DE JULGAMENTO DA LEGALIDADE
DAS PROVAS NO PROCESSO CRIMINAL E NULIDADE DA SENTENÇA). AÇÃO CIVIL
PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. INCIDÊNCIA DOS ARTIGOS 9º, I e X,
11, II, E 12, I E III, TODOS, DA LEI Nº 8.429/92.
- Não há que se falar em violação ao princípio do contraditório
e da ampla defesa na colheita da prova obtida no inquérito policial. A
violação de tais princípios ocorreria somente no caso de tais provas
não tivessem colacionadas aos autos da ação civil pública durante a
instrução processual, impossibilitando que os apelantes tivessem pleno e
amplo acesso a todo material probante, o que não ocorreu.
- A alegação de inadmissibilidade da prova emprestada decorrente de
inquérito policial não merece acolhimento, haja vista que já se encontra
pacificado o entendimento acerca de sua possibilidade no Superior Tribunal
de Justiça.
- Quanto à inépcia da inicial devido a degravação selecionada e parcial
das interceptações telefônicas realizadas em sede policial, também não
assiste razão aos apelantes. Os áudios gravados durante a interceptação
telefônica encontram-se integralmente reproduzidos na mídia digital acostada
aos autos da ação penal nº 0012363-56.2007.403.6110, sendo desnecessária
a degravação integral do conteúdo para a instrução desta ACP, mormente
quando nenhum prejuízo à defesa foi comprovado.
- Com relação à necessidade de suspensão do processo até julgamento
da ação penal nº 0010422-32.2011.4.03.6110, não há que se falar em
prejudicialidade, haja vista a existência de independência entre as
instâncias penal, administrativa e cível.
- No que se refere à alegação de que a r. sentença seria nula, haja vista
que o julgamento teria se baseado em dúvidas, ignorando provas, como a ata
notarial, e menosprezando outras, esta afirmação encontra-se superada,
uma vez que o MM. Juízo a quo analisou totas as provas e individualizou as
condutas ao sentenciar o feito.
- O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL ajuizou a presente ação civil pública em
face de AGENOR BERNARDINI JÚNIOR, ANTÔNIO CARLOS DE MATTOS, JOSÉ AUGUSTO
ARAÚJO PEREIRA, LEONARDO WALTER BREITBARTH, SÉRGIO FERNANDES DE MATTOS e
VALDECI CONSTANTINO DALMAZO, por atos de improbidade administrativa. Segundo a
inicial, os réus, ora apelantes, associaram-se, constituindo uma organização
criminosa, com a finalidade de praticar reiteradamente crimes de corrupção
passiva e ativa.
- Relata que, nos dias 30/01/2012, 28/03/2012 e 26/07/2012, ANTÔNIO CARLOS DE
MATTOS, JOSÉ AUGUSTO ARAÚJO PEREIRA, LEONARDO WALTER BREITBARTH, SÉRGIO
FERNANDES DE MATTOS e VALDECI CONSTANTINO DALMAZO ofereceram a AGENOR
BERNARDINI JÚNIOR, então Delegado de Polícia Federal, um equipamento
eletrônico I-pad, peças de carne (picanha) e luminárias. As referidas
ofertas ilícitas, nas mesmas condições de tempo e lugar, foram aceitas por
AGENOR. Segundo o Órgão Ministerial, todas as ofertas tinham como objetivo
o retardamento ou a ausência de prática de ato de ofício que deveria ser
praticado por AGENOR BERNARDINI JÚNIOR que, à época, presidia o Inquérito
Policial nº 0012363-56.2007.403.6110, no qual a empresa COMERCIAL LUXNIGHT
LTDA, gerida pelos réus, ANTÔNIO CARLOS DE MATTOS, JOSÉ AUGUSTO ARAÚJO
PEREIRA, LEONARDO WALTER BREITBARTH, SÉRGIO FERNANDES DE MATTOS e VALDECI
CONSTANTINO DALMAZO era investigada pela a prática de crimes tributários.
- Segundo o Ministério Público Federal, os atos cometidos por AGENOR
BERNARDINI JÚNIOR, ANTÔNIO CARLOS DE MATTOS, JOSÉ AUGUSTO ARAÚJO PEREIRA,
LEONARDO WALTER BREITBARTH, SÉRGIO FERNANDES DE MATTOS e VALDECI CONSTANTINO
DALMAZO estão disciplinados na Lei de Improbidade, em especial, nos artigos
9º, I e X, 11, II, e 12, I e III, todos, da Lei nº 8.429/92.
- No caso do art. 9, da Lei nº 8.429/92, a configuração da prática de
improbidade administrativa depende da presença dos seguintes requisitos
genéricos: recebimento de vantagem indevida (independente de prejuízo ao
erário); conduta dolosa por parte do agente ou do terceiro; e nexo causal
ou etiológico entre o recebimento da vantagem e a conduta daquele que ocupa
cargo ou emprego, detém mandato, exerce função ou atividade nas entidades
mencionadas no art. 1º da Lei de improbidade administrativa.
- Já no art. 11, da referida lei, o pressuposto essencial para configuração
do ato de improbidade é a violação aos princípios da Administração
Pública, independente do enriquecimento ilícito ou de lesão ao erário. A
violação aos princípios deve ser conjugada com a comprovação do dolo do
agente e o nexo de causalidade entre ação/omissão e a respectiva ofensa
ao princípio aplicável à Administração.
- Após análise do conjunto probatório, não há nenhuma dúvida de que
as denuncias feitas contra os apelantes são verídicas. Ficou caracterizada
a prática de atos de improbidade administrativa previstos nos artigos 9º,
I e X, 11, II, ambos, da Lei nº 8.429/92.
- Na ação civil pública, sagrando-se vencedor o Ministério Público,
autor da demanda, são indevidos honorários advocatícios, em seu favor,
por força do que dispõe art. 128, inciso II, § 5º, II, alínea a,
da Constituição Federal, da aplicação, por simetria de tratamento,
das disposições do art. 18 da Lei nº 7.347/85.
- Apelações de ANTÔNIO CARLOS DE MATTOS, JOSÉ AUGUSTO ARAÚJO PEREIRA,
LEONARDO WALTER BREITBARTH, SÉRGIO FERNANDES DE MATTOS e VALDECI CONSTANTINO
DALMAZO não providas. Apelação de AGENOR BERNARDINI JÚNIOR parcialmente
provida.Decisão
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide
a Egrégia Quarta Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, por
unanimidade, negar provimento aos recursos de apelação de LEONARDO WALTER
BREITBARTH, VALDECI CONSTANTINO DALMAZO, JOSÉ AUGUSTO ARAÚJO PEREIRA,
ANTÔNIO CARLOS DE MATTOS e SÉRGIO FERNANDES DE MATTOS, e dar parcial
provimento à apelação de AGENOR BERNARDINI JÚNIOR, apenas para excluir
a condenação em honorários advocatícios, nos termos do relatório e voto
que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.
Data do Julgamento
:
21/03/2019
Data da Publicação
:
02/04/2019
Classe/Assunto
:
Ap - APELAÇÃO CÍVEL - 2311826
Órgão Julgador
:
QUARTA TURMA
Relator(a)
:
DESEMBARGADORA FEDERAL MÔNICA NOBRE
Comarca
:
TRIBUNAL - TERCEIRA REGIÃO
Tipo
:
Acórdão
Indexação
:
VIDE EMENTA.
Fonte da publicação
:
e-DJF3 Judicial 1 DATA:02/04/2019
..FONTE_REPUBLICACAO:
Mostrar discussão