main-banner

Jurisprudência


TRF3 0011254-38.2011.4.03.6119 00112543820114036119

Ementa
PENAL. PROCESSO PENAL. PRELIMINAR. PRESCRIÇÃO. PROVIMENTO NO SENTIDO DO RECURSO. INTERESSE RECURSAL. AUSÊNCIA. NÃO CONHECIMENTO. DENÚNCIA. INÉPCIA. INOCORRÊNCIA. DESCAMINHO. EXAME PERICIAL. PRÉVIA CONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. PRESCINDIBILIDADE. DOSIMETRIA. RESTITUIÇÃO DE FIANÇA E DE COISAS APREENDIDAS. INTERESSE AO PROCESSO (CPP, ART. 118). NÃO PROVIMENTO. 1. Decretada a prescrição da pretensão punitiva dos réus Renato Italo Saccomanno e Victor Henrique de Mattos Monteiro. 2. Para não ser considerada inepta, a denúncia deve descrever de forma clara e suficiente a conduta delituosa, apontando as circunstâncias necessárias à configuração do delito, a materialidade delitiva e os indícios de autoria, viabilizando ao acusado o exercício da ampla defesa, propiciando-lhe o conhecimento da acusação que sobre ele recai, bem como, qual a medida de sua participação na prática criminosa, atendendo ao disposto no art. 41, do Código de Processo Penal (STF, HC n. 90.479, Rel. Min. Cezar Peluso, j. 07.08.07; STF, HC n. 89.433, Rel. Min. Joaquim Barbosa, j. 26.09.06 e STJ, 5a Turma - HC n. 55.770, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, j. 17.11.05). 2. A denúncia descreve de forma clara as condutas delituosas dos réus, apontando as circunstâncias específicas relacionadas com a materialidade delitiva e os indícios de autoria, nos termos do art. 41 do Código de Processo Penal. Não há de se exigir minudente descrição das condições de tempo e espaço em que a ação se realizou. Por isso, é prescindível, nesses casos, a descrição individualizada da participação dos agentes envolvidos no fato (STF, HC n. 130282, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 20.10.15; AgR no HC n. 126022, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 30.06.15). Ademais, viabilizado o exercício da ampla defesa e do contraditório, não se verifica nulidade a sanar, mesmo porque o réu alega em seu recurso, com fundamento justamente nos elementos indicados na denúncia, a insuficiência probatória e a necessidade de reconhecimento da tentativa, o que é evidência de ser satisfatório o conteúdo da peça inaugural. 3. O interesse processual (necessidade e adequação) também deve se fazer presente no âmbito recursal. No caso da decisão recorrida ser no mesmo sentido do recurso, falta interesse recursal à parte, razão pela qual não deve ser conhecida sua impugnação. 4. O delito de descaminho consuma-se no momento em que a mercadoria destinada à importação ou exportação irregular ingressa no território nacional, ainda que dentro dos limites da zona fiscal (TRF da 3ª Região, ACR n. 2007.61.05.002605-3, Rel. Des. Fed. Antonio Cedenho, j. 25.02.13; ACR n. 95.03.017158-0, Rel. Des. Fed. Ramza Tartuce, j. 29.06.98; TRF da 5ª Região, ACR n. 95.05.15114-4, Rel. Des. Fed. José Delgado, j. 22.08.95). 5. Não é indispensável a realização de exame pericial (laudo merceológico) que ateste a origem estrangeira das mercadorias para a comprovação da materialidade do delito de contrabando ou descaminho, que pode ser apurada por outros meios de prova. A realização de exame pericial no crime de descaminho não é condição de procedibilidade da ação penal em razão desse delito não deixar vestígios (STJ, REsp n. 199700817504, Rel. Min. Vicente Leal, j. 22.05.00; HC n. 108919, Rel. Min. Maria Theresa de Assis Moura, j. 16.06.09; TRF da 3ª Região, ACR n. 00040039320064036102, Rel. Des. Fed. André Nekatschalow, j. 20.06.11; ACR n. 00123777420064036110, Rel. Juíza Fed. Conv. Louise Filgueiras, j. 02.02.11; RSE n. 200661060041939, Rel. Juiz Fed. Conv. Helio Nogueira, j. 16.03.09; HC n. 27991, Rel. Des. Fed. Luiz Stefanini, unânime, j. 15.07.08; TRF da 1ª Região, ACR n. 200742000020180, Rel. Des. Fed. Hilton Queiroz, j. 22.09.09; TRF da 4ª Região, HC n. 200904000216747, Rel. Des. Fed. Maria de Fátima Freitas Labarrère, j. 12.08.09). De todo modo, há nos autos exame merceológico (fls. 172/177, 227 e 311/316). 6. Ao contrário do que sucede com o delito de sonegação fiscal, cuja natureza material exige a constituição do crédito tributário para instauração da ação penal (STF, Súmula Vinculante n. 24), o delito de contrabando ou descaminho é de natureza formal, não sendo necessário o prévio esgotamento da instância administrativa (TRF da 3ª Região, HC n. 201003000138852, Rel. Juiz Fed. Conv. Silvia Rocha, unânime, j. 06.07.10; ACR n. 200261810065925, Rel. Juiz Fed. Conv. Silvio Gemaque, unânime, j. 29.06.10; ACR n. 200261810067120, Rel. Des. Fed. Henrique Herkenhoff, unânime, j. 29.09.09; HC n. 200803000042027, Rel. Des. Fed. Nelton dos Santos, unânime, j. 24.09.09; HC n. 200903000243827, Rel. Juiz. Fed. Conv. Marcio Mesquita, unânime, j. 25.08.09). 7. Materialidade e autoria plenamente comprovadas. 8. O § 3º do art. 334 do Código Penal prevê causa de aumento de pena para o contrabando ou descaminho, devendo ser aplicada em dobro a pena do crime praticado em transporte aéreo, nos exatos termos da norma penal, que não estabeleceu qualquer distinção entre voo regular e clandestino (TRF da 3ª Região, HC n. 201003000296081, Rel. Des. Fed. Luiz Stefanini, j. 21.03.11; ACR n. 200561810057917, Rel. Des. Fed. Henrique Herkenhoff, j. 20.04.10; TRF da 1ª Região, ACR n. 199832000005130, Rel. Des. Fed. Tourinho Neto, j. 03.11.09; TRF da 5ª Região, ACR n. 200583000115421, Rel. Des. Fed. Lazaro Guimarães, j. 06.04.10; TRF da 4ª Região, ACR n. 9504503950, Rel. Des. Fed. Edgard Antônio Lippmann Júnior, j. 14.11.96). 9. Fixada a pena-base 1/2 (metade) acima do mínimo legal, em 1 (um) ano e 6 (seis) meses de reclusão para o crime do art. 288 do Código Penal, quanto ao apelante Khaled, e reduzidas as penas pecuniárias de André e Khaled. 10. A restituição das coisas apreendidas somente pode ocorrer quando não mais interessarem ao processo, conforme preceitua o art. 118 do Código de Processo Penal. 11. Quanto ao valor recolhido a título de fiança, deve ser observado o quanto disposto no parágrafo único do art. 336 e no art. 337 do Código de Processo Penal, haja vista que houve sentença condenatória. 12. Recursos de Victor e Renato parcialmente providos; apelo de André parcialmente conhecido e parcialmente provido; apelação de Khaled parcialmente provida.
Decisão
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Egrégia Quinta Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, por unanimidade, dar parcial provimento aos recursos de Renato Italo Saccomanno e de Victor Henrique de Mattos Monteiro para julgar extinta a punibilidade, pela ocorrência da prescrição da pretensão punitiva, com fundamento no art. 107, IV, do Código Penal; conhecer em parte da apelação de André Candido Porfirio e, nesta, dar-lhe parcial provimento apenas para reduzir o valor fixado a título de pena restritiva de direitos para 10 (dez) salários mínimos; e dar parcial provimento ao apelo de Khaled Ahmad Bannout para reduzir a pena-base do crime do art. 288 do Código Penal, restando definitiva a pena de 1 (um) ano e 6 (seis) meses de reclusão pela prática do referido delito, bem como para reduzir o valor fixado a título de pena restritiva de direitos para 50 (cinquenta) salários mínimos, nos termos do relatório e voto que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.

Data do Julgamento : 12/09/2016
Data da Publicação : 20/09/2016
Classe/Assunto : Ap. - APELAÇÃO CRIMINAL - 65627
Órgão Julgador : QUINTA TURMA
Relator(a) : DESEMBARGADOR FEDERAL ANDRÉ NEKATSCHALOW
Comarca : TRIBUNAL - TERCEIRA REGIÃO
Tipo : Acórdão
Referência legislativa : ***** CPP-41 CÓDIGO DE PROCESSO PENAL LEG-FED DEL-3689 ANO-1941 ART-118 ART-41 ART-336 ART-337 ***** STFV SÚMULA VINCULANTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL LEG-FED SUV-24 ***** CP-40 CÓDIGO PENAL DE 1940 LEG-FED DEL-2848 ANO-1940 ART-288 ART-334 PAR-3 ART-107 INC-4 PROC:ACR /SP ÓRGÃO:QUINTA TURMA - 1A. SEÇÃO JUIZ:DESEMBARGADOR FEDERAL ANTONIO CEDENHO AUD:25/02/2013 DATA:05/03/2013 PG: PROC:ACR /SP ÓRGÃO:QUINTA TURMA - 1A. SEÇÃO JUIZ:DESEMBARGADORA FEDERAL RAMZA TARTUCE AUD:29/06/1998 DATA:25/05/1999 PG:733 PROC:ACR 2006.61.02.004003-1/SP ÓRGÃO:QUINTA TURMA - 1A. SEÇÃO JUIZ:DESEMBARGADOR FEDERAL ANDRÉ NEKATSCHALOW AUD:20/06/2011 DATA:30/06/2011 PG:1001 PROC:ACR 0012377-74.2006.4.03.6110/SP ÓRGÃO:QUINTA TURMA - 1A. SEÇÃO JUIZ:JUÍZA CONVOCADA LOUISE FILGUEIRAS AUD:24/01/2011 DATA:02/02/2011 PG:70 PROC:RSE 2006.61.06.004193-9/SP ÓRGÃO:QUINTA TURMA - 1A. SEÇÃO JUIZ:JUIZ CONVOCADO HÉLIO NOGUEIRA AUD:16/03/2009 DATA:31/03/2009 PG:920 PROC:HC 2010.03.00.013885-2/SP ÓRGÃO:SEGUNDA TURMA JUIZ:JUIZA CONVOCADA SILVIA ROCHA AUD:06/07/2010 DATA:15/07/2010 PG:371 PROC:ACR 2002.61.81.006592-5/SP ÓRGÃO:PRIMEIRA TURMA JUIZ:JUIZ CONVOCADO SILVIO GEMAQUE AUD:29/06/2010 DATA:23/07/2010 PG:128 PROC:ACR 2002.61.81.006712-0/SP ÓRGÃO:SEGUNDA TURMA JUIZ:DESEMBARGADOR FEDERAL HENRIQUE HERKENHOFF AUD:29/09/2009 DATA:08/10/2009 PG:188 PROC:HC 2008.03.00.004202-7/SP ÓRGÃO:SEGUNDA TURMA JUIZ:DESEMBARGADOR FEDERAL NELTON DOS SANTOS AUD:25/08/2009 DATA:24/09/2009 PG:38 PROC:HC 2009.03.00.024382-7/SP ÓRGÃO:PRIMEIRA TURMA JUIZ:JUIZ CONVOCADO MÁRCIO MESQUITA AUD:25/08/2009 DATA:02/09/2009 PG:149 PROC:HC 2010.03.00.029608-1/SP ÓRGÃO:QUINTA TURMA - 1A. SEÇÃO JUIZ:DESEMBARGADOR FEDERAL LUIZ STEFANINI AUD:21/03/2011 DATA:30/03/2011 PG:798 PROC:EIFNU 2005.61.81.005791-7/SP ÓRGÃO:SEGUNDA TURMA JUIZ:DESEMBARGADOR FEDERAL HENRIQUE HERKENHOFF AUD:20/04/2010 DATA:06/05/2010 PG:157
Fonte da publicação : e-DJF3 Judicial 1 DATA:20/09/2016 ..FONTE_REPUBLICACAO:
Mostrar discussão