TRF5 200681000180905
PENAL. CRIME DE CONTRABANDO (ART. 334, CPB). INTERNALIZAÇÃO DE MÁQUINA CAÇA-NÍQUEL. CONDUTA ATRIBUÍDA A SÓCIO DE EMPRESA. FALTA DE PROVA. AUTORIA NÃO COMPROVADA. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO IN DUBIO PRO REO E INAPLICABILIDADE DA TEORIA DO DOMÍNIO DO FATO.
1. O contrabando, primeira figura incriminada no tipo penal do art. 334, caput, consiste em importar ou exportar mercadoria proibida. O crime exige o dolo para sua configuração, consistente na vontade livre e consciente de importar ou exportar mercadoria proibida.
2. Tratando de sociedade composta por 3 (três) sócios, não se mostra razoável que apenas um tenha sido denunciado, enquanto que os demais sequer foram chamados à investigação, nem em co-autoria com o Apelante que, registre-se, era o que passava menos tempo no Brasil, por se tratar de estrangeiro residente na Espanha.
3. O que se extrai das provas é que resta a impossibilidade de enquadrar o autor no crime tipificado no caput do art. 334 do CP, pois não restou demonstrado a importação das referidas máquinas pelo Apelado, nem a ilegalidade a importação, pois há depoimento informando que as máquinas apreendidas foram adquiridas por outros sócios da empresa, já se encontrando nesta quando o Apelante ingressou na sociedade, além de possuírem notas fiscais.
4. Carência de prova para condenação. Aplicabilidade do princípio in dubio pro reo, pois, no Direito Penal, a dúvida, quando razoável, opera sempre em favor do acusado, sendo suficiente, por si só, para impedir o decreto condenatório.
5. Inaplicabilidade da teoria do domínio do fato, porquanto esta exige que o autor domine a realização do fato típico controlando a continuidade ou a paralisação da ação delituosa, enquanto que o partícipe não dispõe de poderes sobre a continuidade ou paralisação da ação típica.
6. No caso dos autos, não há prova cabal que o apelante realmente tinha o domínio do que pode ter sido praticado por seus sócios ou mesmo por seu preposto, enquanto dotado este de autonomia para esse tipo de decisão à frente da condução dos negócios em nome daquele. Assim, mostra-se aplicável o princípio do in dubio pro reo, a fim de absolver o Apelante, nos termos do parecer do Parquet.
7. Apelação provida para absolver o acusado.
(PROCESSO: 200681000180905, ACR5932/CE, DESEMBARGADOR FEDERAL FRANCISCO BARROS DIAS, Segunda Turma, JULGAMENTO: 20/07/2010, PUBLICAÇÃO: DJE 29/07/2010 - Página 403)
Ementa
PENAL. CRIME DE CONTRABANDO (ART. 334, CPB). INTERNALIZAÇÃO DE MÁQUINA CAÇA-NÍQUEL. CONDUTA ATRIBUÍDA A SÓCIO DE EMPRESA. FALTA DE PROVA. AUTORIA NÃO COMPROVADA. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO IN DUBIO PRO REO E INAPLICABILIDADE DA TEORIA DO DOMÍNIO DO FATO.
1. O contrabando, primeira figura incriminada no tipo penal do art. 334, caput, consiste em importar ou exportar mercadoria proibida. O crime exige o dolo para sua configuração, consistente na vontade livre e consciente de importar ou exportar mercadoria proibida.
2. Tratando de sociedade composta por 3 (três) sócios, não se mostra razoável que apenas um tenha sido denunciado, enquanto que os demais sequer foram chamados à investigação, nem em co-autoria com o Apelante que, registre-se, era o que passava menos tempo no Brasil, por se tratar de estrangeiro residente na Espanha.
3. O que se extrai das provas é que resta a impossibilidade de enquadrar o autor no crime tipificado no caput do art. 334 do CP, pois não restou demonstrado a importação das referidas máquinas pelo Apelado, nem a ilegalidade a importação, pois há depoimento informando que as máquinas apreendidas foram adquiridas por outros sócios da empresa, já se encontrando nesta quando o Apelante ingressou na sociedade, além de possuírem notas fiscais.
4. Carência de prova para condenação. Aplicabilidade do princípio in dubio pro reo, pois, no Direito Penal, a dúvida, quando razoável, opera sempre em favor do acusado, sendo suficiente, por si só, para impedir o decreto condenatório.
5. Inaplicabilidade da teoria do domínio do fato, porquanto esta exige que o autor domine a realização do fato típico controlando a continuidade ou a paralisação da ação delituosa, enquanto que o partícipe não dispõe de poderes sobre a continuidade ou paralisação da ação típica.
6. No caso dos autos, não há prova cabal que o apelante realmente tinha o domínio do que pode ter sido praticado por seus sócios ou mesmo por seu preposto, enquanto dotado este de autonomia para esse tipo de decisão à frente da condução dos negócios em nome daquele. Assim, mostra-se aplicável o princípio do in dubio pro reo, a fim de absolver o Apelante, nos termos do parecer do Parquet.
7. Apelação provida para absolver o acusado.
(PROCESSO: 200681000180905, ACR5932/CE, DESEMBARGADOR FEDERAL FRANCISCO BARROS DIAS, Segunda Turma, JULGAMENTO: 20/07/2010, PUBLICAÇÃO: DJE 29/07/2010 - Página 403)
Data do Julgamento
:
20/07/2010
Classe/Assunto
:
Apelação Criminal - ACR5932/CE
Órgão Julgador
:
Segunda Turma
Relator(a)
:
Desembargador Federal Francisco Barros Dias
Comarca
:
Tribunal Regional Federal - 5ª Região
Código do documento
:
233516
PublicaÇÕes
:
Diário da Justiça Eletrônico TRF5 (DJE) - 29/07/2010 - Página 403
DecisÃo
:
UNÂNIME
Revisor
:
Desembargador Federal Paulo Gadelha
ReferÊncias legislativas
:
CP-40 Codigo Penal LEG-FED DEL-2848 ANO-1940 ART-334 (CAPUT) ART-33 PAR-2 ART-92 INC-2
Votantes
:
Desembargador Federal Francisco Barros Dias
Desembargador Federal Paulo Gadelha
Desembargador Federal Francisco Wildo
Mostrar discussão