TJPA 0000184-93.2000.8.14.0003
PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARÁ COORDENADORIA DE RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS E ESPECIAIS PROCESSO Nº 0000184-93.2000.814.003 RECURSO ESPECIAL RECORRENTE: BANCO DO BRASIL S/A RECORRIDO: ELIAS GOMES RAMOS e outros Trata-se de recurso especial interposto por BANCO DO BRASIL S/A, com fundamento no artigo 105, III, ¿a¿ e ¿c¿ da Constituição Federal, contra o acórdão no 163.782, cuja ementa segue transcrita: Acórdão 163.782(fls. 88/90) APELAÇÃO CÍVEL - EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL - EXTINÇÃO DO FEITO POR ABANDONO DE CAUSA - INTIMAÇÃO PESSOAL PRÉVIA - OBSERVÂNCIA AO DISPOSTO NO ART. 267, §1º DO CPC/73 (CORRESPONDENTE AO ART. 485, §1º DO CPC/2015) - RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. 1-In casu, observa-se que o Juízo de Piso agiu nos termos do art. 267, §1º do CPC/73 (correspondente ao art. 485, §1º do CPC/2015), considerando norma de ordem pública (imperativa), tendo determinado a intimação pessoal do apelante, para somente após tal procedimento, ter extinto o processo sem resolução do mérito, com esteio no abandono da causa. 2-Sentença que não merece reparos. 3-Recurso conhecido e improvido, pelos fundamentos constantes do voto. (2016.03497508-26, 163.782, Rel. MARIA DE NAZARE SAAVEDRA GUIMARAES, Órgão Julgador 4ª CAMARA CIVEL ISOLADA, Julgado em 2016-08-29, Publicado em 2016-09-01) Em suas razões recursais, o recorrente alega violação ao artigo 485, III do Código de Processo Civil, apontando que, para sua escorreita aplicação, há necessidade de observar o art. 133 da CF. Alega violação à súmula 240 do STJ e ainda divergência jurisprudencial. Preparo realizado à fl. 101/102 Não houve apresentação de contrarrazões, conforme certidão de fls. 103. É o breve relatório. Decido. DA SUPOSTA OFENSA AO ART. 485, III DO CPC/2015 E À SÚMULA 240 DO STJ. O recorrente indica ofensa ao artigo 485, III do Código de Processo Civil/2015 alegando que o disposto no mencionado artigo deve ser interpretado em conjunto com o art. 133 da Carta Magna. Pugna que, para o reconhecimento de abandono da causa, é necessária a intimação pessoal do exequente, e que não houve tal intimação na pessoa do advogado. No que concerne a este tema, ressalto que o acórdão recorrido (nº 163.782) assentou sua base de convicção justamente nas certidões de folhas 26/27 que confirmam o recebimento da intimação pessoal atestada na folha 25, mantendo assim a sentença que julgou extinto o processo por abandono da causa. Extraio parte da decisão objurgada: ¿(...) Ressalta-se, que no presente caso, fora cumprido regularmente o que dispõe o parágrafo único do art. 267 (correspondente ao parágrafo único do art. 485 do CPC/2015), isto é, foi determinada a intimação pessoal da parte autora para que adotasse as medidas necessárias para o prosseguimento do feito, tendo a apelante sido devidamente intimada, conforme se verifica pelas certidões de fls. 26 e 27 dos autos. Ressalta-se que o art. 267, inciso III e §1º do CPC (correspondente ao art. 485, inciso III e §1º do CPC/2015) permite ao magistrado declarar extinto o processo sem resolução mérito, quando, intimada a parte pessoalmente, deixa de cumprir a diligência determinada e, se no caso em comento, os autores/ apelantes foram intimadas pessoalmente, a sentença ora vergastada não merece reparos. (fl. 89 v.) Sobre a extinção do processo por abandono da causa e a necessidade de intimação pessoal, assim se manifesta a Corte Superior: AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PROCESSO CIVIL. BUSCA E APREENSÃO. EXTINÇÃO DO PROCESSO POR ABANDONO. INTIMAÇÃO PESSOAL. ART. 267, III, § 1º, DO CPC/1973. ENDEREÇO INFORMADO NA PETIÇÃO INICIAL. AGRAVO IMPROVIDO. 1. A jurisprudência do STJ tem entendimento de que é lícita a extinção do processo quando a intimação do autor for encaminhada ao endereço informado na inicial e seja devidamente comprovado o recebimento do comunicado. 2. A alteração das conclusões adotadas pela Corte de origem demandaria, necessariamente, novo exame do acervo fático-probatório constante dos autos, providência vedada em recurso especial, conforme o óbice previsto no enunciado sumular n. 7 deste Tribunal Superior. 3. Agravo interno improvido. (AgInt no AREsp 970.601/PR, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 06/10/2016, DJe 20/10/2016). AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. EXTINÇÃO DE EXECUÇÃO. INTIMAÇÃO PESSOAL DO EXEQUENTE. REGULARIDADE. APLICAÇÃO DA SÚMULA 7/STJ. 1.- "Nos casos que ensejam a extinção do processo sem julgamento do mérito, por negligência das partes ou por abandono da causa (art. 267, incisos II e III, do CPC), o indigitado normativo, em seu § 1º, determina que a intimação pessoal ocorra na pessoa do autor, a fim de que a parte não seja surpreendida pela desídia do advogado" (AgRg no AREsp 24.553/MG, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 20/10/2011, DJe 27/10/2011). 2.- O Tribunal de origem informa que houve a regular intimação pessoal da parte autora, que se manteve inerte, e a adoção de entendimento diverso por este Tribunal quanto ao ponto demandaria reexame probatório, o que é vedado a teor da Súmula 7/STJ. (AgRg no AREsp 339.302/RS, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 20/08/2013, DJe 05/09/2013) Em relação à alegada necessidade de ser ¿na pessoa do advogado¿, como quer fazer crer o recorrente ao indicar o artigo 133 da Carta Magna, tem-se os seguintes precedentes: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. COMPROVAÇÃO DA TEMPESTIVIDADE DO RECURSO ESPECIAL EM AGRAVO REGIMENTAL. SUSPENSÃO DO EXPEDIENTE FORENSE. POSSIBILIDADE. EXTINÇÃO DO PROCESSO. ABANDONO DA CAUSA. NECESSIDADE DE INTIMAÇÃO PESSOAL DO AUTOR. DESNECESSIDADE DE INTIMAÇÃO DO ADVOGADO. JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL. SÚMULA N. 83/STJ. (...) 2. Para a extinção da ação por abandono da causa, é necessária a intimação pessoal da parte autora, sendo descabida a intimação de seu advogado. Incidência da Súmula n. 83/STJ. 3. Embargos de declaração acolhidos. (EDcl no AgRg no AREsp 205.965/MA, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, TERCEIRA TURMA, julgado em 04/02/2016, DJe 19/02/2016) PROCESSUAL CIVIL. EXTINÇÃO DO PROCESSO POR NEGLIGÊNCIA DAS PARTES. NECESSIDADE DE INTIMAÇÃO PESSOAL. ART. 267, INCISO II E § 1º, DO CPC. 1. Conforme o disposto no art. 267, inciso II, e § 1º, do CPC, extingui-se o processo, sem resolução de mérito, quando ficar parado por mais de um ano por negligência das partes. Contudo, a intimação só ocorrerá se, intimada pessoalmente, a parte não suprir a falta em 48 horas. 2. O art. 267, § 1º, do CPC é norma cogente ou seja, é dever do magistrado, primeiramente, intimar a parte para cumprir a diligência que lhe compete, e só então, no caso de não cumprimento, extinguir o processo. A intimação pessoal deve ocorrer na pessoa do autor, a fim de que a parte não seja surpreendida pela desídia do advogado. (REsp 1463974/PR, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 11/11/2014, DJe 21/11/2014) Em relação à alegada contrariedade à Sumula 240 do STJ, tem-se que incabível, de acordo com o enunciado da Súmula 518 do STJ: para fins do art. 105, III, a, da Constituição Federal, não é cabível recurso especial fundado em alegada violação de enunciado de súmula. Porém, mesmo se possível tal admissão, o entendimento atual aponta para a necessidade de haver Embargos à Execução nos casos de extinção da ação de execução por abandono. In casu, a parte requerida na execução não ingressou com os Embargos. Vide: REsp 1355277 / MG; REsp 261789 / MG. Ilustrativamente: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. EXTINÇÃO DO PROCESSO. ABANDONO DE CAUSA. 1. VALIDADE DA INTIMAÇÃO PESSOAL. ENDEREÇO FORNECIDO PELA AUTORA NA INICIAL. AUSÊNCIA DE INFORMAÇÃO AO JUÍZO DE EVENTUAL MUDANÇA. 2. DESNECESSIDADE DE REQUERIMENTO DO EXECUTADO PARA EXTINÇÃO DA EXECUÇÃO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 83/STJ. 3. ASSERTIVA DE QUE NÃO HOUVE DE DE EFETIVA INTIMAÇÃO. REEXAME DE FATOS E PROVA. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/STJ. 4. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. É válida a intimação da autora promovida no endereço declinado por ela nos autos, a fim extinguir o processo por abandono de causa, porquanto a parte e seu patrono são responsáveis pela atualização do endereço para o qual sejam dirigidas as intimações necessárias, devendo suportar os efeitos decorrentes de sua desídia. 2. É necessário o requerimento do executado para a extinção da execução somente nos casos em que a execução é embargada. 3. A assertiva de que não foi efetivada intimação, reclama reexame de prova e fatos, o que é vedado na instância especial pela Súmula 7 desta Corte. 4. Agravo regimental desprovido. (AgRg no REsp 1495046/MG, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 01/09/2016, DJe 12/09/2016) Observa-se que o entendimento da 4ª Câmara Cível Isolada coaduna-se aos moldes da jurisprudência pacífica do Superior Tribunal de Justiça, atraindo assim a incidência da Súmula nº 83: "não se conhece do recurso especial pela divergência, quando a orientação do Tribunal se firmou no mesmo sentido da decisão recorrida". Tal enunciado é plenamente aplicável ao Recurso Especial interposto com base na alínea a do permissivo constitucional. Nesse sentido: STJ, AgRg no REsp 1427074/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, DJe de 22/04/2014; STJ, AgRg no AREsp 322.523/RJ, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, DJe de 11/10/2013). Ademais, desconstituir a premissa que fundamentou o acordão vergastado demandaria uma nova análise do acervo fático dos autos, o que encontra óbice no enunciado sumular nº 7 do Superior Tribunal de Justiça. Vide: AgRg no AREsp 238795 / SP, AgRg no REsp 1387858 / RS, AgRg no AREsp 514086 / DF, AgRg no AREsp 336316 / SP. Da divergência jurisprudencial Com relação à divergência jurisprudencial fundamentada na alínea 'c', do inciso III, do art. 105, da Constituição Federal, o requerente somente faz referência à alegada divergência, deixando de considerar as determinações previstas no art. 1.029, §1º do CPC/2015 e art. 255 e parágrafos do RISTJ, que exigem a transcrição dos trechos dos arestos divergentes e o cotejo analítico entre as circunstâncias que identifiquem ou assemelhem os casos confrontados. A comprovação da divergência, como manda a lei e o Regimento Interno do STJ - RISTJ é requisito específico de admissibilidade do recurso especial fundado na alínea ¿c¿. Essa é a orientação do Superior Tribunal de Justiça, cuja decisão proferida se transcreve: PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. DISSIDIO JURISPRUDENCIAL NÃO COMPROVADO. DANO MORAL. CARACTERIZAÇÃO DEPENDENTE DE REEXAME DE PROVAS. SÚMULA 7/STJ. 1. A falta de demonstração da similitude fática entre os julgados confrontados, mediante o devido cotejo analítico, descaracteriza a existência da divergência jurisprudencial na forma dos arts. 255 do RISTJ e 541 do CPC. (...) (AgRg no REsp 1352544/SC, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado em 18/12/2014, DJe 06/02/2015). Diante do exposto, ante a incidência das súmulas nº 83 e n° 7 da Corte Superior, e pela não obediência aos ditames do regramento pela alínea ¿c¿ do permissivo constitucional, nego seguimento ao recurso especial, pelo juízo regular de admissibilidade. À Secretaria para as providências de praxe Belém, 16/01/2017 CONSTANTINO AUGUSTO GUERREIRO Desembargador Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Pará (4.9)
(2017.00129943-25, Não Informado, Rel. MARIA DE NAZARE SAAVEDRA GUIMARAES, Órgão Julgador 4ª CAMARA CIVEL ISOLADA, Julgado em 2017-03-07, Publicado em 2017-03-07)
Ementa
PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARÁ COORDENADORIA DE RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS E ESPECIAIS PROCESSO Nº 0000184-93.2000.814.003 RECURSO ESPECIAL RECORRENTE: BANCO DO BRASIL S/A RECORRIDO: ELIAS GOMES RAMOS e outros Trata-se de recurso especial interposto por BANCO DO BRASIL S/A, com fundamento no artigo 105, III, ¿a¿ e ¿c¿ da Constituição Federal, contra o acórdão no 163.782, cuja ementa segue transcrita: Acórdão 163.782(fls. 88/90) APELAÇÃO CÍVEL - EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL - EXTINÇÃO DO FEITO POR ABANDONO D...
Data do Julgamento
:
07/03/2017
Data da Publicação
:
07/03/2017
Órgão Julgador
:
4ª CAMARA CIVEL ISOLADA
Relator(a)
:
MARIA DE NAZARE SAAVEDRA GUIMARAES
Mostrar discussão