TRF3 0012395-42.2008.4.03.6105 00123954220084036105
DIREITO AMBIENTAL. DIREITO ADMINISTRATIVO. APELAÇÃO EM AÇÃO CIVIL
PÚBLICA. PLANO DE MANEJO DA ÁREA DE RELEVANTE INTERESSE ECOLÓGICO
MATA DE SANTA GENEBRA. DELIMITAÇÃO DE ZONA DE AMORTECIMENTO. TERMO DE
COMPROMISSO E AJUSTAMENTO DE CONDUTA. LEGITIMIDADE PASSIVA "AD CAUSAM"
DO IBAMA. INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DE SEPARAÇÃO DOS
PODERES. INGERÊNCIA DO PODER JUDICIÁRIO. APELAÇÕES E REMESSA OFICIAL
DESPROVIDAS.
1. Trata-se de Ação Civil Pública, ajuizada pelo Ministério Público
Federal, com pedido de antecipação dos efeitos da tutela, em face da
Fundação José Pedro de Oliveira - FJPO, do Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, do Estado de São Paulo,
do Município de Campinas, da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo
- CETESB, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade -
ICMBIO e do Município de Paulínia, todos devidamente qualificados nos autos.
2. Em síntese, o Ministério Público Federal buscou, inicialmente, a
elaboração de Plano de Manejo da Área de Relevante Interesse Ecológico
Mata de Santa Genebra (ARIE Mata de Santa Genebra). Alegou o "Parquet"
que o uso admissível da Área de Relevante Interesse Ecológico - ARIE,
localizada no Município de Campinas/SP, administrada pela Fundação José
Pedro de Oliveira, necessita da prévia realização de Plano de Manejo.
3. Considerando a criação do Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade (ICMBio), pela Lei n.º 11.516/2007, com a missão institucional
de administrar as unidades de conservação federais, o "Parquet" emendou a
inicial, requerendo a inclusão no polo passivo do ICMBio e a retificação
dos pedidos de antecipação dos efeitos da tutela e dos pedidos finais.
4. No deslinde do processo, o Ministério Público Federal informou que o
Plano de Manejo da ARIE foi elaborado. Entretanto, constatou-se que o Plano
de Manejo não havia contemplado normas para o uso e ocupação da zona de
amortecimento da ARIE.
5. Elaborada a Portaria Conjunta n.º 01, de 06/12/2012, que estabeleceu
diretrizes e normas para o uso e ocupação da zona de amortecimento da ARIE
Mata de Santa Genebra, às fls. 4.296/4.300.
6. O Ministério Público Federal firmou Termo de Compromisso e Ajustamento de
Conduta com o Município de Campinas, o Município de Paulínia, a Companhia
Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) e a Fundação José Pedro de
Oliveira (FJPO), tendo como objeto a composição amigável nos autos da Ação
Civil Pública e do Inquérito Civil Público n.º 1.34.004.000156/2002-97.
7. As partes reconheceram como válido e eficaz o Plano de Manejo da ARIE Santa
Genebra, elaborado pela Fundação José Pedro de Oliveira e aprovado pela
Portaria 64/2010, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
- ICMBIO, obrigando-se a orientar suas atividades administrativas no sentido
de seu cumprimento e do respeito às suas disposições.
8. O artigo 7º da Lei Complementar n.º 140 de 2011 estipula que é ação
administrativa da União promover o licenciamento ambiental de empreendimentos
e atividades, localizados ou desenvolvidos em unidades de conservação
instituídas pela União
9. Consoante o art. 225, § 1º, III, incumbe ao Poder Público definir, em
todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a
serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas
somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a
integridade dos atributos que justifiquem sua proteção.
10. O dever-poder de controle e fiscalização ambiental, além de inerente
ao exercício do poder de polícia do Estado, provém diretamente do marco
constitucional de garantia dos processos ecológicos essenciais.
11. Afasta-se a preliminar de ilegitimidade passiva do IBAMA, que remanesce
como órgão executor do Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA,
com a finalidade de executar e fazer executar a política e as diretrizes
governamentais fixadas para o meio ambiente, consoante o artigo 6º Lei 6.938
de 1981.da política e das diretrizes governamentais para o meio ambiente.
12. No âmbito da concretização dos direitos fundamentais, ao Poder
Legislativo cumpre formular leis que viabilizem a sua realização,
ao Executivo, por sua vez, cabe executar as normas constitucionais
e infraconstitucionais e ao Judiciário, por fim, como guardião da
Constituição, compete efetuar o controle para que todos os direitos
previstos na Lei Maior sejam de fato garantidos, o que se dá, por exemplo,
mediante controle de constitucionalidade e ação civil pública.
13. Pode o Poder Judiciário, em situações excepcionais, determinar que a
Administração Pública adote medidas assecuratórias de direito reputado
essencial pela Constituição Federal, sem que isso configure violação do
princípio da separação de poderes.
14. Em uma interpretação sistemática, a análise do caso em comento deve
ser no sentido de favorecer a proteção ao meio ambiente - fim perseguido
pelo legislador constituinte - que é de interesse de toda a coletividade.
15. Uma vez que não há requisito formal para o ato de criação da
unidade de conservação, incabível adotar interpretação que dificulta a
criação de zonas de amortecimento, essenciais à proteção das unidades
de conservação.
16. Dever do Poder Público e da sociedade a defesa de um meio ambiente
ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras gerações, sendo
esse um direito transindividual garantido pela Constituição Federal.
17. Cabe ao Poder Judiciário determinar, ainda que em bases excepcionais,
nas hipóteses de políticas públicas definidas pela própria Constituição,
sejam essas implementadas pelos órgãos estatais inadimplentes, cuja omissão
pode comprometer a eficácia e a integridade de direitos sociais determinados
pela Constituição Federal.
18. Declarado materialmente apto à tutela ambiental da ARIE Mata de Santa
Genebra e sua zona de amortecimento, o microssistema normativo integrado
pela Portaria n.º 64/2010 (Plano de Manejo) do Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade - ICMBio, pela Portaria Conjunta n.º 01/2012,
pela Resolução n.º 428/2010 do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA
e o 'Termo de Compromisso e Ajustamento de Conduta' tirado nos autos do ICP
n.º 1.34.004.000156/2002-97.
19. Apelações e remessa oficial desprovidas.
Ementa
DIREITO AMBIENTAL. DIREITO ADMINISTRATIVO. APELAÇÃO EM AÇÃO CIVIL
PÚBLICA. PLANO DE MANEJO DA ÁREA DE RELEVANTE INTERESSE ECOLÓGICO
MATA DE SANTA GENEBRA. DELIMITAÇÃO DE ZONA DE AMORTECIMENTO. TERMO DE
COMPROMISSO E AJUSTAMENTO DE CONDUTA. LEGITIMIDADE PASSIVA "AD CAUSAM"
DO IBAMA. INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DE SEPARAÇÃO DOS
PODERES. INGERÊNCIA DO PODER JUDICIÁRIO. APELAÇÕES E REMESSA OFICIAL
DESPROVIDAS.
1. Trata-se de Ação Civil Pública, ajuizada pelo Ministério Público
Federal, com pedido de antecipação dos efeitos da tutela, em face da
Fundação José Pedro de Oliveira - FJPO, do Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, do Estado de São Paulo,
do Município de Campinas, da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo
- CETESB, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade -
ICMBIO e do Município de Paulínia, todos devidamente qualificados nos autos.
2. Em síntese, o Ministério Público Federal buscou, inicialmente, a
elaboração de Plano de Manejo da Área de Relevante Interesse Ecológico
Mata de Santa Genebra (ARIE Mata de Santa Genebra). Alegou o "Parquet"
que o uso admissível da Área de Relevante Interesse Ecológico - ARIE,
localizada no Município de Campinas/SP, administrada pela Fundação José
Pedro de Oliveira, necessita da prévia realização de Plano de Manejo.
3. Considerando a criação do Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade (ICMBio), pela Lei n.º 11.516/2007, com a missão institucional
de administrar as unidades de conservação federais, o "Parquet" emendou a
inicial, requerendo a inclusão no polo passivo do ICMBio e a retificação
dos pedidos de antecipação dos efeitos da tutela e dos pedidos finais.
4. No deslinde do processo, o Ministério Público Federal informou que o
Plano de Manejo da ARIE foi elaborado. Entretanto, constatou-se que o Plano
de Manejo não havia contemplado normas para o uso e ocupação da zona de
amortecimento da ARIE.
5. Elaborada a Portaria Conjunta n.º 01, de 06/12/2012, que estabeleceu
diretrizes e normas para o uso e ocupação da zona de amortecimento da ARIE
Mata de Santa Genebra, às fls. 4.296/4.300.
6. O Ministério Público Federal firmou Termo de Compromisso e Ajustamento de
Conduta com o Município de Campinas, o Município de Paulínia, a Companhia
Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) e a Fundação José Pedro de
Oliveira (FJPO), tendo como objeto a composição amigável nos autos da Ação
Civil Pública e do Inquérito Civil Público n.º 1.34.004.000156/2002-97.
7. As partes reconheceram como válido e eficaz o Plano de Manejo da ARIE Santa
Genebra, elaborado pela Fundação José Pedro de Oliveira e aprovado pela
Portaria 64/2010, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
- ICMBIO, obrigando-se a orientar suas atividades administrativas no sentido
de seu cumprimento e do respeito às suas disposições.
8. O artigo 7º da Lei Complementar n.º 140 de 2011 estipula que é ação
administrativa da União promover o licenciamento ambiental de empreendimentos
e atividades, localizados ou desenvolvidos em unidades de conservação
instituídas pela União
9. Consoante o art. 225, § 1º, III, incumbe ao Poder Público definir, em
todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a
serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas
somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a
integridade dos atributos que justifiquem sua proteção.
10. O dever-poder de controle e fiscalização ambiental, além de inerente
ao exercício do poder de polícia do Estado, provém diretamente do marco
constitucional de garantia dos processos ecológicos essenciais.
11. Afasta-se a preliminar de ilegitimidade passiva do IBAMA, que remanesce
como órgão executor do Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA,
com a finalidade de executar e fazer executar a política e as diretrizes
governamentais fixadas para o meio ambiente, consoante o artigo 6º Lei 6.938
de 1981.da política e das diretrizes governamentais para o meio ambiente.
12. No âmbito da concretização dos direitos fundamentais, ao Poder
Legislativo cumpre formular leis que viabilizem a sua realização,
ao Executivo, por sua vez, cabe executar as normas constitucionais
e infraconstitucionais e ao Judiciário, por fim, como guardião da
Constituição, compete efetuar o controle para que todos os direitos
previstos na Lei Maior sejam de fato garantidos, o que se dá, por exemplo,
mediante controle de constitucionalidade e ação civil pública.
13. Pode o Poder Judiciário, em situações excepcionais, determinar que a
Administração Pública adote medidas assecuratórias de direito reputado
essencial pela Constituição Federal, sem que isso configure violação do
princípio da separação de poderes.
14. Em uma interpretação sistemática, a análise do caso em comento deve
ser no sentido de favorecer a proteção ao meio ambiente - fim perseguido
pelo legislador constituinte - que é de interesse de toda a coletividade.
15. Uma vez que não há requisito formal para o ato de criação da
unidade de conservação, incabível adotar interpretação que dificulta a
criação de zonas de amortecimento, essenciais à proteção das unidades
de conservação.
16. Dever do Poder Público e da sociedade a defesa de um meio ambiente
ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras gerações, sendo
esse um direito transindividual garantido pela Constituição Federal.
17. Cabe ao Poder Judiciário determinar, ainda que em bases excepcionais,
nas hipóteses de políticas públicas definidas pela própria Constituição,
sejam essas implementadas pelos órgãos estatais inadimplentes, cuja omissão
pode comprometer a eficácia e a integridade de direitos sociais determinados
pela Constituição Federal.
18. Declarado materialmente apto à tutela ambiental da ARIE Mata de Santa
Genebra e sua zona de amortecimento, o microssistema normativo integrado
pela Portaria n.º 64/2010 (Plano de Manejo) do Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade - ICMBio, pela Portaria Conjunta n.º 01/2012,
pela Resolução n.º 428/2010 do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA
e o 'Termo de Compromisso e Ajustamento de Conduta' tirado nos autos do ICP
n.º 1.34.004.000156/2002-97.
19. Apelações e remessa oficial desprovidas.Decisão
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide
a Egrégia Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região,
por unanimidade, negar provimento aos recursos de apelação e à remessa
oficial, nos termos do relatório e voto que ficam fazendo parte integrante
do presente julgado.
Data do Julgamento
:
20/02/2019
Data da Publicação
:
27/02/2019
Classe/Assunto
:
ApReeNec - APELAÇÃO/REMESSA NECESSÁRIA - 2091650
Órgão Julgador
:
TERCEIRA TURMA
Relator(a)
:
DESEMBARGADOR FEDERAL ANTONIO CEDENHO
Comarca
:
TRIBUNAL - TERCEIRA REGIÃO
Tipo
:
Acórdão
Referência
legislativa
:
LEG-FED LEI-11516 ANO-2007
LEG-FED PRT-1 ANO-2012
LEG-FED LCP-140 ANO-2011 ART-7
***** CF-1988 CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988
LEG-FED ANO-1988 ART-225 PAR-1 INC-3
LEG-FED LEI-6938 ANO-1981 ART-6
LEG-FED PRT-64 ANO-2010
ICMBIO - INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE
LEG-FED PRT-1 ANO-2012
LEG-FED RES-428 ANO-2010
CONAMA - CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE
Fonte da publicação
:
e-DJF3 Judicial 1 DATA:27/02/2019
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