TRF3 0006704-85.2015.4.03.6110 00067048520154036110
PENAL. PROCESSO PENAL. TRÁFICO TRANSNACIONAL DE DROGAS. COMPETÊNCIA. JUSTIÇA
FEDERAL. SENTENÇA. FUNDAMENTAÇÃO DEFICIENTE. NULIDADE POR OFENSA AO ART. 93,
IX, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. NÃO OCORRÊNCIA. INTERCEPTAÇÃO
TELEFÔNICA. AUTORIZAÇÃO JUDICIAL. LEGALIDADE. PRORROGAÇÃO
DA MEDIDA. ADMISSIBILIDADE. INDEFERIMENTO DE DILIGÊNCIAS. CPP,
ART. 402. PODER DISCRICIONÁRIO DO JUIZ. REABERTURA DA INSTRUÇÃO
CRIMINAL. IMPOSSIBILIDADE. MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS. REJEITADAS
AS ALEGAÇÕES DE AUSÊNCIA DE DOLO E ERRO DE TIPO. NÃO ACOLHIDO O PEDIDO
DE DESCLASSIFICAÇÃO PARA CONTRABANDO OU DESCAMINHO. INCIDÊNCIA DA CAUSA
DE AUMENTO CORRESPONDENTE À TRANSNACIONALIDADE DO FATO (LEI N. 11.343/06,
ART. 40, I). TRÁFICO. ESTADO DE NECESSIDADE. INADMISSIBILIDADE. PARTICIPAÇÃO
DE MENOR IMPORTÂNCIA. ALEGAÇÃO REJEITADA. DOSIMETRIA. PENA-BASE. SÚMULA
N. 444 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. AÇÕES PENAIS SEM TRÂNSITO EM
JULGADO. VALORAÇÃO EXCLUÍDA. REDUÇÃO DA EXASPERAÇÃO DAS PENAS-BASE
PARA OS RÉUS LUIZ CLÁUDIO, GIOVANI, MARCIANO, WELISSON, OVÍDIO E MATHEUS.
CONFISSÃO. INCIDÊNCIA DA ATENUANTE PARA O RÉU WELISSON. PROMESSA DE
RECOMPENSA (CP, ART. 62, IV). EXCLUSÃO DA AGRAVANTE, DE OFÍCIO, PARA O RÉU
GIOVANI, PARA EVITAR "BIS IN IDEM" COM AS ELEMENTARES DO TIPO PENAL. NÃO
INCIDÊNCIA DA CAUSA DE DIMINUIÇÃO DO ART. 33, § 4º, DA LEI N. 11.343/06,
PARA NENHUM DOS RÉUS. CUSTAS. RÉU POBRE. ISENÇÃO. NEGATIVA DO DIREITO
DE RECORRER EM LIBERDADE. FUNDAMENTAÇÃO SUFICIENTE. DESPROVIMENTO DAS
APELAÇÕES DOS RÉUS RODANERES E UDSON. PARCIAL PROVIMENTO DAS APELAÇÕES
CRIMINAIS DOS RÉUS LUIZ CLÁUDIO, GIOVANI, MARCIANO, WELISSON, OVÍDIO E
MATHEUS.
1. A competência da Justiça Federal, no presente caso, está justificada
haja vista a demonstração de que a elevada quantidade de drogas fora
produzida no Paraguai e fornecida por traficante desse país.
2. Segundo entendimento já pacificado pelo Supremo Tribunal Federal, somente
a inexistência de fundamentação constitui causa de nulidade da decisão por
ofensa ao art. 93, IX, da Constituição da República (STF, ARE-AgR n. 725564,
Rel. Min. Rosa Weber, j. 12.05.15; ARE-AgR n. 707178, Rel. Min. Gilmar Mendes,
j. 11.12.12; ARE-ED n. 676198, Rel. Min. Luiz Fux, j. 02.10.12).
3. Não há que se invalidar o resultado obtido em decorrência de
interceptações telefônicas que foram realizadas mediante autorização
judicial, nos termos da Lei nº 9.296/96. Precedentes do STJ.
4. A jurisprudência dos Tribunais Superiores é pacífica no sentido da
admissibilidade das sucessivas prorrogações da interceptação telefônica
para a apuração da prática delitiva conforme sua complexidade (STF HC
n. 83.515-RS, Rel. Min. Nelson Jobim, DJ 04.03.05, p. 11; RHC n. 85.575-SP,
Rel. Min. Joaquim Barbosa, DJ 16.03.07; STJ, HC n. 29.174-RJ, Rel. Min. Jorge
Scartezzini, j. 01.06.04; RHC n. 13.274-RS, Rel. Min. Gilson Dipp,
j. 19.08.03). Portanto, a entendimento esposado pela 6ª Turma do Superior
Tribunal de Justiça no HC n. 76.686-PR, Rel. Min. Nilson Naves, unânime,
j. 09.09.08, no sentido de conceder ordem de habeas corpus em contrariedade
àquele entendimento não se revela predominante.
5. Consoante o disposto no art. 402 do Código de Processo Penal, a
exemplo da redação primitiva do art. 499 do mesmo diploma, as partes
poderão requerer as diligências cuja necessidade ou conveniência tenham
surgido das circunstâncias ou dos fatos apurados na instrução. O exame
das diligências requeridas nessa fase é ato que se inclui na esfera de
responsabilidade do Juiz, que poderá indeferi-las em decisão fundamentada,
quando as julgar protelatórias ou desnecessárias e sem pertinência com a
instrução do processo. A fase não comporta a produção ampla de provas,
nem há de servir para a reabertura ou renovação da instrução criminal,
sob risco de perpetuar-se o processo (STF, HC n. 102719, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, j. 01.06.10; STJ, RHC n. 33155, Rel. Min. Laurita Vaz,
j. 22.10.13; HC n. 26655, Rel. Min. Felix Fischer, j. 15.04.03; TRF 2ª
Região, HC n. 201202010191791, Rel. Des. Fed. Liliane Roriz, j. 18.12.12;
HC n. 200302010082320, Rel. Des. Fed. Poul Erik Dyrlund, j. 12.11.03; HC
n. 200202010448814, Rel. Des. Fed. Sergio Feltrin Correa, j. 26.02.03).
6. Rejeitadas as questões preliminares.
7. A materialidade do crime de tráfico de drogas restou satisfatoriamente
comprovada, bem como a autoria delitiva, tratando-se de ação penal
derivada de apuração criminal mais ampla, chamada Operação Cristal,
e foi classificada como "Evento n. 3" dessa investigação.
8. A Operação Cristal consistiu, em síntese, na identificação de um grupo
criminoso que se articulava para a importação de drogas, internalizadas
a partir do Mato Grosso do Sul e posteriormente disseminadas a traficantes
do interior do Estado de São Paulo.
9. A tarefa que cada réu executava em favor do grupo criminoso restou
satisfatoriamente comprovada: Ovídio foi o principal adquirente das
drogas, sem prejuízo de que parte do entorpecente pertencesse a outros
corréus (Matheus, Luiz Cláudio e Rodaneres). O réu Matheus era o principal
articulador da ação, pois, além de adquirir parte das drogas, foi contratado
por Ovídio para concretizar a importação e o transporte do entorpecente
até o interior de São Paulo. Para tanto, contou com o auxílio de Udson
Cesar, bem como dos "batedores" Welisson e Neguinho, além do acusado Giovani,
que era o motorista do caminhão carregado com o produto ilícito.
10. Rejeitadas as alegações de não comprovação do dolo da conduta ou
ocorrência do erro de tipo (CP, art. 20), dado ter sido demonstrado que todos
os réus realizaram a conduta de modo consciente e voluntário, sabedores de
do conteúdo ilícito importado pelo grupo criminoso (drogas proibidas) - o
que também impede seja acolhido o pedido de desclassificação para crime de
contrabando ou descaminho, pois que bem demonstradas todas as circunstâncias
elementares do crime de tráfico de drogas (Lei n. 11.343/06, art. 35).
11. A transnacionalidade dos fatos restou demonstrada haja vista o fornecedor
do entorpecente ser indivíduo estrangeiro, além de ter sido comprovado
que os agentes responsáveis pela internalização deslocaram-se até a
região de fronteira com o Paraguai e de lá deram início ao transporte das
drogas, circunstâncias que justificam, de modo suficiente, que se trata de
tráfico internacional de substâncias entorpecentes proibidas, a incidir,
por consequência, a causa de aumento de pena prevista no art. 40, I, da
Lei n. 11.343/06
12. Para que se reconheça o estado de necessidade exculpante ou justificante,
é obrigatória a comprovação do preenchimento dos requisitos do art. 24
do Código Penal para o reconhecimento dessa excludente de ilicitude ou de
culpabilidade, sendo ônus da defesa fazê-lo, nos termos do art. 156 do
Código de Processo Penal (ACr n. 2007.61.19.007015-4, Rel. Des. Fed. Luiz
Stefanini, j. 11.01.10; ACr n. 2007.61.19.009691-0, Rel. Des. Fed. Ramza
Tartuce, j. 05.04.10 e ACr n. 2008.60.05.002173-2, Rel. Des. Fed. Henrique
Herkenhoff, j. 27.04.10). A defesa do réu Welisson não se desincumbiu do
ônus de comprovar que era esse o caso do acusado.
13. Rejeitada a alegação de participação de menor importância do
réu Welisson (CP, art. 29, § 1º), pois, ainda que não fosse o agente
responsável pela condução do veículo carregado com as drogas, exercia
tarefa de fundamental importância para o sucesso do intento criminoso, isso
é, vigiava as estradas a fim de reportar eventual movimentação policial
ao motorista do caminhão (réu Giovani).
14. Dosimetria. É vedada a utilização de inquéritos e processos em curso
para exasperar a pena-base (STJ, Súmula n. 444). Redução das penas iniciais
dos réus Luiz Cláudio, Giovani, Welisson, Marciano, Ovídio e Matheus,
em virtude da desconsideração da valoração negativa de procedimentos
criminais sem condenação transitada em julgado.
15. Pelo que se infere dos precedentes do Superior Tribunal de Justiça,
a atenuante da confissão (CP, art. 65, III, d) incide sempre que
fundamentar a condenação do acusado, pouco relevando se extrajudicial
ou parcial, mitigando-se ademais a sua espontaneidade (STJ, HC n. 154544,
Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, j. 23.03.10; HC n. 151745, Rel. Min. Felix
Fischer, j. 16.03.10; HC n. 126108, Rel. Min. Maria Thereza de Assis
Moura, j. 30.06.10; HC n. 146825, Rel. Min. Jorge Mussi, j. 17.06.10; HC
n. 154617, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 29.04.10; HC n. 164758, Rel. Min. Og
Fernandes, j. 19.08.10). A oposição de excludente de culpabilidade não
obsta o reconhecimento da atenuante da confissão espontânea (STJ, HC
n. 283620, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 20.02.14; AgReg em REsp
n. 1376126, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 04.02.14; Resp n. 1163090,
Rel. Min. Gilson Dipp, j. 01.03.11). Reconhecida a incidência da atenuante
de pena para o réu Welisson, que admitiu a autoria dos fatos na fase
investigativa, o que foi considerado em sua condenação.
16. Excluída de ofício, para o réu Giovani, a agravante de pena pela
promessa de recompensa (CP, art. 62, IV), a fim de evitar o "bis in idem", dado
tratar-se de circunstância inerente ao delito de tráfico de drogas. Efetiva
incidência, para esse réu, da atenuante de pena pela confissão (CP,
art. 65, III, d).
17. Ainda que beneficiário da assistência judiciária gratuita, deve ser
mantida sua responsabilidade pelas despesas processuais e pelos honorários
advocatícios decorrentes de sua sucumbência (CPC/15, art. 98, § 2º),
ficando, no entanto, sobrestado o pagamento, enquanto perdurar a situação
de insuficiência de recursos que justificou a concessão da gratuidade, pelo
prazo de 5 (cinco) anos, ocorrendo, após, a extinção da obrigação (CPC/15,
art. 98, § 3º). A isenção deverá ser apreciada na fase de execução
da sentença, mais adequada para aferir a real situação financeira do
condenado.
18. Mantida a negativa do direito de recorrer em liberdade para os réus Luiz
Cláudio e Giovani, haja vista a satisfatória fundamentação do Juízo a
quo para a manutenção da prisão preventiva, baseada na gravidade concreta
do fato.
19. Desprovimento das apelações criminais dos réus Rodaneres e Udson.
20. Parcial provimento das apelações criminais dos réus Luiz Cláudio,
Giovani, Welisson, Marciano, Ovídio e Matheus.
Ementa
PENAL. PROCESSO PENAL. TRÁFICO TRANSNACIONAL DE DROGAS. COMPETÊNCIA. JUSTIÇA
FEDERAL. SENTENÇA. FUNDAMENTAÇÃO DEFICIENTE. NULIDADE POR OFENSA AO ART. 93,
IX, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. NÃO OCORRÊNCIA. INTERCEPTAÇÃO
TELEFÔNICA. AUTORIZAÇÃO JUDICIAL. LEGALIDADE. PRORROGAÇÃO
DA MEDIDA. ADMISSIBILIDADE. INDEFERIMENTO DE DILIGÊNCIAS. CPP,
ART. 402. PODER DISCRICIONÁRIO DO JUIZ. REABERTURA DA INSTRUÇÃO
CRIMINAL. IMPOSSIBILIDADE. MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS. REJEITADAS
AS ALEGAÇÕES DE AUSÊNCIA DE DOLO E ERRO DE TIPO. NÃO ACOLHIDO O PEDIDO
DE DESCLASSIFICAÇÃO PARA CONTRABANDO OU DESCAMINHO. INCIDÊNCIA DA CAUSA
DE AUMENTO CORRESPONDENTE À TRANSNACIONALIDADE DO FATO (LEI N. 11.343/06,
ART. 40, I). TRÁFICO. ESTADO DE NECESSIDADE. INADMISSIBILIDADE. PARTICIPAÇÃO
DE MENOR IMPORTÂNCIA. ALEGAÇÃO REJEITADA. DOSIMETRIA. PENA-BASE. SÚMULA
N. 444 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. AÇÕES PENAIS SEM TRÂNSITO EM
JULGADO. VALORAÇÃO EXCLUÍDA. REDUÇÃO DA EXASPERAÇÃO DAS PENAS-BASE
PARA OS RÉUS LUIZ CLÁUDIO, GIOVANI, MARCIANO, WELISSON, OVÍDIO E MATHEUS.
CONFISSÃO. INCIDÊNCIA DA ATENUANTE PARA O RÉU WELISSON. PROMESSA DE
RECOMPENSA (CP, ART. 62, IV). EXCLUSÃO DA AGRAVANTE, DE OFÍCIO, PARA O RÉU
GIOVANI, PARA EVITAR "BIS IN IDEM" COM AS ELEMENTARES DO TIPO PENAL. NÃO
INCIDÊNCIA DA CAUSA DE DIMINUIÇÃO DO ART. 33, § 4º, DA LEI N. 11.343/06,
PARA NENHUM DOS RÉUS. CUSTAS. RÉU POBRE. ISENÇÃO. NEGATIVA DO DIREITO
DE RECORRER EM LIBERDADE. FUNDAMENTAÇÃO SUFICIENTE. DESPROVIMENTO DAS
APELAÇÕES DOS RÉUS RODANERES E UDSON. PARCIAL PROVIMENTO DAS APELAÇÕES
CRIMINAIS DOS RÉUS LUIZ CLÁUDIO, GIOVANI, MARCIANO, WELISSON, OVÍDIO E
MATHEUS.
1. A competência da Justiça Federal, no presente caso, está justificada
haja vista a demonstração de que a elevada quantidade de drogas fora
produzida no Paraguai e fornecida por traficante desse país.
2. Segundo entendimento já pacificado pelo Supremo Tribunal Federal, somente
a inexistência de fundamentação constitui causa de nulidade da decisão por
ofensa ao art. 93, IX, da Constituição da República (STF, ARE-AgR n. 725564,
Rel. Min. Rosa Weber, j. 12.05.15; ARE-AgR n. 707178, Rel. Min. Gilmar Mendes,
j. 11.12.12; ARE-ED n. 676198, Rel. Min. Luiz Fux, j. 02.10.12).
3. Não há que se invalidar o resultado obtido em decorrência de
interceptações telefônicas que foram realizadas mediante autorização
judicial, nos termos da Lei nº 9.296/96. Precedentes do STJ.
4. A jurisprudência dos Tribunais Superiores é pacífica no sentido da
admissibilidade das sucessivas prorrogações da interceptação telefônica
para a apuração da prática delitiva conforme sua complexidade (STF HC
n. 83.515-RS, Rel. Min. Nelson Jobim, DJ 04.03.05, p. 11; RHC n. 85.575-SP,
Rel. Min. Joaquim Barbosa, DJ 16.03.07; STJ, HC n. 29.174-RJ, Rel. Min. Jorge
Scartezzini, j. 01.06.04; RHC n. 13.274-RS, Rel. Min. Gilson Dipp,
j. 19.08.03). Portanto, a entendimento esposado pela 6ª Turma do Superior
Tribunal de Justiça no HC n. 76.686-PR, Rel. Min. Nilson Naves, unânime,
j. 09.09.08, no sentido de conceder ordem de habeas corpus em contrariedade
àquele entendimento não se revela predominante.
5. Consoante o disposto no art. 402 do Código de Processo Penal, a
exemplo da redação primitiva do art. 499 do mesmo diploma, as partes
poderão requerer as diligências cuja necessidade ou conveniência tenham
surgido das circunstâncias ou dos fatos apurados na instrução. O exame
das diligências requeridas nessa fase é ato que se inclui na esfera de
responsabilidade do Juiz, que poderá indeferi-las em decisão fundamentada,
quando as julgar protelatórias ou desnecessárias e sem pertinência com a
instrução do processo. A fase não comporta a produção ampla de provas,
nem há de servir para a reabertura ou renovação da instrução criminal,
sob risco de perpetuar-se o processo (STF, HC n. 102719, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, j. 01.06.10; STJ, RHC n. 33155, Rel. Min. Laurita Vaz,
j. 22.10.13; HC n. 26655, Rel. Min. Felix Fischer, j. 15.04.03; TRF 2ª
Região, HC n. 201202010191791, Rel. Des. Fed. Liliane Roriz, j. 18.12.12;
HC n. 200302010082320, Rel. Des. Fed. Poul Erik Dyrlund, j. 12.11.03; HC
n. 200202010448814, Rel. Des. Fed. Sergio Feltrin Correa, j. 26.02.03).
6. Rejeitadas as questões preliminares.
7. A materialidade do crime de tráfico de drogas restou satisfatoriamente
comprovada, bem como a autoria delitiva, tratando-se de ação penal
derivada de apuração criminal mais ampla, chamada Operação Cristal,
e foi classificada como "Evento n. 3" dessa investigação.
8. A Operação Cristal consistiu, em síntese, na identificação de um grupo
criminoso que se articulava para a importação de drogas, internalizadas
a partir do Mato Grosso do Sul e posteriormente disseminadas a traficantes
do interior do Estado de São Paulo.
9. A tarefa que cada réu executava em favor do grupo criminoso restou
satisfatoriamente comprovada: Ovídio foi o principal adquirente das
drogas, sem prejuízo de que parte do entorpecente pertencesse a outros
corréus (Matheus, Luiz Cláudio e Rodaneres). O réu Matheus era o principal
articulador da ação, pois, além de adquirir parte das drogas, foi contratado
por Ovídio para concretizar a importação e o transporte do entorpecente
até o interior de São Paulo. Para tanto, contou com o auxílio de Udson
Cesar, bem como dos "batedores" Welisson e Neguinho, além do acusado Giovani,
que era o motorista do caminhão carregado com o produto ilícito.
10. Rejeitadas as alegações de não comprovação do dolo da conduta ou
ocorrência do erro de tipo (CP, art. 20), dado ter sido demonstrado que todos
os réus realizaram a conduta de modo consciente e voluntário, sabedores de
do conteúdo ilícito importado pelo grupo criminoso (drogas proibidas) - o
que também impede seja acolhido o pedido de desclassificação para crime de
contrabando ou descaminho, pois que bem demonstradas todas as circunstâncias
elementares do crime de tráfico de drogas (Lei n. 11.343/06, art. 35).
11. A transnacionalidade dos fatos restou demonstrada haja vista o fornecedor
do entorpecente ser indivíduo estrangeiro, além de ter sido comprovado
que os agentes responsáveis pela internalização deslocaram-se até a
região de fronteira com o Paraguai e de lá deram início ao transporte das
drogas, circunstâncias que justificam, de modo suficiente, que se trata de
tráfico internacional de substâncias entorpecentes proibidas, a incidir,
por consequência, a causa de aumento de pena prevista no art. 40, I, da
Lei n. 11.343/06
12. Para que se reconheça o estado de necessidade exculpante ou justificante,
é obrigatória a comprovação do preenchimento dos requisitos do art. 24
do Código Penal para o reconhecimento dessa excludente de ilicitude ou de
culpabilidade, sendo ônus da defesa fazê-lo, nos termos do art. 156 do
Código de Processo Penal (ACr n. 2007.61.19.007015-4, Rel. Des. Fed. Luiz
Stefanini, j. 11.01.10; ACr n. 2007.61.19.009691-0, Rel. Des. Fed. Ramza
Tartuce, j. 05.04.10 e ACr n. 2008.60.05.002173-2, Rel. Des. Fed. Henrique
Herkenhoff, j. 27.04.10). A defesa do réu Welisson não se desincumbiu do
ônus de comprovar que era esse o caso do acusado.
13. Rejeitada a alegação de participação de menor importância do
réu Welisson (CP, art. 29, § 1º), pois, ainda que não fosse o agente
responsável pela condução do veículo carregado com as drogas, exercia
tarefa de fundamental importância para o sucesso do intento criminoso, isso
é, vigiava as estradas a fim de reportar eventual movimentação policial
ao motorista do caminhão (réu Giovani).
14. Dosimetria. É vedada a utilização de inquéritos e processos em curso
para exasperar a pena-base (STJ, Súmula n. 444). Redução das penas iniciais
dos réus Luiz Cláudio, Giovani, Welisson, Marciano, Ovídio e Matheus,
em virtude da desconsideração da valoração negativa de procedimentos
criminais sem condenação transitada em julgado.
15. Pelo que se infere dos precedentes do Superior Tribunal de Justiça,
a atenuante da confissão (CP, art. 65, III, d) incide sempre que
fundamentar a condenação do acusado, pouco relevando se extrajudicial
ou parcial, mitigando-se ademais a sua espontaneidade (STJ, HC n. 154544,
Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, j. 23.03.10; HC n. 151745, Rel. Min. Felix
Fischer, j. 16.03.10; HC n. 126108, Rel. Min. Maria Thereza de Assis
Moura, j. 30.06.10; HC n. 146825, Rel. Min. Jorge Mussi, j. 17.06.10; HC
n. 154617, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 29.04.10; HC n. 164758, Rel. Min. Og
Fernandes, j. 19.08.10). A oposição de excludente de culpabilidade não
obsta o reconhecimento da atenuante da confissão espontânea (STJ, HC
n. 283620, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 20.02.14; AgReg em REsp
n. 1376126, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 04.02.14; Resp n. 1163090,
Rel. Min. Gilson Dipp, j. 01.03.11). Reconhecida a incidência da atenuante
de pena para o réu Welisson, que admitiu a autoria dos fatos na fase
investigativa, o que foi considerado em sua condenação.
16. Excluída de ofício, para o réu Giovani, a agravante de pena pela
promessa de recompensa (CP, art. 62, IV), a fim de evitar o "bis in idem", dado
tratar-se de circunstância inerente ao delito de tráfico de drogas. Efetiva
incidência, para esse réu, da atenuante de pena pela confissão (CP,
art. 65, III, d).
17. Ainda que beneficiário da assistência judiciária gratuita, deve ser
mantida sua responsabilidade pelas despesas processuais e pelos honorários
advocatícios decorrentes de sua sucumbência (CPC/15, art. 98, § 2º),
ficando, no entanto, sobrestado o pagamento, enquanto perdurar a situação
de insuficiência de recursos que justificou a concessão da gratuidade, pelo
prazo de 5 (cinco) anos, ocorrendo, após, a extinção da obrigação (CPC/15,
art. 98, § 3º). A isenção deverá ser apreciada na fase de execução
da sentença, mais adequada para aferir a real situação financeira do
condenado.
18. Mantida a negativa do direito de recorrer em liberdade para os réus Luiz
Cláudio e Giovani, haja vista a satisfatória fundamentação do Juízo a
quo para a manutenção da prisão preventiva, baseada na gravidade concreta
do fato.
19. Desprovimento das apelações criminais dos réus Rodaneres e Udson.
20. Parcial provimento das apelações criminais dos réus Luiz Cláudio,
Giovani, Welisson, Marciano, Ovídio e Matheus.Decisão
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide
a Egrégia Quinta Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, por
unanimidade, a) negar provimento à apelação criminal do réu Rodaneres
Casanova de Souza; b) dar parcial provimento à apelação criminal do réu
Luiz Cláudio Penha Lazzarotto para excluir a exasperação da pena-base
pelas circunstâncias judiciais relativas à personalidade e conduta social
e, por consequência, reduzir sua condenação para 10 (dez) anos, 8 (oito)
meses e 10 (dez) dias de reclusão, regime inicial fechado, e 1.068 (mil
e sessenta e oito) dias-multa, no mínimo valor unitário; c) dar parcial
provimento à apelação criminal do réu Giovani Penha Lazzarotto para excluir
a exasperação da pena-base pelas circunstâncias judiciais relativas à
personalidade e conduta social e, de ofício, excluir a agravante da promessa
de recompensa (CP, art. 62, IV), o que rende ensejo, por consequência, à
redução da condenação de Giovani para 8 (oito) anos, 10 (dez) meses e 28
(vinte e oito) dias de reclusão, regime inicial semiaberto, e 890 (oitocentos
e noventa) dias-multa, no mínimo valor unitário; d) dar parcial provimento à
apelação criminal do réu Marciano Viana Barreto para excluir a exasperação
da pena-base pelas circunstâncias judiciais relativas à personalidade e
conduta social e, por consequência, reduzir sua condenação para 10 (dez)
anos, 8 (oito) meses e 10 (dez) dias de reclusão, regime inicial fechado,
e 1.068 (mil e sessenta e oito) dias-multa, no mínimo valor unitário; e)
dar parcial provimento à apelação criminal do réu Welisson Cleyton Vargas
Oliveira para excluir a exasperação da pena-base pelas circunstâncias
judiciais relativas à personalidade e conduta social, bem como reconhecer
a atenuante de pena pela confissão, de modo que, por consequência, sua
condenação é reduzida para 8 (oito) anos, 10 (dez) meses e 28 (vinte e
oito) dias de reclusão, regime inicial fechado, e 890 (oitocentos e noventa)
dias-multa, no mínimo valor unitário; f) dar parcial provimento à apelação
criminal do réu Ovídio Pereira da Silva Júnior para excluir a exasperação
da pena-base pelas circunstâncias judiciais relativas à personalidade e
conduta social e, por consequência, reduzir sua condenação para 10 (dez)
anos, 8 (oito) meses e 10 (dez) dias de reclusão, regime inicial fechado,
e 1.068 (mil e sessenta e oito) dias-multa, no mínimo valor unitário; g)
dar parcial provimento à apelação criminal do réu Matheus Freitas Queiroz
para excluir a exasperação da pena-base pelas circunstâncias judiciais
relativas à personalidade e conduta social e, por consequência, reduzir sua
condenação às penas de 12 (doze) anos, 5 (cinco) meses e 21 (vinte e um)
dias de reclusão, regime inicial fechado, e 1.246 (mil, duzentos e quarenta
e seis) dias-multa, no mínimo valor unitário; e h) negar provimento à
apelação criminal do réu Udson Cesar dos Santos, nos termos do relatório
e voto que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.
Data do Julgamento
:
18/03/2019
Data da Publicação
:
26/03/2019
Classe/Assunto
:
Ap. - APELAÇÃO CRIMINAL - 77285
Órgão Julgador
:
QUINTA TURMA
Relator(a)
:
DESEMBARGADOR FEDERAL ANDRÉ NEKATSCHALOW
Comarca
:
TRIBUNAL - TERCEIRA REGIÃO
Tipo
:
Acórdão
Referência
legislativa
:
***** CF-1988 CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988
LEG-FED ANO-1988 ART-93 INC-9
***** CPP-41 CÓDIGO DE PROCESSO PENAL
LEG-FED DEL-3689 ANO-1941 ART-402 ART-499 ART-156
***** LDR-06 LEI DE DROGAS
LEG-FED LEI-11343 ANO-2006 ART-40 INC-1 ART-33 PAR-4 ART-35
***** STJ SÚMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
LEG-FED SUM-444
***** CP-40 CÓDIGO PENAL DE 1940
LEG-FED DEL-2848 ANO-1940 ART-62 INC-4 ART-20 ART-24 ART-29 PAR-1 ART-65
INC-3 LET-D
LEG-FED LEI-9296 ANO-1996
***** CPC-15 CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015
LEG-FED LEI-13105 ANO-2015 ART-98 PAR-2 PAR-3
PROC:AP. 2007.61.19.007015-4/SP ÓRGÃO:QUINTA TURMA - 1A. SEÇÃO
JUIZ:DESEMBARGADOR FEDERAL LUIZ STEFANINI
AUD:11/01/2010
DATA:29/01/2010 PG:766
PROC:AP. 2007.61.19.009691-0/SP ÓRGÃO:QUINTA TURMA - 1A. SEÇÃO
JUIZ:DESEMBARGADORA FEDERAL RAMZA TARTUCE
AUD:05/04/2010
DATA:31/05/2010 PG:267
PROC:AP. 2008.60.05.002173-2/MS ÓRGÃO:SEGUNDA TURMA
JUIZ:DESEMBARGADOR FEDERAL HENRIQUE HERKENHOFF
AUD:27/04/2010
DATA:06/05/2010 PG:162
Fonte da publicação
:
e-DJF3 Judicial 1 DATA:26/03/2019
..FONTE_REPUBLICACAO: