TRF3 0014089-35.2010.4.03.6183 00140893520104036183
PREVIDENCIÁRIO. RECONHECIMENTO DE ATIVIDADE URBANA. REGISTRO DE
EMPREGADO. FORÇA PROBANTE. APOSENTADORIA POR TEMPO DE SERVIÇO. IMPLEMENTO
DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS À APOSENTAÇÃO. REMESSA OFICIAL NÃO
CONHECIDA. CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS DE MORA.
I-Da remessa oficial
O novo Estatuto processual trouxe inovações no tema da remessa ex officio,
mais especificamente, estreitou o funil de demandas cujo transito em julgado
é condicionado ao reexame pelo segundo grau de jurisdição, para tanto
elevou o valor de alçada, verbis:
Art. 496. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito
senão depois de confirmada pelo tribunal, a sentença:
I - proferida contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios
e suas respectivas autarquias e fundações de direito público;
II - que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução
fiscal.
§ 1o Nos casos previstos neste artigo, não interposta a apelação no prazo
legal, o juiz ordenará a remessa dos autos ao tribunal, e, se não o fizer,
o presidente do respectivo tribunal avocá-los-á.
§ 2o Em qualquer dos casos referidos no § 1o, o tribunal julgará a remessa
necessária.
§ 3o Não se aplica o disposto neste artigo quando a condenação ou o
proveito econômico obtido na causa for de valor certo e líquido inferior a:
I - 1.000 (mil) salários-mínimos para a União e as respectivas autarquias
e fundações de direito público;
...
§ 4o Também não se aplica o disposto neste artigo quando a sentença
estiver fundada em:
I - súmula de tribunal superior;
II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior
Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos;
III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas
ou de assunção de competência;
IV - entendimento coincidente com orientação vinculante firmada no âmbito
administrativo do próprio ente público, consolidada em manifestação,
parecer ou súmula administrativa.
Convém recordar que no antigo CPC, dispensava do reexame obrigatório a
sentença proferida nos casos CPC, art. 475, I e II sempre que a condenação,
o direito controvertido, ou a procedência dos embargos em execução da
dívida ativa não excedesse a 60 (sessenta) salários mínimos. Contrario
sensu, aquelas com condenação superior a essa alçada deveriam ser enviadas
à Corte de segundo grau para que pudesse receber, após sua cognição,
o manto da coisa julgada.
Pois bem. A questão que se apresenta, no tema Direito Intertemporal, é de se
saber se as demandas remetidas ao Tribunal antes da vigência do Novo Diploma
Processual - e, consequentemente, sob a égide do antigo CPC -, vale dizer,
demandas com condenações da União e autarquias federais em valor superior
a 60 salários mínimos, mas inferior a 1000 salários mínimos, se a essas
demandas aplicar-se-ia o novel Estatuto e com isso essas remessas não seriam
conhecidas (por serem inferiores a 1000 SM) , e não haveria impedimento -
salvo recursos voluntários das partes - ao seu transito em julgado; ou se,
pelo contrario, incidiria o antigo CPC (então vigente ao momento em que
o juízo de primeiro grau determinou envio ao Tribunal ) e persistiria,
dessa forma, o dever de cognição pela Corte Regional para que, então,
preenchida fosse a condição de eficácia da sentença.
Para respondermos, insta ser fixada a natureza jurídica da remessa oficial.
Natureza Juridica Da Remessa Oficial
Cuida-se de condição de eficácia da sentença, que só produzirá seus
efeitos jurídicos após ser ratificada pelo Tribunal.
Portanto, não se trata o reexame necessário de recurso, vez que a
legislação não a tipificou com essa natureza processual.
Apenas com o reexame da sentença pelo Tribunal haverá a formação de
coisa julgada e a eficácia do teor decisório.
Ao reexame necessário aplica-se o principio inquisitório ( e não o principio
dispositivo, próprio aos recursos), podendo a Corte de segundo grau conhecer
plenamente da sentença e seu mérito, inclusive para modificá-la total
ou parcialmente. Isso ocorre por não ser recurso, e por a remessa oficial
implicar efeito translativo pleno, o que, eventualmente, pode agravar a
situação da União em segundo grau.
Finalidades e estrutura diversas afastam o reexame necessário do capítulo
recursos no processo civil.
Em suma, constitui o instituto em "condição de eficácia da sentença",
e seu regramento será feito por normas de direito processual.
Direito Intertemporal
Como vimos, não possuindo a remessa oficial a natureza de recurso, na
produz direito subjetivo processual para as partes, ou para a União. Esta,
enquanto pessoa jurídica de Direito Publico, possui direito de recorrer
voluntariamente. Aqui temos direitos subjetivos processuais. Mas não os
temos no reexame necessário, condição de eficácia da sentença que é.
A propósito oportuna lição de Nelson Nery Jr.:
"A remessa necessária não é recurso, mas condição de eficácia da
sentença. Sendo figura processual distinta da do recurso, a ela não se
aplicavam as regras do direito intertemporal processual vigente para os eles:
a) cabimento do recurso rege-se pela lei vigente à época da prolação da
decisão; b) o procedimento do recurso rege-se pela lei vigente à época
em que foi efetivamente interposto o recurso - Nery. Recursos, n. 37,
pp. 492/500. Assim, a L 10352/01, que modificou as causas em que devem ser
obrigatoriamente submetidas ao reexame do tribunal , após a sua entrada em
vigor , teve aplicação imediata aos processos em curso. Consequentemente,
havendo processo pendente no tribunal, enviado mediante a remessa necessária
do regime antigo, o tribunal não poderá conhecer da remessa se a causa do
envio não mais existe no rol do CPC 475. É o caso por exemplo, da sentença
que anulou o casamento, que era submetida antigamente ao reexame necessário
(ex- CPC 475 I), circunstância que foi abolida pela nova redação do CPC
475, dada pela L 10352/01. Logo, se os autos estão no tribunal apenas para o
reexame de sentença que anulou o casamento, o tribunal não pode conhecer da
remessa ." Código de Processo Civil Comentado e Legislação Extravagante,
11ª edição, pág 744.
Por consequência, como o Novo CPC modificou o valor de alçada para causas
que devem obrigatoriamente ser submetidas ao segundo grau de jurisdição,
dizendo que não necessitam ser confirmadas pelo Tribunal condenações da
União em valores inferior a 1000 salários mínimos, esse preceito tem
incidência imediata aos feitos em tramitação nesta Corte, inobstante
remetidos pelo juízo a quo na vigência do anterior Diploma Processual.
II- O registro de empregado desfruta de força probante plena, sendo
desnecessária a produção de prova testemunhal, a corroborar as informações
nele contidas.
III- Adicionando-se a atividade urbana, ora reconhecida, ao tempo de serviço
computado no requerimento administrativo o autor perfaz tempo suficiente à
concessão do benefício.
IV- Concessão do benefício de aposentadoria por tempo de contribuição,
em sua forma integral, mediante a comprovação do implemento de 35 (trinta
e cinco) anos de tempo de serviço até a data do requerimento administrativo.
V- A correção monetária e os juros moratórios incidirão nos termos
do Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos na Justiça
Federal em vigor, por ocasião da execução do julgado.
VI - Remessa oficial não conhecida. Apelo do INSS parcialmente provido.
Ementa
PREVIDENCIÁRIO. RECONHECIMENTO DE ATIVIDADE URBANA. REGISTRO DE
EMPREGADO. FORÇA PROBANTE. APOSENTADORIA POR TEMPO DE SERVIÇO. IMPLEMENTO
DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS À APOSENTAÇÃO. REMESSA OFICIAL NÃO
CONHECIDA. CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS DE MORA.
I-Da remessa oficial
O novo Estatuto processual trouxe inovações no tema da remessa ex officio,
mais especificamente, estreitou o funil de demandas cujo transito em julgado
é condicionado ao reexame pelo segundo grau de jurisdição, para tanto
elevou o valor de alçada, verbis:
Art. 496. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito
senão depois de confirmada pelo tribunal, a sentença:
I - proferida contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios
e suas respectivas autarquias e fundações de direito público;
II - que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução
fiscal.
§ 1o Nos casos previstos neste artigo, não interposta a apelação no prazo
legal, o juiz ordenará a remessa dos autos ao tribunal, e, se não o fizer,
o presidente do respectivo tribunal avocá-los-á.
§ 2o Em qualquer dos casos referidos no § 1o, o tribunal julgará a remessa
necessária.
§ 3o Não se aplica o disposto neste artigo quando a condenação ou o
proveito econômico obtido na causa for de valor certo e líquido inferior a:
I - 1.000 (mil) salários-mínimos para a União e as respectivas autarquias
e fundações de direito público;
...
§ 4o Também não se aplica o disposto neste artigo quando a sentença
estiver fundada em:
I - súmula de tribunal superior;
II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior
Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos;
III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas
ou de assunção de competência;
IV - entendimento coincidente com orientação vinculante firmada no âmbito
administrativo do próprio ente público, consolidada em manifestação,
parecer ou súmula administrativa.
Convém recordar que no antigo CPC, dispensava do reexame obrigatório a
sentença proferida nos casos CPC, art. 475, I e II sempre que a condenação,
o direito controvertido, ou a procedência dos embargos em execução da
dívida ativa não excedesse a 60 (sessenta) salários mínimos. Contrario
sensu, aquelas com condenação superior a essa alçada deveriam ser enviadas
à Corte de segundo grau para que pudesse receber, após sua cognição,
o manto da coisa julgada.
Pois bem. A questão que se apresenta, no tema Direito Intertemporal, é de se
saber se as demandas remetidas ao Tribunal antes da vigência do Novo Diploma
Processual - e, consequentemente, sob a égide do antigo CPC -, vale dizer,
demandas com condenações da União e autarquias federais em valor superior
a 60 salários mínimos, mas inferior a 1000 salários mínimos, se a essas
demandas aplicar-se-ia o novel Estatuto e com isso essas remessas não seriam
conhecidas (por serem inferiores a 1000 SM) , e não haveria impedimento -
salvo recursos voluntários das partes - ao seu transito em julgado; ou se,
pelo contrario, incidiria o antigo CPC (então vigente ao momento em que
o juízo de primeiro grau determinou envio ao Tribunal ) e persistiria,
dessa forma, o dever de cognição pela Corte Regional para que, então,
preenchida fosse a condição de eficácia da sentença.
Para respondermos, insta ser fixada a natureza jurídica da remessa oficial.
Natureza Juridica Da Remessa Oficial
Cuida-se de condição de eficácia da sentença, que só produzirá seus
efeitos jurídicos após ser ratificada pelo Tribunal.
Portanto, não se trata o reexame necessário de recurso, vez que a
legislação não a tipificou com essa natureza processual.
Apenas com o reexame da sentença pelo Tribunal haverá a formação de
coisa julgada e a eficácia do teor decisório.
Ao reexame necessário aplica-se o principio inquisitório ( e não o principio
dispositivo, próprio aos recursos), podendo a Corte de segundo grau conhecer
plenamente da sentença e seu mérito, inclusive para modificá-la total
ou parcialmente. Isso ocorre por não ser recurso, e por a remessa oficial
implicar efeito translativo pleno, o que, eventualmente, pode agravar a
situação da União em segundo grau.
Finalidades e estrutura diversas afastam o reexame necessário do capítulo
recursos no processo civil.
Em suma, constitui o instituto em "condição de eficácia da sentença",
e seu regramento será feito por normas de direito processual.
Direito Intertemporal
Como vimos, não possuindo a remessa oficial a natureza de recurso, na
produz direito subjetivo processual para as partes, ou para a União. Esta,
enquanto pessoa jurídica de Direito Publico, possui direito de recorrer
voluntariamente. Aqui temos direitos subjetivos processuais. Mas não os
temos no reexame necessário, condição de eficácia da sentença que é.
A propósito oportuna lição de Nelson Nery Jr.:
"A remessa necessária não é recurso, mas condição de eficácia da
sentença. Sendo figura processual distinta da do recurso, a ela não se
aplicavam as regras do direito intertemporal processual vigente para os eles:
a) cabimento do recurso rege-se pela lei vigente à época da prolação da
decisão; b) o procedimento do recurso rege-se pela lei vigente à época
em que foi efetivamente interposto o recurso - Nery. Recursos, n. 37,
pp. 492/500. Assim, a L 10352/01, que modificou as causas em que devem ser
obrigatoriamente submetidas ao reexame do tribunal , após a sua entrada em
vigor , teve aplicação imediata aos processos em curso. Consequentemente,
havendo processo pendente no tribunal, enviado mediante a remessa necessária
do regime antigo, o tribunal não poderá conhecer da remessa se a causa do
envio não mais existe no rol do CPC 475. É o caso por exemplo, da sentença
que anulou o casamento, que era submetida antigamente ao reexame necessário
(ex- CPC 475 I), circunstância que foi abolida pela nova redação do CPC
475, dada pela L 10352/01. Logo, se os autos estão no tribunal apenas para o
reexame de sentença que anulou o casamento, o tribunal não pode conhecer da
remessa ." Código de Processo Civil Comentado e Legislação Extravagante,
11ª edição, pág 744.
Por consequência, como o Novo CPC modificou o valor de alçada para causas
que devem obrigatoriamente ser submetidas ao segundo grau de jurisdição,
dizendo que não necessitam ser confirmadas pelo Tribunal condenações da
União em valores inferior a 1000 salários mínimos, esse preceito tem
incidência imediata aos feitos em tramitação nesta Corte, inobstante
remetidos pelo juízo a quo na vigência do anterior Diploma Processual.
II- O registro de empregado desfruta de força probante plena, sendo
desnecessária a produção de prova testemunhal, a corroborar as informações
nele contidas.
III- Adicionando-se a atividade urbana, ora reconhecida, ao tempo de serviço
computado no requerimento administrativo o autor perfaz tempo suficiente à
concessão do benefício.
IV- Concessão do benefício de aposentadoria por tempo de contribuição,
em sua forma integral, mediante a comprovação do implemento de 35 (trinta
e cinco) anos de tempo de serviço até a data do requerimento administrativo.
V- A correção monetária e os juros moratórios incidirão nos termos
do Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos na Justiça
Federal em vigor, por ocasião da execução do julgado.
VI - Remessa oficial não conhecida. Apelo do INSS parcialmente provido.Decisão
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,
decide a Egrégia Oitava Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região,
por unanimidade, não conhecer da remessa oficial e dar parcial provimento
ao apelo do INSS, nos termos do relatório e voto que ficam fazendo parte
integrante do presente julgado.
Data do Julgamento
:
09/05/2016
Data da Publicação
:
23/05/2016
Classe/Assunto
:
APELREEX - APELAÇÃO/REMESSA NECESSÁRIA - 2116859
Órgão Julgador
:
OITAVA TURMA
Relator(a)
:
DESEMBARGADOR FEDERAL DAVID DANTAS
Comarca
:
TRIBUNAL - TERCEIRA REGIÃO
Tipo
:
Acórdão
Indexação
:
VIDE EMENTA.
Fonte da publicação
:
e-DJF3 Judicial 1 DATA:23/05/2016
..FONTE_REPUBLICACAO:
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