ADMINISTRATIVO. APELAÇÃO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. PROCESSO RETORNOU DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA PARA NOVO JULGAMENTO QUANTO À TIPIFICAÇÃO DA CONDUTA ILÍCITA COMO ATO ÍMPROBO. IRREGULARIDADES EM PROCEDIMENTO LICITATÓRIO. ART.
10, VIII, DA LEI 8.429/92. DANO PRESUMIDO ("IN RE IPSA"). SANÇÕES PREVISTAS NO ART. 12, II, DA LEI 8.429/92. REVISÃO DA DOSIMETRIA. APURAÇÃO DO QUANTUM RESSARCITÓRIO NA FASE DE LIQUIDAÇÃO DO JULGADO. SENTENÇA REFORMADA EM PARTE.
1. Trata-se de ação civil pública de improbidade administrativa cujos autos retornaram do Superior Tribunal de Justiça após ter sido provido em parte o recurso especial interposto pelo MPF, tendo aquela Corte Superior determinado o novo julgamento do
feito por este Tribunal a quo, considerando-se as seguintes premissas jurídicas: a) o desrespeito aos princípios da Administração Pública é suficiente para ensejar a improbidade administrativa, na forma do art. 11, caput, da Lei 8.429/92; e b) o
prejuízo decorrente da dispensa indevida de licitação é presumido (in re ipsa), consubstanciado na impossibilidade da contratação pela Administração da melhor proposta.
2. De início, deve ser registrado o fato de que o acórdão proferido por esta Corte foi reformado apenas em parte pelo Superior Tribunal de Justiça, mantendo-se incólume, portanto, o entendimento esposado por este Tribunal às fls. 2608/2609 no que diz
respeito à ilegitimidade passiva dos corréus BERNARDO DE LIMA BARBOSA e JOSÉ VIANA DE BRITO.
3. O entendimento atualmente esposado pelo Superior Tribunal de Justiça, a quem é atribuído o papel de órgão judicante uniformizador da interpretação da legislação federal (art. 105, III, da Constituição), é no sentido de que a dispensa indevida de
licitação provoca dano ao erário, uma vez que, nessa hipótese, a Administração deixa de contratar a melhor proposta, dando ensejo ao chamado dano in re ipsa, decorrente da própria ilegalidade do ato praticado.
4. Na hipótese em apreço, as robustas provas existentes nos autos demonstram que não só restou frustrada a ilicitude dos procedimentos licitatórios realizados para a aplicação dos recursos oriundos do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à
Fome e do Ministério do Desenvolvimento Agrário, bem como também ficou caracterizada a dispensa indevida de licitação.
5. Muito embora o MPF tenha pleiteado nesta ação o enquadramento dos supracitados ilícitos como atos de improbidade descritos no art. 11, caput, e no art. 10, VIII da Lei 8.429/92, aplica-se aqui o princípio da consunção para que prevaleça a norma de
nível punitivo mais elevado (art. 10, VIII, da Lei 8.429/92). Ademais, a sentença enquadrou as condutas no art. 10 da Lei 8.429/92 e no art. 11 do mesmo diploma legal, razão pela qual possui precedência o exame da ocorrência de dano ao erário.
6. Conquanto seja reconhecida, no caso concreto, a ocorrência de dano in re ipsa e, por conseguinte, a prática de ato ímprobo tipificado no art. 10, VIII, da Lei 8.429/92, a quantificação do dano deve ficar reservada para a fase de liquidação do
julgado, à medida que não há nos autos, atualmente, elementos que permitam uma quantificação exata do prejuízo causado aos cofres públicos, não podendo ser considerado como dano ao erário o valor total das aquisições e serviços contratados sem prévia
licitação ou com irregularidades no procedimento licitatório, pena de haver, em prol da Administração, enriquecimento sem causa, tendo em vista, igualmente, a inexistência de provas de que tais aquisições/serviços não foram realizadas/prestados.
7. No tocante à sanção de multa civil aplicada na sentença para cada codemandado, deve ela ser mantida, passando o seu valor, contudo, a corresponder a uma vez o montante do dano que será apurado na fase de liquidação do julgado.
8. Por outro lado, não deve ser imposta aos ora recorrentes a sanção de proibição de contratar com o Poder Público ou de receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da
qual seja sócio majoritário, tendo em vista que a aplicação dessa penalidade é somente adequada para pessoas físicas ou jurídicas que firmaram contrato com o Poder Público, participando ou se beneficiando dos atos de improbidade, não sendo esse o caso
do agente público faltoso, cuja conduta ilícita foi praticada no exercício do cargo ou função pública. Precedente: 00056510320134058400, Rel. Des. Federal RUBENS DE MENDONÇA CANUTO, Quarta Turma, j. 13/03/2018, DJE 23/03/2018, p. 220.
9. Apelações parcialmente providas para, enquadrando-se as condutas dos corréus CARLOS FREDERICO DE LEMOS MOREIRA LIMA, JAQUELINE MORAES DA FONSECA, LÚCIA DE FÁTIMA ANDRADE MELO e SERGIO BARRETO DE MIRANDA como ato ímprobo descrito no art. 10, VIII, da
Lei 8.429/92, determinar que o quantum ressarcitório seja apurado na fase de liquidação do julgado, mantidas a multa civil, correspondente a uma vez o valor do dano a ser apurado, e as demais sanções previstas no art. 12, II, da Lei 8.429/92, na forma
aplicada pela sentença, excluindo-se, em prol dos recorrentes, a penalidade de proibição de contratar com o Poder Público ou de receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica
da qual seja sócio majoritário.
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ADMINISTRATIVO. APELAÇÃO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. PROCESSO RETORNOU DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA PARA NOVO JULGAMENTO QUANTO À TIPIFICAÇÃO DA CONDUTA ILÍCITA COMO ATO ÍMPROBO. IRREGULARIDADES EM PROCEDIMENTO LICITATÓRIO. ART.
10, VIII, DA LEI 8.429/92. DANO PRESUMIDO ("IN RE IPSA"). SANÇÕES PREVISTAS NO ART. 12, II, DA LEI 8.429/92. REVISÃO DA DOSIMETRIA. APURAÇÃO DO QUANTUM RESSARCITÓRIO NA FASE DE LIQUIDAÇÃO DO JULGADO. SENTENÇA REFORMADA EM PARTE.
1. Trata-se de ação civil pública de improbidade administrativa cujos autos retornaram do Superior Tribunal de Justiça...
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVOS INTERNOS. DECISÃO QUE INADMITIU RECURSO EXTRAORDINÁRIO. NÃO CONHECIMENTO. DECISÃO QUE EM PARTE INADMITIU E EM PARTE NEGOU SEGUIMENTO A RECURSO ESPECIAL. CONHECIMENTO EM PARTE. ART. 1.030, PARÁGRAFO 2º, DO CPC. EXECUÇÃO FISCAL.
EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. PESSOA JURÍDICA. ILEGITIMIDADE PARA RECORRER NA DEFESA DE INTERESSE DO SÓCIO. RESP 1.347.627/SP. INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 3°, PARÁGRAFO 1°, DA LEI 9.718/1998. NÃO AFASTAMENTO AUTOMÁTICO DA PRESUNÇÃO DE CERTEZA E
LIQUIDEZ DA CDA. RESP 1.386.229/PE.
1. Agravos internos interpostos pela pessoa jurídica executada em face de duas decisões da Vice-Presidência, a primeira que inadmitiu recurso extraordinário e a segunda que em parte inadmitiu e em parte negou seguimento ao recurso especial.
2. Agravo interno, em relação à decisão que inadmitiu o recurso extraordinário, defendendo que estariam demonstrados os requisitos para a admissão do recurso, tendo em vista que o acórdão recorrido teria afrontado o disposto no art. 5º, XXXIV, "a",
LIII, LIV e LV da Constituição Federal.
3. Quanto ao recurso especial: a) a decisão agravada o inadmitiu na parte em que apontava ofensa ao art. 1.022 do CPC e, também, em relação à insurgência contra o acórdão no ponto em que considerou não demonstrada, no caso concreto, o alargamento da
base de cálculo do PIS e da COFINS, inclusive em quanto à inclusão do ICMS; e b) negou-lhe seguimento no quanto se insurge contra o acórdão por haver considerado a ilegitimidade da pessoa jurídica para defender em juízo direito do sócio, nos termos do
REsp 1.347.627/SP, submetido ao rito dos recursos repetitivos.
4. Agravo interno, interposto da decisão de admissibilidade do recurso especial, que defende a desnecessidade de dilação probatória e, portanto, a não incidência da Súmula 7 do STJ ao caso dos autos, bem assim a violação, pelo acórdão recorrido, ao art.
3º, parágrafo 1º, da Lei 9.718/98, cuja inconstitucionalidade já fora reconhecida pelo STF, além da ofensa aos artigos 202, III e 203 do CTN, e art. 2º, parágrafo 5º, III, da Lei 6.830/80, pois as CDAs que instruem a execução em curso teriam resultado
de tributos cujos fatos geradores ocorreram na vigência da Lei 9.718/98.
5. O agravo interno do art. 1.030, parágrafo 2º, do CPC é modalidade recursal apta apenas a atacar decisão do presidente ou vice-presidente de tribunal que nega seguimento a recurso extraordinário discutindo questão a respeito da qual o STF tenha
reconhecido a inexistência de repercussão geral, ou que nega seguimento a recurso especial ou extraordinário interposto de acórdão em conformidade com entendimento proferido em julgamento submetido ao regime de recursos repetitivos ou de repercussão
geral, não se prestando a atacar decisão que inadmite os recursos extremos.
6. Não comporta conhecimento, portanto, o agravo interno interposto da decisão que inadmitiu o recurso extraordinário, bem assim o agravo interno interposto da decisão de admissibilidade do recurso especial, na parte em que o inadmitiu, restando a
examinar, apenas, a insurgência recursal no ponto em que impugnou a negativa de seguimento ao recurso especial.
7. Na parte conhecida, não procede o agravo interno. Observa-se que o acórdão do Tribunal manteve a decisão de primeira instância que, examinando exceção de pré-executividade, rejeitou as alegações de excesso de execução e iliquidez do título executivo,
determinando o prosseguimento da execução fiscal contra o particular.
8. O acórdão desafiado por recurso especial, da Quarta Turma, deixou de examinar pedido formulado pela pessoa jurídica com vistas à reforma da decisão quanto à penhora de bens do sócio corresponsável, ao entendimento de que faltaria legitimidade à
sociedade para demandar em favor de um de seus sócios. Verifica-se, nesse aspecto, a perfeita consonância entre o acórdão e o entendimento do STJ sobre o tema, fixado por ocasião do julgamento do REsp 1.347.627/SP, submetido ao rito dos recurso
repetitivos.
9. No que se refere ao alargamento da base de cálculo da COFINS, conquanto tenha havido a inadmissão do recurso especial neste ponto, não cabendo, como já esclarecido, o reexame desta decisão, por meio do presente agravo interno, verifica-se que o
acórdão considerou não demonstrada a inclusão do ICMS na base de cálculo do referido tributo, observando que incumbe ao executado demonstrar, por meio de embargos à execução, com a devida garantia do juízo, que houve o alargamento da base de cálculo da
COFINS para além do conceito de faturamento em sentido estrito ou da receita da atividade fim, passando a englobar outras receitas com previsão no dispositivo do parágrafo 1º, art. 3º, da Lei 9.718/98, cuja inconstitucionalidade fora reconhecida pela
Suprema Corte.
10. Entendeu-se, assim, que a mera afirmação de iliquidez da CDA formulada em exceção de pré-executividade, sem a demonstração inequívoca de alargamento da base de cálculo na forma explicitada, não se apresenta causa suficiente para elidir a presunção
de certeza e liquidez do título executivo, estando a posição adotada pelo acórdão recorrido, em princípio, conforme a orientação firmada pelo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do REsp 1.386.229/PE, segundo a qual "A declaração de
inconstitucionalidade do art. 3°, parágrafo 1°, da Lei 9.718/1998, pelo STF, não afasta automaticamente a presunção de certeza e de liquidez da CDA, motivo pelo qual é vedado extinguir de ofício, por esse motivo, a Execução Fiscal". Agravo interno,
interposto da decisão que inadmitiu o RE, não conhecido. Agravo interno, interposto da decisão que negou seguimento e inadmitiu o REsp, conhecido, em parte, e desprovido.
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PROCESSUAL CIVIL. AGRAVOS INTERNOS. DECISÃO QUE INADMITIU RECURSO EXTRAORDINÁRIO. NÃO CONHECIMENTO. DECISÃO QUE EM PARTE INADMITIU E EM PARTE NEGOU SEGUIMENTO A RECURSO ESPECIAL. CONHECIMENTO EM PARTE. ART. 1.030, PARÁGRAFO 2º, DO CPC. EXECUÇÃO FISCAL.
EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. PESSOA JURÍDICA. ILEGITIMIDADE PARA RECORRER NA DEFESA DE INTERESSE DO SÓCIO. RESP 1.347.627/SP. INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 3°, PARÁGRAFO 1°, DA LEI 9.718/1998. NÃO AFASTAMENTO AUTOMÁTICO DA PRESUNÇÃO DE CERTEZA E
LIQUIDEZ DA CDA. RESP 1.386.229/PE.
1. Agravos internos interpostos pela pessoa jurídica executada e...
Data do Julgamento:13/09/2017
Data da Publicação:15/09/2017
Classe/Assunto:AGIVP - Agravo Interno de Vice-Presidência - 390
CONSTITUCIONAL E INDÍGENA. REMESSA OFICIAL E APELAÇÕES. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IDENTIFICAÇÃO E DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS. OBRIGAÇÃO IMPOSTA CONSTITUCIONALMENTE. ART. 231, DA CF/88. ART. 67, DO ADCT. LEI Nº 6.001/73. DECRETO Nº 1.775/96. LEGITIMIDADE
PASSIVA AD CAUSAM DA FUNAI E DA UNIÃO. DESCUMPRIMENTO POR OMISSÃO. RECONHECIMENTO. FIXAÇÃO DE PRAZO PARA A CONCLUSÃO DO PROCEDIMENTO. NECESSIDADE. TRANSCURSO DE MAIS DE VINTE ANOS DESDE A PROMULGAÇÃO DO TEXTO CONSTITUCIONAL SEM A IMPLEMENTAÇÃO DA
POLÍTICA PÚBLICA INDIGENISTA. DANOS MORAIS COLETIVOS NÃO CONFIGURADOS.
1. Remessa oficial e as apelações interpostas pelo MPF (autor) e pela UNIÃO (ré, juntamente com a FUNAI) contra sentença que julgou parcialmente procedente o pedido de ação civil pública, condenando as demandadas em obrigação de fazer, consistente na
identificação, delimitação e demarcação da terra indígena Fulni-ô de Águas Belas/PE, nos prazos a serem fixados em fase de cumprimento de sentença, rejeitando, contudo, a pretensão autoral de condenação das rés em indenização por danos morais
coletivos.
2. O art. 231, da CF/88, atribui à UNIÃO a competência de demarcar as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios. O fato de o Decreto nº 1.775/96 incumbir a FUNAI de realizar os procedimentos iniciais do processo demarcatório, instruindo-o, para que
o Ministério da Justiça decida, não retira a legitimidade da UNIÃO de integrar o polo passivo da demanda em que se busca a implementação da demarcação. Frise-se que, se a FUNAI não atua, na forma devida, na proteção dos indígenas, a UNIÃO passa a ter o
dever de agir, cabendo-lhe, a propósito, adotar todas as medidas necessárias à proteção da posse dos silvícolas sobre as terras que ocupam, segundo o art. 36, da Lei nº 6.001/73. Preliminar de ilegitimidade passiva da UNIÃO rejeitada.
3. Quanto ao interesse processual do autor, é manifesto, em termos de necessidade e de utilidade da prestação jurisdicional almejada, diante da não finalização do processo de demarcação das terras indígenas até a presente data. É certo que o STF definiu
que o marco temporal previsto no art. 67, do ADCT da CF/88, "se trata de um prazo programático para conclusão de demarcações de terras indígenas dentro de um período razoável" (Primeira Turma, RMS 26212/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em
03.05.2011). Por prazo programático não se pode entender prazo indefinido ou infindo, mas sim o prazo que, devidamente contextualizado e em atenção à complexidade da situação, é possível de ser realizado, em termos razoáveis. In casu, há mais de vinte
anos, o grupo indígena FULNI-Ô aguarda, sem resposta, a identificação, a delimitação e a demarcação das terras por ele tradicionalmente ocupadas, em atendimento à determinação do art. 67, do ADCT da CF/88, e segundo as regras pertinentes (Lei nº
6.001/73 e Decreto nº 1.775/96), sendo patente a mora administrativa, por tempo excessivo, e restando demonstrado o interesse processual do autor.
4. Não configura ingerência indevida do Poder Judiciário na discricionariedade administrativa sua atuação no sentido de impor à Administração Pública omissa o cumprimento de política pública constitucionalmente definida e suficientemente detalhada pela
legislação infraconstitucional, notadamente quando já iniciada atuação administrativa reveladora da conveniência e da oportunidade da implementação da medida, sem que tenha tido prosseguimento, por ineficiência do aparato do Estado.
5. No caso concreto, em outubro de 1993, findou o prazo de cinco anos previsto no ADCT, para a conclusão da demarcação das terras indígenas. Até aquele momento, nenhuma providência havia sido tomada, em relação à identificação e à demarcação das terras
do grupo indígena Fulni-ô de Águas Belas/PE. Apenas em 1995, houve um primeiro movimento da Administração Pública, no sentido de adoção de algumas providências voltadas à demarcação. Com essa movimentação, o Poder Público sinalizou a conveniência e a
oportunidade da medida, de modo que não é correto afirmar que o Poder Judiciário está se antecipando ao juízo administrativo, quanto a se tratar de momento conveniente e oportuno. Depois de idas e vindas e da constituição de vários grupos técnicos e de
trabalho, a última remontando a 2009, além da existência de reunião ocorrida em 2012 com lideranças indígenas, o processo demarcatório não chegou, ainda, ao seu término.
6. Constata-se, portanto, a demora patente da Administração Pública na delimitação das terras indígenas em comento, em descumprimento ao comando constitucional. Esse atraso tem servido a incrementar os conflitos de terras na região, levando
instabilidade e violência à comunidade, como destacado na sentença. Portanto, não merece reforma a sentença, na parte em que condenou os entes públicos omissos a cumprir a obrigação de fazer consistente em identificar, delimitar e demarcar a terra
indígena Fulni-ô.
7. No entanto, a sentença merece reforma na parte que deixou para fixar prazos na fase de cumprimento. A demora excessiva em cumprir o preceito constitucional e a gravidade das consequências decorrentes da prolongada omissão administrativa, sobretudo na
perspectiva da incerteza, da insegurança, da instabilidade social e do acirramento das disputas por terras, da violência e do ódio, aconselham que o Poder Judiciário fixe um prazo máximo razoável para conclusão do processo demarcatório. Sem perder de
vista a complexidade própria do processo demarcatório, a jurisprudência tem definido como tempo razoável o prazo de vinte e quatro meses para a conclusão dos procedimentos dessa natureza, contados a partir do trânsito em julgado do comando sentencial.
Precedente do STJ.
8. É de se indeferir o pleito de condenação da UNIÃO e da FUNAI a indenizar por supostos danos morais coletivos, em razão da demora, porque, bem ou mal, a demarcação pode, ou não, ocorrer e pode abranger área menor ou maior do que a esperada. Assim,
mantém-se a sentença nessa parte.
9. Remessa oficial e apelação da UNIÃO desprovidas. Apelação do MPF parcialmente provida para a fixação de prazo de cumprimento da obrigação de fazer.
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CONSTITUCIONAL E INDÍGENA. REMESSA OFICIAL E APELAÇÕES. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IDENTIFICAÇÃO E DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS. OBRIGAÇÃO IMPOSTA CONSTITUCIONALMENTE. ART. 231, DA CF/88. ART. 67, DO ADCT. LEI Nº 6.001/73. DECRETO Nº 1.775/96. LEGITIMIDADE
PASSIVA AD CAUSAM DA FUNAI E DA UNIÃO. DESCUMPRIMENTO POR OMISSÃO. RECONHECIMENTO. FIXAÇÃO DE PRAZO PARA A CONCLUSÃO DO PROCEDIMENTO. NECESSIDADE. TRANSCURSO DE MAIS DE VINTE ANOS DESDE A PROMULGAÇÃO DO TEXTO CONSTITUCIONAL SEM A IMPLEMENTAÇÃO DA
POLÍTICA PÚBLICA INDIGENISTA. DANOS MORAIS COLETIVOS NÃO CONFIGURADOS.
1. Remessa oficial e as apelaç...
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. MUNICÍPIO DE BARCELONA-RN. PRELIMINAR DE NULIDADE DA SENTENÇA AFASTADA. EX-PREFEITO E CONSTRUTORA RESPONSÁVEL PELA EXECUÇÃO DA OBRA. IRREGULARIDADES NA EXECUÇÃO DO CONVÊNIO Nº 1528/2001 CELEBRADO COM A
FUNASA. PROMOÇÃO DE MELHORIAS SANITÁRIAS DOMICILIARES PARA O CONTROLE DA DOENÇA DE CHAGAS. ENRIQUECIMENTO ILÍCITO E PREJUÍZO AO ERÁRIO. ARTIGOS 9º, XI, 10, E XI, DA LEI Nº 8.429/92. ELEMENTO SUBJETIVO CARACTERIZADO. PROVAS CONTUNDENTES. SANÇÕES QUE
ATENDEM AOS PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E DA RAZOABILIDADE.
1. Apelações de HOREBE COMERCIAL E SERVIÇOS LTDA e de CARLOS ZAMITH DE SOUZA em face da sentença que reconheceu como atos de improbidade administrativa os praticados pelos réus. Foram constatadas irregularidades que impossibilitaram o alcance do
objetivo do Convênio nº 1528/2001, firmado entre o Município de Barcelona-RN e a FUNASA, cujo objeto era a realização de melhorias sanitárias domiciliares para o controle da Doença de Chagas. Os réus foram condenados pela prática de atos de improbidade
previstos no art. 10, I e XI, da Lei nº 8.429/92, e, no caso do ex-prefeito, também no art. 9º, XI, da mesma lei, agindo todos com evidente elemento subjetivo (dolo ou culpa). Foram aplicadas as seguintes penas do art. 12 da Lei nº 8.429/92: I.
Ex-prefeito CARLOS ZAMITH DE SOUZA: a) perda da função pública; b) suspensão dos direitos políticos por 8 (oito) anos; c) pagamento de multa civil no valor do acréscimo patrimonial auferido; e d) proibição de contratar com o Poder Público por 10(dez)
anos. II. HOREBE COMERCIAL E SERVIÇOS LTDA a) pagamento de multa civil no valor de metade do acréscimo patrimonial auferido pelo ex-prefeito; b) proibição de contratar com o Poder Público por 5(cinco) anos.
2. Não se pode falar em nulidade da sentença quando esta se encontra completa, pautada em provas robustas, com embasamento teórico e legal, observando também os princípios da ampla defesa, do contraditório e do devido processo legal, o art. 5º, LIV, da
CF/88 e os ditames do Código Processual Civil. Preliminar não acolhida.
3. A FUNASA, ao vistoriar a obra in loco, atestou, em parecer datado de 02/03/2004, a inexecução integral do contrato. No que tange ao Programa de Educação em Saúde e Mobilização Social - PESMS, verificou que nada foi executado. Apesar disso, restou
comprovado que houve o repasse integral das verbas federais, com a realização dos pagamentos e o ateste de execução total da obra, sendo, posteriormente, o ex-prefeito instado a devolver os recursos pela FUNASA. Só diante dessas circunstâncias, foi que
os réus apelantes deram seguimento à complementação das obras. Já no ano de 2005, a FUNASA elaborou um novo Relatório de Visita Técnica Final, sendo, apenas nesse momento, consideradas as obras, de fato, integralmente executadas. Contudo, mesmo tendo
sido o objeto do contrato considerado integralmente executado, ainda que tardiamente, o objetivo do convênio não foi atingido, pois não foram promovidas todas as medidas previstas no Convênio para controle da Doença de Chagas.
4. Apenas é possível a caracterização de um ato como de improbidade administrativa quando há desonestidade. A conduta ilegal só se torna ímproba se revestida de dolo ou culpa do agente. Elemento subjetivo devidamente comprovado nos autos, na medida em
que os réus não executaram o objeto nos termos do pactuado, mesmo tendo total ciência de seus deveres e das suas obrigações, não conseguindo atingir o objetivo do convênio.
5. A aplicação das sanções deve, invariavelmente, ser norteada pelos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, sempre relacionando-se à gravidade do ato ímprobo praticado. Ainda, devem ser observados os critérios estabelecidos na Lei nº
8.429/92, para a dosimetria das penas aplicadas, tais como: intensidade do dolo ou da culpa do agente; as circunstâncias do fato; e, por fim, a limitação sancionatória em cada caso específico, a qual permite a aplicação de algumas sanções em detrimento
de outras, dependendo da natureza da conduta. As sanções aplicadas atendem perfeitamente aos critérios estabelecidos na LIA e aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade.
6. Apelações não providas.
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AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. MUNICÍPIO DE BARCELONA-RN. PRELIMINAR DE NULIDADE DA SENTENÇA AFASTADA. EX-PREFEITO E CONSTRUTORA RESPONSÁVEL PELA EXECUÇÃO DA OBRA. IRREGULARIDADES NA EXECUÇÃO DO CONVÊNIO Nº 1528/2001 CELEBRADO COM A
FUNASA. PROMOÇÃO DE MELHORIAS SANITÁRIAS DOMICILIARES PARA O CONTROLE DA DOENÇA DE CHAGAS. ENRIQUECIMENTO ILÍCITO E PREJUÍZO AO ERÁRIO. ARTIGOS 9º, XI, 10, E XI, DA LEI Nº 8.429/92. ELEMENTO SUBJETIVO CARACTERIZADO. PROVAS CONTUNDENTES. SANÇÕES QUE
ATENDEM AOS PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E DA RAZOABILIDADE.
1. Apelações de HOREBE COMERCIAL E SE...
Data do Julgamento:04/08/2016
Data da Publicação:12/08/2016
Classe/Assunto:AC - Apelação Civel - 566992
Órgão Julgador:Primeira Turma
Relator(a):Desembargador Federal Élio Wanderley de Siqueira Filho
ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. MUNICÍPIO DE TABIRA/PE. CELEBRAÇÃO DE CONVÊNIO PARA A CONSTRUÇÃO DE 02 COZINHAS COMUNITÁRIAS. RECURSOS TRANSFERIDOS PELO MINISTÉRIO DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À
FOME, NO ÂMBITO DO 'FOME ZERO'. INEXISTÊNCIA DE PROVA DE MALVERSAÇÃO DOS RECURSOS. ONUS PROBANDI ATRIBUÍDO AO MINISTÉRIO PÚBLICO E NÃO RESGATADO. INCONSISTÊNCIA DA CONDENAÇÃO POR POSSÍVEL INFRAÇÃO AO ART. 10, INCISOS IX E XI DA LEI 8.429/92. APELAÇÃO
PARCIALMENTE PROVIDA.
I. Apelação em ação de improbidade administrativa ajuizada pelo Município de Tabira/PE contra o Sr. Josete Alves do Amaral (ex-prefeito), apontando que o réu teria executado de forma irregular o Convênio nº 186/2005, celebrado com o Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome, o qual tinha por objetivo o apoio à aquisição de equipamentos e materiais de consumo para a instalação de 02(duas) cozinhas comunitárias no Município de Tabira/PE, tudo em conformidade com o Programa de Combate à
Fome, no âmbito do "FOME ZERO", visando atender a população carente da cidade. Houve pedido de condenação às penas do art. 10, XI, e art. 11, I e VI, c/c art. 12, incisos II e III, da LIA.
II. A sentença decidiu pela procedência do pedido autoral em razão da inexecução total do objeto do convênio, para condenar o réu pela prática de ato de improbidade, caracterizado por causar prejuízo ao erário, com a aplicação das sanções previstas no
art. 12, II, da Lei nº 8.429/92, nos seguintes termos: (a) perda da função pública, se estiver exercendo qualquer cargo público após o trânsito em julgado da decisão; (b) suspensão dos direitos políticos pelo prazo mínimo de 05 (cinco) anos, a ser
comunicada à Justiça Eleitoral após o trânsito em julgado; (c) ressarcimento integral do dano, no montante de R$60.000,00 (sessenta mil reais) para os cofres da União e R$ 2.057,40 (dois mil, cinquenta e sete reais e quarenta centavos) para o município
de Tabira/PE, devidamente atualizados pelos critérios legais; (d) pagamento de multa civil no patamar de 20% (vinte por cento) do valor do dano ao erário, na quantia de R$12.411,48 (doze mil, quatrocentos e onze reais e quarenta e oito centavos), a ser
devidamente atualizado pelo índice ditado pela taxa SELIC, que contempla a um só tempo os juros e a correção monetária, cuja importância deverá ser depositada em favor da União (artigo 18, LIA); (e) proibição de contratar com o Poder Público ou receber
benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de 05 (cinco) anos
III. Entendeu o magistrado de primeiro grau que "O plano de trabalho do convênio firmado em 2005 trazia a previsão de duas cozinhas e, conforme vastamente comprovado pela documentação colacionada, apenas funcionava uma e essa não atendia a quantidade de
pessoas previstas. Inclusive, não há comprovação de que funcionava todos os dias. Por outro lado, também inexiste comprovação de quando efetivamente a cozinha iniciou o funcionamento. O convênio, assinado em 2005, previa um prazo de execução de 60
(sessenta) dias, tendo este sido prorrogado apenas uma vez. (...) Resta patente, portanto, o descumprimento dos termos do Convênio 186/2005, não havendo comprovação suficiente de que ocorreu a sua execução regular."
IV. A incompletude da obra (duas cozinhas) em contraponto ao plano de trabalho pode até implicar em irregularidade convenial, mas não é suficiente para caracterizar improbidade administrativa. Reforma da decisão apelada, já que a eventual inexistência
de prova, nos autos, de que o objeto da licitação foi cumprido em sua inteireza (em razão da alegação de que apenas funcionava uma cozinha ao invés de duas) pode até encontrar encaixe na descrição dos incisos IX e XI do art. 10 da LIA; mas a lei exige
muito mais do que esse enquadramento. Requer, factualmente, que essas condutas tenham carreado um efetivo prejuízo ao patrimônio público. E a ocorrência desse real prejuízo deveria restar provada pelo detentor do onus probandi, é dizer, o Ministério
Público Federal, que não o fez no presente processo.
V. Caberia ao Ministério Público Federal demonstrar que danos ocorreram contra o erário municipal. Em casos assim, é cediço, atribui-se o ônus da prova ao autor, por imperativo do art. 373, I, do Código de Processo Civil/2015, não tocando ao
réu/apelante produzir prova contra si mesmo, "prova diabólica" (ou "prova negativa"), pois o seu dever de provar limita-se "à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito" (CPC/2015, art. 373, II).
VI. Se não foi comprovado - ônus do MPF - o eventual dano causado ao erário, impossível falar-se em "integral ressarcimento dos danos" ou em "multa civil equivalente ao do valor do dano...".
VII. Apelação parcialmente provida para condenar a apelante à pena de multa civil no valor de R$ 3000,00 (três mil reais). Ressalvado o entendimento do relator.
Ementa
ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. MUNICÍPIO DE TABIRA/PE. CELEBRAÇÃO DE CONVÊNIO PARA A CONSTRUÇÃO DE 02 COZINHAS COMUNITÁRIAS. RECURSOS TRANSFERIDOS PELO MINISTÉRIO DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À
FOME, NO ÂMBITO DO 'FOME ZERO'. INEXISTÊNCIA DE PROVA DE MALVERSAÇÃO DOS RECURSOS. ONUS PROBANDI ATRIBUÍDO AO MINISTÉRIO PÚBLICO E NÃO RESGATADO. INCONSISTÊNCIA DA CONDENAÇÃO POR POSSÍVEL INFRAÇÃO AO ART. 10, INCISOS IX E XI DA LEI 8.429/92. APELAÇÃO
PARCIALMENTE PROVIDA.
I. Apelação em ação de improbidade administrativa ajuizada pelo Municípi...
Data do Julgamento:07/06/2016
Data da Publicação:10/08/2016
Classe/Assunto:AC - Apelação Civel - 563777
Órgão Julgador:Segunda Turma
Relator(a):Desembargador Federal Ivan Lira de Carvalho
PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE. ÓBITO. QUALIDADE DE SEGURADO. INÍCIO DE PROVA MATERIAL. PROVA TESTEMUNHAL. DEPENDÊNCIA PRESUMIDA DOS FILHOS E CÔNJUGE. REQUISITOS PRESENTES. TERMO INICIAL. JUROS DE MORA E CORREÇÃO MONETÁRIA. CUSTAS PROCESSUAIS E
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
I. Apelação de sentença que julgou improcedente o pedido de concessão de pensão por morte a Marcus Alves Santos, Leonilson Alves Santos (incapazes, representados por seu genitor: José Moura Santos) e Henrique Alves Santos, todos filhos da falecida; por
entender que não restou comprovada a qualidade de segurada especial da sua falecida esposa Nalci Batista Alves.
II. . Os requisitos para a concessão do benefício da pensão por morte são: 1) óbito; 2) dependência econômica dos requerentes em relação ao falecido; 3) qualidade de segurado do falecido.
III. O primeiro requisito encontra-se comprovado pela certidão de óbito à fl. 37.
IV. Quanto à dependência econômica, entende-se que esta é presumida nos termos do parágrafo 4º, do art. 16 da Lei nº 8.213/91 e 13 do Decreto nº 2.171/97, uma vez comprovada a relação conjugal ou de companheirismo, e a condição de filhos menores
V. Verifica-se da análise dos autos (fl. 23/25), certidão de nascimento dos filhos registrados em nome do demandante e da de cujus e certidão de casamento à fl. 42.
VI. Quanto à qualidade de segurado especial da de cujus, foram juntados alguns documentos da inicial, tais como certificado de imóvel rural (fls. 34/35), declaração de imposto incidente sobre propriedade fls. 52 e 54 início de prova material suficiente
a comprovar o efetivo exercício do labor rural, tais como: carteira do sindicato dos trabalhadores (fl. 07); recibo das contribuições para o sindicato dos trabalhadores rurais (12/16), declaração de exercício de atividade rural do sindicato dos
trabalhadores rurais (19/20).
VII. Da oitiva de testemunhas, a primeira, José Francisco Alves , disse que [...]"conhecia a falecida; ela estava casada com o autor quando faleceu; tiveram 3 filhos; sempre trabalhou na roça; na roça de si própria (de família); o sítio lagoa seca,
próximo ao povoado cobra d'água; o pai da autora tinha roça e trabalhava lá, a mãe da falecida também trabalhava na roça; hoje". A segunda testemunha, Manuel Messias dos Santos, disse que " conhece o autor há muito tempo, desde que ele era menino, que o
autor trabalha na roça, conheceu a falecida, a falecida teve três filhos e trabalhava na roça plantando mandioca feijão, milho e enquanto isso os filhos dela ficavam". A terceira testemunha, Edmundo Ramos, disse que "conhecia a falecida desde antes de
casar com o autor casaram em 1992 e ela faleceu em 2000; Ela trabalhava na roça, no sítio de lagoa seca, e trabalhava em terra própria (terra que comprou quando voltou de São Paulo). Trabalho na prefeitura em cargo comissionado por pouco tempo, mas
nunca deixou o sítio e trabalho na roça.quando ela morreu, eles estavam juntos, conviviam juntos.
VIII. O STJ, em face das dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores rurais em fazer prova material a seu favor, tem decidido no sentido de que o rol de documentos hábeis a comprovar atividade rural, inscrito no art. 106, parágrafo único da Lei nº
8.213/91 é meramente exemplificativo, e não taxativo, sendo admissíveis outros documentos não mencionados no dispositivo.
IX. A prova material trazida e a prova testemunhal produzida comprovam a condição de segurado especial da falecida e sua relação conjugal/maternal com a parte postulante, devendo ser concedido o benefício postulado.
X. Quanto ao termo inicial do benefício, entende-se que este deve ser fixado a partir da data do ajuizamento da ação ou do requerimento administrativo, se houver. No caso, fixa-se o termo inicial do benefício na data do requerimento administrativo, ou
seja, em 06/08/2010.
XI. Conforme entendimento desta Segunda Turma Julgadora deve ser aplicado, sobre as parcelas devidas, a atualização prevista no Manual de Cálculos da Justiça Federal e juros de mora de 0,5% ao mês, a contar da citação.
XII. Em relação às custas processuais, entende-se que tendo sido o feito ajuizado na Justiça Estadual, não há que se falar em isenção do INSS no seu pagamento.
XIII. Com relação aos honorários advocatícios, em observância ao artigo 20, parágrafo 3º e 4º, do CPC/73, condena-se o INSS ao pagamento destes, arbitrados em R$ 2.000,00 (dois mil reais). Ressalvada a posição do relator, que entende pela aplicação do
CPC de 2015
XIV. Apelação provida.
Ementa
PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE. ÓBITO. QUALIDADE DE SEGURADO. INÍCIO DE PROVA MATERIAL. PROVA TESTEMUNHAL. DEPENDÊNCIA PRESUMIDA DOS FILHOS E CÔNJUGE. REQUISITOS PRESENTES. TERMO INICIAL. JUROS DE MORA E CORREÇÃO MONETÁRIA. CUSTAS PROCESSUAIS E
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
I. Apelação de sentença que julgou improcedente o pedido de concessão de pensão por morte a Marcus Alves Santos, Leonilson Alves Santos (incapazes, representados por seu genitor: José Moura Santos) e Henrique Alves Santos, todos filhos da falecida; por
entender que não restou comprovada a qualidade de segurada especial da sua...
Data do Julgamento:02/08/2016
Data da Publicação:10/08/2016
Classe/Assunto:AC - Apelação Civel - 563197
Órgão Julgador:Segunda Turma
Relator(a):Desembargador Federal Ivan Lira de Carvalho
PROCESSO CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. NÃO OCORRÊNCIA. DISCUSSÃO A RESPEITO DE GRUPO ECONÔMICO DE FATO. VIA INADEQUADA. MULTA PUNITIVA APLICADA EM 225%. LEGALIDADE. INTUITO DE FRAUDE. IMPROVIMENTO.
I. Em razão do julgamento proferido por esta egrégia Segunda Turma às fls. 323/327, reconhecendo a existência de erro material no acórdão proferido às fls. 290/304, que havia, por maioria, negado provimento ao agravo de instrumento, vencido este
relator, retornam os autos para a reapreciação do agravo de instrumento interposto.
II. Cuida-se de agravo de instrumento interposto por COMAFAL - Comercial e Industrial de Ferro e Aço Ltda e outros contra decisão que, em sede de execução fiscal, indeferiu a exceção de pré-executividade.
III. Alega a parte agravante, em suma, a ocorrência da prescrição intercorrente, inclusive do redirecionamento, pelo que deve ela ser excluída da lide. Argumenta também pela ausência de sua responsabilidade tributária, nos termos do art. 128 do CTN, com
o reconhecimento da ilegitimidade passiva das empresas. Subsidiariamente, pleiteia o reconhecimento do caráter confiscatório da multa arbitrada no valor de 225% (duzentos e vinte e cinco por cento) e sua redução para 20% (vinte por cento).
IV. A Fazenda Nacional argumenta que a questão referente à formação do grupo econômico Tenório já está preclusa, sendo objeto da decisão nos autos principais. Aduz também em relação ao tema do grupo econômico que a via da exceção pré-executividade é
inadequada para se debater a questão, que necessita de dilação probatória. Sustenta que o STJ já assentou que o redirecionamento da execução só pode ser impugnado nos embargos do devedor. Afirma que a parte agravante deveria ter trazido aos autos cópia
da parte do processo que tramitou na Justiça Estadual.
V. Esta Turma havia proferido julgamento às fls. 290/304 no sentido de negar provimento ao agravo de instrumento, vencido este relator, que se posicionou no sentido de ver reconhecida a prescrição intercorrente. O Voto Condutor do eminente Des. Federal
Vladimir Souza de Carvalho entendeu que o feito foi ajuizado na Justiça Estadual e ficou paralisado entre 2006 e 2011, sem a citação efetiva das empresas executadas, não existindo nos autos cópia do processo executivo relativo a este período, pelo que
não se podia saber exatamente o que havia ocorrido neste lapso, não se podendo, igualmente, culpar a parte agravada/exequente pela demora. Também participou do julgamento o ilustre Des. Federal Paulo Roberto de Oliveira Lima.
VI. Foram interpostos embargos declaratórios desta decisão, havendo o Relator Des. Federal Vladimir Souza Carvalho percebido a existência de erro material, em razão da presença da mídia digital de fl. 221, que aloja cópia integral da execução fiscal. A
Segunda Turma anulou o voto condutor à unanimidade. Participaram do julgamento os Des. Federais Walter Nunes da Silva Júnior (convocado) e Ivan Lira de Carvalho (fls. 323/327).
VII. Verifica-se que a execução fiscal foi ajuizada em março/06 na Justiça Estadual (fl. 67), com despacho ordinatório da citação neste mesmo mês, porém o feito ficou paralisado até julho de 2011, sem a realização efetiva do ato de citação das empresas
executadas originárias, quando então voltou a ser movimentado, com a remessa dos autos para a Justiça Federal, em razão da incompetência do Juízo estadual. A mídia digital à fl. 221 evidencia que entre o despacho de citação datado de março de 2006 e a
decisão declinando da competência da Justiça Estadual para a Federal, em março de 2011 (fls.77/78, vol. 1, mídia digital), o processo restou paralisado pela maquina judiciária, sem que houvesse sequer tentativa de citação. Após a decisão declinatória os
autos foram remetidos à Justiça Federal, onde teve curso normal, com as tentativas de citação das empresas executadas.
VIII. Na sequência, em setembro/2012, a exequente requereu o redirecionamento da execução fiscal para as empresas agravantes, em virtude da existência de formação de grupo econômico de fato, grupo este que visava fraudar o Fisco, o que foi deferido pelo
juízo a quo, que, por sua vez, não acolheu a exceção de pré-executividade que pedia o reconhecimento da prescrição intercorrente. Ao invés, foi reconhecida pelo magistrado de base a mora do Judiciário, nos termos da Súmula nº 106 do STJ.
IX. Entende-se que deve ser prestigiada a decisão recorrida. A mídia digital de fl. 221 atesta que a Fazenda Nacional só tomou conhecimento da decisão que declinou da competência e das tentativas frustradas de citação em 13/02/2011 (fl. 37, vol. 1,
mídia digital), pelo que não se pode reconhecer sua inércia antes desta data. Assim, tomando-se como marco inicial para a análise da prescrição intercorrente a data de fevereiro de 2011 e a data da decisão que negou provimento aos embargos de declaração
manejados contra a decisão que indeferiu a exceção de pré-executividade, em abril de 2015 (fl. 59), percebe-se que não se consumou o lapso quinquenal da prescrição intercorrente, nem no que diz respeito ao crédito como no que concerne à pretensão de
redirecionamento do feito.
X. Quanto à pretensão da parte agravante de discutir a existência de grupo econômico de fato e sua legitimidade para figurar no feito executivo, observa-se que tal debate ultrapassa os limites estreitos da exceção de pré-executividade, não podendo ser
realizado nos presentes autos.
XI. Por fim, no que toca ao pedido de desconstituição parcial do crédito, em virtude de multa arbitrada no valor de 225% (duzentos e vinte e cinco por cento), o que constituiria uma ofensa ao princípio da vedação ao confisco, verifica-se que a CDA está
fundamentada no art. 44, II, §2º da Lei nº. 9.430/1996 (fl. 75), que estipula que: "Nos casos de lançamento de ofício, serão aplicadas as seguintes multas, calculadas sobre a totalidade ou diferença de tributo ou contribuição (...) cento e cinqüenta por
cento, nos casos de evidente intuito de fraude (...) Se o contribuinte não atender, no prazo marcado, à intimação para prestar esclarecimentos, as multas a que se referem os incisos I e II do caput passarão a ser de cento e doze inteiros e cinco décimos
por cento e de duzentos e vinte e cinco por cento, respectivamente" (grifos nossos). Ou seja, a multa aplicada possui índole punitiva.
XII. Este egrégio Regional já entendeu, em hipótese semelhante, que: "Portanto, caracterizada a fraude, é legal a multa aplicada no patamar de 150%, com fulcro no art. 44, II, da Lei nº 9.430/96, por não ter a empresa contabilizado as receitas que
transitaram pela sua conta bancária, conforme as movimentações financeiras, que só foram detectadas a partir do procedimento fiscal realizado. Tal multa tem a finalidade de apenar o contribuinte que se furta ao pagamento do tributo, omitindo receitas
com dolo" (Segunda Turma, AG 141091/PE, Rel. Des. Federal Convocado Ivan Lira Carvalho, unânime, DJE: 22/10/2015 - Página 135). Assim, constatado o intuito de fraude e a negativa do contribuinte de prestar esclarecimentos quando intimado, é legal, a
priori, a postura do Fisco na aplicação de multa de 225% (duzentos e vinte e cinco por cento), sendo hígido o crédito exequendo neste ponto.
XIII. Agravo de instrumento improvido.
Ementa
PROCESSO CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. NÃO OCORRÊNCIA. DISCUSSÃO A RESPEITO DE GRUPO ECONÔMICO DE FATO. VIA INADEQUADA. MULTA PUNITIVA APLICADA EM 225%. LEGALIDADE. INTUITO DE FRAUDE. IMPROVIMENTO.
I. Em razão do julgamento proferido por esta egrégia Segunda Turma às fls. 323/327, reconhecendo a existência de erro material no acórdão proferido às fls. 290/304, que havia, por maioria, negado provimento ao agravo de instrumento, vencido este
relator, retornam os autos para a reapreciação do agravo de instrumento interposto.
II. Cuida-se de agravo...
Data do Julgamento:02/08/2016
Data da Publicação:10/08/2016
Classe/Assunto:AG - Agravo de Instrumento - 142224
Órgão Julgador:Segunda Turma
Relator(a):Desembargador Federal Ivan Lira de Carvalho
PREVIDENCIÁRIO. AMPARO SOCIAL. ARTIGO 203 DA CF/88. LEI Nº 8.742/93 E DECRETO Nº 1.744/93. REQUISITOS PREENCHIDOS. INCAPACIDADE E MISERABILIDADE CONFIGURADAS. ISENÇÃO DE CUSTAS. NÃO CABIMENTO. JUROS DE MORA. PARCIAL PROVIMENTO.
I. Apelação de sentença que julgou procedente o pedido, condenando o INSS a conceder o benefício assistencial desde a data da apresentação do laudo pericial em juízo. Apela o INSS aduzindo que o benefício não poderia ser concedido por falta de
realização de perícia social e pelo não preenchimento do requisito da incapacidade absoluta. Juros de mora de 1% ao mês, a partir da citação, e correção monetária com base no INPC. Pugna, ainda, que seja afastada a condenação em custas processuais e que
seja aplicado ao feito o art. 1º-F da Lei nº 9.494/97 com redação dada pela Lei nº 11.960/2009.
II. A Lei nº 8.742/93 assegura à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que não possuem meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, a concessão de um salário mínimo de benefício assistencial.
III. No que concerne ao critério da miserabilidade, a declaração sobre a composição do grupo e renda familiares à fl. 44, mostra que o grupo familiar possui a renda per capita inferior a 1/4 do salário mínimo, o que se amolda aos parâmetros fixados na
legislação de regência da matéria. Conforme avaliação social realizada no âmbito administrativo (fls. 60/61), o grupo familiar tem sua renda mensal derivada de pensão recebida pelo genitor do autor no valor de R$ 510,00 (quinhentos e dez reais). Assim,
apesar de não ter sido produzido laudo social, o conjunto probatório dos autos revela a condição de miserabilidade do requerente, bem como de seu grupo familiar, composto pelo autor, seu pai e sua irmã, em razão da presunção estabelecida em lei.
IV. No que se refere à condição de deficiente, verifica-se que o autor é portador de deficiência classificada como dor lombar com artrose avançada do quadril esquerdo. O atestado médico (fl. 10) declara tal deficiência, concluindo ser o mesmo portador
do CID. 654, não apresentando capacidade laborativa. A perícia judicial (fls. 71/75) concluiu que a doença era degenerativa, progressiva e incapacitava parcial e definitivamente o periciando, mas nas respostas aos quesitos apresentados pelas partes
informou que não havia patologia ou incapacidade para exercer atividades laborativas. Intimado a se manifestar sobre a contradição citada, o perito retifica as respostas (fl.94) esclarecendo que "foram equivocadas quando este perito responde que não há
incapacidade e que não está impossibilitado para o labor; o periciando apresenta incapacidade parcial e definitiva para qualquer atividade que necessite de esforço físico (inclusive para a atividade declarada)".
V. O demandante é relativamente incapaz para o exercício de atividades laborais no geral, visto que pode realizar atividades que não necessitem de esforços físicos. Ora, para o desempenho de atividade leves, que prescinda de esforços físicos, faz-se
necessário escolaridade comprovada, como é o caso de trabalhos em escritórios, repartições públicas, etc. Pela condição de educação, instrução, cultura e formação profissional, constata-se a impossibilidade do autor ser reaproveitado no mercado de
trabalho, já que apenas exerceu como profissão a agricultora durante toda sua vida e atualmente conta com idade de 37 anos.
VI. Essa Turma Julgadora tem se posicionado no sentido de que se aplicam juros de mora de 0,5% a partir da citação, nos termos do art. 1-F da Lei nº. 9.494/97, com redação dada pela MP 2.180-35/2001 e correção monetária de acordo com os índices
previstos no Manual de Cálculos da Justiça Federal. Isso porque o STF declarou a inconstitucionalidade da inovação trazida pela Lei nº. 11.960/09 na redação do art. 1-F da Lei nº. 9.494/97, que determina, quanto aos juros e correção, a aplicação dos
índices da poupança. Embora tenha havido decisão do STF no tocante à modulação dos efeitos, esta se aplica somente no caso de precatórios já expedidos. No caso, deve ser fixado juros de mora de 0,5% ao mês, a partir da citação e mantida correção
monetária pelo INPC.
VII. Em relação às custas processuais, inexiste respaldo para a isenção pretendida pelo INSS, nos termos da Súmula 178 do STJ e do art. 1º , parágrafo 1º, da Lei 9.289 /96 c/c o art. 1º, parágrafos 1º e 2º, da Lei Estadual nº 5.371/2004 (Lei de Custas
do Estado de Sergipe). A autarquia tem apenas a prerrogativa de que tais custas serão pagas apenas ao final do processo.
VIII. Apelação parcialmente provida, apenas no que toca aos juros de mora, fixados em 0,5% ao mês.
Ementa
PREVIDENCIÁRIO. AMPARO SOCIAL. ARTIGO 203 DA CF/88. LEI Nº 8.742/93 E DECRETO Nº 1.744/93. REQUISITOS PREENCHIDOS. INCAPACIDADE E MISERABILIDADE CONFIGURADAS. ISENÇÃO DE CUSTAS. NÃO CABIMENTO. JUROS DE MORA. PARCIAL PROVIMENTO.
I. Apelação de sentença que julgou procedente o pedido, condenando o INSS a conceder o benefício assistencial desde a data da apresentação do laudo pericial em juízo. Apela o INSS aduzindo que o benefício não poderia ser concedido por falta de
realização de perícia social e pelo não preenchimento do requisito da incapacidade absoluta. Juros de mora de 1% ao mês, a parti...
Data do Julgamento:02/08/2016
Data da Publicação:10/08/2016
Classe/Assunto:AC - Apelação Civel - 587875
Órgão Julgador:Segunda Turma
Relator(a):Desembargador Federal Ivan Lira de Carvalho
CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AÇÃO CAUTELAR. CESSÃO DE CRÉDITO DO BANCO DO BRASIL À UNIÃO. MEDIDA PROVISÓRIA Nº 2196-3/2001. LEI Nº 9138/95. CORREÇÃO MONETÁRIA. EFEITOS INFRINGENTES.
I. Embargos de declaração interpostos contra o acórdão de fls. 279/285, julgado pela Segunda Turma deste Regional, que, ao julgar a apelação manejada nos autos da presente cautelar, decidiu pela extinção do feito, sem julgamento do mérito, mantendo a
sentença que assim decidiu, por entender julgada a ação principal (proc. nº 0006478-89.2009.4.05.8000).
II. Tem razão a embargante Cooperativa de Crédito Rural dos Plantadores de Cana de Alagoas, ao defender que não é possível considerar a perda superveniente do interesse processual da presente ação cautelar em razão de pendência do processo principal,
que sequer tinha sido julgado por esta Corte.
III. Assim, observa-se que o pedido cautelar em questão teve por finalidade 'sustar a mora contratual, a perda dos benefícios legais e contratuais (bônus e descontos), a inscrição nos cadastros de restrição ao crédito (SPC, SERASA e CADIN), a
apresentação de extrato analítico do débito desde a origem de liberação dos recursos ou a partir da vigência da Lei nº8.880/94, e o depósito dos valores devidos em face da aplicabilidade das condições contratuais e legais vigentes, quando recolhidos até
o vencimento.'
IV. Deve ser adotado aqui o posicionamento constante do processo principal (ação ordinária de natureza declaratória e de obrigação de fazer, proc. nº AC 525524/AL, julgado em 07.06.16), vinculado a esta cautelar. A sentença da ação ordinária julgou
improcedente pedido de aplicabilidade do art. 16, IV, parágrafo 2º, da Lei nº 8.880/94, em face do art. 2º da Lei nº 9.138/95, na apuração dos saldos devedores das 13 (treze) operações de crédito rural que foram renegociadas através da Cédula Rural
Hipotecária nº 96/70012-2, de 22/07/1996, com repercussão nos respectivos aditivos, bem como a incidência do menor percentual de variação do preço mínimo oficial do milho no país sobre o saldo devedor.
V. Entende a Cooperativa que, para as operações de crédito rural celebradas anteriormente à publicação da Lei nº 9.138, de 29/11/1995, há de ser aplicado o parágrafo 2º do art. 16 da Lei nº 8.880/1994, que prevê a atualização monetária com base na
variação dos preços mínimos agrícolas. Afirma que o banco réu adotou as condições estipuladas pelo Conselho Monetário Nacional, no inciso VI do art. 1º da Resolução nº 2.238, de 31/01/1996, editada pelo Banco Central do Brasil, que estabelece que
incidam os encargos financeiros totais até o limite máximo de 12% (doze por cento) ao ano mais o índice de remuneração dos depósitos de poupança.
VI. O crédito rural apresenta características de direito especial e de ordem pública. A sua disciplina se submete à Lei 4.829/65 e ao Decreto-Lei 167/67, recepcionados pela Constituição Federal com hierarquia de Lei Complementar, pelo que a Lei
9.138/95, que regulou a securitização não pode colidir com os ditames daqueles diplomas legislativos, de hierarquia superior. Em tal perspectiva, a constitucionalização e especialização do crédito rural, fundada em princípios de ordem pública (art. 1º
da Lei 4.829/65), não foram afastadas pelas normas de securitização.
VII. Apesar de o art. 2º da Lei nº 9.138/95 afastar expressamente a incidência do art. 16, parágrafo 2º, da Lei nº 8.880/94, não sendo mais possível, desde a publicação da referida lei, a utilização da variação do preço mínimo como critério de
atualização monetária, a parte autora faria jus a utilização da equivalência preço produto, como fator de atualização monetária, com base em produto da opção do mutuário, especificamente cana-de-açúcar, apenas no período compreendido entre a data da
promulgação da Lei nº 8.880/94, e a data de vigência da Lei nº 9.139/95, o que não é o caso.
VIII. A MP nº 2.196-3/2001 ao estabelecer o Programa de Fortalecimento das Instituições Financeiras Federais, permitiu à União adquirir, do Banco do Brasil, do Banco da Amazônia e do Banco do Nordeste, todos os ativos originários de operações de crédito
rural alongadas ou renegociadas com base na Lei nº 9.138/95, de forma a proporcionar o saneamento dos ativos das instituições financeiras do setor público.
IX. A correção do crédito em comento há de ser feita pelos critérios estipulados na Medida Provisória nº. 2196-3/2001.
X. Embargos de declaração, aos quais se atribuem efeitos infringentes, providos, para negar provimento à apelação.
Ementa
CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AÇÃO CAUTELAR. CESSÃO DE CRÉDITO DO BANCO DO BRASIL À UNIÃO. MEDIDA PROVISÓRIA Nº 2196-3/2001. LEI Nº 9138/95. CORREÇÃO MONETÁRIA. EFEITOS INFRINGENTES.
I. Embargos de declaração interpostos contra o acórdão de fls. 279/285, julgado pela Segunda Turma deste Regional, que, ao julgar a apelação manejada nos autos da presente cautelar, decidiu pela extinção do feito, sem julgamento do mérito, mantendo a
sentença que assim decidiu, por entender julgada a ação principal (proc. nº 0006478-89.2009.4.05.8000).
II. Tem razão a embargante Cooperativa de Crédito Rural dos P...
Data do Julgamento:02/08/2016
Data da Publicação:10/08/2016
Classe/Assunto:EDAC - Embargos de Declaração na Apelação Civel - 525526/01
Órgão Julgador:Segunda Turma
Relator(a):Desembargador Federal Ivan Lira de Carvalho
Administrativo. Retorno dos autos à Turma para, superados os fundamentos adotados pelo acórdão recorrido, determinar que o Tribunal de origem prossiga no julgamento do feito como entender de direito, conforme o min. Sérgio Kukina, no RE 1.478.693-SE, f.
318-319.
Para se ter uma visão completa dos fundamentos adotados pelo julgado recorrido, que a aludida decisão do Superior Tribunal de Justiça superou, reproduz-se a ementa do combatido julgado:
Processual Civil e Administrativo. Apelo da União ante sentença que determinou a reimplantação do percentual de 26,05% nos proventos da apelada, servidora aposentada do Ministério da Saúde, excluído mais de dez anos depois da aposentadoria por decisão
do Tribunal de Contas da União.
Primeiro, porque não se torna factível que uma aposentadoria, obtida em 01 de agosto de 1997, só tenha sido apreciada pelo Tribunal de Contas da União em 01 de fevereiro de 2011, ou seja, mais de dez anos depois, como assinalado na douta sentença.
Não há motivo para tamanha demora, mesmo levando em conta que a aposentadoria é ato complexo que só se aperfeiçoa com a decisão do tribunal de contas. É inadmissível que, mais de dez anos depois, seja o servidor aposentado surpreendido com decisório
desse teor.
Segundo, porque o percentual foi incluído por força de sentença, e somente outra sentença carrega a eficácia de retirá-lo, sobretudo quando a norma coloca a disposição do cidadão e do Poder Público uma série de remédios processuais para serem
utilizados, não podendo a corte administrativa fazer as vezes do Poder Judiciário.
Improvimento do apelo e da remessa oficial, f. 213.
Então, em obediência ao comando do r. decisório, f. 318-319, enfrentam-se as razões recursais da apelante, f. 180-193.
A peça recursal, no que tange ao mérito, se concentra em dois tópicos: 1] Da desnecessidade de observância do contraditório pelo Tribunal de Contas da União na hipótese dos autos, f. 181; 2] URP. Percentual de 26.05%. Decisão judicial transitada em
julgado. Relação de trato sucessivo. Absorção por reajustes posteriores, f. 185.
Avancemos, deixando de lado os argumentos do julgado anterior, que o Superior Tribunal de Justiça superou, f. 180-183, e, desta forma, exclui-o do cenário onde a lide se assenta.
Na reconstituição dos fatos, a demandante, ora apelante, aposentou-se em 1997. Em 2011, lhe foi endereçado o expediente de f. 134, a comunicar-lhe que, conforme Acórdão nº 530/2011, do Tribunal de Contas da União - 2ª Câmara, será interrompido o
pagamento da URP, referente a fevereiro de 1989, no percentual de 26,05%, acompanhada da explicação de que, segundo o TCU, uma vez que as parcelas referentes a planos econômicos e antecipações salariais já foram absorvidos por reajustes posteriores, não
há para a continuidade de seus pagamentos na forma observada, f. 134. Data da comunicação: 21 de fevereiro de 2011.
A comunicação aludida inicia o processo administrativo devido, abrindo para a demandante a porta para as discussões devidas, o que se operou, via da presente ação, que só foi intentada em 02 de julho de 2012, f. 02, ou seja, um ano e quatro meses depois
da comunicação de f. 134. Depois, não se discutia fatos, mas matéria essencialmente de direito, traduzido no fato de o percentual aludido ter sido absorvido por reajustes posteriores - que não se nega.
Se o Tribunal de Contas da União não tem prazo para dar a palavra final a processo de aposentadoria, - com o que não se concorda, respeitosamente -, não há outra saída senão a de consagrar a absorção do percentual aludido por reajustes futuros que o
servidor público federal recebeu, e, desta forma, matar a pretensão embutida na inicial, sobretudo levando em conta que assim a Turma vem decidindo em casos semelhantes, evitando que o percentual se eternize.
O julgado anterior, que foi superado, enfrentou a problemática sob outro prisma. Mas, uma vez excluído, o panorama, que encobriu, aponta para a absorção do aludido percentual por reajustes posteriores, e, neste sentido, o inconformismo da ré deve ser
plenamente atendido, acrescentando-se que a exclusão do percentual em foco passa, com a presente ação, a ter o beneplácito do judiciário, concretizando o que se afirmou no julgado anterior, isto é, o judiciário dá, o judiciário tira.
Provimento ao apelo e à remessa oficial, para julgar improcedente a presente ação.
Ementa
Administrativo. Retorno dos autos à Turma para, superados os fundamentos adotados pelo acórdão recorrido, determinar que o Tribunal de origem prossiga no julgamento do feito como entender de direito, conforme o min. Sérgio Kukina, no RE 1.478.693-SE, f.
318-319.
Para se ter uma visão completa dos fundamentos adotados pelo julgado recorrido, que a aludida decisão do Superior Tribunal de Justiça superou, reproduz-se a ementa do combatido julgado:
Processual Civil e Administrativo. Apelo da União ante sentença que determinou a reimplantação do percentual de 26,05% nos proventos da apelada, servid...
PREVIDENCIÁRIO. SERVIDOR MUNICIPAL. AUXÍLIO-DOENÇA OU APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. COMPROVADA A INAPTIDÃO TEMPORÁRIA DO AUTOR PARA O SEU TRABALHO HABITUAL. PORTADOR DE ASMA ALÉRGICA. CONCESSÃO DE AUXÍLIO-DOENÇA ENQUANDO DURAR A INCAPACIDADE OU HOUVER
REABILITAÇÃO DO SEGURADO. MANUTENÇÃO DA DIB. VERBA HONORÁRIA ADVOCATICIA DE 10% DO VALOR DA CONDENAÇÃO. ADEQUAÇÃO À SÚMULA 111 DO STJ. AUSÊNCIA DE INTERESSE RECURSAL NO TOCANTE AOS JUROS DE MORA E À CORREÇÃO MONETÁRIA. APELAÇÃO DO AUTOR PARCIALMENTE
PROVIDA.
1. O auxílio-doença, nos termos do artigo 59 da Lei nº 8.213/91, é um benefício de natureza temporária concedido para amparar o segurado que, cumprida a carência, for considerado incapaz para o trabalho, enquanto persistir a incapacidade, e, se for tido
como insusceptível de reabilitação para o desempenho de atividade que lhe garanta a subsistência, fará jus à concessão de aposentadoria por invalidez (art. 42 da Lei 8.213/91), sendo o benefício pago enquanto permanecer nessa condição.
2. Demonstrada a condição de segurado do postulante, tendo em vista que é funcionário da Prefeitura Municipal de Catolé do Rocha/PB, conforme portaria e termo de posse acostados aos autos, que não merecendo acolhida a alegada de perda da qualidade de
segurado, com base exclusivamente no extrato do CNIS, emitido em 10/03//2014, por se tratar de servidor municipal concursado e, sobretudo, em face da informação constante do rodapé do referido documento (verbis): "O INSS poderá rever a qualquer tempo as
informações constantes deste extrato, conforme art. 19, parágrafo 3º do Decreto Nro 3.048/99".
3. A perícia médica judicial atestou que o paciente é portador de asma predominantemente alérgica (CID J45.0), em fase evolutiva, que o incapacita temporariamente para o exercício do seu trabalho habitual (gari), de modo a fazer jus à concessão à
concessão do benefício de auxílio-doença.
4. Quanto ao estabelecimento da data de cessação do benefício, tem-se que o demandante é portador de asma alérgica e, portanto, encontra-se impossibilitado de desempenhar a sua atividade habitual de gari, em face da exposição à poeira, tendo o perito
recomendado a sua avaliação por especialista.
5. O benefício de auxílio-doença, devido ao seu caráter de provisoriedade e indeterminação temporal, é devido enquanto perdurar a incapacidade laborativa do beneficiário, assim como que não se coaduna com a intenção do legislador a cessação do benefício
deferido, mesmo constatada a possibilidade de reabilitação, enquanto o segurado não se encontrar apto a retornar suas atividades ou não for submetido ao processo de reabilitação profissional de que trata o art. 62 da Lei 8.213/91, cabendo ao INSS
avaliar a possibilidade de reabilitação da inaptidão laborativa do postulante, sendo-lhe devido o auxílio-doença até que a autarquia previdenciária promova a sua reabilitação. Precedentes.
6. Embora tenha o expert indicado 09/05/2015 como a provável data do início da inaptidão laborativa do paciente, certamente considerando a data do atestado médico encartado aos autos em 14/05/2015, existem outros atestados médicos de hospitais do
município, emitidos em janeiro, fevereiro e março de 2014, sendo, portanto, contemporâneos ao requerimento administrativo, indicando ser o promovente portador da mesma enfermidade pulmonar (CID J45.0) diagnosticada pelo expert judicial, donde se infere
que quando da entrada do pedido administrativo, o requerente já se encontrava incapaz para o seu trabalho habitual. Logo, tendo em conta que vige no nosso sistema processual o sistema da livre apreciação da prova (art. 371 do CPC), pelo qual o juiz não
fica adstrito a tal ou qual prova, desde que, ao decidir, o faça motivadamente, mantenho a DIB estabelecida no juízo a quo.
7. Os honorários advocatícios fixados em 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação foram arbitrados consoante a norma do parágrafo 4º do art. 20 do CPC, vigente à data da sentença, e do art. 85, parágrafo 3º, inc. I, do atual CPC, razão pela qual
mantenho o percentual arbitrado, e, considerando que não deve incidir sobre parcelas vencidas após a prolação da sentença, nos termos da Súmula nº 111 do STJ, deve se ajustar ao enunciado da referida Súmula.
8. Não há necessidade de fazer constar expressamente do decisum a referencia no sentido de que o benefício será cancelado se o beneficiário retornar voluntariamente ao trabalho ou recuperar a capacidade laborativa, visto que existe previsão legal para
tal providência (parágrafo 10 do artigo 60 c/c o artigo 101 da Lei nº 8.213/91).
9. Não apreciado o pedido do INSS acerca do estabelecimento de juros de mora e correção monetária de acordo com o artigo 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº 11.960/2009, à míngua de interesse recursal, uma vez que foram arbitrados
pelo magistrado de primeiro grau nos termos ora requeridos pelo apelante.
10. Apelação do INSS parcialmente provida para adequar a verba honorária advocatícia aos termos da Súmula 111 do STJ e estabelecer que o benefício de auxílio-doença é devido ao promovente desde a data do requerimento administrativo (07/02/2014) até que
a autarquia previdenciária promova a sua reabilitação profissional.
Ementa
PREVIDENCIÁRIO. SERVIDOR MUNICIPAL. AUXÍLIO-DOENÇA OU APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. COMPROVADA A INAPTIDÃO TEMPORÁRIA DO AUTOR PARA O SEU TRABALHO HABITUAL. PORTADOR DE ASMA ALÉRGICA. CONCESSÃO DE AUXÍLIO-DOENÇA ENQUANDO DURAR A INCAPACIDADE OU HOUVER
REABILITAÇÃO DO SEGURADO. MANUTENÇÃO DA DIB. VERBA HONORÁRIA ADVOCATICIA DE 10% DO VALOR DA CONDENAÇÃO. ADEQUAÇÃO À SÚMULA 111 DO STJ. AUSÊNCIA DE INTERESSE RECURSAL NO TOCANTE AOS JUROS DE MORA E À CORREÇÃO MONETÁRIA. APELAÇÃO DO AUTOR PARCIALMENTE
PROVIDA.
1. O auxílio-doença, nos termos do artigo 59 da Lei nº 8.213/91, é um benefício de naturez...
Data do Julgamento:02/08/2016
Data da Publicação:04/08/2016
Classe/Assunto:AC - Apelação Civel - 589799
Órgão Julgador:Quarta Turma
Relator(a):Desembargador Federal Carlos Wagner Dias Ferreira
CONSTITUCIONAL, ADMINISTRATIVO E AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. RESSARCIMENTO AO ERÁRIO. EXTRAÇÃO DE BEM MINERAL. ARGILA. SEM AUTORIZAÇÃO DO DNPM. MOROSIDADE DE ÓRGÃO AMBIENTAL ESTADUAL PARA EXPEDIR LICENÇA AMBIENTAL. IRRELEVÂNCIA. NECESSIDADE DE
LICENÇA DO DNPM. PREJUÍZO DA UNIÃO. EXCESSO DO MONTANTE DA INDENIZAÇÃO. MINORAÇÃO. DANO MORAL COLETIVO. INEXISTÊNCIA. PROVIMENTO PARCIAL DA APELAÇÃO DOS RÉUS. IMPROVIMENTO DA APELAÇÃO DA UNIÃO.
- Cuida-se de apelações interpostas por COMÉRCIO DE MATERIAL DE CONSTRUÇÃO BEZERRA LTDA (CERÂMICA BEZERRA LTDA), por JOSEFA MARIA SILVA BEZERRA, por IRINEU ALVES BEZERRA e pela UNIÃO contra sentença que julgou parcialmente o pedido formulado por este
ente político e, posteriormente, aditado pelo MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, para determinar aos réus: a) que se abstivessem de reiniciar qualquer atividade de extração mineral na área objeto dos autos, exceto se previamente autorizados pelos órgãos
competentes; b) o pagamento de indenização à UNIÃO de montante de R4 64.000,00 (sessenta e quatro mil reais); c) a recuperação da área degradada; d) a incidência das sanções previstas no art. 14, II e III, da Lei 6.938/81, caso a situação não esteja
regularizada em face do IMA e do DNPM.
- Não se sustenta a tese da empresa recorrente da morosidade do órgão ambiental estadual (IMA) do Estado de Alagoas para a obtenção de licença para a extração de argila, uma vez que o ilicitude apontada não se refere à autorização de cunho ambiental,
mas a autorização de exploração de produto mineral sob a responsabilidade do DNPM. Ainda que a empresa apelante dispusesse de licença ambiental de todos os órgãos competentes, mesmo assim remanesceria a necessidade de obtenção de licença do DNPM para se
credenciar à extração mineral da argila, por se tratar de bem da União. E é certo que a exploração bem mineral pertencente à União por parte de particulares, sem a devida autorização do DNPM, acarreta inegável prejuízo àquela. Porém, assiste razão aos
recorrentes quanto ao excesso no quantitativo indenizatório. E isso não passou despercebido pelo órgão ministerial, tanto que opinou pela minoração do montante fixado na sentença hostilizada, com alicerçe no valor apurado em laudo pericial confeccionado
em ação de caso semelhante, de nº 0003075-44.2011.4.05.8000. Nesta ação, o valor do m3 foi de R$ 5,00 (cinco reais). Como se trata de área que alcança 4.000m3, o montante mais razoável seria, portanto, de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), devendo o apelo
ser acolhido neste capítulo da sentença vergastada.
- À semelhança da proteção conferida aos danos patrimoniais, a doutrina e a jurisprudência cuidaram de estabelecer os pressupostos que levam a configuração da reparação do dano moral no âmbito da responsabilidade civil objetiva do Estado, a teor do
esculpido no art. 37, parágrafo 6º, da Lei Fundamental de 1988, nos seguintes termos: a) conduta humana antijurídica (ativa ou omissiva); b) danos ou prejuízos material e moral indenizáveis; e c) nexo de causalidade (liame de causa e efeito entre a
conduta antijurídica e o dano ocorrido). Mais do que isso, cada vez mais, a ordem jurídica vem reconhecendo, no mesmo compasso, a necessidade de oferecer proteção jurídica aos interesses de ordem moral ou extrapatrimonial em perspectiva coletiva. Diante
de uma lesão sofrida pela comunidade, deve o ordenamento jurídica se insurgir no sentido de reparar, da melhor forma possível, o dano ocasionado. Tal entedimento, sem sobra de dúvidas, constitui-se em verdadeira evolução no sistema da responsabilidade
civil e uma ampliação ao conceito de dano moral, que não mais preocupa-se tão somente o sofrimento ocasionado a uma determinado pessoa, mas também àquele vivenciado por toda uma coletividade, e que acabam por atingir também aos seus membros.
- Podem ser consideradas as principais características do dano moral, quando concebido de forma coletiva: a) a conduta antijurídica (ação ou omissão) do agente, pessoa física ou jurídica; b) a ofensa significativa e intolerável a interesses
extrapatrimoniais, identificados no caso concreto, reconhecidos e inequivocadamente compartilhados por uma determinada coletividade (comunidade, grupo, categoria ou classe de pessoas titular de tais interesses protegidos pela ordem jurídica); c) a
percepção do dano causado, correspondente aos efeitos que, ipso facto, emergem coletivamente, traduzidos na sensação de desvalor, de indignação, de menosprezo, de repulsa, de inferioridade, de descrédito, de desesperança, de aflição, de humilhação, de
angústia ou respeitante a qualquer outra consequência de apreciável conteúdo normativo; e d) o nexo causal observado entre a conduta ofensiva e a lesão socialmente apreendida e repudiada.
- Na espécie em comento, por mais que se afigurem presentes alguns elementos relativos à responsabilidade civil, não se pode identificar no ato de retirada de argila uma ofensa significativa ou intolerável ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
nem mesmo lesão coletivamente repudiada pela percepção da sociedade que se traduza em inequívoca sensação de desvalor, de indignação, de menosprezo, de repulsa, de inferioridade, de descrédito, de desesperança, de aflição, de humilhação e de angústia.
Por isso mesmo, incabível o reconhecimento da existência de dano moral coletivo a ensejar o direito à indenização contra os requeridos.
- Não há motivo para elevação do valor dos honorários sucumbenciais, em face da ausência de prática de atos processuais de maior complexidade que exigissem mais elevado zelo e dedicação.
- Apelação dos réus parcialmente provida, para reduzir o valor da indenização a título de ressarcimento ao erário de R$ 64.000,00 (sessenta e quatro mil reais) para R$ 20.000,00 (vinte mil reais). Apelação da União improvida.
Ementa
CONSTITUCIONAL, ADMINISTRATIVO E AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. RESSARCIMENTO AO ERÁRIO. EXTRAÇÃO DE BEM MINERAL. ARGILA. SEM AUTORIZAÇÃO DO DNPM. MOROSIDADE DE ÓRGÃO AMBIENTAL ESTADUAL PARA EXPEDIR LICENÇA AMBIENTAL. IRRELEVÂNCIA. NECESSIDADE DE
LICENÇA DO DNPM. PREJUÍZO DA UNIÃO. EXCESSO DO MONTANTE DA INDENIZAÇÃO. MINORAÇÃO. DANO MORAL COLETIVO. INEXISTÊNCIA. PROVIMENTO PARCIAL DA APELAÇÃO DOS RÉUS. IMPROVIMENTO DA APELAÇÃO DA UNIÃO.
- Cuida-se de apelações interpostas por COMÉRCIO DE MATERIAL DE CONSTRUÇÃO BEZERRA LTDA (CERÂMICA BEZERRA LTDA), por JOSEFA MARIA SILVA BEZERRA, por IRINEU ALV...
Data do Julgamento:02/08/2016
Data da Publicação:04/08/2016
Classe/Assunto:AC - Apelação Civel - 587280
Órgão Julgador:Quarta Turma
Relator(a):Desembargador Federal Carlos Wagner Dias Ferreira
CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. CONVÊNIO FEDERAL. MUNICÍPIO DE JUCURUTU/RN. MINISTÉRIO DA SAÚDE. COMBATE AO AEDES AEGYPTI. AGENTES POLÍTICOS MUNICIPAIS. INCIDÊNCIA DA LEI 8.429/92. FALTA DE PEÇA
TEATRAL E ASSINATURAS FALSAS EM RECIBOS. DEVOLUÇÃO DE VALORES AO ÓRGÃO CONVENENTE E APROVAÇÃO DA PRESTAÇÃO DE CONTAS. AUSÊNCIA DE ATO ÍMPROBO IMPUTADO. ABSOLVIÇÃO. PROVIMENTO DA APELAÇÃO.
- Trata-se de recurso de apelação interposto por LUCIANO ARAÚJO LOPES e FRANCISCA MARTINS SOBRINHA LOPES contra sentença que os condenara, em sede de ação civil pública de improbidade administrativa, a prática de atos ímprobos previstos nos arts. 10,
caput, e 11, caput, da Lei 8.429/92 (Lei de Improbidade Administrativa), ao ressarcimento integral do dano, no valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais), suspensão dos direitos políticos por 5 (cinco) anos e multa civil no montante correspondente ao dano.
- A controvérsia debatida nos recursos de apelação interpostos diz respeito à análise de possível ocorrência de atos ímprobos relacionados à suposta malversação de recursos federais na execução do Convênio nº 1.277/97-PMJ/Aedes Aegypti, celebrado entre
o Município de Jucurutu/RN e o Ministério da Saúde, com o objetivo de efetivar campanha na municipalidade de combate ao Aedes Aegypti.
- A circunstância de os agentes políticos, na esteira de sedimentado pensar doutrinário, por ocuparem cargos estruturais à organização política do Estado, singularizarem-se pela investidura, atribuições e responsabilidades definidas na Constituição,
respalda o entendimento de que o Presidente da República e Ministros de Estado, em face da adoção magna de regime de responsabilidade político-administrativa especial (arts. 52, I, e 102, I, c, CF), cuja delineação magna está na Lei 1.079/50, a qual
contempla atentado à probidade na Administração (art. 9º), estão excluídos da incidência da Lei 8.429/92. Orientação do Pretório Excelso (Rcl 2.138 - 6 - DF), cuja extensão, por simetria federativa, deu-se quanto aos governadores e seus secretários por
ocasião da ADI 1.628 - 8 - SC, a qual emprestou relevo constitucional ao art. 78 da Lei 1.079/50.
- Diversamente, no que toca aos prefeitos municipais, a incidência da Lei 8.429/92 se dá pelas seguintes razões: a) o art. 1º do Decreto-lei 201/67 não versa sobre responsabilidade político-administrativa, razão pela qual não é capaz para afastar, pelo
critério da especialidade, a incidência da Lei 8.429/92; b) o art. 4º do Decreto-lei 201/67, muito embora traduza responsabilidade político-administrativa, a ausência de seu respaldo constitucional faz com que seja afastada, pelo critério hierárquico,
pela aplicação da Lei 8.429/92, a qual possui lastro no art. 37, parágrafo 4º, da Lei Fundamental; c) em se tratando de responsabilizações de naturezas distintas, a identidade verificada entre os tipos do art. 1º, VII, do Decreto-lei 201/67 e do art.
11, VI, da Lei 8.429/92 não afasta a possibilidade do ajuizamento da ação de improbidade.
- Numa primeira aferição da responsabilidade político-administrativo atribuída na sentença hostilizada, vê-se que foram os réus condenados pela falta de realização de peça teatral. Aliás, o convênio em tela não teria sido integralmente executado apenas
neste ponto em particular e isso é o que o próprio decreto sentencial reconhece. No entanto, o laudo pericial confeccionado pela Polícia Federal (fls. 607/618) noticia que foram devolvidos recursos federais no montante de R$ 26.145,26 (vinte e seis mil,
cento e quarenta e cinco reais e vinte e seis centavos). Isso bem revela que, ao contrário do que reconhece a sentença atacada, não houve prejuízo ao erário, falecendo qualquer tentativa de enquadrar as condutas dos demandados, ora apelantes, no art. 10
da Lei 8.429/92.
- Aponta, ainda, o édito jurisdicional impugnado que os demandados LUCIANO ARAÚJO LOPES, ex-Prefeito do Município de Jucurutu/RN, e FRANCISCA MARTINS SOBRINHA LOPES, então Tesoureira da Prefeitura Municipal da mesma cidade, concorreram para a
perpetração da falsificação de assinaturas lançadas em recibos. Porém, a prestação de contas do convênio em apreço foi aprovada pelo Ministério da Saúde, como informa o despacho nº 4993/MS/SE/FNS hospedado nos autos às fls. 605, no qual esclarece que o
"Convênio em comento, cujo objeto é o Plano de Erradicação do Aedes Aegypti, foi pactuado no montante de R$ 101.084,99, sendo R$ 10.427,49 a título de contrapartida. Vigente de 31 de dezembro de 1997 a 31 de dezembro de 2000, incluído neste interregno o
prazo de 60 dias para a apresentação da prestação de contas final, teve as contas aprovadas por meio do Parecer n. 211, de 27 de dezembro de 2001".
- A ação de improbidade administrativa deve se calcar em elementos reveladores da presença de conduta ímproba do agente público. Isto porque, em sua órbita, não se admitem condenações amparadas em meras suposições ou especulações sem respaldo probante,
tal como se mostra vedado na esfera penal. Exige-se, para detectar a prática de ato ímprobo, a comprovação da existência de laivo de desonestidade e de imoralidade, não bastando tão somente a perpetração de comportamentos ilícitos ou ilegais.
- Apelação provida dos réus, para absolvê-los da prática de atos de improbidade administrativa na execução do convênio objeto dos autos.
Ementa
CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. CONVÊNIO FEDERAL. MUNICÍPIO DE JUCURUTU/RN. MINISTÉRIO DA SAÚDE. COMBATE AO AEDES AEGYPTI. AGENTES POLÍTICOS MUNICIPAIS. INCIDÊNCIA DA LEI 8.429/92. FALTA DE PEÇA
TEATRAL E ASSINATURAS FALSAS EM RECIBOS. DEVOLUÇÃO DE VALORES AO ÓRGÃO CONVENENTE E APROVAÇÃO DA PRESTAÇÃO DE CONTAS. AUSÊNCIA DE ATO ÍMPROBO IMPUTADO. ABSOLVIÇÃO. PROVIMENTO DA APELAÇÃO.
- Trata-se de recurso de apelação interposto por LUCIANO ARAÚJO LOPES e FRANCISCA MARTINS SOBRINHA LOPES contra sentença que os condenara, em sede de ação civ...
Data do Julgamento:02/08/2016
Data da Publicação:04/08/2016
Classe/Assunto:AC - Apelação Civel - 505960
Órgão Julgador:Quarta Turma
Relator(a):Desembargador Federal Carlos Wagner Dias Ferreira
AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROCESSUAL CIVIL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. EMPRÉSTIMO COMPULSÓRIO. PRECLUSÃO DA OPORTUNIDADE DE INSUGIR-SE CONTRA A MULTA DO 475-J. NÃO OCORRÊNCIA. IMPUGNAÇÃO APRESENTADA NO PRAZO LEGAL. DEPÓSITO E LEVANTAMENTO DO VALOR
INCONTROVERSO. HOMOLOGAÇÃO DAS CONTAS DO EXEQUENTE. IMPOSSIBILIDADE. NECESSIDADE PRÉVIA DE REMESSA AO CONTADOR JUDICIAL. INTELIGÊNCIA DO ART. 475-B, PARÁGRAFO 3º, DO CPC/73. APRESENTAÇÃO DE DOCUMENTOS. PRECLUSÃO. INOCORRÊNCIA. BUSCA PELA VERDADE REAL.
AGRAVO PARCIALMENTE PROVIDO.
1. Cuida-se de agravo de instrumento interposto pela INTERCEMENT BRASIL S/A em face de decisão que, dentre outras determinações, não acolheu os cálculos apresentados pela exequente, afastando a aplicação do art. 475-B, parágrafo 2º do CPC/73, excluiu a
aplicação da multa prevista no art. 475-J do CPC/73, determinou a exequente a apresentação de documentos que comprovem que os cálculos apresentados abateram os juros remuneratórios pagos anualmente, através de compensação nas contas de energia elétrica,
assim como conferiu à ELETROBRÁS - CENTRAIS ELÉTRICAS BRASILEIRAS S/A novo prazo para a apresentação de documentação comprobatória do consumo de energia elétrica.
2. A parte exequente, ora agravante, peticionou requerendo o cumprimento de sentença, instruindo o pedido com a memória discriminada e atualizada do cálculo, consoante permissivo contido no art. 475-B do CPC/73. Com esteio no art. 475-B, parágrafos 1º e
2º, postula sejam reconhecidos como corretos os valores apresentados em sua planilha de cálculos, uma vez que a confecção da memória de cálculos dependia de dados existentes em poder do devedor, que, a seu sentir, injustificadamente não os apresentou.
3. Visando coibir a prática de excessos pelo exequente, o parágrafo 3º do art. 475-B do CPC/73, prevê a possibilidade de o magistrado valer-se do contador do juízo quando os cálculos aparentemente excedam os limites da decisão. Nesta toada, ao
determinar a confecção de cálculos pela Contadoria do Juízo agiu o magistrado em estrito cumprimento de seu dever legal na busca da verdade real no processo, sendo absolutamente prematura qualquer homologação de valores antes da manifestação do órgão
auxiliar, com o qual, saliente-se, poderá inclusive haver a concordância da parte exequente.
4. No que pertine à alegação de preclusão, esgrimada no sentido de que a executada não interpôs recurso, tampouco ofertou bens em garantia, limitando-se a apresentar mera petição e parecer técnicos, que, em tese, não teriam força para afastar a multa de
10% (dez por cento) prevista no art. 475-J do CPC/73, não merece acolhida. Isto porque a petição apresentada pela executada trata-se de verdadeira impugnação ao cumprimento de sentença, tendo sido apresentada dentro do prazo legal e veiculando matérias
elencadas no art. 475-L do CPC/73, em especial, o excesso de execução, tendo inclusive o executado depositado em juízo o valor incontroverso, na alçada de R$ 7.839.606,41 (sete milhões, oitocentos e trinta e nove mil, seiscentos e seis reais e quarenta
e um centavos).
5. O colendo Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do RESP 1.147.191/RS submetido ao rito dos recursos repetitivos, ao analisar controvérsia análoga referente a cálculos de empréstimo compulsório, afastou a possibilidade de imposição da multa do
475-J do CPC, ressaltando, para tanto, a iliquidez da obrigação e a necessidade de prévio acertamento do valor, para, após, mediante intimação, cogitar-se da aplicação da referida multa.
6. Não há interesse recursal da agravante em postular o reconhecimento de que já apresentou a documentação comprobatória dos valores abatidos a título de juros remuneratórios que foram pagos anualmente, através de compensação em suas contas de energia
elétrica até 2005. Se entender que os documentos já constam dos autos, basta não apresentá-los, ficando advertida, desde logo, que deverá arcar com o ônus dos desdobramentos de sua afirmação.
7. Não se verifica a preclusão da oportunidade de a Eletrobrás apresentar os documentos que comprovem os dados relativos ao consumo e/ou valores pagos a título de empréstimo compulsório no período da execução, em especial porque esta foi a primeira
determinação judicial neste sentido, no âmbito da execução definitiva, e volta-se a busca de elementos que possam melhor subsidiar a metodologia de cálculos utilizada na execução e, por conseguinte, conduzir à correta satisfação dos créditos.
8. É prematura a determinação de reforma da decisão agravada no que pertine ao prosseguimento da execução com base nos recolhimentos anuais, haja vista a suposta existência de comprovação de depósitos judiciais no período exequendo.
9. A complexidade inerente à apuração do montante devido, - haja vista o decurso do tempo desde cada contribuição, as alterações na moeda e, ainda, a multiplicidade de índices de correção monetária no período -, aponta para iliquidez do título judicial
exequendo, sendo prematura a manifestação judicial que descarta os cálculos apresentados pelas partes e fixa, desde logo, critério específico.
10. A prudência e a cautela necessárias à condução do processo recomendam a realização de Cálculo Contábil, no qual o expert manifeste-se expressamente sobre os cálculos apresentados por cada uma das partes, bem como sobre os critérios fixados pelo
juízo, resguardada a possibilidade de esclarecimentos e apresentação prévia de quesitos por todos os sujeitos processuais. A adoção de tal postura possibilitará ao magistrado uma visão mais ampla do processo e conduzirá à satisfação do crédito de forma
escorreita, em atenção ao princípio basilar da efetividade do processo, sem que haja a ocorrência de eventual preclusão temporal quanto à definição do correto ou mais adequado critério de cálculo.
11. Agravo de instrumento parcialmente provido.
Ementa
AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROCESSUAL CIVIL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. EMPRÉSTIMO COMPULSÓRIO. PRECLUSÃO DA OPORTUNIDADE DE INSUGIR-SE CONTRA A MULTA DO 475-J. NÃO OCORRÊNCIA. IMPUGNAÇÃO APRESENTADA NO PRAZO LEGAL. DEPÓSITO E LEVANTAMENTO DO VALOR
INCONTROVERSO. HOMOLOGAÇÃO DAS CONTAS DO EXEQUENTE. IMPOSSIBILIDADE. NECESSIDADE PRÉVIA DE REMESSA AO CONTADOR JUDICIAL. INTELIGÊNCIA DO ART. 475-B, PARÁGRAFO 3º, DO CPC/73. APRESENTAÇÃO DE DOCUMENTOS. PRECLUSÃO. INOCORRÊNCIA. BUSCA PELA VERDADE REAL.
AGRAVO PARCIALMENTE PROVIDO.
1. Cuida-se de agravo de instrumento interposto pela INTERCEMENT BRASIL S/A...
Data do Julgamento:02/08/2016
Data da Publicação:04/08/2016
Classe/Assunto:AG - Agravo de Instrumento - 140929
Órgão Julgador:Quarta Turma
Relator(a):Desembargador Federal Carlos Wagner Dias Ferreira
PREVIDENCIÁRIO. AUXÍLIO-DOENÇA. RESTABELECIMENTO. PRESCRIÇÃO DO FUNDO DE DIREITO. INEXISTÊNCIA DE NOVO REQUERIMENTO NA VIA ADMINISTRATIVA. DESNECESSIDADE. PRETENSÃO RESISTIDA. DECISÃO DO STF NO RE 631.240/MG. REGRAS DE TRANSIÇÃO. APLICAÇÃO.
POSSIBILIDADE DE APRECIAÇÃO DO MÉRITO. CONDIÇÃO DE SEGURADO. COMPROVADA. PERÍCIA MÉDICA ATESTOU INAPTIDÃO TOTAL E PERMANENTE PARA QUALQUER TRABALHO. DIREITO À APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. POSSIBILIDADE DA FUNGIBILIDADE DOS PEDIDOS EM MATÉRIA
PREVIDENCIÁRIA. CONCESSÃO DE APOSENTADORIA POR INVALIDEZ PELO INSS, NO CURSO DA AÇÃO. SUBSISTÊNCIA DO DIREITO ÀS PRESTAÇÕES PRETÉRITAS. APELAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDA.
1. Rebela-se o demandante contra a sentença que reconheceu a ocorrência da prescrição do fundo de direito e extinguiu o processo com resolução do mérito.
2. Quanto a essa matéria, esta Quarta Turma tem entendido que, com o ato que indeferiu ou cancelou o benefício postulado no âmbito administrativo, firma-se a pretensão resistida e os efeitos da prescrição, nos termos do disposto no art. 1º do Decreto nº
20.910/32. Contudo, não ocorre a prescrição do fundo de direito da parte à nova concessão do benefício, tendo em conta a sua imprescritibilidade, de modo a permanecer incólume, o direito do segurado à obtenção do benefício negado ou suspenso, desde que
reúna os requisitos legais para tal fim. Nesse sentido confira-se jurisprudência da Corte Superior: AgRg no REsp 1534861/PB. DJe: 25/08/2015. Rel: Ministro HUMBERTO MARTINS. Segunda Turma. Decisão unânime.
3. Postula o demandante a revisão do ato da autarquia ré que, em 01/04/2006, cancelou o pagamento do auxílio-doença, que vinha percebendo desde 05/11/2004. Porém, somente ajuizou a presente ação em 16/08/2011, quando já transcorridos mais de 05 (cinco)
anos da prática do ato administrativo impugnado, de modo que tal pretensão encontra-se atingida pela prescrição, conforme disposição do artigo 1º do Decreto nº 20.910/32.
4. Destarte, a prescrição declarada no caso concreto não diz respeito ao próprio fundo do direito, mas tão somente à pretensão de reformar o ato administrativo que cancelou o pagamento do benefício pretendido, não estando o interessado impedido de
postular, na via administrativa, um novo pedido para obtenção ou restabelecimento do benefício indeferido ou cancelado, ainda que com fundamento nos mesmos argumentos e fatos apresentados no pleito anterior, fulminado pela prescrição.
5. Quanto à formulação de um novo requerimento administrativo, o Pretório Excelso, no julgamento do RE nº 631.240/MG (Tribunal Pleno. Jul: 03/09/2014. Rel: Ministro ROBERTO BARROSO - com repercussão geral reconhecida), consolidou a tese no sentido de
que é possível ao Judiciário analisar o mérito de demandas de natureza previdenciária, sem o prévio requerimento administrativo, quando se tratar de processo protocolado antes de 03/09/2014 e houver a efetiva resistência da autarquia previdenciária.
6. Assim, proposta a presente lide em 29/10/2011, antes, portanto, do julgamento do RE 631.240/MG pelo STF, e estando comprovada a resistência formal do INSS à pretensão do postulante, através de contestação, é possível a apreciação do mérito desta
ação, apesar de não haver prévio requerimento administrativo.
7. O auxílio-doença, consoante o disposto no art. 59 da Lei nº 8.213/91, é um benefício de natureza temporária concedido para amparar o segurado que, cumprida a carência prevista no art. 25, inc. I, do mesmo diploma legal, for considerado incapaz para o
trabalho, enquanto permanecer nesta situação.
8. A condição de segurado do autor encontra-se demonstrada, tendo em vista que esteve em gozo de benefício de auxílio-doença até 01/04/2006, cujo restabelecimento pleiteia na presente demanda.
9. A perícia médica judicial, atestou que o paciente encontra-se acometido de insuficiência cardíaca congestiva (CIDs I50 e I51.7) e hérnia discal lombar (CID M51.1), que o tornam total e definitivamente incapacitado para o exercício de toda e qualquer
atividade laboral, bem como que tal inaptidão remonta à data da concessão do auxílio-doença (05/11/2004).
10. Assim, diante da incapacidade laborativa total e definitiva do promovente e considerando que, em se tratando de matéria previdenciária, não há de se interpretar rigidamente os pedidos, mas com a possibilidade da fungibilidade destes, de maneira a
não prejudicar o beneficiário pelo nomen juris do benefício ao trocar o indevido pelo devido, tem-se que faz jus à concessão de aposentadoria por invalidez, a contar da data do ajuizamento da ação.
11. Nada obstante, tendo em vista que o postulante logrou obter administrativamente, no curso da demanda, o benefício de aposentadoria por invalidez, com DIB em 23/01/2013, resta que possui o direito ao pagamento das parcelas vencidas desde a data do
ajuizamento do presente feito (16/08/2011) até a data da implantação da aposentadoria por invalidez.
12. Apelação parcialmente provida, condenando-se o INSS ao pagamento das prestações retroativas da aposentadoria por invalidez do autor, inclusive as referentes à gratificação natalina, relativamente ao período compreendido entre a data do ajuizamento
da demanda (16/08/2011) e a data da implantação do benefício, na esfera administrativa, em 23/01/2013.
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PREVIDENCIÁRIO. AUXÍLIO-DOENÇA. RESTABELECIMENTO. PRESCRIÇÃO DO FUNDO DE DIREITO. INEXISTÊNCIA DE NOVO REQUERIMENTO NA VIA ADMINISTRATIVA. DESNECESSIDADE. PRETENSÃO RESISTIDA. DECISÃO DO STF NO RE 631.240/MG. REGRAS DE TRANSIÇÃO. APLICAÇÃO.
POSSIBILIDADE DE APRECIAÇÃO DO MÉRITO. CONDIÇÃO DE SEGURADO. COMPROVADA. PERÍCIA MÉDICA ATESTOU INAPTIDÃO TOTAL E PERMANENTE PARA QUALQUER TRABALHO. DIREITO À APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. POSSIBILIDADE DA FUNGIBILIDADE DOS PEDIDOS EM MATÉRIA
PREVIDENCIÁRIA. CONCESSÃO DE APOSENTADORIA POR INVALIDEZ PELO INSS, NO CURSO DA AÇÃO. SUBSISTÊNCIA DO DIREITO ÀS PRES...
Data do Julgamento:02/08/2016
Data da Publicação:04/08/2016
Classe/Assunto:AC - Apelação Civel - 589802
Órgão Julgador:Quarta Turma
Relator(a):Desembargador Federal Carlos Wagner Dias Ferreira
ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. TRANSFERÊNCIA DE TITULARIDADE DE LINHA DE TELEFÓNE MOVEL SEM A AUTORIZAÇÃO DA PROPRIETÁRIA. AUSÊNCIA DE CULPA DA EMPRESA PRESTADORA DO SERVIÇO DE TELEFONIA MÓVEL. NEGLIGÊNCIA NÃO
CARACTERIZADA. CULPA DE TERCEIRO CONFIGURADA. CONDENAÇÃO DA OPERADORA AFASTADA. PRELIMINAR DE LEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM REIJEITADA. APELAÇÃO PROVIDA.
1. A matéria controvertida devolvida a esta instância recursal cinge-se em saber se corré, ora apelante, pode ser responsabilizada por omissão, ao ter permitido a transferência da titularidade da linha móvel da autora à Associação Civil Juizado Arbitral
Internacional do Brasil - JACE, sem a devida autorização da proprietária, e, por conseguinte, se pode ser condenada a pagar indenização por danos morais ao espólio da parte autora.
2. Uma vez constatado que a transferência da linha móvel da falecida postulante se processou perante a empresa prestadora do serviço de telefonia demandada, exsurge inconteste a sua legitimidade para figurar no polo passivo da demanda. Preliminar de
legitimidade passiva ad causam rejeitada.
3. A responsabilidade da operadora prestadora de serviço de telefonia deve ser analisada sob a égide do Código de Defesa do Consumidor, especialmente em consonância com o disposto nos artigos 3º; 14, caput e §3º; com o art. 6º, do referido diploma
legal.
4. Da análise cuidadosa dos elementos materiais que instruem o presente feito, resta inconteste que a falecida postulante era cliente da TIM desde 1992, ocasião em que comprou a linha de nº (85) 9983.9778, um aparelho celular e aderiu a um plano de
ligações de 700 minutos. Igualmente se constata que, em julho de 2006, a associação JACE formalizou junto a TIM o contrato de prestação de Serviços de Telefonia Móvel, adquirindo 415 linhas telefônicas, perfazendo uma minutagem de 83.000 minutos.
5. Também se depreende do vasto acervo fático-probatório que a JACE passou a ofertar as linhas adquiridas a terceiros, não sócios, firmando contrato com estes, provavelmente para auferir lucro. Foi assim que, em novembro de 2006, no ambiente
institucional da Caixa de Assistência dos Advogados do Ceará - CAACE, a autora firmou com a JACE o "Contrato de Prestação de Serviço de Telefonia Móvel Pessoal e de Comodato de Aparelho", aderindo a um plano intitulado "PLANO TIM ADVOGADO", de 1000
minutos, com tarifa mensal de R$369,00 (trezentos e sessenta e nove reais) e com o recebimento em comodato de três aparelhos celular.
6. Da simples leitura do aludido contrato de prestação de serviços, constata-se que a TIM não participou de sua celebração, vez que o mesmo fora assinado, apenas, pela autora e pelo representante da JACE, figurando, ainda, a CAACE como assistente
institucional.
7. A participação da operadora demandada nesse negócio jurídico somente restaria configurada se houvesse a firma de seu representante legal ou de algum funcionário, a configurar a sua ciência e anuência aos termos da avença, não bastando a simples
existência da logomarca da empresa no papel ou da referência a seus serviços.
8. No que diz respeito especificamente à transferência da titularidade da linha móvel da autora à associação JACE, sem a sua autorização, constata-se que a TIM, ao permitir tal transferência, o fez motivada pelo novo acordo firmado entre a postulante e
JACE, o qual reputava legal e legítimo. A operadora não tinha como saber - até porque não participou da celebração do contrato em questão - que a JACE não tinha deixado claro à autora/contratante, que, com a adesão ao novo "Plano TIM Advogado", haveria
- ou mesmo poderia haver - a transferência da titularidade das linhas negociadas para a JACE/contratada. Assim, não cabe imputar à operadora demandada omissão no dever de cuidado de impedir a transferência da titularidade da linha móvel da postulante,
se tal mudança ocorreu em virtude da adesão da autora, por livre e espontânea vontade, a um novo contrato de prestação de serviço de telefonia móvel, celebrado diretamente com a associação JUCE, sem a participação da aludida empresa.
9. Ausente a conduta ilícita da operadora, em razão do reconhecimento da culpa exclusiva de terceiros (no caso, da JACE e da CAACE), deve ser afastada a sua responsabilidade civil na presente causa, nos termos do art. 14, parágrafo 3º, inciso II, do
CDC.
10. Preliminar de ilegitimidade passiva ad causam rejeitada. Apelação provida.
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ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. TRANSFERÊNCIA DE TITULARIDADE DE LINHA DE TELEFÓNE MOVEL SEM A AUTORIZAÇÃO DA PROPRIETÁRIA. AUSÊNCIA DE CULPA DA EMPRESA PRESTADORA DO SERVIÇO DE TELEFONIA MÓVEL. NEGLIGÊNCIA NÃO
CARACTERIZADA. CULPA DE TERCEIRO CONFIGURADA. CONDENAÇÃO DA OPERADORA AFASTADA. PRELIMINAR DE LEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM REIJEITADA. APELAÇÃO PROVIDA.
1. A matéria controvertida devolvida a esta instância recursal cinge-se em saber se corré, ora apelante, pode ser responsabilizada por omissão, ao ter permitido a transferência da titularidade da...
Data do Julgamento:02/08/2016
Data da Publicação:04/08/2016
Classe/Assunto:AC - Apelação Civel - 589430
Órgão Julgador:Quarta Turma
Relator(a):Desembargador Federal Carlos Wagner Dias Ferreira
AÇÃO RESCISÓRIA. TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. PEDIDO RESCISÓRIO EXTINTO NO QUE TANGE À DECISÃO DE REUNIÃO DOS FEITOS EXECUTIVOS FISCAIS. IMPROCEDÊNCIA DO PLEITO DE RESCISÃO QUANTO À DECISÃO QUE DETERMINOU O REDIRECIONAMENTO DA EXECUÇÃO FISCAL À SÓCIA.
1. Trata-se de ação rescisória ajuizada por RAIMUNDA SIQUEIRA GRANJA ALENCAR em face da FAZENDA NACIONAL com o escopo de desconstituir sentença prolatada pelo Juízo da 17ª Vara Federal da Seção Judiciária de Pernambuco em sede de execução fiscal
proposta em face da ora demandante, que findou extinguindo o feito executivo fiscal, em vista do pagamento (art. 794, inciso I, do CPC).
2. Primeiramente, quanto à decisão que determinou a reunião ex officio das duas execuções fiscais (fl. 187), proferida em 30/07/2010, nota-se que não houve, à época, qualquer irresignação por parte da executada, ora autora, posto que só veio a se
insurgir contra o conteúdo dessa decisão de cunho processual quando da sentença que extinguiu o feito executivo fiscal, por pagamento, e que transitou em julgado em 05/02/2013. Como se vê, é nítido caso de preclusão em relação a esse tema, razão pela
qual impõe-se a extinção sem resolução do mérito do pedido rescisório quanto ao capítulo que alega violação à disposição literal do art. 28 da Lei nº. 6.830/80, que dispõe justamente a respeito da reunião de processos.
3. Ademais, no que se refere à suposta violação ao dispositivo legal do art. 135, inciso III, do CTN, relativo à questão do redirecionamento do feito executivo fiscal à sócia autora, é de se admitir sua apreciação, pois, nada obstante a decisão de
mérito que deferiu o redirecionamento remontar a 11/11/2009, fato é que a sua rescindibilidade advém a partir da sentença transitada em julgado que extingue o processo de execução fiscal em decorrência do pagamento. Entretanto, não merece prosperar o
pedido rescisório quanto a isso. Isso porque este Tribunal tem considerado cabível o redirecionamento da execução fiscal contra o sócio gerente que ocupava tal função à época da dissolução irregular da executada, independentemente da data dos fatos
geradores dos tributos não pagos.
4. No caso em tela, do compulsar dos autos, extraem-se documentos suficientemente conducentes à responsabilidade por parte da sócia autora Raimunda Siqueira Granja Alencar, uma vez que consta da cláusula quinta da 5ª Alteração Contratual (fl. 590/594)
da sociedade, protocolada junto à JUCEPE - Junta Comercial do Estado de PE, que à referida sócia, juntamente com o sócio Francisco Ferreira Evangelista Junior, cabia a administração da empresa executada, com poderes e atribuições de sócio Administrador,
desde 2008. Assim, é de se presumir que a autora era sócia administradora da executada à época de sua dissolução irregular, constatada pelo Juízo de origem através da certidão de oficial de justiça datada de 27/07/2009, que verificou não estar mais
estabelecida a empresa executada naquele endereço constante do CNPJ, motivo pelo qual não há incorreção no redirecionamento da execução fiscal para a autora.
5. De resto, no que tange ao argumento de que teria se consumado a prescrição intercorrente para o redirecionamento efetuado em relação à sócia autora, também não possui melhor sorte o pedido de rescisão. A Fazenda Nacional teve conhecimento quanto à
não localização da empresa executada em seu domicílio fiscal desde agosto de 2009, quando teve vista dos autos e ciência da referida certidão do oficial de justiça que informou que a empresa devedora não mais ocupava aquele endereço há mais de oito anos
(às fls. 564/566), no que resta presumida a dissolução irregular nos moldes do entendimento consolidado do STJ na matéria (Súmula nº 435). Como a Fazenda já apresentara o pedido de redirecionamento em outubro de 2009 (consoante comprova a cota
fazendária de fls. 584/587), poucos meses após o seu conhecimento a respeito da dissolução irregular, resta claro que não houve o transcurso do prazo de prescrição intercorrente quinquenal ora discutido.
6. Extinção sem resolução de mérito da rescisória quanto ao pedido relativo à decisão de reunião das execuções fiscais. Improcedência do pedido rescisório no que atine ao redirecionamento da execução fiscal em face da sócia-gerente autora e à prescrição
intercorrente.
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AÇÃO RESCISÓRIA. TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. PEDIDO RESCISÓRIO EXTINTO NO QUE TANGE À DECISÃO DE REUNIÃO DOS FEITOS EXECUTIVOS FISCAIS. IMPROCEDÊNCIA DO PLEITO DE RESCISÃO QUANTO À DECISÃO QUE DETERMINOU O REDIRECIONAMENTO DA EXECUÇÃO FISCAL À SÓCIA.
1. Trata-se de ação rescisória ajuizada por RAIMUNDA SIQUEIRA GRANJA ALENCAR em face da FAZENDA NACIONAL com o escopo de desconstituir sentença prolatada pelo Juízo da 17ª Vara Federal da Seção Judiciária de Pernambuco em sede de execução fiscal
proposta em face da ora demandante, que findou extinguindo o feito executivo fiscal, em vista do paga...
Data do Julgamento:20/07/2016
Data da Publicação:28/07/2016
Classe/Assunto:AR - Ação Rescisoria - 7474
Órgão Julgador:Pleno
Relator(a):Desembargador Federal Paulo Roberto de Oliveira Lima
ADMINISTRATIVO. APELAÇÃO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. PROCEDIMENTO LICITATÓRIO FRAUDULENTO. PRESIDENTE E DEMAIS MEMBROS DA COMISSÃO DE LICITAÇÃO. PRESENÇA DE DOLO NA CONDUTA. ALEGAÇÃO DE ERRO DE PROIBIÇÃO AFASTADA. MONTAGEM DE
LICITAÇÃO PARA TENTAR LEGITIMAR CONTRATAÇÃO ANTERIORMENTE OCORRIDA COM INDEVIDA DISPENSA DO CERTAME. CONDUTA QUE NÃO CONCORREU DIRETAMENTE PARA O DESVIO DE RECURSOS PÚBLICOS QUE, POR SUA VEZ, JÁ HAVIA SE CONCRETIZADO EM MOMENTO ANTERIOR, COM A
CONTRATAÇÃO MEDIANTE DISPENSA DE LICITAÇÃO. REENQUADRAMENTO PARA A HIPÓTESE PREVISTA NO ART. 11, I, DA LEI 8.429/92, SUBSTITUINDO-SE, ASSIM, AS SANÇÕES DO ART. 12, II, DA MESMA LEI, APLICADAS NA SENTENÇA, PARA AS DO ART. 12, III, DO MESMO DIPLOMA LEGAL.
PROVIMENTO PARCIAL.
1. O fato apurado nesta ação civil pública é o seguinte: montagem de um procedimento licitatório destinado a conferir legitimidade a uma contratação anterior, ocorrida com dispensa de licitação e na qual foi constatado o desvio de recursos públicos
federais.
2. Quanto à conduta imputada ao ora apelante, reside ela na sua participação, como presidente da Comissão Permanente de Licitação, do referido certame fraudulento, sendo evidente nos elementos probatórios dos autos a sua consciência acerca da finalidade
da licitação montada.
3. Conforme restou comprovado nos autos, o apelante, de forma consciente, assinou documentos elaborados por pessoas estranhas à CPL como se ele mesmo o tivesse praticado, bem como atestou (e ainda afirmou em Juízo, o que se afigura igualmente gravoso) a
realização de reunião para abertura de propostas, quando, em verdade, restou apurado que a reunião com a presença dos representantes das empresas não ocorreu, o que corrobora o dolo de contribuir para a fraude, visando ludibriar os órgãos
fiscalizadores.
4. Em vista disso, não há que se falar, ao contrário do que sustenta o apelante, em erro de proibição, pois ele, como então presidente da Comissão Permanente de Licitação, assinou, de forma voluntária, diversos atos do procedimento licitatório, sabendo
ou devendo saber que se tratava de um certame falso, simulado, sobretudo diante da existência, naquele procedimento, de vários documentos apócrifos, bem como em face da afirmação, feita em Juízo, de que uma das empresas indicadas como licitantes não
apresentou a proposta ali inserida, conforme bem ressaltou a Procuradoria Regional da República em seu parecer (fl. 976).
5. Por outro lado, de acordo com citado pronunciamento do Parquet Federal (fls. 977/978), a conduta imputada ao ora recorrente melhor se amolda ao tipo previsto no art. 11, I, da Lei 8.429/92, tendo em vista que ela não concorreu diretamente para o
desvio de recursos públicos, o qual, por sua vez, já havia se concretizado em momento anterior, com a contratação mediante dispensa de licitação. Nesse diapasão, ressalte-se que o ora recorrente sequer foi condenado a ressarcir o dano apontado na
sentença, justamente por não ter qualquer participação no alegado desvio dos recursos públicos.
6. Quanto às sanções previstas para o ato ímprobo praticado pelo recorrente, descrito no art. 11 da Lei 8.429/92, diante das circunstâncias do caso concreto, mostram-se razoáveis a aplicação de multa civil no mesmo valor fixado pelo Juízo a quo (R$
4.000,00), bem como a suspensão dos direitos políticos pelo prazo de três anos e a proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa
jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos, nos termos do art. 12, III, do mesmo diploma legal.
7. Apelação parcialmente provida, apenas para enquadrar no tipo previsto no art. 11, I, da Lei 8.429/92 a conduta imputada ao apelante, modificando, por conseguinte, as sanções a ele aplicadas na sentença, nos seguintes parâmetros: a) suspensão dos
direitos políticos pelo prazo de três anos; e b) proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário,
pelo prazo de três anos. Mantida a multa civil no valor de R$ 4.000,00 (quatro mil reais).
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ADMINISTRATIVO. APELAÇÃO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. PROCEDIMENTO LICITATÓRIO FRAUDULENTO. PRESIDENTE E DEMAIS MEMBROS DA COMISSÃO DE LICITAÇÃO. PRESENÇA DE DOLO NA CONDUTA. ALEGAÇÃO DE ERRO DE PROIBIÇÃO AFASTADA. MONTAGEM DE
LICITAÇÃO PARA TENTAR LEGITIMAR CONTRATAÇÃO ANTERIORMENTE OCORRIDA COM INDEVIDA DISPENSA DO CERTAME. CONDUTA QUE NÃO CONCORREU DIRETAMENTE PARA O DESVIO DE RECURSOS PÚBLICOS QUE, POR SUA VEZ, JÁ HAVIA SE CONCRETIZADO EM MOMENTO ANTERIOR, COM A
CONTRATAÇÃO MEDIANTE DISPENSA DE LICITAÇÃO. REENQUADRAMENTO PARA A HIPÓTESE PREVISTA NO ART. 11, I, DA LEI 8....
Data do Julgamento:02/08/2016
Data da Publicação:04/08/2016
Classe/Assunto:AC - Apelação Civel - 588827
Órgão Julgador:Quarta Turma
Relator(a):Desembargador Federal Carlos Wagner Dias Ferreira
EMENTA: ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÕES. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. OPERAÇÃO DA POLÍCIA FEDERAL ACERCA DE ESQUEMA DE COMPRA DE AMBULÂNCIAS ATRAVÉS DE LICITAÇÃO DIRIGIDA, COM RECURSOS DE EMENDAS PARLAMENTARES.
AUDITORIA DENASUS/CGU. RESPONSABILIZAÇÃO DA DIRIGENTE DE INSTITUIÇÃO QUE FIRMOU CONVÊNIO COM O MINISTÉRIO DA SAÚDE PARA A AQUISIÇÃO DO BEM E DOS MEMBROS DA COMISSÃO DE LICITAÇÃO. COMPROVAÇÃO DO COMPORTAMENTO ÍMPROBO. ELEMENTO SUBJETIVO.
REDIMENSIONAMENTO DAS SANÇÕES IMPOSTAS. EXCLUSÃO DE MULTA POR EMBARGOS DE DECLARAÇÃO PROTELATÓRIOS. INCLUSÃO DOS SÓCIOS RESPONSÁVEIS DA EMPRESA FORNECEDORA (BRAÇO EMPRESARIAL DO ESQUEMA). ADITAMENTO DA PETIÇÃO INICIAL. DESCRIÇÃO SUFICIENTE DAS CONDUTAS.
ART. 1.013, PARÁGRAFO 3º, I, DO CPC/2015 (ANTIGO ART. 515, PARÁGRAFO 3º, DO CPC/73). CAUSA MADURA. PROVAS SUFICIENTES À CONDENAÇÃO. COMINAÇÃO DE SANÇÕES. AUSÊNCIA DE ELEMENTOS PROBATÓRIOS EM RELAÇÃO A OUTROS RÉUS. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA EXTINTIVA QUANTO
A ELES.
1. Apelações interpostas contra sentença exarada em ação de improbidade administrativa, que extinguiu o feito sem resolução de mérito, quanto aos réus DJV, LATV, CMTV, MAEA, RMEA, CRFM e JCSS, e julgou a demanda procedente, em relação aos réus MDOSF,
MHS, AS e SCSO, enquadrados no art. 10, VIII e XII, da Lei nº 8.429/92.
2. Contextualizada no âmbito de operação da Polícia Federal e remetendo aos resultados de auditoria realizada pelo DENASUS/CGU, a ação de improbidade administrativa foi ajuizada, inicialmente, pela UNIÃO contra MDOSF, MHS, AS e SCSO, acusados, nas
condições de presidente da Maternidade São Vicente de Paula (que firmou convênio com a União/Ministério da Saúde/Fundo Nacional de Saúde) e de membros da Comissão de Licitação, respectivamente, no Município de Boquim/SE, de terem contribuído para
fraudar licitação na modalidade convite, tendo por objeto a aquisição de unidade móvel de saúde equipada, apontando-se várias irregularidades do processo licitatório (que teria sido direcionado), superfaturamento, incompletude e subutilização do bem.
3. Posteriormente, ante o chamado do Juízo a quo, no sentido de que a petição inicial fosse emendada, em relação às sociedades empresárias partícipes da licitação, e o entendimento da UNIÃO de não ampliar o polo passivo, o MPF pediu sua integração à
lide como litisconsorte ativo, formulando aditamento à petição inicial, para que passassem a figurar como réus, também, DJV, LATV, CMTV, MAEA, RMEA, CRFM e JCSS, apontando-os como sócios responsáveis pelas empresas participantes do processo licitatório
fraudado, que teriam agido em conluio, com o acertamento prévio de preços para que uma delas (no caso, a PLANAM, pela qual responsáveis DJV, LATV e CMTV) ganhasse a licitação.
4. Em relação aos réus MDOSF, MHS, AS e SCSO, a sentença espelhou corretamente as provas reunidas nos autos, descabendo falar-se em falta de individualização das condutas ou em condenação genérica, sendo certo que a sentença é um todo integrado, não
podendo ser lida apenas em função de um único parágrafo.
5. Restou devidamente demonstrado que a ré MDOSF, dirigente da Maternidade e subscritora do convênio firmado com a esfera federal, chancelou o processo licitatório flagrantemente irregular, engendrado para resultar na contratação de dada empresa. Foi
ela quem firmou o termo de homologação e de adjudicação do objeto, presidiu a reunião e subscreveu ata em que se consignou a abertura das propostas de preços (conquanto inexistente a assinatura dos representantes das empresas), nomeou a comissão de
licitação, assinou os convites dirigidos às empresas e subscreveu a prestação de contas.
6. Os réus MHS, AS e SCSO, membros da comissão de licitação, contribuíram para o êxito do esquema de direcionamento da licitação, assinando termos de expedição de convites e subscrevendo ata em que se consignou a abertura das propostas de preços
(conquanto inexistente a assinatura dos representantes das empresas proponentes). O réu AS chegou a declarar, formalmente, aos órgãos de controle, que "não recebeu treinamento para participar da comissão de licitação; que participou em outros processos
de aquisição de material de consumo; que não efetuou pesquisas de preços em relação aos equipamentos e veículos adquiridos; que a relação das empresas licitantes convidadas foi enviada via SEDEX por meio do Gabinete do Deputado Cleonâncio Fonseca; que
não conhecia quaisquer das empresas participantes; que os convites foram enviados às empresas via SEDEX, não havendo provas do envio de tal documentação".
7. As irregularidades verificadas na licitação em questão não têm natureza de simples "erros materiais", como afirmam os réus, correspondendo, sim, a ilicitudes relevantes que, somadas, permitiram o direcionamento da licitação e a aquisição de bem com
valor superior ao de mercado. Dentre as impropriedades constatadas, listam-se: a) não se realizou pesquisa de preços para subsidiar o processo de aquisição; b) "embora o processo [licitatório] esteja numerado, as peças que o constituem estão fora de
ordem cronológica dos seus atos, tendo como exemplo o termo de homologação (fls.1), ata de julgamento (fls.2), portaria de criação de comissão de licitação (fls.3), cópia do cheque (fl. 4), nota fiscal (fl. 6). Seguem-se as propostas das empresas e a
documentação referente à regularidade fiscal e habilitação jurídica. Portanto fica comprovada a montagem do processo e aposição posterior de numeração e rubrica de suas folhas (caput)"; c) ausência de edital de carta convite, de publicação do edital ou
entrega do convite, de termo de contrato ou instrumento equivalente e de assinatura dos licitantes presentes na ata de abertura das propostas de preços; d) "membro da comissão de licitação prestou declaração formal acerca do recebimento de relação
prévia das empresas que deveriam participar do certame licitatório, informando que não conhecia qualquer das referidas empresas"; e) foram consideradas habilitadas empresas com propostas de preço acima do valor estabelecido para a modalidade de
licitação, quando, "não se obtendo o número legal mínimo de três propostas aptas à seleção, na licitação sob a modalidade Convite, impõe-se a repetição do ato, com a convocação de outros possíveis interessados, ressalvadas as hipóteses previstas no
parágrafo 7º, do art. 22, da Lei nº 8.666/1993" (Súmula 248 do TCU); f) superfaturamento da ordem de R$10.125,55, em valores de dezembro de 2004; g) falta de equipamentos na unidade móvel de saúde, em descompasso com o plano de trabalho; h) deficiência
do controle de utilização do bem, com indício de subutilização, apontando para a desnecessidade pública da aquisição.
8. Todas essas impropriedades, somadas à constatação de que as empresas "convidadas" são do Mato Grosso e do Rio de Janeiro, numa realidade muito distante da vivenciada pelo Município de Boquim/SE, existindo outras empresas na região mais próxima aptas
a fornecer o objeto licitado, conferem a certeza necessária para se concluir que houve o direcionamento do processo licitatório, que restou forjado, inclusive ocasionado dano ao erário, em razão de sobrepreço.
9. "O desconhecimento da Lei de Licitações (preservação da isonomia/legalidade/impessoalidade) e da Lei de Improbidade Administrativa (frustração da concorrência que agride os deveres de honestidade, legalidade e lealdade às instituições) não é
fundamento legítimo para descaracterizar má-fé de quem se presta justamente a participar de certames" (STJ, REsp 1231402/MG, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 19/04/2012, DJe 02/02/2015).
10. O montante disponibilizado no âmbito do convênio para a aquisição da unidade móvel de saúde não tem o condão de liberar a comissão de licitação do dever de pesquisar o valor de mercado do bem, no momento dos procedimentos licitatórios, para fins de
verificação da adequação da proposta de venda das licitantes. In casu, a comissão de licitação não fez a pesquisa de mercado e adquiriu o bem com sobrepreço.
11. Conquanto na auditoria do DENASUS/CGU não tenha sido instaurado contraditório (e nem seria o caso, por se tratar de procedimento de fiscalização e, não, de acusação), não há nulidade da sentença que se reporta às suas conclusões, quando elas
integraram os autos do processo judicial, e, nesse âmbito, foram submetidas ao contraditório.
12. A eventual aprovação da prestação de contas correspondente, na esfera administrativa, não obsta o controle na via jurisdicional, nem vincula o Poder Judiciário às suas conclusões, sobretudo quando as provas reunidas apontam em sentido contrário.
13. As autoridades fiscalizadoras constataram que a unidade móvel de saúde não estava devidamente equipada e que havia fundada dúvida, quanto à utilidade da aquisição para a instituição, considerando que, em um mês, houve transporte de pacientes em
apenas quatro oportunidades. Essa conclusão não tira a importância dos deslocamentos havidos, mas serve a fortalecer, mais ainda, a compreensão de que a licitação foi manipulada.
14. A conclusão de que houve dolo é coerente com o contexto e, mesmo que não estive demonstrado, não afastaria a responsabilização com base no art. 10 da Lei nº 8.429/92, porque, para a configuração de qualquer dos tipos encartados nesse dispositivo,
exige-se apenas a presença de culpa, segundo a jurisprudência tranquila do STJ: "A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento segundo o qual o elemento subjetivo é essencial à configuração da improbidade, exigindo-se dolo para
que se configurem as hipóteses típicas dos arts. 9º e 11, ou pelo menos culpa, nas hipóteses do art. 10, todos da Lei 8.429/92" (AgRg no AREsp 210.361/PE, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 17/05/2016, DJe 01/06/2016).
15. A configuração do tipo do art. 10 da Lei nº 8.429/92 prescinde da demonstração de enriquecimento ilícito, que é elemento essencial à materialização das hipóteses do art. 9º da mesma lei.
16. A apelação dos réus MDOSF, MHS, AS e SCSO merece provimento, contudo, quanto a três aspectos: a) necessidade de responsabilização dos empresários envolvidos no esquema (braço empresarial); b) adequação da sanção de multa aos limites do inciso II do
art. 12 da Lei nº 8.429/92; c) supressão da multa imposta quando do desprovimento de embargos de declaração.
17. O Juízo a quo condenou os réus no ressarcimento integral do dano, em solidariedade; em suspensão dos direitos políticos por seis (para MDOSF) e cinco anos (para MHS, AS e SCSO); e no pagamento de multa civil equivalente a três (para MDOSF) e duas
(para MHS, AS e SCSO) vezes o valor do dano. Assim, quanto à ré MDOSF, transbordou dos limites do inciso II do art. 12 da Lei nº 8.429/92, que admite a cominação da sanção pecuniária até duas vezes o valor do dano, donde se deflui a necessidade de
provimento da apelação, nesse ponto, para ajustar a condenação a esse limite, necessidade reconhecida pela própria autora.
18. Em relação à condenação no ressarcimento do prejuízo ao erário, deve-se considerar a esse título o montante de R$10.125,55, em valores de dezembro de 2004, que corresponde ao valor do sobrepreço, considerando-se que, bem ou mal, a ambulância foi
entregue e está em uso.
19. "Para os efeitos do art. 543-C do Código de Processo Civil, fixa-se a seguinte tese: 'Caracterizam-se como protelatórios os embargos de declaração que visam rediscutir matéria já apreciada e decidida pela Corte de origem em conformidade com súmula
do STJ ou STF ou, ainda, precedente julgado pelo rito dos artigos 543-C e 543-B, do CPC'. [...]" (STJ, REsp 1410839/SC, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 14/05/2014, DJe 22/05/2014). A partir dessa premissa, verifica-se que, ao
menos em um ponto, os embargos de declaração não se afiguravam como de mera rediscussão, tanto que a apelação está sendo provida quanto a ele (readequação da sanção de multa à fronteira legal), de modo que deve ser afastada a multa de 1%.
20. Quanto aos réus MAEA, RMEA, CRFM e JCSS, o próprio MPF, que havia pedido que eles fossem integrados ao polo passivo da lide, reconheceu, em apelação, que "não há elementos necessários a concluir para a participação deles nas fraudes relativas a este
caso", notadamente porque eles "colacionaram diversos documentos, inclusive laudos periciais produzidos em outras ações judiciais, que demonstrariam que seus nomes e o de suas empresas estariam sendo utilizados por terceiros, sem os seus conhecimento,
para a prática de fraudes em licitações para a aquisição de ambulâncias, especificamente nas licitações que envolviam a empresa Planam". Assim, quanto a eles, mantém-se a sentença extintiva sem resolução de mérito.
21. Em relação aos réus DJV, LATV e CMTV, responsáveis pela PLANAM, impõe-se a reforma da sentença, que considerou o aditamento à petição inicial genérico, sem explicitação da participação de cada um deles na fraude, limitando-se a acusação a apontá-los
como sócios das pessoas jurídicas envolvidas. Na verdade, o aditamento à inicial foi claro, quanto ao comportamento imputado aos empresários: as empresas se conluiaram para fraudar o processo licitatório, ou seja, atuaram no sentido de dar uma aparência
de legalidade a processo licitatório que foi forjado para garantir que determinada empresa saísse exitosa do certame. Conquanto seja uma descrição econômica, é suficiente, sobretudo quando devidamente contextualizada. Como responsáveis pela pessoa
jurídica, orientada ao cometimento do ilícito, deveriam ocupar o polo passivo. Assim, é o caso de reformar a sentença, aplicando-se, na sequência, o art. 1.013, parágrafo 3º, I, do CPC/2015 (antigo art. 515, parágrafo 3º, do CPC/73), estando a causa
madura para julgamento.
22. A empresa vencedora do certame manipulado foi a PLANAM, que, portanto, se enriqueceu ilicitamente com o pagamento decorrente da fraude à licitação. Conquanto tenha constado no relatório de auditoria do DENASUS/CGU ter sido "impossível avaliar" o
signatário da proposta da PLANAM, o fato é que a leitura dos autos revela outros elementos que comprovam o envolvimento dos responsáveis pela empresa. Por exemplo: a) às fls. 359/360, consta proposta da PLANAM assinada e essa assinatura encontra
identidade com a que está à fl. 371, identificada como de uma das responsáveis pela empresa, que, a propósito, tinha uma procuração passada pelos réus DJV e CMTV para administrar a firma (fl. 356); b) o recibo de fl. 352, referente ao cheque de
pagamento pela compra, é assinado pela pessoa autorizada a recebê-lo, segundo autorização subscrita pela ré CMTV (fl. 355), que também trocou correspondência com a Maternidade, para fins de regularização de algumas pendências relacionadas à instalação
de armário e ao registro de licenciamento do veículo (fls. 263/264). Além disso, "as participantes foram citadas como integrantes do esquema que ficou conhecido 'operação sanguessuga', promovido por Luiz Antônio Trevisan Vedoin, proprietário de algumas
das empresas envolvidas, inclusive a vencedora em um dos certames analisados (Planam), nos termos de depoimento nos autos da ação penal 2006.36.00.7594-5, em curso na Seção Judiciária do Mato Grosso" (APELREEX31396/PB, Relator DESEMBARGADOR FEDERAL
PAULO ROBERTO DE OLIVEIRA LIMA, Segunda Turma, JULGAMENTO: 05/07/2016, PUBLICAÇÃO: DJE 14/07/2016).
23. A conduta dos réus DJV, LATV e CMTV se subsume aos tipos dos arts. 10, VIII, e 11, da Lei nº 8.429/92, razão pela qual a eles se aplicam as seguintes penas, a partir da consideração dos parâmetros do parágrafo único do art. 12 da Lei nº 8.429/92 e
dos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade: ressarcimento integral do dano (em solidariedade); suspensão dos direitos políticos por oito anos; pagamento de multa civil de duas vezes o valor do dano; proibição de contratar com o Poder Público
ou de receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos.
24. Apelação do MPF provida.
25. Apelação dos réus parcialmente provida.
Ementa
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÕES. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. OPERAÇÃO DA POLÍCIA FEDERAL ACERCA DE ESQUEMA DE COMPRA DE AMBULÂNCIAS ATRAVÉS DE LICITAÇÃO DIRIGIDA, COM RECURSOS DE EMENDAS PARLAMENTARES.
AUDITORIA DENASUS/CGU. RESPONSABILIZAÇÃO DA DIRIGENTE DE INSTITUIÇÃO QUE FIRMOU CONVÊNIO COM O MINISTÉRIO DA SAÚDE PARA A AQUISIÇÃO DO BEM E DOS MEMBROS DA COMISSÃO DE LICITAÇÃO. COMPROVAÇÃO DO COMPORTAMENTO ÍMPROBO. ELEMENTO SUBJETIVO.
REDIMENSIONAMENTO DAS SANÇÕES IMPOSTAS. EXCLUSÃO DE MULTA POR EMBARGOS DE DECLARAÇÃO PROTELATÓRIOS. INCLUSÃO DOS SÓCI...
Data do Julgamento:28/07/2016
Data da Publicação:05/08/2016
Classe/Assunto:AC - Apelação Civel - 575466
Órgão Julgador:Primeira Turma
Relator(a):Desembargador Federal Élio Wanderley de Siqueira Filho
PREVIDENCIÁRIO. SALÁRIO-MATERNIDADE. TRABALHADORA RURAL. COMPROVAÇÃO DO EXERCÍCIO DA ATIVIDADE RURAL. INÍCIO DE PROVA MATERIAL CORROBORADA PELA TESTEMUNHAL. CUSTAS PROCESSUAIS. TERMO INICIAL. JUROS DE MORA. CORREÇÃO MONETÁRIA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
I. Apelação e remessa oficial de sentença que julgou procedente o pedido da autora, por entender restar comprovada sua condição de rurícola nos 10 (dez) meses imediatamente anteriores ao nascimento de seu filho, Samuel Gregório de Evangelista e Silva
(fl. 19). Correção monetária de acordo com o Manual de Cálculo da Justiça Federal e juros de mora de 0,5% (meio por cento) ao mês até o advento da Lei 11.960/2009, quando passarão a incidir os índices previstos no artigo 1º, F, da Lei 9494/97, com
redação dada pela Lei 11.961/09. Honorários advocatícios fixados em 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação.
II. Alega o apelante a ausência de qualidade de segurada especial, bem como a descaracterização do regime de economia familiar por ter o companheiro da autora exercido vínculo empregatício durante o período gestacional da apelada. Requer a reforma da
sentença para que seja negada a concessão do salário-maternidade. Subsidiariamente, pede a fixação do termo inicial do benefício na data do ajuizamento da ação, a isenção das custas e dos honorários advocatícios, bem como a fixação dos juros de mora e
correção monetária na forma da Lei 11.960/2009.
III. À segurada especial é devido o benefício do salário-maternidade, desde que comprovado o exercício da atividade rural, em regime de economia familiar, nos últimos dez meses imediatamente anteriores ao requerimento do benefício, em 14/07/2010 (fl.
38) ou ao nascimento do filho, em 22/10/2009 (fl.19), nos termos do art. 93, parágrafos 2º do Decreto nº. 3.048/99.
IV. Foi demonstrada a atividade rurícola da autora através da apresentação de início de prova material, tais como ficha de associado da Associação Quilombola Aquiobá - Cabrobó, em nome da autora, com data de filiação em 15/10/2008 (fl.14); ficha de
associada ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Cabrobó - PE, com data de emissão em maio de 2006 e comprovante de pagamento de mensalidades referente aos meses compreendidos entre maio de 2006 e junho de 2010 (fl. 15); Declaração de Exercício de
Atividade Rural, referente ao período de 01/01/2008 até a presente data, fornecida pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Cabrobó - PE (fl. 16), Declaração de proprietário de imóvel rural, datada de junho de 2010, onde consta que a autora exerce
atividade rural na fazenda Jatobá II, no período compreendido entre janeiro de 2008 até a presente data, na condição de comodatária (fl. 17); dentre outros.
V. O rol de documentos previsto no art. 106 da Lei 8.213/91 é meramente exemplificativo, tendo em vista a informalidade do trabalho rural, a escassez de documentação e a precariedade das condições de vida dos trabalhadores deste meio.
VI. A oitiva das testemunhas (fls. 75/77) foi favorável à parte autora, corroborando com o início de prova material para a comprovação do labor rural. A testemunha Maria do Socorro dos Santos Silva afirmou que: "conhece a autora há 05 anos,que a
depoente já trabalhou junto com a requerente; que a requerente trabalha com o sogro; que a autora trabalhou durante a gravidez, até os nove meses; que a autora nunca trabalhou na prefeitura deste município; que a atora nunca trabalhou de carteira
assinada; que a requerente cultiva feijão e milho; que sabe dizer que a requerente possui residência próxima a do sogro; que a autora passou a mora lá, na fazenda Jatobá II, quando se casou com João Evangelista; que o esposo da requerente também é
agricultor; que o que produz é para o consumo; que o que produz é para o próprio consumo".
VII. O vínculo urbano intermitente exercido pelo companheiro da autora no período de 02/03/2009 a junho de 2009 na empresa Compac Engenharia LTDA, não descaracteriza a qualidade de rurícola da autora, nem o exercício de atividade rural exercito em
regime de economia familiar.
VIII. O termo inicial da obrigação será a data do requerimento administrativo, em 14/07/2010, conforme se observa à fl. 38.
IX. Conforme entendimento desta Segunda Turma Julgadora, deve ser aplicado sobre as parcelas devidas o crédito de atualização previsto no Manual de Cálculos da Justiça Federal, juros de mora de 0,5% (meio por cento) ao mês, a partir da citação (Lei nº
9.494/97, art. 1º-F, dada pela medida provisória nº 2.180-35, 2001). Contudo, para evitar reformatio in pejus, deve ser mantido o entendimento da sentença que fixou a correção monetária de acordo com o Manual de Cálculo da Justiça Federal e juros de
mora de 0,5% (meio por cento) ao mês até o advento da Lei 11.960/2009, quando passarão a incidir os índices previstos no artigo 1º, F, da Lei 9494/97, com redação dada pela Lei 11.961/09.
X. Em relação às custas processuais, entende-se que tendo sido o feito ajuizado na Justiça Estadual, não há que se falar em isenção do INSS no seu pagamento.
XI. Honorários advocatícios mantidos em 10% (dez por cento) sobre os valores devidos nos termos do artigo 20, parágrafos 3º e 4º do CPC/73, por se cuidar de salário-maternidade. Ressalvada a posição do relator, que entende pela aplicação do CPC/2015.
XII. Apelação e remessa oficial improvidas.
Ementa
PREVIDENCIÁRIO. SALÁRIO-MATERNIDADE. TRABALHADORA RURAL. COMPROVAÇÃO DO EXERCÍCIO DA ATIVIDADE RURAL. INÍCIO DE PROVA MATERIAL CORROBORADA PELA TESTEMUNHAL. CUSTAS PROCESSUAIS. TERMO INICIAL. JUROS DE MORA. CORREÇÃO MONETÁRIA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
I. Apelação e remessa oficial de sentença que julgou procedente o pedido da autora, por entender restar comprovada sua condição de rurícola nos 10 (dez) meses imediatamente anteriores ao nascimento de seu filho, Samuel Gregório de Evangelista e Silva
(fl. 19). Correção monetária de acordo com o Manual de Cálculo da Justiça Federal e juros de mora...