TRF3 0015754-19.2015.4.03.6181 00157541920154036181
PENAL. PROCESSUAL PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. REJEIÇÃO
DA DENÚNCIA. REGIME MILITAR. ANISTIA. HOMICÍDIO. OCULTAÇÃO OU
DESTRUIÇÃO DE CADÁVER. INDÍCIOS DE MATERIALIDADE E AUTORIA. RESTOS
MORTAIS NÃO LOCALIZADOS. CRIME PERMANENTE. PRESCRIÇÃO. SUJEIÇÃO DO
BRASIL ÀS DECISÕES DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. CASO GOMES
LUND. DESAPARECIMENTO FORÇADO. CONVENÇÃO AMERICANA E OS PRINCÍPIOS
DO DIREITO INTERNACIONAL. CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE. CONTROLE DE
CONSTITUCIONALIDADE. DISTINÇÃO. ENTENDIMENTO DO STF SOBRE A LEI DE
ANISTIA. ADPF 153. COMPATIBILIDADE COM A DECISÃO INTERNACIONAL.
1. Imputação ao réu da prática dos crimes de homicídio duplamente
qualificado (CP, art. 121, § 2º, I e IV) e de ocultação de cadáver
(CP, art. 211), cometidos quando ocupava o cargo de chefia do DOI-CODI,
em setembro de 1975.
2. O Supremo Tribunal Federal já proclamou não somente a validade mas
também a abrangência bilateral da Lei n. 6.683, de 28.08.79, conhecida como
Lei da Anistia, que se aplica aos delitos cometidos entre 02 de setembro de
1961 e 15 de agosto de 1979.
3. Não consta que a decisão proferida pela Corte Interamericana de
Direitos Humanos tenha obliterado a decisão proferida pelo Supremo Tribunal
Federal. Nestes autos, aquela é meramente citada sem que se identifiquem
efetivamente seus efeitos para a economia deste processo, isto é, em que
medida seus efeitos criam, extinguem ou modificam direitos de caráter
processual ou de direito material no que respeita ao regular andamento da
ação penal. Em princípio, o juiz goza de independência no âmbito de
sua função jurisdicional, cumprindo-lhe aplicar a lei ao caso concreto
mediante o exercício de seu entendimento, segundo o Direito. Essa atividade
somente é obstruída em decorrência de decisão que tenha a propriedade
de substituir ou, de qualquer modo, reformar sua decisão. Os compromissos
internacionais assumidos pelo Brasil não afetam esse pressuposto, que de
resto é facilmente compreensível. Nem é preciso maiores digressões,
pois o fenômeno é, na sua natureza, idêntico ao que ocorre no âmbito
das obrigações assumidas pelo Brasil no âmbito interno. Daí que não há
razão, de caráter processual, para não guardar a tradicional reverência
ao julgamento proferido pelo Supremo Tribunal Federal.
4. Anistia aplicável ao delito de homicídio referido na denúncia.
5. A prática do crime do art. 211 do Código Penal em sua modalidade
"destruir" demanda a mesma conclusão atinente ao delito de homicídio,
por plenamente incidentes as disposições da Lei n. 6.683, de 28.08.79.
6. A mera natureza permanente do crime de ocultação de cadáver não faz
ressurgir a pretensão punitiva. Pois nos crimes permanentes há de subsistir
a atividade criminosa ao longo do tempo. A denúncia, contudo, não fundamenta
seu pedido condenatório em uma suposta ulterior atividade criminosa que, por
si mesma, teria feito surgir (ou, o que dá no mesmo, subsistir) a pretensão
punitiva. Daí que aqueles fatos foram efetivamente abrangidos pela anistia.
7. O Código Penal, art. 111, III, diz que, nos crimes permanentes, a
prescrição começa a correr "do dia em que cessou a permanência". Assim,
subsistindo a tipificação do fato, fenômeno que ocorre por causa da
atividade delitiva do agente, resulta evidente que não está a correr o
prazo prescricional. Não há referência à atividade criminosa dos agentes
posterior à Lei da Anistia que poderia - como se pretende - postergar o
início da fluência do prazo prescricional. Contudo, a própria aplicação
desse dispositivo fica prejudicada na medida em que, por oura razão, já
não há mais pretensão punitiva passível de ser extinta pela prescrição.
8. Recurso não provido.
Ementa
PENAL. PROCESSUAL PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. REJEIÇÃO
DA DENÚNCIA. REGIME MILITAR. ANISTIA. HOMICÍDIO. OCULTAÇÃO OU
DESTRUIÇÃO DE CADÁVER. INDÍCIOS DE MATERIALIDADE E AUTORIA. RESTOS
MORTAIS NÃO LOCALIZADOS. CRIME PERMANENTE. PRESCRIÇÃO. SUJEIÇÃO DO
BRASIL ÀS DECISÕES DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. CASO GOMES
LUND. DESAPARECIMENTO FORÇADO. CONVENÇÃO AMERICANA E OS PRINCÍPIOS
DO DIREITO INTERNACIONAL. CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE. CONTROLE DE
CONSTITUCIONALIDADE. DISTINÇÃO. ENTENDIMENTO DO STF SOBRE A LEI DE
ANISTIA. ADPF 153. COMPATIBILIDADE COM A DECISÃO INTERNACIONAL.
1. Imputação ao réu da prática dos crimes de homicídio duplamente
qualificado (CP, art. 121, § 2º, I e IV) e de ocultação de cadáver
(CP, art. 211), cometidos quando ocupava o cargo de chefia do DOI-CODI,
em setembro de 1975.
2. O Supremo Tribunal Federal já proclamou não somente a validade mas
também a abrangência bilateral da Lei n. 6.683, de 28.08.79, conhecida como
Lei da Anistia, que se aplica aos delitos cometidos entre 02 de setembro de
1961 e 15 de agosto de 1979.
3. Não consta que a decisão proferida pela Corte Interamericana de
Direitos Humanos tenha obliterado a decisão proferida pelo Supremo Tribunal
Federal. Nestes autos, aquela é meramente citada sem que se identifiquem
efetivamente seus efeitos para a economia deste processo, isto é, em que
medida seus efeitos criam, extinguem ou modificam direitos de caráter
processual ou de direito material no que respeita ao regular andamento da
ação penal. Em princípio, o juiz goza de independência no âmbito de
sua função jurisdicional, cumprindo-lhe aplicar a lei ao caso concreto
mediante o exercício de seu entendimento, segundo o Direito. Essa atividade
somente é obstruída em decorrência de decisão que tenha a propriedade
de substituir ou, de qualquer modo, reformar sua decisão. Os compromissos
internacionais assumidos pelo Brasil não afetam esse pressuposto, que de
resto é facilmente compreensível. Nem é preciso maiores digressões,
pois o fenômeno é, na sua natureza, idêntico ao que ocorre no âmbito
das obrigações assumidas pelo Brasil no âmbito interno. Daí que não há
razão, de caráter processual, para não guardar a tradicional reverência
ao julgamento proferido pelo Supremo Tribunal Federal.
4. Anistia aplicável ao delito de homicídio referido na denúncia.
5. A prática do crime do art. 211 do Código Penal em sua modalidade
"destruir" demanda a mesma conclusão atinente ao delito de homicídio,
por plenamente incidentes as disposições da Lei n. 6.683, de 28.08.79.
6. A mera natureza permanente do crime de ocultação de cadáver não faz
ressurgir a pretensão punitiva. Pois nos crimes permanentes há de subsistir
a atividade criminosa ao longo do tempo. A denúncia, contudo, não fundamenta
seu pedido condenatório em uma suposta ulterior atividade criminosa que, por
si mesma, teria feito surgir (ou, o que dá no mesmo, subsistir) a pretensão
punitiva. Daí que aqueles fatos foram efetivamente abrangidos pela anistia.
7. O Código Penal, art. 111, III, diz que, nos crimes permanentes, a
prescrição começa a correr "do dia em que cessou a permanência". Assim,
subsistindo a tipificação do fato, fenômeno que ocorre por causa da
atividade delitiva do agente, resulta evidente que não está a correr o
prazo prescricional. Não há referência à atividade criminosa dos agentes
posterior à Lei da Anistia que poderia - como se pretende - postergar o
início da fluência do prazo prescricional. Contudo, a própria aplicação
desse dispositivo fica prejudicada na medida em que, por oura razão, já
não há mais pretensão punitiva passível de ser extinta pela prescrição.
8. Recurso não provido.Decisão
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas,
decide a Egrégia Quinta Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região,
por maioria, negar provimento ao recurso em sentido estrito, nos termos do
relatório e voto que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.
Data do Julgamento
:
05/12/2016
Data da Publicação
:
15/12/2016
Classe/Assunto
:
RSE - RECURSO EM SENTIDO ESTRITO - 7837
Órgão Julgador
:
QUINTA TURMA
Relator(a)
:
DESEMBARGADOR FEDERAL ANDRÉ NEKATSCHALOW
Comarca
:
TRIBUNAL - TERCEIRA REGIÃO
Tipo
:
Acórdão
Referência
legislativa
:
***** CP-40 CÓDIGO PENAL DE 1940
LEG-FED DEL-2848 ANO-1940 ART-121 PAR-2 INC-1 INC-4 ART-211 ART-111 INC-3
LEG-FED LEI-6683 ANO-1979
Fonte da publicação
:
e-DJF3 Judicial 1 DATA:15/12/2016
..FONTE_REPUBLICACAO:
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