TRF3 0024959-49.2000.4.03.6100 00249594920004036100
CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. SFH. REVISÃO DE CLÁUSULAS
CONTRATUAIS. CES. ATUALIZAÇÃO DO SALDO DEVEDOR PELA TR. INCIDÊNCIA DA
URV. LIMITAÇÃO DOS JUROS. TEORIA DA IMPREVISÃO: INAPLICABILIDADE. RECURSO
IMPROVIDO. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. PES/CP. SEGURO. RECURSO PROVIDO.
1. O Coeficiente de Equiparação Salarial - CES foi instituído em razão
da necessidade de se corrigir distorções decorrentes da aplicação do
Plano de Equivalência Salarial, no reajuste das prestações, uma vez que,
por imposição legal, aplicava-se coeficiente de atualização diverso na
correção do saldo devedor do valor emprestado.
2. O Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento no sentido
de que é legítima a cobrança do CES, se há previsão no contrato
firmado. Precedente.
3. No caso em exame, há expressa previsão para a cobrança do CES, devendo,
por isso, ser mantida.
4. O Supremo Tribunal Federal julgou procedente a ADIn nº 493/DF, para
declarar a inconstitucionalidade dos artigos 18, caput e parágrafos 1º
e 4º; 20; 21 e parágrafo único; 23 e parágrafos; e 24 e parágrafos,
todos da Lei nº 8.177, de 01 de maio de 1991. Assim, não houve proibição
de ser utilizada a TR como índice de correção, mas apenas impedimento à
aplicação da TR no lugar de índices de correção monetária estipulados
em contratos antes da Lei nº 8.177/1991.
5. A matéria encontra-se sumulada pelo Superior Tribunal de Justiça:
Súmula 295: A Taxa Referencial (TR) é indexador válido para contratos
posteriores à Lei nº 8.177/91, desde que pactuada.
6. Sendo estabelecido em contrato o índice aplicável às cadernetas de
poupança, é legítima a utilização da TR como índice de correção
monetária do saldo devedor, mesmo naqueles firmados anteriormente à
vigência da Lei nº 8.177/1991. Precedentes.
7. Os recursos captados para a poupança são remunerados pela TR, bem como
os saldos das contas vinculadas do FGTS, que passaram a ser corrigidos
com o mesmo rendimento das contas de poupança com data de aniversário
no primeiro dia de cada mês. Haveria um desequilíbrio no fluxo de caixa,
caso os empréstimos feitos com recursos provenientes da poupança ou do FGTS
fossem remunerados por índices diversos, como o INPC ou IPC. Precedentes.
8. A URV - Unidade Real de Valor foi a unidade de padrão monetário
instituída por lei, com o objetivo de preservar e equilibrar a situação
econômico-financeira do País no período de transição até a implantação
do Plano Real, em 01/07/1994, sendo descabida qualquer alegação de que houve
majoração das parcelas em virtude da conversão do valor das parcelas em
URV ´s, posteriormente convertidas em Reais.
9. A mesma metodologia foi aplicada aos salários dos mutuários, nos
termos do artigo 19 da Lei nº 8.890/1994, não havendo razão para que
não seja aplicada aos contratos celebrados com a cláusula de equivalência
salarial, e sob a regência das leis do Sistema Financeiro da Habitação,
vez que são comutativos, exigindo equivalência entre prestação e
contraprestação. Precedente.
10. É firme na jurisprudência pátria o entendimento no sentido de que o
artigo 6º, "e", da Lei nº 4.380/1964, não fixou limite de juros de 10%
(dez por cento) ao ano, aplicáveis aos contratos firmados sob a regência
das normas do SFH. Precedentes.
11. Posteriormente, o artigo 25 da Lei nº 8.692/1993 estabeleceu o limite
de 12% (doze por cento) para a taxa de juros cobrada nos contratos de
financiamento no âmbito do SFH.
12. No caso dos autos, o contrato foi assinado em 28/02/1991 e prevê a
incidência de juros nominais à taxa de 10,5% ao ano, estando, portanto,
dentro dos limites legais.
13. A teoria da imprevisão somente pode ser invocada se ocorrido um fato
extraordinário e imprevisível, que afete o equilíbrio contratual e gere
onerosidade excessiva.
14. A teoria da imprevisão não afasta, de maneira simplória, o princípio
da força obrigatória dos contratos, nem tampouco permite a revisão do
negócio jurídico somente porque a obrigação teria se tornado mais onerosa,
dentro dos limites previsíveis em relação ao tipo de contrato firmado.
15. O mutuário não demonstrou a ocorrência de nenhum fato superveniente
que pudesse justificar a revisão nos termos pretendidos. Precedente.
16. Não se discute a aplicação das medidas protetivas ao consumidor,
previstas no Código de Defesa do Consumidor, aos contratos de mútuo
habitacional vinculados ao SFH. Essa proteção, porém, não é absoluta e
deve ser invocada de forma concreta, comprovando o mutuário efetivamente
a existência de abusividade das cláusulas contratuais ou de excessiva
onerosidade da obrigação pactuada. Precedente.
17. Não tendo os apelantes comprovado a existência de eventual abuso no
contrato firmado, fica vedada a revisão do contrato mediante mera alegação
genérica nesse sentido.
18. O contrato estabelece o Plano de Equivalência Salarial por Categoria
Profissional - PES/CP na Cláusula Nona.
19. A Cláusula Décima Quarta consigna a necessidade de informação, por
escrito, de qualquer alteração na situação do mutuário, podendo a CEF,
não ocorrendo a comunicação, aplicar índices de atualização do saldo
devedor previstos no contrato. E o Parágrafo Segundo da referida cláusula
preceitua expressamente que "não comunicada à CEF a mudança da categoria
profissional, da data base ou do local de trabalho, em até 30 (trinta)
dias após a verificação do evento" os valores serão apurados de acordo
com outros critérios previstos no contrato.
20. É imposta ao mutuário a obrigação de comunicar ao agente financeiro
toda e qualquer alteração de sua categoria profissional ou local de
trabalho/empregador que possa modificar sua renda, com reflexos no reajuste
das prestações do mútuo contratado, em índice diverso daquele adotado
pela CEF.
21. Não consta dos autos nenhuma prova de que os mutuários tenham
diligenciado perante a ré objetivando a revisão dos índices aplicados,
o que autoriza a CEF a reajustar as prestações conforme o estabelecido na
Cláusula Décima Quarta. Precedente.
22. O seguro habitacional encontra-se entre as obrigações assumidas
contratualmente pelos mutuários, e tem natureza assecuratória, pois protege
as partes envolvidas durante a vigência do contrato de mútuo, que, em regra,
tem duração prolongada.
23. Não houve, por parte dos autores, demonstração da existência de abuso
na cobrança do prêmio do seguro, ou que tenha havido qualquer discrepância
em relação àquelas praticadas no mercado, merecendo reforma a sentença
também quanto a este ponto. Precedente.
24. Apelação dos autores improvida. Apelação da CEF provida.
Ementa
CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. SFH. REVISÃO DE CLÁUSULAS
CONTRATUAIS. CES. ATUALIZAÇÃO DO SALDO DEVEDOR PELA TR. INCIDÊNCIA DA
URV. LIMITAÇÃO DOS JUROS. TEORIA DA IMPREVISÃO: INAPLICABILIDADE. RECURSO
IMPROVIDO. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. PES/CP. SEGURO. RECURSO PROVIDO.
1. O Coeficiente de Equiparação Salarial - CES foi instituído em razão
da necessidade de se corrigir distorções decorrentes da aplicação do
Plano de Equivalência Salarial, no reajuste das prestações, uma vez que,
por imposição legal, aplicava-se coeficiente de atualização diverso na
correção do saldo devedor do valor emprestado.
2. O Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento no sentido
de que é legítima a cobrança do CES, se há previsão no contrato
firmado. Precedente.
3. No caso em exame, há expressa previsão para a cobrança do CES, devendo,
por isso, ser mantida.
4. O Supremo Tribunal Federal julgou procedente a ADIn nº 493/DF, para
declarar a inconstitucionalidade dos artigos 18, caput e parágrafos 1º
e 4º; 20; 21 e parágrafo único; 23 e parágrafos; e 24 e parágrafos,
todos da Lei nº 8.177, de 01 de maio de 1991. Assim, não houve proibição
de ser utilizada a TR como índice de correção, mas apenas impedimento à
aplicação da TR no lugar de índices de correção monetária estipulados
em contratos antes da Lei nº 8.177/1991.
5. A matéria encontra-se sumulada pelo Superior Tribunal de Justiça:
Súmula 295: A Taxa Referencial (TR) é indexador válido para contratos
posteriores à Lei nº 8.177/91, desde que pactuada.
6. Sendo estabelecido em contrato o índice aplicável às cadernetas de
poupança, é legítima a utilização da TR como índice de correção
monetária do saldo devedor, mesmo naqueles firmados anteriormente à
vigência da Lei nº 8.177/1991. Precedentes.
7. Os recursos captados para a poupança são remunerados pela TR, bem como
os saldos das contas vinculadas do FGTS, que passaram a ser corrigidos
com o mesmo rendimento das contas de poupança com data de aniversário
no primeiro dia de cada mês. Haveria um desequilíbrio no fluxo de caixa,
caso os empréstimos feitos com recursos provenientes da poupança ou do FGTS
fossem remunerados por índices diversos, como o INPC ou IPC. Precedentes.
8. A URV - Unidade Real de Valor foi a unidade de padrão monetário
instituída por lei, com o objetivo de preservar e equilibrar a situação
econômico-financeira do País no período de transição até a implantação
do Plano Real, em 01/07/1994, sendo descabida qualquer alegação de que houve
majoração das parcelas em virtude da conversão do valor das parcelas em
URV ´s, posteriormente convertidas em Reais.
9. A mesma metodologia foi aplicada aos salários dos mutuários, nos
termos do artigo 19 da Lei nº 8.890/1994, não havendo razão para que
não seja aplicada aos contratos celebrados com a cláusula de equivalência
salarial, e sob a regência das leis do Sistema Financeiro da Habitação,
vez que são comutativos, exigindo equivalência entre prestação e
contraprestação. Precedente.
10. É firme na jurisprudência pátria o entendimento no sentido de que o
artigo 6º, "e", da Lei nº 4.380/1964, não fixou limite de juros de 10%
(dez por cento) ao ano, aplicáveis aos contratos firmados sob a regência
das normas do SFH. Precedentes.
11. Posteriormente, o artigo 25 da Lei nº 8.692/1993 estabeleceu o limite
de 12% (doze por cento) para a taxa de juros cobrada nos contratos de
financiamento no âmbito do SFH.
12. No caso dos autos, o contrato foi assinado em 28/02/1991 e prevê a
incidência de juros nominais à taxa de 10,5% ao ano, estando, portanto,
dentro dos limites legais.
13. A teoria da imprevisão somente pode ser invocada se ocorrido um fato
extraordinário e imprevisível, que afete o equilíbrio contratual e gere
onerosidade excessiva.
14. A teoria da imprevisão não afasta, de maneira simplória, o princípio
da força obrigatória dos contratos, nem tampouco permite a revisão do
negócio jurídico somente porque a obrigação teria se tornado mais onerosa,
dentro dos limites previsíveis em relação ao tipo de contrato firmado.
15. O mutuário não demonstrou a ocorrência de nenhum fato superveniente
que pudesse justificar a revisão nos termos pretendidos. Precedente.
16. Não se discute a aplicação das medidas protetivas ao consumidor,
previstas no Código de Defesa do Consumidor, aos contratos de mútuo
habitacional vinculados ao SFH. Essa proteção, porém, não é absoluta e
deve ser invocada de forma concreta, comprovando o mutuário efetivamente
a existência de abusividade das cláusulas contratuais ou de excessiva
onerosidade da obrigação pactuada. Precedente.
17. Não tendo os apelantes comprovado a existência de eventual abuso no
contrato firmado, fica vedada a revisão do contrato mediante mera alegação
genérica nesse sentido.
18. O contrato estabelece o Plano de Equivalência Salarial por Categoria
Profissional - PES/CP na Cláusula Nona.
19. A Cláusula Décima Quarta consigna a necessidade de informação, por
escrito, de qualquer alteração na situação do mutuário, podendo a CEF,
não ocorrendo a comunicação, aplicar índices de atualização do saldo
devedor previstos no contrato. E o Parágrafo Segundo da referida cláusula
preceitua expressamente que "não comunicada à CEF a mudança da categoria
profissional, da data base ou do local de trabalho, em até 30 (trinta)
dias após a verificação do evento" os valores serão apurados de acordo
com outros critérios previstos no contrato.
20. É imposta ao mutuário a obrigação de comunicar ao agente financeiro
toda e qualquer alteração de sua categoria profissional ou local de
trabalho/empregador que possa modificar sua renda, com reflexos no reajuste
das prestações do mútuo contratado, em índice diverso daquele adotado
pela CEF.
21. Não consta dos autos nenhuma prova de que os mutuários tenham
diligenciado perante a ré objetivando a revisão dos índices aplicados,
o que autoriza a CEF a reajustar as prestações conforme o estabelecido na
Cláusula Décima Quarta. Precedente.
22. O seguro habitacional encontra-se entre as obrigações assumidas
contratualmente pelos mutuários, e tem natureza assecuratória, pois protege
as partes envolvidas durante a vigência do contrato de mútuo, que, em regra,
tem duração prolongada.
23. Não houve, por parte dos autores, demonstração da existência de abuso
na cobrança do prêmio do seguro, ou que tenha havido qualquer discrepância
em relação àquelas praticadas no mercado, merecendo reforma a sentença
também quanto a este ponto. Precedente.
24. Apelação dos autores improvida. Apelação da CEF provida.Decisão
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide
a Egrégia Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, por
unanimidade, negar provimento à apelação interposta pelos autores e dar
provimento à apelação interposta pela CEF, nos termos do relatório e
voto que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.
Data do Julgamento
:
24/05/2016
Data da Publicação
:
03/06/2016
Classe/Assunto
:
AC - APELAÇÃO CÍVEL - 1234637
Órgão Julgador
:
PRIMEIRA TURMA
Relator(a)
:
DESEMBARGADOR FEDERAL HÉLIO NOGUEIRA
Comarca
:
TRIBUNAL - TERCEIRA REGIÃO
Tipo
:
Acórdão
Indexação
:
VIDE EMENTA.
Fonte da publicação
:
e-DJF3 Judicial 1 DATA:03/06/2016
..FONTE_REPUBLICACAO:
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