TRF3 0007100-13.2010.4.03.6183 00071001320104036183
PROCESSUAL CIVIL. PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA ESPECIAL. AUXILIAR
DE RADIOLOGIA. AGENTES QUÍMICOS. EPI. INEFICÁCIA. PERCEPÇÃO DE
AUXÍLIO-DOENÇA. ATIVIDADE ESPECIAL PARCIALMENTE COMPROVADA. BENEFÍCIO
DEVIDO. CORREÇÃO MONETÁRIA. JUROS DE MORA. APELO DO INSS E REMESSA
NECESSÁRIA PROVIDOS EM PARTE.
1 - Na peça vestibular, descreve a parte autora seu ciclo laborativo
constituído de tarefas especiais desde 11/01/1982 até 15/02/2007, assim
pretendendo a concessão de "aposentadoria especial", a partir da requisição
administrativa do benefício, aos 15/02/2007 (sob NB 144.265.407-1).
2 - A aposentadoria especial foi instituída pelo artigo 31 da Lei n. 3.807,
de 26.08.1960 (Lei Orgânica da Previdência Social, LOPS). Sobreveio a Lei
n. 5.890, de 08.06.1973, que revogou o artigo 31 da LOPS, e cujo artigo
9º passou regrar esse benefício. A benesse era devida ao segurado que
contasse 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, conforme a
atividade profissional, de serviços para esse efeito considerados penosos,
insalubres ou perigosos, por decreto do Poder Executivo.
3 - O Decreto nº 53.831/64 foi o primeiro a trazer a lista de atividades
especiais para efeitos previdenciários, tendo como base a atividade
profissional ou a exposição do segurado a agentes nocivos. Já o Decreto
nº 83.080/79 estabeleceu nova lista de atividades profissionais, agentes
físicos, químicos e biológicos presumidamente nocivos à saúde, para fins
de aposentadoria especial, sendo que, o Anexo I classificava as atividades de
acordo com os agentes nocivos enquanto que o Anexo II trazia a classificação
das atividades segundo os grupos profissionais.
4 - Atualmente, a aposentadoria especial encontra previsão no art. 57 da
Lei nº 8.213/91, com redação dada pela Lei nº 9.032/95.
5 - Até a edição da Lei nº 9.032/95, era possível o reconhecimento da
atividade especial: (a) com base no enquadramento na categoria profissional,
desde que a atividade fosse indicada como perigosa, insalubre ou penosa nos
anexos dos Decretos nº 53.831/64 ou 83.080/79 (presunção legal); ou (b)
mediante comprovação da submissão do trabalhador, independentemente da
atividade ou profissão, a algum dos agentes nocivos, por qualquer meio de
prova, exceto para ruído e calor.
6 - A apresentação de laudo pericial, Perfil Profissiográfico
Previdenciário - PPP ou outro formulário equivalente para fins de
comprovação de tempo de serviço especial, somente passou a ser exigida a
partir de 06.03.1997 (Decreto nº. 2.172/97), exceto para os casos de ruído
e calor, em que sempre houve exigência de laudo técnico para verificação
do nível de exposição do trabalhador às condições especiais.
7 - Especificamente quanto ao reconhecimento da exposição ao agente nocivo
ruído, por demandar avaliação técnica, nunca prescindiu do laudo de
condições ambientais.
8 - Considera-se insalubre a exposição ao agente ruído acima de 80dB,
até 05/03/1997; acima de 90dB, no período de 06/03/1997 a 18/11/2003;
e superior a 85 dB, a partir de 19/11/2003.
9 - O Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP), instituído pela Lei
nº 9.528/97, emitido com base nos registros ambientais e com referência ao
responsável técnico por sua aferição, substitui, para todos os efeitos,
o laudo pericial técnico, quanto à comprovação de tempo laborado em
condições especiais.
10 - Saliente-se ser desnecessário que o laudo técnico seja contemporâneo
ao período em que exercida a atividade insalubre. Precedentes deste E. TRF
3º Região.
11 - A desqualificação em decorrência do uso de EPI vincula-se à prova
da efetiva neutralização do agente, sendo que a mera redução de riscos
e a dúvida sobre a eficácia do equipamento não infirmam o cômputo
diferenciado. Cabe ressaltar, também, que a tese consagrada pelo C. STF
excepcionou o tratamento conferido ao agente agressivo ruído, que, ainda
que integralmente neutralizado, evidencia o trabalho em condições especiais.
12 - A apresentação de laudos técnicos de forma extemporânea não impede
o reconhecimento da especialidade, eis que de se supor que, com o passar do
tempo, a evolução da tecnologia tem aptidão de redução das condições
agressivas. Portanto, se constatado nível de ruído acima do permitido, em
períodos posteriores ao laborado pela parte autora, forçoso concluir que,
nos anos anteriores, referido nível era superior.
13 - O desiderato do autor: o acolhimento da especialidade de seu labor
pretérito, enquanto auxiliar de radiologia.
14 - Vasta documentação foi carreada, dentre a qual cópias de CTPS -
cujos contratos empregatícios são conferíveis das laudas de pesquisa ao
sistema informatizado CNIS e das tabelas de cálculo de tempo de serviço
confeccionadas pelo INSS - e documentos específicos, cuja finalidade seria
demonstrar a sujeição da parte autora a agentes nocivos durante sua prática
laboral.
15 - Do exame acurado de todos os documentos em referência, especialmente
dos Perfis Profissiográficos - PPP, formulário DSS-8030 e laudos técnicos,
todos fornecidos pela empresa Instituto de Assistência Médica ao Servidor
Público Estadual - IAMSPE, infere-se a condição de atendente (serviço
de radiologia), com manuseio de álcalis e cáusticos - revelador e fixador
à base de agentes químicos tiossulfato de amônio, ácido acético, soda
cáustica, hidróxido de potássio, hidroquinona e metabissulfito de potássio,
no decorrer de atividades como revelar filmes radiológicos que consistem
em abrir os chassis, retirar a película de filme, colocar na processadora
automática e reabastecer os chassis; cuidar da limpeza dos chassis-partes
externas e do écran; limpeza de processadora; limpeza e lavagem dos racks,
dos tanques de revelador e fixador; diluir os químicos fixador e revelador,
com uso de EPI eficaz.
16 - Conquanto a documentação anteriormente listada indique a utilização,
pelo autor, de EPI eficaz, extrai-se, do conteúdo documental, que o único
EPI, de fato, fornecido, corresponderia a avental, que, sabidamente, revela-se
infrutuoso na proteção a agentes químicos como aqueles a que submetido
o autor.
17 - A conclusão a que se chega é a de que a parte autora estivera sob o
manto da especialidade desde 11/01/1982 até 15/02/2007 - com exclusão,
apenas, do intervalo correspondente a 01/03/2006 até 15/03/2006, eis
que observada a percepção de "auxílio-doença" (sob NB 516.053.856-5)
- permitido o acolhimento como labor de natureza especial consoante itens
1.2.9 do Decreto nº 53.831/64, 1.2.11 do Decreto nº 83.080/79, 1.0.19 do
Decreto nº 2.172/97, e 1.0.19 do Decreto nº 3.048/99.
18 - Mesmo sendo subtraído o tempo relativo à obtenção de "benefício
por incapacidade" (vale dizer, 15 dias ininterruptos), ainda assim o autor
comprova mais de 25 anos em atividade de índole exclusivamente especial,
fazendo jus, portanto, à "aposentadoria especial".
19 - Marco inicial da benesse mantido na data do pedido administrativo
(15/02/2007), isso porque revelam os autos que, diante do indeferimento
administrativo da benesse, a parte autora ofertara recurso perante a Junta
de Recursos da Previdência Social (JRPS) e, posteriormente, ao Conselho de
Recursos da Previdência Social (CRPS), sendo que o derradeiro pronunciamento
administrativo corresponde a 09/11/2009, restando, pois, suficientemente
comprovada a duradoura peleja na seara administrativa do autor, não se
havendo falar em prescrição quinquenal.
20 - Correção monetária dos valores em atraso calculada de acordo com o
Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos na Justiça Federal
vigente quando da elaboração da conta, com aplicação do IPCA-E nos moldes
do julgamento proferido pelo C. STF, sob a sistemática da repercussão geral
(Tema nº 810 e RE nº 870.947/SE) e com efeitos prospectivos.
21 - Juros de mora, incidentes até a expedição do ofício requisitório,
fixados de acordo com o Manual de Orientação de Procedimentos para os
Cálculos na Justiça Federal, por refletir as determinações legais e a
jurisprudência dominante.
22 - Apelação do INSS e remessa necessária providas em parte.
Ementa
PROCESSUAL CIVIL. PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA ESPECIAL. AUXILIAR
DE RADIOLOGIA. AGENTES QUÍMICOS. EPI. INEFICÁCIA. PERCEPÇÃO DE
AUXÍLIO-DOENÇA. ATIVIDADE ESPECIAL PARCIALMENTE COMPROVADA. BENEFÍCIO
DEVIDO. CORREÇÃO MONETÁRIA. JUROS DE MORA. APELO DO INSS E REMESSA
NECESSÁRIA PROVIDOS EM PARTE.
1 - Na peça vestibular, descreve a parte autora seu ciclo laborativo
constituído de tarefas especiais desde 11/01/1982 até 15/02/2007, assim
pretendendo a concessão de "aposentadoria especial", a partir da requisição
administrativa do benefício, aos 15/02/2007 (sob NB 144.265.407-1).
2 - A aposentadoria especial foi instituída pelo artigo 31 da Lei n. 3.807,
de 26.08.1960 (Lei Orgânica da Previdência Social, LOPS). Sobreveio a Lei
n. 5.890, de 08.06.1973, que revogou o artigo 31 da LOPS, e cujo artigo
9º passou regrar esse benefício. A benesse era devida ao segurado que
contasse 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, conforme a
atividade profissional, de serviços para esse efeito considerados penosos,
insalubres ou perigosos, por decreto do Poder Executivo.
3 - O Decreto nº 53.831/64 foi o primeiro a trazer a lista de atividades
especiais para efeitos previdenciários, tendo como base a atividade
profissional ou a exposição do segurado a agentes nocivos. Já o Decreto
nº 83.080/79 estabeleceu nova lista de atividades profissionais, agentes
físicos, químicos e biológicos presumidamente nocivos à saúde, para fins
de aposentadoria especial, sendo que, o Anexo I classificava as atividades de
acordo com os agentes nocivos enquanto que o Anexo II trazia a classificação
das atividades segundo os grupos profissionais.
4 - Atualmente, a aposentadoria especial encontra previsão no art. 57 da
Lei nº 8.213/91, com redação dada pela Lei nº 9.032/95.
5 - Até a edição da Lei nº 9.032/95, era possível o reconhecimento da
atividade especial: (a) com base no enquadramento na categoria profissional,
desde que a atividade fosse indicada como perigosa, insalubre ou penosa nos
anexos dos Decretos nº 53.831/64 ou 83.080/79 (presunção legal); ou (b)
mediante comprovação da submissão do trabalhador, independentemente da
atividade ou profissão, a algum dos agentes nocivos, por qualquer meio de
prova, exceto para ruído e calor.
6 - A apresentação de laudo pericial, Perfil Profissiográfico
Previdenciário - PPP ou outro formulário equivalente para fins de
comprovação de tempo de serviço especial, somente passou a ser exigida a
partir de 06.03.1997 (Decreto nº. 2.172/97), exceto para os casos de ruído
e calor, em que sempre houve exigência de laudo técnico para verificação
do nível de exposição do trabalhador às condições especiais.
7 - Especificamente quanto ao reconhecimento da exposição ao agente nocivo
ruído, por demandar avaliação técnica, nunca prescindiu do laudo de
condições ambientais.
8 - Considera-se insalubre a exposição ao agente ruído acima de 80dB,
até 05/03/1997; acima de 90dB, no período de 06/03/1997 a 18/11/2003;
e superior a 85 dB, a partir de 19/11/2003.
9 - O Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP), instituído pela Lei
nº 9.528/97, emitido com base nos registros ambientais e com referência ao
responsável técnico por sua aferição, substitui, para todos os efeitos,
o laudo pericial técnico, quanto à comprovação de tempo laborado em
condições especiais.
10 - Saliente-se ser desnecessário que o laudo técnico seja contemporâneo
ao período em que exercida a atividade insalubre. Precedentes deste E. TRF
3º Região.
11 - A desqualificação em decorrência do uso de EPI vincula-se à prova
da efetiva neutralização do agente, sendo que a mera redução de riscos
e a dúvida sobre a eficácia do equipamento não infirmam o cômputo
diferenciado. Cabe ressaltar, também, que a tese consagrada pelo C. STF
excepcionou o tratamento conferido ao agente agressivo ruído, que, ainda
que integralmente neutralizado, evidencia o trabalho em condições especiais.
12 - A apresentação de laudos técnicos de forma extemporânea não impede
o reconhecimento da especialidade, eis que de se supor que, com o passar do
tempo, a evolução da tecnologia tem aptidão de redução das condições
agressivas. Portanto, se constatado nível de ruído acima do permitido, em
períodos posteriores ao laborado pela parte autora, forçoso concluir que,
nos anos anteriores, referido nível era superior.
13 - O desiderato do autor: o acolhimento da especialidade de seu labor
pretérito, enquanto auxiliar de radiologia.
14 - Vasta documentação foi carreada, dentre a qual cópias de CTPS -
cujos contratos empregatícios são conferíveis das laudas de pesquisa ao
sistema informatizado CNIS e das tabelas de cálculo de tempo de serviço
confeccionadas pelo INSS - e documentos específicos, cuja finalidade seria
demonstrar a sujeição da parte autora a agentes nocivos durante sua prática
laboral.
15 - Do exame acurado de todos os documentos em referência, especialmente
dos Perfis Profissiográficos - PPP, formulário DSS-8030 e laudos técnicos,
todos fornecidos pela empresa Instituto de Assistência Médica ao Servidor
Público Estadual - IAMSPE, infere-se a condição de atendente (serviço
de radiologia), com manuseio de álcalis e cáusticos - revelador e fixador
à base de agentes químicos tiossulfato de amônio, ácido acético, soda
cáustica, hidróxido de potássio, hidroquinona e metabissulfito de potássio,
no decorrer de atividades como revelar filmes radiológicos que consistem
em abrir os chassis, retirar a película de filme, colocar na processadora
automática e reabastecer os chassis; cuidar da limpeza dos chassis-partes
externas e do écran; limpeza de processadora; limpeza e lavagem dos racks,
dos tanques de revelador e fixador; diluir os químicos fixador e revelador,
com uso de EPI eficaz.
16 - Conquanto a documentação anteriormente listada indique a utilização,
pelo autor, de EPI eficaz, extrai-se, do conteúdo documental, que o único
EPI, de fato, fornecido, corresponderia a avental, que, sabidamente, revela-se
infrutuoso na proteção a agentes químicos como aqueles a que submetido
o autor.
17 - A conclusão a que se chega é a de que a parte autora estivera sob o
manto da especialidade desde 11/01/1982 até 15/02/2007 - com exclusão,
apenas, do intervalo correspondente a 01/03/2006 até 15/03/2006, eis
que observada a percepção de "auxílio-doença" (sob NB 516.053.856-5)
- permitido o acolhimento como labor de natureza especial consoante itens
1.2.9 do Decreto nº 53.831/64, 1.2.11 do Decreto nº 83.080/79, 1.0.19 do
Decreto nº 2.172/97, e 1.0.19 do Decreto nº 3.048/99.
18 - Mesmo sendo subtraído o tempo relativo à obtenção de "benefício
por incapacidade" (vale dizer, 15 dias ininterruptos), ainda assim o autor
comprova mais de 25 anos em atividade de índole exclusivamente especial,
fazendo jus, portanto, à "aposentadoria especial".
19 - Marco inicial da benesse mantido na data do pedido administrativo
(15/02/2007), isso porque revelam os autos que, diante do indeferimento
administrativo da benesse, a parte autora ofertara recurso perante a Junta
de Recursos da Previdência Social (JRPS) e, posteriormente, ao Conselho de
Recursos da Previdência Social (CRPS), sendo que o derradeiro pronunciamento
administrativo corresponde a 09/11/2009, restando, pois, suficientemente
comprovada a duradoura peleja na seara administrativa do autor, não se
havendo falar em prescrição quinquenal.
20 - Correção monetária dos valores em atraso calculada de acordo com o
Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos na Justiça Federal
vigente quando da elaboração da conta, com aplicação do IPCA-E nos moldes
do julgamento proferido pelo C. STF, sob a sistemática da repercussão geral
(Tema nº 810 e RE nº 870.947/SE) e com efeitos prospectivos.
21 - Juros de mora, incidentes até a expedição do ofício requisitório,
fixados de acordo com o Manual de Orientação de Procedimentos para os
Cálculos na Justiça Federal, por refletir as determinações legais e a
jurisprudência dominante.
22 - Apelação do INSS e remessa necessária providas em parte.Decisão
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas,
decide a Egrégia Sétima Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região,
por unanimidade, dar parcial provimento ao recurso de apelação do INSS,
para afastar da condenação o reconhecimento da especialidade quanto ao
intervalo de 01/03/2006 a 15/03/2006, e dar parcial provimento à remessa
necessária, em maior extensão, para estabelecer que os valores atrasados
serão corrigidos monetariamente e acrescidos de juros de mora na forma da
fundamentação, mantendo os demais termos delineados na r. sentença de
Primeira Jurisdição, nos termos do relatório e voto que ficam fazendo
parte integrante do presente julgado.
Data do Julgamento
:
08/04/2019
Data da Publicação
:
16/04/2019
Classe/Assunto
:
ApelRemNec - APELAÇÃO/REMESSA NECESSÁRIA - 1865553
Órgão Julgador
:
SÉTIMA TURMA
Relator(a)
:
DESEMBARGADOR FEDERAL CARLOS DELGADO
Comarca
:
TRIBUNAL - TERCEIRA REGIÃO
Tipo
:
Acórdão
Indexação
:
VIDE EMENTA.
Fonte da publicação
:
e-DJF3 Judicial 1 DATA:16/04/2019
..FONTE_REPUBLICACAO:
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