TRF3 0005957-11.2015.4.03.6119 00059571120154036119
PENAL. PROCESSUAL PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. TRÁFICO INTERNACIONAL DE
DROGAS. ART. 33 C.C. ART. 40, INC. I, AMBOS DA LEI 11.343/2006. 6,977 KG DE
COCAÍNA. PRELIMINAR. RECORRER EM LIBERDADE. IMPOSSIBILIDADE. MATERIALIDADE E
AUTORIA COMPROVADAS. DOSIMETRIA DA PENA. PENA-BASE REFORMADA. APLICAÇÃO
DA ATENUANTE DE CONFISSÃO ESPONTÂNEA. ATENUANTE GENÉRICA DA
COCULPABILIDADE. INAPLICÁVEL. APLICABILIDADE DO §4º DO ART. 33 DA LEI
11.343/2006. INAPLICABILIDADE DA CAUSA DA DIMINUIÇÃO DO ART. 24, §2º,
DO CP. INTERNACIONALIDADE. REGIME DE CUMPRIMENTO DE PENA.
1. O réu permaneceu custodiado durante todo o processo, sendo, ao final,
condenado, não tendo havido mudança no quadro fático descrito na sentença
a ensejar a alteração de sua situação prisional, nos termos do artigo
387, § 1º, do Código de Processo Penal.. Por outro ângulo, observo que
estão presentes os requisitos para a manutenção da segregação cautelar
do apelante, para garantia da ordem pública e para assegurar a aplicação
da lei penal (art. 312 do Código de Processo Penal). Havendo elementos
concretos que determinam a necessidade da prisão processual, não há que
se falar, por ora, na suficiência das medidas cautelares alternativas.
2. As circunstâncias nas quais foi realizada a apreensão do entorpecente,
aliadas à prova oral colhida, tanto na fase policial como judicial, confirmam,
de forma precisa e harmônica, a ocorrência dos fatos e a responsabilidade
pela autoria destes, fato incontroverso no presente caso.
3. Ainda que corretamente fundamentadas as circunstâncias judiciais negativas
ao acusado, analisando com preponderância a quantidade e a qualidade do
entorpecente apreendido, 6,977 Kg de cocaína, verifico que a pena-base
deve ser fixada em 06 (seis) anos e 03 (três) meses de reclusão e 625
(seiscentos e vinte e cinco) dias-multa. Pena-base reformada.
4. Reconheço a incidência no caso da atenuante da confissão espontânea,
pois, a despeito de ter sido preso em flagrante, confessou espontaneamente,
em juízo, a autoria dos fatos a si imputados, confirmando ter conhecimento
de que transportava drogas.
5. A Teoria da coculpabilidade atribui ao Estado parte da responsabilidade
pelos delitos praticados por determinados agentes, que praticam crimes por
não terem outras oportunidades, em razão de problemas e desigualdades
sociais. Segundo essa teoria, não haveria exclusão da culpabilidade do
agente, mas tais circunstâncias poderiam ser ponderadas pelo magistrado
na dosimetria da pena, com base no artigo 66, do Código Penal. No caso dos
autos, não há qualquer elemento fático que demonstre a excepcionalidade
da situação da ré, ou tampouco que a apelante passava por dificuldades
sociais ou financeiras causadas por relevante omissão Estatal.
6. Ainda que se admitisse, em tese, a possibilidade de a coculpabilidade vir
a ser ponderada na dosimetria da pena, não estariam presentes os requisitos
necessários para tanto, motivo pelo qual deixo de aplicar a mencionada
atenuante.
7. No caso em tela, o réu é primário e não ostenta maus
antecedentes. Tampouco há aparência de que integre organização criminosa,
de sorte que é cabível a aplicação da minorante. Assim, aplicável a
redução do artigo 33, § 4º, da Lei n.º 11.343/06.
8. No que se refere à causa de diminuição do artigo 24, § 2º, do Código
Penal, que a defesa pleiteia seja aplicada, cabe ponderar a possibilidade de
sua aplicação no caso. Verifica-se dos autos que não há demonstração
da situação financeira do acusado, ou de sua família, não sendo possível
avaliar a alegação de penúria, anterior ou subsequente a sua prisão.Assim,
como a defesa não produziu qualquer prova acerca das alegações do acusado,
incabível a incidência de qualquer das medidas de redução de pena.
9. A majorante prevista no artigo 40, inciso I, da Lei n.º 11.343/06,
aplica-se ao tráfico com o exterior, seja quando o tóxico venha para o
Brasil, seja quando esteja em vias de ser exportado. Portanto, é evidente,
in casu, a tipificação do tráfico internacional de entorpecentes, pois
o acusado foi preso em flagrante no Aeroporto Internacional de Guarulhos,
quando intentava viajar ao exterior transportando droga junto a sua bagagem.
10. Considerado o tempo de prisão cautelar, nos termos do art. 387, § 2º,
do Código de Processo Penal, com redação dada pela Lei n.º 12.736/12,
mantenho o regime inicial no fechado, nos termos do artigo 33, § 3º,
do Código Penal.
11. No que tange ao pedido de afastamento da imposição da pena de multa,
cabe ressaltar que o legislador, ao fixar os parâmetros da pena pecuniária,
observou as características inerentes ao delito de tráfico ilícito de
entorpecentes, cometido quase que exclusivamente pela ganância e busca
do lucro fácil, tendo o recrudescimento da pena pecuniária se mostrado
totalmente adequado e proporcional, devendo as questões referentes à
eventual impossibilidade de cumprimento serem discutidas perante o Juízo
das Execuções.
12. Verifico que a substituição da pena privativa de liberdade por penas
restritivas de direitos não se mostra suficiente no caso concreto, nos
termos do artigo 44, inciso III, do Código Penal, sendo certo, ademais,
que, tendo em vista o quantum da condenação, não estão preenchidos os
requisitos objetivos do inciso I do mesmo artigo 44 do Código Penal.
13. A defesa requer a expedição de ofício ao Ministério do Trabalho e
Emprego e à Polícia Federal para expedição de CTPS e RNE. Entretanto,
tal requerimento deve ser dirigido ao Juízo de Primeiro Grau, em momento
oportuno, pois não se trata de matéria a ser decidida em sede de apelação.
14. Recurso provido em parte.
Ementa
PENAL. PROCESSUAL PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. TRÁFICO INTERNACIONAL DE
DROGAS. ART. 33 C.C. ART. 40, INC. I, AMBOS DA LEI 11.343/2006. 6,977 KG DE
COCAÍNA. PRELIMINAR. RECORRER EM LIBERDADE. IMPOSSIBILIDADE. MATERIALIDADE E
AUTORIA COMPROVADAS. DOSIMETRIA DA PENA. PENA-BASE REFORMADA. APLICAÇÃO
DA ATENUANTE DE CONFISSÃO ESPONTÂNEA. ATENUANTE GENÉRICA DA
COCULPABILIDADE. INAPLICÁVEL. APLICABILIDADE DO §4º DO ART. 33 DA LEI
11.343/2006. INAPLICABILIDADE DA CAUSA DA DIMINUIÇÃO DO ART. 24, §2º,
DO CP. INTERNACIONALIDADE. REGIME DE CUMPRIMENTO DE PENA.
1. O réu permaneceu custodiado durante todo o processo, sendo, ao final,
condenado, não tendo havido mudança no quadro fático descrito na sentença
a ensejar a alteração de sua situação prisional, nos termos do artigo
387, § 1º, do Código de Processo Penal.. Por outro ângulo, observo que
estão presentes os requisitos para a manutenção da segregação cautelar
do apelante, para garantia da ordem pública e para assegurar a aplicação
da lei penal (art. 312 do Código de Processo Penal). Havendo elementos
concretos que determinam a necessidade da prisão processual, não há que
se falar, por ora, na suficiência das medidas cautelares alternativas.
2. As circunstâncias nas quais foi realizada a apreensão do entorpecente,
aliadas à prova oral colhida, tanto na fase policial como judicial, confirmam,
de forma precisa e harmônica, a ocorrência dos fatos e a responsabilidade
pela autoria destes, fato incontroverso no presente caso.
3. Ainda que corretamente fundamentadas as circunstâncias judiciais negativas
ao acusado, analisando com preponderância a quantidade e a qualidade do
entorpecente apreendido, 6,977 Kg de cocaína, verifico que a pena-base
deve ser fixada em 06 (seis) anos e 03 (três) meses de reclusão e 625
(seiscentos e vinte e cinco) dias-multa. Pena-base reformada.
4. Reconheço a incidência no caso da atenuante da confissão espontânea,
pois, a despeito de ter sido preso em flagrante, confessou espontaneamente,
em juízo, a autoria dos fatos a si imputados, confirmando ter conhecimento
de que transportava drogas.
5. A Teoria da coculpabilidade atribui ao Estado parte da responsabilidade
pelos delitos praticados por determinados agentes, que praticam crimes por
não terem outras oportunidades, em razão de problemas e desigualdades
sociais. Segundo essa teoria, não haveria exclusão da culpabilidade do
agente, mas tais circunstâncias poderiam ser ponderadas pelo magistrado
na dosimetria da pena, com base no artigo 66, do Código Penal. No caso dos
autos, não há qualquer elemento fático que demonstre a excepcionalidade
da situação da ré, ou tampouco que a apelante passava por dificuldades
sociais ou financeiras causadas por relevante omissão Estatal.
6. Ainda que se admitisse, em tese, a possibilidade de a coculpabilidade vir
a ser ponderada na dosimetria da pena, não estariam presentes os requisitos
necessários para tanto, motivo pelo qual deixo de aplicar a mencionada
atenuante.
7. No caso em tela, o réu é primário e não ostenta maus
antecedentes. Tampouco há aparência de que integre organização criminosa,
de sorte que é cabível a aplicação da minorante. Assim, aplicável a
redução do artigo 33, § 4º, da Lei n.º 11.343/06.
8. No que se refere à causa de diminuição do artigo 24, § 2º, do Código
Penal, que a defesa pleiteia seja aplicada, cabe ponderar a possibilidade de
sua aplicação no caso. Verifica-se dos autos que não há demonstração
da situação financeira do acusado, ou de sua família, não sendo possível
avaliar a alegação de penúria, anterior ou subsequente a sua prisão.Assim,
como a defesa não produziu qualquer prova acerca das alegações do acusado,
incabível a incidência de qualquer das medidas de redução de pena.
9. A majorante prevista no artigo 40, inciso I, da Lei n.º 11.343/06,
aplica-se ao tráfico com o exterior, seja quando o tóxico venha para o
Brasil, seja quando esteja em vias de ser exportado. Portanto, é evidente,
in casu, a tipificação do tráfico internacional de entorpecentes, pois
o acusado foi preso em flagrante no Aeroporto Internacional de Guarulhos,
quando intentava viajar ao exterior transportando droga junto a sua bagagem.
10. Considerado o tempo de prisão cautelar, nos termos do art. 387, § 2º,
do Código de Processo Penal, com redação dada pela Lei n.º 12.736/12,
mantenho o regime inicial no fechado, nos termos do artigo 33, § 3º,
do Código Penal.
11. No que tange ao pedido de afastamento da imposição da pena de multa,
cabe ressaltar que o legislador, ao fixar os parâmetros da pena pecuniária,
observou as características inerentes ao delito de tráfico ilícito de
entorpecentes, cometido quase que exclusivamente pela ganância e busca
do lucro fácil, tendo o recrudescimento da pena pecuniária se mostrado
totalmente adequado e proporcional, devendo as questões referentes à
eventual impossibilidade de cumprimento serem discutidas perante o Juízo
das Execuções.
12. Verifico que a substituição da pena privativa de liberdade por penas
restritivas de direitos não se mostra suficiente no caso concreto, nos
termos do artigo 44, inciso III, do Código Penal, sendo certo, ademais,
que, tendo em vista o quantum da condenação, não estão preenchidos os
requisitos objetivos do inciso I do mesmo artigo 44 do Código Penal.
13. A defesa requer a expedição de ofício ao Ministério do Trabalho e
Emprego e à Polícia Federal para expedição de CTPS e RNE. Entretanto,
tal requerimento deve ser dirigido ao Juízo de Primeiro Grau, em momento
oportuno, pois não se trata de matéria a ser decidida em sede de apelação.
14. Recurso provido em parte.Decisão
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide
a Egrégia Quinta Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, por
unanimidade, rejeitar a preliminar arguida e dar parcial provimento ao recurso
da defesa, a fim de reformar a pena aplicada na r. sentença combatida, para 05
(cinco) anos e 22 (vinte e dois) dias de reclusão, em regime inicial fechado,
além de 505 (quinhentos e cinco) dias-multa, à razão unitária de 1/30 (um
trigésimo) do salário mínimo, pena corporal não substituída, nos termos
do relatório e voto que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.
Data do Julgamento
:
13/06/2016
Data da Publicação
:
20/06/2016
Classe/Assunto
:
ACR - APELAÇÃO CRIMINAL - 66012
Órgão Julgador
:
QUINTA TURMA
Relator(a)
:
DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO FONTES
Comarca
:
TRIBUNAL - TERCEIRA REGIÃO
Tipo
:
Acórdão
Observações
:
OBJETO MATERIAL DO CRIME: 6,977 KG DE COCAÍNA.
Referência
legislativa
:
***** CPP-41 CÓDIGO DE PROCESSO PENAL
LEG-FED DEL-3689 ANO-1941 ART-312 ART-387 PAR-1 PAR-2
***** CP-40 CÓDIGO PENAL DE 1940
LEG-FED DEL-2848 ANO-1940 ART-24 PAR-2 ART-33 PAR-3 ART-44 INC-1 INC-3
ART-66
***** LDR-06 LEI DE DROGAS
LEG-FED LEI-11343 ANO-2006 ART-33 PAR-4 ART-40 INC-1
LEG-FED LEI-12736 ANO-2012
Fonte da publicação
:
e-DJF3 Judicial 1 DATA:20/06/2016
..FONTE_REPUBLICACAO:
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