TRF3 0019729-65.2015.4.03.0000 00197296520154030000
PENAL. PROCESSO PENAL. REVISÃO CRIMINAL. ART. 1º, I, DA LEI
N. 8.137/90. CONDENAÇÃO FUNDADA EM PROVAS ILÍCITAS. SIGILO
BANCÁRIO. PROCESSO ADMINISTRATIVO. QUEBRA. ADMISSIBILIDADE. DIREITO DE
JUSTA INDENIZAÇÃO. ART. 630 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. CONDENAÇÃO DO
MINISTÉRIO PÚBLICO AO PAGAMENTO DE CUSTAS E HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
1. A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do
Recurso Especial Representativo de Controvérsia n. 1.134.665/SP, firmou
o entendimento de que é lícito ao Fisco receber informações sobre a
movimentação bancária dos contribuintes sem a necessidade de prévia
autorização judicial, desde que seja resguardado o sigilo das informações,
a teor do art. 1º, § 3º, VI, c. c. o art. 5º, caput, da Lei Complementar
n. 105/01, c. c. o art. 11, §§ 2º e 3º, da Lei n. 9.311/96.
2. A controvérsia cinge-se ao emprego dessa prova para fins de instrução de
processo-crime, pois há entendimento tanto no sentido de que para isso seria
imprescindível decisão judicial para a quebra do sigilo bancário (STJ,
HC n. 243.034, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 26.08.14, AGRESP n. 201300982789,
Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 19.08.14, RHC n. 201303405552,
Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 11.02.14), quanto no sentido de que,
tendo sido a prova produzida validamente no âmbito administrativo, não
há como invalidá-la posteriormente. Filio-me a esse entendimento, dado
não se conceber nulidade a posteriori: a autoridade fiscal tem o dever
jurídico (vinculado) de, ao concluir o lançamento de crédito constituído
em decorrência de crime fiscal, proceder à respectiva comunicação ao
Ministério Público para a propositura de ação penal. Não se compreende
como, ao assim fazer, acabe por inviabilizar a persecutio criminis (STJ, HC
n. 281.588, Rel. Min. Jorge Mussi, j. 17.12.13; HC n. 48.059, Rel. Min. Gilson
Dipp, j. 12.06.06).
3. Resta confirmada a validade da aplicação imediata da Lei Complementar
n. 105/01 em relação a fatos ocorridos anteriormente a sua vigência, pois
se trata de norma caráter procedimental (STJ, HC n. 118.849, Rel. Min. Marco
Aurélio Belizze, j. 07.08.12).
4. Anoto que foi recentemente divulgado no informativo do Supremo Tribunal
Federal n. 814, de 29.02.16, pronunciamento do Plenário da Corte no
RE n. 601.314, bem como nas ADIs n. 2390, 2859, 2397 e 2386 sobre a
constitucionalidade do referido procedimento.
5. A quebra do sigilo bancário decorreu da inércia do contribuinte em
apresentar extratos bancários e outros documentos solicitados, por reiteradas
vezes, pela Receita Federal, reputados essenciais à auditoria fiscal,
encontrando-se plenamente justificadas as Requisições de Informações
sobre Movimentação Financeira encaminhadas ao Banco do Brasil, Bradesco,
Caixa Econômica Federal e Banco Real (fls. 136v./142).
6. Os depósitos bancários constituem prova da omissão de rendimentos porque
o contribuinte fiscalizado, intimado, não logrou comprovar, satisfatória
e integralmente, a origem dos recursos aplicados em tais depósitos, em
conformidade com o previsto no art. 42 da Lei n. 9.430/96.
7. Mantido o acórdão condenatório, não prospera o pleito da defesa de
fixação de justa indenização pelos prejuízos sofridos, nos termos do
art. 630 do Código de Processo Penal.
8. Não há de se cogitar na condenação do Ministério Público Federal
ao pagamento de honorários advocatícios e custas processuais, no processo
penal. Os membros da instituição gozam de independência funcional e
inviolabilidade pelo teor de suas manifestações processuais (Lei n. 8.625/93,
art. 1º, parágrafo único e 41, V) e atuam na defesa dos interesses da
sociedade, promovendo, privativamente, a ação penal pública (Lei n. 8.625,
art. 25, III). Na ação civil pública, é que há previsão específica de
sujeição do Parquet aos ônus sucumbenciais em casos de comprovada má-fé
(Lei n. 7.347/85, art. 18).
9. Julgada improcedente a revisão criminal. Julgado prejudicado o agravo
regimental.
Ementa
PENAL. PROCESSO PENAL. REVISÃO CRIMINAL. ART. 1º, I, DA LEI
N. 8.137/90. CONDENAÇÃO FUNDADA EM PROVAS ILÍCITAS. SIGILO
BANCÁRIO. PROCESSO ADMINISTRATIVO. QUEBRA. ADMISSIBILIDADE. DIREITO DE
JUSTA INDENIZAÇÃO. ART. 630 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. CONDENAÇÃO DO
MINISTÉRIO PÚBLICO AO PAGAMENTO DE CUSTAS E HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
1. A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do
Recurso Especial Representativo de Controvérsia n. 1.134.665/SP, firmou
o entendimento de que é lícito ao Fisco receber informações sobre a
movimentação bancária dos contribuintes sem a necessidade de prévia
autorização judicial, desde que seja resguardado o sigilo das informações,
a teor do art. 1º, § 3º, VI, c. c. o art. 5º, caput, da Lei Complementar
n. 105/01, c. c. o art. 11, §§ 2º e 3º, da Lei n. 9.311/96.
2. A controvérsia cinge-se ao emprego dessa prova para fins de instrução de
processo-crime, pois há entendimento tanto no sentido de que para isso seria
imprescindível decisão judicial para a quebra do sigilo bancário (STJ,
HC n. 243.034, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 26.08.14, AGRESP n. 201300982789,
Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 19.08.14, RHC n. 201303405552,
Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 11.02.14), quanto no sentido de que,
tendo sido a prova produzida validamente no âmbito administrativo, não
há como invalidá-la posteriormente. Filio-me a esse entendimento, dado
não se conceber nulidade a posteriori: a autoridade fiscal tem o dever
jurídico (vinculado) de, ao concluir o lançamento de crédito constituído
em decorrência de crime fiscal, proceder à respectiva comunicação ao
Ministério Público para a propositura de ação penal. Não se compreende
como, ao assim fazer, acabe por inviabilizar a persecutio criminis (STJ, HC
n. 281.588, Rel. Min. Jorge Mussi, j. 17.12.13; HC n. 48.059, Rel. Min. Gilson
Dipp, j. 12.06.06).
3. Resta confirmada a validade da aplicação imediata da Lei Complementar
n. 105/01 em relação a fatos ocorridos anteriormente a sua vigência, pois
se trata de norma caráter procedimental (STJ, HC n. 118.849, Rel. Min. Marco
Aurélio Belizze, j. 07.08.12).
4. Anoto que foi recentemente divulgado no informativo do Supremo Tribunal
Federal n. 814, de 29.02.16, pronunciamento do Plenário da Corte no
RE n. 601.314, bem como nas ADIs n. 2390, 2859, 2397 e 2386 sobre a
constitucionalidade do referido procedimento.
5. A quebra do sigilo bancário decorreu da inércia do contribuinte em
apresentar extratos bancários e outros documentos solicitados, por reiteradas
vezes, pela Receita Federal, reputados essenciais à auditoria fiscal,
encontrando-se plenamente justificadas as Requisições de Informações
sobre Movimentação Financeira encaminhadas ao Banco do Brasil, Bradesco,
Caixa Econômica Federal e Banco Real (fls. 136v./142).
6. Os depósitos bancários constituem prova da omissão de rendimentos porque
o contribuinte fiscalizado, intimado, não logrou comprovar, satisfatória
e integralmente, a origem dos recursos aplicados em tais depósitos, em
conformidade com o previsto no art. 42 da Lei n. 9.430/96.
7. Mantido o acórdão condenatório, não prospera o pleito da defesa de
fixação de justa indenização pelos prejuízos sofridos, nos termos do
art. 630 do Código de Processo Penal.
8. Não há de se cogitar na condenação do Ministério Público Federal
ao pagamento de honorários advocatícios e custas processuais, no processo
penal. Os membros da instituição gozam de independência funcional e
inviolabilidade pelo teor de suas manifestações processuais (Lei n. 8.625/93,
art. 1º, parágrafo único e 41, V) e atuam na defesa dos interesses da
sociedade, promovendo, privativamente, a ação penal pública (Lei n. 8.625,
art. 25, III). Na ação civil pública, é que há previsão específica de
sujeição do Parquet aos ônus sucumbenciais em casos de comprovada má-fé
(Lei n. 7.347/85, art. 18).
9. Julgada improcedente a revisão criminal. Julgado prejudicado o agravo
regimental.Decisão
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide
a Egrégia Quarta Seção do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, por
unanimidade, julgar improcedente a revisão criminal e julgar prejudicado
o agravo regimental interposto, nos termos do relatório e voto que ficam
fazendo parte integrante do presente julgado.
Data do Julgamento
:
19/05/2016
Data da Publicação
:
30/05/2016
Classe/Assunto
:
RVC - REVISÃO CRIMINAL - 1178
Órgão Julgador
:
QUARTA SEÇÃO
Relator(a)
:
DESEMBARGADOR FEDERAL ANDRÉ NEKATSCHALOW
Comarca
:
TRIBUNAL - TERCEIRA REGIÃO
Tipo
:
Acórdão
Referência
legislativa
:
***** CPP-41 CÓDIGO DE PROCESSO PENAL
LEG-FED DEL-3689 ANO-1941 ART-630
***** LACP-85 LEI DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA
LEG-FED LEI-7347 ANO-1985 ART-18
LEG-FED LEI-8137 ANO-1990 ART-1 INC-1
***** LONMP-93 LEI ORGÂNICA NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO
LEG-FED LEI-8625 ANO-1993 ART-1 PAR-ÚNICO ART-41 INC-5 ART-25 INC-3
LEG-FED LEI-9311 ANO-1996 ART-11 PAR-2 PAR-3
LEG-FED LEI-9430 ANO-1996 ART-42
LEG-FED LCP-105 ANO-2001 ART-1 PAR-3 INC-6 ART-5
Fonte da publicação
:
e-DJF3 Judicial 1 DATA:30/05/2016
..FONTE_REPUBLICACAO:
Mostrar discussão